O Enigma do Crescimento Brasileiro. Síntese Econômica Mensal
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- Antônio Bastos Barreto
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2 O Enigma do Crescimento Brasileiro Apesar das sucessivas reduções da taxa básica (SELIC), das políticas de estímulo ao crédito e das diversas desonerações de tributos e de encargos trabalhistas, os indicadores de desempenho da economia continuam apontando para baixos níveis de crescimento. Os efeitos da política monetária sobre o consumo e investimento produtivo do setor privado requerem certo tempo para se manifestar. Além disso, a experiência moderna mostra que a intensidade e a tempestividade desses efeitos dependem em grande medida da existência de regras estáveis em sua condução. Ainda existe grande indefinição sobre o modelo econômico adotado, com anúncios de estímulos setoriais quase semanais, carentes de maior planejamento. Tudo isso aumenta a incerteza que já enfrentam consumidores e investidores, produto da fragilidade da economia mundial, diminuindo e retardando os impactos das políticas econômicas anticíclicas sobre a expansão do PIB. Se o governo realmente deseja elevar o crescimento da economia brasileira no curto prazo, deverá reduzir as margens de discricionariedade e improvisação na condução destas, mostrando compromisso crível com o modelo superávit primário-meta de inflação-câmbio flutuante, responsável pelo fortalecimento dos fundamentos da economia brasileira. Síntese Econômica Mensal Crédito à pessoa física continuou mostrando expansão mais moderada*. Inflação voltou a acelerar-se na primeira quinzena. Produção industrial cresceu levemente, após três meses consecutivos de redução*. Volume de vendas do comércio varejista apresentou redução**. Ocupação caiu em três regiões metropolitanas e permaneceu estável em duas*. Salário médio prosseguiu crescendo em termos anuais*. Inadimplência apresentou ligeira redução. Superávit fiscal primário diminuiu fortemente na comparação anual, devido, principalmente, aos fracos resultados estaduais e municipais*. Arrecadação federal apresentou nova queda, devido às menores receitas atípicas e à desaceleração da economia*. 2
3 Despesas do Tesouro voltaram a crescer, por conta do aumento dos gastos com custeio e pessoal, enquanto o investimento público, descontando-se os subsídios Minha Casa Minha Vida, mostrou queda em termos anuais*. Exportações retrocederam ligeiramente mais do que as importações, na comparação anual, provocando redução no saldo comercial. Real mostrou leve desvalorização frente ao dólar. Expectativas para o crescimento anual da atividade econômica continuam sendo revisadas para baixo. Inflação deverá fechar o ano ao redor da meta anual. Cumprimento da meta de superávit fiscal primário cada vez mais difícil. Desequilíbrio das contas externas deverá diminuir, sendo financiado pela entrada de capitais estrangeiros. Var. Mensal (%) Var. Julho 2011 (%) Crédito à Pessoa Física*a 1,3% 10,9% Inflação - IPCAb 0,3% 0,1% Crescimento do PIB**c 0,0% 0,2% Produção Industrial*c 0,2% -5,5% Vendas no Varejo**c 0,8% 8,2% Ocupação** 1,2% 2,5% Rendimento Médio Real** -0,1% 4,9% Taxa de Inadimplência BC -0,1% 21,9% Receitas Governo Federal*a -2,0% -9,2% Despesas Governo Federal*a 5,7% 5,6% Superávit Primário*a 5,3% -84,0% Exportações -1,3% -9,9% Importações -11,2% -9,5% Saldo Comercial 257,2% -8,3% Taxa de Câmbiod -1,0% 29,8% * Dados relativos a junho de ** Dados relativos a maio de a: Reajustado pelo IPCA. b: Variação do IPCA-15. c: Dados dessazonalizados. d: Média do período. 3
4 1. Moeda, Crédito e Inflação Dados do Banco Central de junho de 2012 mostram alta anual de 6,9%, na média dos saldos diários de criação de moeda. Por sua vez, o crédito à pessoa física apresentou alta de 13,3%, na mesma base de comparação, contra 15,4% registrado no final de A inflação (IPCA 12 meses) em 15 de julho de 2012 caiu para 5,0%. Em meados de julho, o Banco Central efetuou nova redução da taxa de juros básica (SELIC), fixando-a em 8,0% ao ano. Repetiu o comunicado da última ata, afirmando que neste momento, permanecem limitados os riscos para uma trajetória de alta na inflação, e dada a fragilidade da economia global, sua contribuição tem sido desinflacionaria. Prioriza-se, então, a retomada da atividade econômica, que tem se mostrado praticamente estagnada. 2. Produção, Vendas e Inadimplência A prévia de maio para o PIB, divulgada pelo Banco Central, registrou leve alta de 0,1% na comparação interanual. Além disso, dados da indústria de maio, informados pelo IBGE, mostraram, na mesma base de comparação, queda de 5,5%, enquanto as vendas no varejo se expandiram em 8,2% em junho. Dados da ACSP/BVS com base nas consultas ao SCPC e SCPC Cheque, relativos aos sete primeiros meses de 2012, mostraram alta moderada para a cidade de São Paulo (3,0% e 2,6%, respectivamente), enquanto a inadimplência no comércio em julho apresentou alta de 9,4% nos registros de atrasos e elevação de 9,7% nos cancelamentos, sugerindo estabilidade, com ligeira propensão à baixa. Por sua vez, de acordo com os dados do Banco Central, que incluem dívidas bancárias, a taxa de inadimplência atingiu 7,8% em junho, ante 7,9% em maio. Porém, vale destacar que, em qualquer dos dois casos, a proporção de atrasos nos pagamentos de dívidas foi mais elevada que a verificada em O dado positivo, nesse contexto, continua sendo o crescimento anual da massa salarial, que em maio, alcançou 7,5% (2,5% no emprego e 4,9% nos salários), o que deveria contribuir para manter a inadimplência sob controle, facilitando a renegociação de dívidas. Em síntese, a política de afrouxamento monetário tem sido orientada para a retomada do nível de atividade econômica, mas ainda não produziu os resultados esperados. Por isso, a taxa SELIC ainda deverá cair, mas com parcimônia, não se descartando o anúncio de novas medidas de estímulo para o setor industrial. A inflação deve terminar o ano em cerca de 5,0%, enquanto a inadimplência deveria mostrar maior queda nos meses próximos ao fim do ano. 3. Finanças Públicas Durante o primeiro semestre do ano, o Governo Central (Tesouro, Previdência e Banco Central) registrou superávit primário (diferença entre receitas e gastos do Governo, sem incluir os juros da dívida pública) de R$ 65,7 bilhões (3,1% do PIB), cumprindo 47% da 4
5 meta estipulada para o ano (R$ 139,8 bilhões). No entanto, apesar do resultado ter sido inferior ao alcançado em igual período de 2011 (3,9% do PIB) pelo quarto mês consecutivo, representou expressiva queda real (corrigindo a inflação pelo IPCA) de 20,9%. A redução de junho em relação ao mesmo mês do ano anterior foi ainda mais expressiva, alcançando, em termos reais, a 84,0%. Vale notar que as cifras anteriores, como é habitual, não incluem bancos estatais nem Petrobrás e Eletrobrás. A arrecadação federal registrada durante o período janeiro-abril somou R$ 336,4 bilhões, com crescimento real (acima da inflação) de 5,3% em relação a 2011, mostrando desaceleração em relação à expansão registrada durante o primeiro quadrimestre (7,2%). Essa desaceleração pode ser explicada majoritariamente pelo fraco desempenho da economia brasileira, que novamente provocou em maio a queda dos tributos ligados aos lucros das empresas (Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ 36,4% e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL 44,3%). Com relação às despesas do Governo Federal, registrou-se um aumento real de 7,9% em relação ao período janeiro-maio de 2011, superando o crescimento da arrecadação, a exemplo do que ocorreu nos primeiros quatro meses do ano, embora mostrando aumento acumulado menor que o observado nesse período (8,4%). Apesar do gasto com Pessoal e Encargos Sociais ter continuado a mostrar diminuição em termos reais (3,0%), embora menos do que o observado no primeiro quadrimestre do ano (3,4%), isto novamente foi mais do que compensado pela expansão real das despesas de Custeio e Capital (16,4%). No caso dessas últimas, mais uma vez destaca-se a rubrica Outras Despesas de Capital, que tradicionalmente inclui os gastos de capital do governo, com grande expansão real de 25,2%, maior inclusive que o resultado registrado no primeiro quadrimestre de Contudo, deduzindo-se os subsídios do programa Minha Casa Minha Vida, que passaram a ser incluídos nessa rubrica, visualiza-se uma queda real ainda maior dos investimentos públicos federais, que alcança a aproximadamente 8,4%. Em resumo, tal tem sido projetado em edições anteriores desse Boletim, o menor crescimento econômico, que reduz o incremento da arrecadação, aliado à contínua expansão das despesas públicas, põe em risco o cumprimento da meta cheia de superávit fiscal primário para o presente ano. Porém, é bastante provável que o governo continue utilizando o expediente de alocar parte da despesa na rubrica Restos a Pagar, o que asseguraria o cumprimento da meta fiscal, ainda que em termos puramente contábeis. 4. Setor Externo A balança comercial brasileira, em julho, com exportações de US$ 21 bilhões e importações de US$ 18,1 bilhões, registrou o segundo maior saldo mensal do ano, de US$ 2,9 bilhões. No entanto, esse saldo positivo, medido pela média por dias úteis, foi 8,3% inferior ao registrado em julho do ano passado, decorrente da redução de quase 10% tanto das exportações, como das importações brasileiras. Esses resultados podem ser atribuídos, no caso das primeiras, à retração da economia mundial, e no caso das compras no exterior, à desaceleração da economia interna, e, em boa parte, pela operação padrão 5
6 dos fiscais da Receita Federal e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que, desde meados de junho, tem atrasado os despachos aduaneiros nos portos do país. No acumulado do ano, as vendas ao exterior somaram US$ 138,2 bilhões e as importações US$ 128,3 bilhões, obtendo-se saldo, de US$ 9,9 bilhões, 38% inferior ao do mesmo período do ano passado. Mesmo assim, o Banco Central não mudou sua estimativa para o saldo da balança comercial, esperando que este termine o ano em torno de US$ 18 bilhões, provavelmente na esperança de que os recentes aumentos de preços internacionais das commodities agrícolas possam favorecer nossas exportações. De fato, nos dois últimos meses, o índice CRB, um dos principais medidores de preços das commodities, acumulou uma alta de 9,7%, impulsionada pelas cotações do milho, da soja e do trigo, em decorrência da estiagem nas principais regiões produtoras de grãos dos Estados Unidos. Como esses produtos são insumos para a produção de ração, é de se esperar aumento dos preços da carne suína e de aves, produtos também importantes na pauta de exportação do país. No tocante as transações correntes (exportação menos importações de bens e serviços), conforme dados divulgados até o mês de junho, seu desempenho, nos últimos doze meses, acumulou um déficit de US$ 51,8 bilhões, equivalente a 2,2% do PIB, mantendo-se estável desde meados de A redução do saldo da balança comercial nos últimos meses foi em parte compensada pela menor remessa de lucros e dividendos para fora do país e pela maior entrada de investimentos diretos estrangeiros, em decorrência da desvalorização do real. Durante o mês de julho o valor da moeda americana no mercado de câmbio manteve-se praticamente estabilizado, flutuando num pequeno intervalo entre US$ 2,02 e US$2,04, fechando o mês à taxa de US$ 2,046, sem praticamente haver intervenção por parte do Banco Central. Em relação a dezembro do ano passado, a desvalorização do real em relação ao dólar foi de 9% e de 29,8%, em relação a julho de
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