RETROSPECTIVA DESCRITIVO-ANALÍTICA DA GESTÃO DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA.
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1 RETROSPECTIVA DESCRITIVO-ANALÍTICA DA GESTÃO DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA. Sandra Maria Furiam Dias Universidade Estadual de Feira de Santana Luciano Mendes Souza Vaz * Universidade Estadual de Feira de Santana Biólogo pela UEFS/BA. Mestre em Ciências Florestais pela ESALQ/USP/SP. Professor Visitante do Departamento de Tecnologia/ UEFS. Membro da Equipe de Educação Ambiental/UEFS e coordenador da divisão de compostagem EEA/UEFS. Endereço (*) : Km 03 BR 116- Campus Universitário. Caixa Postal: CEP Feira de Santana- Ba Telefone: (0xx75) (0XX75) lucianovaz@yahoo.com RESUMO Os problemas ocasionados pela disposição incorreta de resíduos orgânicos compreendem um amplo espectro, que abrange desde casos relacionados à contaminação do solo e água, produção de odores, disseminação de doenças até a desvalorização da área onde o resíduo é depositado, interferindo no modo de vida de uma comunidade e a sua concepção de ambiente. Instalada desde 1992 a coleta seletiva é realizada em todo o campus da Universidade Estadual de Feira de Santana. Para a efetuação da coleta existe toda uma estrutura que vai desde acondicionadores coloridos a área de armazenamento e tratamento de recicláveis. Dos resíduos orgânicos produzidos na universidade, os das cantinas são reciclados na sua totalidade. Os resíduos orgânicos utilizados possuem densidade em torno de 0,64 g cm 3 e cada pilha ocupa o equivalente a 4,7 m 3. A área utilizada para a compostagem é de 100 m 2, sendo esta coberta e com o piso de concreto desempola e uma canaleta para captação de chorume. Os parâmetros de ph, sólidos voláteis e germinação apresentam resultados satisfatórios e condizentes com outros experimentos de compostagem que expressem a decomposição da matéria orgânica nas pilhas. O projeto tem contribuído na construção de uma nova forma de concepção dos resíduos orgânicos, ou seja, o que antes era considerado um problema com vários desdobramentos negativos, torna-se um material com variados tipos de utilização e que serve desde a geração do resíduo orgânico até a obtenção do composto como um meio de sensibilização e re-avaliação de costumes. Devido às pesquisas desenvolvidas pelo projeto este agrega as mais variadas áreas servindo de suporte para as aulas de graduação e pós graduação do campus. As atividades de pesquisa e extensão são periódicas devido à demanda de estudantes que se interessam pelo assunto, acarretando em aquisição de equipamentos para os laboratórios que auxiliam nas análises desenvolvidas, bem como com bolsas de pesquisa e extensão oferecidas pelas instituições de fomento a pesquisa e a Universidade Estadual de Feira de Santana. Existe o interesse também pelos alunos e professores do ensino médio e fundamental que tem o projeto como forma de complementar a estruturação didática de suas disciplinas ligadas às ciências biológicas. Ocorre um interesse do setor de jardinagem do campus no reaproveitamento do composto, sendo uma tentativa do programa em incorporar este hábito na rotina da universidade. Palavras Chave: Compostagem, Resíduos Orgânicos, Gerenciamento, Universidade, Educação Ambiental. 1
2 INTRODUÇÃO Os problemas ocasionados pela disposição incorreta de resíduos orgânicos compreendem um amplo espectro, que abrange desde casos relacionados à contaminação do solo e água, produção de odores, disseminação de doenças até a desvalorização da área onde o resíduo é depositado, interferindo no modo de vida de uma comunidade e a sua concepção de ambiente (Manahan, 1994; Ayuso et al., 1996; Bowler, 1999; Tedesco et al., 1999). Dos métodos utilizados atualmente para o tratamento dos resíduos orgânicos, a compostagem tem-se mostrado uma técnica confiável e com resultados satisfatórios. O tratamento é definido como um processo controlado de decomposição microbiana de uma massa heterogênea de matéria orgânica no estado sólido tendo como resultado final o composto orgânico (Kiehl, 1985, Pereira Neto, 1989; Kiehl, 1998). Devido as atividades de ensino, pesquisa, extensão e administrativas o campus produz uma gama muito diversificada de resíduos, passando por várias características que os retratam desde Classe I a Classe III (ABNT, 1984). Em 1992 foi implantada uma experiência na área de gerenciamento de resíduos sólidos lançando mão da coleta seletiva e reaproveitamento de resíduos com potencial reciclável direcionados por estratégias de educação ambiental. O projeto intitulado Coleta seletiva e reaproveitamento do lixo gerado no campus da UEFS instituiu dentro das suas diversas linhas de pesquisa o projeto Compostagem de resíduos orgânicos produzidos no campus. O projeto foi consolidando linhas na área de monitoramento de pilhas de compostagem através de parâmetros físicoquímicos e biológicos, rendendo bolsas de pesquisas e trabalhos publicados nos mais diversos fóruns científicos. Existe também uma linha voltada a extensão onde a busca de troca com prefeituras, comunidades e órgãos não governamentais direciona as tecnologias aplicadas a estas necessidades. Indisssociada dos processos de pesquisa e extensão a educação ambiental é um instrumento utilizado durante todas as execuções do projeto. O projeto tem como objetivos: i) o desenvolvimento de métodos de compostagem primando pela qualidade e técnicas de baixo custo adaptadas as características do semi-árido nordestino; ii) chamar atenção para o problema de disposição e aproveitamento de resíduos orgânicos; iii) ser um instrumento de Educação Ambiental. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar como ocorre o tratamento dos resíduos orgânicos produzidos em um campus universitário, bem como os desdobramentos ocorridos com a efetuação do processo de compostagem. METODOLOGIA A Universidade Estadual de Feira de Santana constitui-se de sete módulos onde são desenvolvidas atividades acadêmicas e Centros Administrativos I, II e III. Conta ainda com outras instalações como um Centro de Informática, Parque Esportivo, Biblioteca, Creche, Centro de Educação Básica, Residência Universitária, Estação Climatológica, Sede de Educação Ambiental e Clínicas Odontológicas. São mantidos 20 Cursos de Graduação e 56 de Pós-graduação. São produzidas 6.182,8 t ano -1 de resíduos sólidos sendo 38,34 % de recicláveis e 61,66 % de aterro. Convencionou-se denominar aterro todos os resíduos que não se enquadram nos parâmetros de recicláveis (papel, metal, vidro, plástico e orgânico). O lixo hospitalar é acondicionado em local específico e coletado pela prefeitura da cidade. Dos resíduos orgânicos produzidos na universidade, os das cantinas são reciclados na sua totalidade. Como a universidade não possui restaurante universitário com funcionamento regular as cantinas acabam por servir, preferencialmente, como o ponto de refeição no campus. Esses resíduos são coletados diariamente por um trator com carroceria (capacidade de 3m 3 ) e levado para o pátio de compostagem para processamento. Os resíduos utilizados tem sua origem basicamente de restos de preparo de alimentos e refeições. Após a compostagem o composto, produto final, é peneirado e armazenado em tambores. O refugo, material não decomposto, é reutilizado nas pilhas seguintes. Os materiais inertes (canudos, tampas, embalagens) são enviados para o lixo aterro. Os resíduos provenientes das podas do campus não são ainda reaproveitados devido a capacidade da usina de tratamento não comportá-los e são dispostos em áreas isoladas do campus. Os resíduos provenientes do restaurante universitário são utilizados como alimento para animais pertencentes a funcionários da própria universidade. O ciclo do lixo orgânico da UEFS é representado na Figura 1. 2
3 Figura 1- Fluxograma representando as principais vias de geração, coleta e tratamento do resíduo orgânico produzido na Universidade Estadual de Feira de Santana. Os resíduos orgânicos utilizados possuem densidade em torno de 0,64 g cm 3 e cada pilha ocupa o equivalente a 4,7 m 3. A área utilizada para a compostagem é de 100 m 2, sendo esta coberta e com o piso de concreto desempolado e uma canaleta para captação de chorume (Figura 2). A construção de cada pilha demanda cerca de quatro semanas, sendo a sua configuração cônica com altura em torno de 1,20 m e diâmetro de 2,0 m. A B C D Figura 2- Monitoramento das pilhas de compostagem (A); Composto orgânico produzido com os resíduos do campus (B); Amostras de composto utilizadas para sensibilização da comunidade universitária e aos visitantes do projeto (C); Vista lateral da área de compostagem (D). 3
4 As pilhas são monitoradas na área quanto à temperatura, umidade e odor. Realizam-se avaliações sistemáticas de ph em água e sólidos voláteis durante todo o período de compostagem. Com o decréscimo da temperatura no final dos 90 dias passa-se ao teste de germinação para indicação da maturação do composto. RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS As fases comuns ao processo de degradação aeróbica (fase termofílica e mesofílica) são observadas no período de cerca 90 dias. Os parâmetros ph, sólidos voláteis (Figura 2) e carbono total (Figura 3) e temperatura (Figura 4) germinação apresentam resultados satisfatórios e condizentes com outros experimentos de compostagem que expressem a decomposição da matéria orgânica nas pilhas. As características físico-químicas são expressas na tabela 1. Iniciando uma nova fase o projeto passa a incorporar novos tipos de análises buscando centrar o ponto da maturação do composto. Os fungos identificados foram coletados durante a fase oxidativa e a fase de maturação. Encontraram-se o Aspergillus flavus e Aspergillus niger. As espécies de Aspergillus são classificadas pelo conjunto de características macro e microscópicas. Tabela 1 Características químicas do composto produzido através do método de compostagem de reviramento manual com resíduos orgânicos produzidos em universidade. ph C P 2 O 5 K 2 O Ca Mg Cd Cu Zn Pb % água g kg -1 ug g -1 8,2 13,8 0,07 7,3 6,6 4,1 <5 < SÓLIDOS VOLÁTEIS (%) DIAS DE COMPOSTAGEM Figura 2- Comportamento dos Sólidos Voláteis em pilha de compostagem aeróbica revirada manualmente. 4
5 35 31,7 C TOTAL (%) ,9 16,7 15,6 12,8 12,2 13,9 10,0 8, DIAS DE COMPOSTAGEM Figura 3- Comportamento dos Sólidos Voláteis em pilha de compostagem aeróbica revirada manualmente TEMPERATURA TEMPERATURA (ºC) TEMPO (DIAS) Figura 4- Comportamento da temperatura média em pilha de compostagem aeróbica revirada manualmente durante 90 dias. O aumento da comunidade universitária, pessoas entre os anos de 1994 a 200, possuiu relação direta com a geração de resíduos sólidos orgânicos nas cantinas. Somado ao aumento da comunidade universitária a falta de espaço coberto para a construção das pilhas de compostagem resultou em um acréscimo de 2,2 t nas pilhas, pois a área construída tem a capacidade máxima de 24 m 3 de resíduos orgânicos, obtendo-se um aumento da pilha um reflexo positivo na otimização do espaço de tratamento. O projeto tem contribuído na construção de uma nova forma de concepção para o tratamento dos resíduos orgânicos, ou seja, o que antes era considerado um problema com vários desdobramentos negativos, torna-se um material com potencial de uso e que serve desde a geração do resíduo orgânico até a obtenção do composto como um meio de sensibilização e re-avaliação de costumes. Devido às pesquisas desenvolvidas pelo projeto este agrega as mais variadas áreas servindo de suporte para as aulas de graduação e pós graduação do campus. As atividades de pesquisa e extensão são periódicas devido à demanda de estudantes que se interessam pelo assunto, acarretando em aquisição de equipamentos para os laboratórios que 5
6 auxiliam nas análises desenvolvidas, bem como com bolsas de pesquisa e extensão oferecidas pelas instituições de fomento a pesquisa e a Universidade Estadual de Feira de Santana. Existe o interesse também pelos alunos e professores do ensino médio e fundamental que tem o projeto como forma de complementar a estruturação didática de suas disciplinas ligadas às ciências biológicas. Ocorre um interesse do setor de jardinagem do campus no reaproveitamento do composto, sendo uma tentativa do programa em incorporar este hábito na rotina da universidade. Os códigos éticos e sociais influenciam de forma direta nas atitudes, coletivas e individuais, da comunidade universitária, daí a necessidade de investimento na reformulação do sistema convencional de coleta e seus tratamentos alternativos. O esclarecimento destas vias de gerenciamento é de fundamental importância para a universidade constituindo os primeiros passos para a ruptura dos paradigmas ligados aos resíduos orgânicos. 6-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1987) Fórum nacional de normatização: NBR Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro. 63 p. Ayuso M.; Pascual, J.A. ; Garcia, C.; Hernández, T. (1996) Evaluation of urban Wastes for agricultural Use. Soil Science and Plant Nutrition, v.42, n.1, p Bowler. I. R. (1999) Recycling urban waste on farmland: on actor-network interpretation. Applied Geography, v. 19, p Dias, S. M.; Vaz, L. M. S. (1997) Compostagem aeróbica: Tratamento do lixo gerado no campus da Universidade Estadual de Feira de Santana. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 19. Foz do Iguaçu - PR, Anais (CD ROM). Dias, S. M. F.; Vaz, L. M. S. (1996) Métodos de monitoramento no processo aeróbico de compostagem. Sitientibus, Feira da Santana, nº 15, p Kiehl, E. J. (1998) Manual de Compostagem Maturação e qualidade do composto. Piracicaba: E. J. Kiehl. 171 p. Kiehl, E.J. (1985) Fertilizantes orgânicos. São Paulo: Agronômica Ceres. 492p. Manahan, S. E. (1994) Environmental Chemistry. Boca Raton: Lewis. 811 p. Kiehl J.C. (1989) Fertilidade do Solo. São Paulo: Nobel. 400 p. Pereira Neto, J.T. (1989) Conceitos Modernos de Compostagem. Engenharia Sanitária e Ambiental. Abril./ Maio. Tedesco, M. J.; Volkweiss, S. J.; Bohnem, H. (1985).Análises de solo, plantas e outros materiais. Porto alegre: UFRGS. 188 p. (Boletim Técnico Nº 5). 7- AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos os participantes (estagiários, funcionários e professores) do programa Coleta Seletiva e Reaproveitamento do Lixo Gerado no Campus da UEFS, ao Departamento de Tecnologia, o Laboratório de Saneamento e a Universidade Estadual de Feira de Santana por terem acreditado na equipe e que sem os quais seria impossível o andamento dos trabalhos desenvolvidos. 6
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