Anexo X Programas Temáticos
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- Manoela Maranhão Capistrano
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1 Plano Plurianual Anexo X Programas Temáticos Programa Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Contextualização O homem vem intensificando alterações no meio ambiente a fim de moldar o meio físico às suas necessidades e usos. Tais alterações provocam perturbações no equilíbrio dos sistemas naturais, resultando em situações de vulnerabilidade que podem provocar desastres. No Brasil, a ocorrência e a intensidade dos desastres naturais dependem mais do grau de vulnerabilidade das comunidades afetadas do que da magnitude dos eventos adversos. Os desastres naturais mais recorrentes registrados no Brasil são os decorrentes de inundações, alagamentos, enxurradas, deslizamentos, estiagens, secas e vendavais, sendo que nos ambientes urbanos, que abrigam a grande maioria da população brasileira, as inundações, as enxurradas e os deslizamentos de solo ou rocha constituem-se nos eventos que causam os maiores impactos. O processo de urbanização do País, que se acelerou intensamente a partir da década de 1950, não foi acompanhado de políticas de desenvolvimento urbano que se preocupassem em prover moradia para toda a população. Sem condições de adquirir no mercado legal uma residência, importantes parcelas da população mais pobre ocuparam aqueles terrenos menos valorizados em função de restrições à ocupação legal, seja devido à situação de risco potencial, seja devido à necessidade de preservação ambiental. Assim os assentamentos precários se implantaram e se expandiram, com ocupação de áreas de elevada declividade e margens de rios, gerando um quadro urbano de extrema vulnerabilidade a deslizamentos de encostas, inundações e enxurradas. No que diz respeito às inundações e enxurradas, é importante destacar sua relação com as ocupações nas cidades que, em sua maioria, se deram em áreas ribeirinhas (leito maior dos rios), principalmente nos lugares em que a frequência de enchente é baixa. Com o expressivo aumento da superfície impermeabilizada nas cidades, provocado pelas ocupações, e sua contribuição para o aumento da área de enchente, houve o aumento da frequência e a intensificação das inundações gerando, desse modo, danos a essas populações. Colabora ainda com o problema a alteração na cobertura vegetal em áreas rurais, que acarreta a modificação da dinâmica das águas na bacia e os condicionantes do ciclo hidrológico, impactando os rios quanto à quantidade e a qualidade da água e ainda provocando assoreamento. A Figura 1 retrata a distribuição dos municípios afetados por, no mínimo, três eventos de inundações, enxurradas, enchentes e alagamentos entre janeiro de 2003 e maio de 2011, com Portaria de Reconhecimento de Situação de Emergência ou Estado de calamidade pública expedida pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. Com essa distribuição, percebese a significativa concentração dessas situações de risco em municípios das regiões Sudeste, Sul e Nordeste do País.
2 Figura 1 Municípios afetados por inundações, enxurradas, enchentes e alagamentos. Fonte: Secretaria Nacional de Defesa Civil (MI). Elaboração: Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (MP). Quanto aos deslizamentos, o aumento de ocorrências de desastres é, em sua maioria, derivado da ocupação inadequada de áreas de risco geológico potencial. A ocupação de áreas íngremes por assentamentos precários, caracterizados pela ausência de infraestrutura urbana (principalmente sistemas de drenagem), a execução de cortes e aterros instáveis (sem estruturas de contenção de taludes), os depósitos de lixo nas encostas e a fragilidade das construções, potencializam a fragilidade natural dos terrenos, o que resulta em áreas de risco sujeitas a deslizamentos, principalmente nos períodos chuvosos mais intensos e prolongados. Contudo, os bairros legalmente implantados também estão sujeitos a desastres associados a deslizamentos, pois o conhecimento do comportamento do meio físico ainda não foi adequadamente incorporado aos planos diretores, leis de uso e ocupação do solo ou ao processo de licenciamento dos novos parcelamentos do solo. Assim, não é incomum a aprovação de loteamentos e conjuntos habitacionais em áreas cujas condições geológicas recomendariam a utilização para atividades de caráter não permanente, como praças públicas, parques ou áreas verdes de lazer. Identificou-se um conjunto de municípios (Figura 2) que apresenta maior probabilidade de ocorrência de desastres associados a deslizamentos de encostas. Os critérios utilizados foram: frequência de ocorrência de eventos de deslizamentos de encostas; magnitude dos eventos, obtida a partir do registro das vítimas; e condições potenciais de ocorrência de grandes eventos de movimentos de massa.
3 Figura 2 - Distribuição dos municípios mais suscetíveis a deslizamentos de encostas. Fontes: Serviço Geológico do Brasil-CPRM (MME), Secretaria Nacional de Defesa Civil (MI) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Elaboração: Secretaria Nacional de Programas Urbanos (MCID). Observa-se uma nítida concentração na região Sudeste (68% dos municípios), seguida das regiões Sul (15%) e Nordeste (11%). Revelam-se com a regionalização apresentada nas Figuras 1 e 2, áreas em que políticas públicas municipais, estaduais e federais devem ser intensificadas a fim de reduzir o grau de vulnerabilidade das comunidades frente aos fenômenos de deslizamentos, inundações e enxurradas, de forma a ampliar a segurança da população. Assim, para a minimização dos danos, o programa de Gestão de Riscos e Reposta a Desastres incorpora a ação coordenada e articulada dos entes federados. O programa amplia o conhecimento público sobre as áreas de risco nos municípios mais críticos, por meio do mapeamento da suscetibilidade geológica aos fenômenos de deslizamentos, inundações e enxurradas; do mapeamento de riscos nas áreas ocupadas; da definição de diretrizes para a ocupação urbana segura, tanto na escala de planejamento urbano, quanto na escala dos projetos de parcelamento do solo; e do monitoramento da ocupação urbana, permitindo avançar num processo de controle e fiscalização urbanos que reduza o avanço da ocupação sobre áreas de maior fragilidade natural. É preciso também dar continuidade e ampliar os investimentos em intervenções estruturais de caráter preventivo, envolvendo a implantação de sistemas de drenagem urbana e de medidas que promovam adequadamente o manejo das águas pluviais, a implantação de parques, bosques e áreas de lazer em áreas de grande suscetibilidade a inundações rápidas e enxurradas, e a execução de obras de estabilização e contenção de encostas, além da execução de intervenções emergenciais voltadas para proteger a infraestrutura e setores críticos sob risco de colapso iminente. As intervenções estruturais contemplam também a remoção criteriosa de moradias em áreas de risco, associada ao reassentamento
4 em áreas próximas, de forma a permitir a manutenção das condições de emprego e renda e do acesso aos equipamentos públicos. E ainda é necessário planejar as bacias hidrográficas de forma integrada, considerando que as intervenções nos corpos de água e a modificação da cobertura do solo, seja em zonas urbanas ou rurais, podem alterar a quantidade de água que escoa para os rios, aumentando suas vazões e áreas de enchente e, consequentemente, causando efeitos nas áreas mais baixas. É preciso avançar na gestão dos recursos hídricos observando não somente a escassez água, mas também as vazões de cheia. As intervenções estruturais articulam-se com intervenções não estruturais no âmbito de uma defesa civil que desenvolve ações contínuas pelas quais os indivíduos, grupos e comunidades façam a gestão dos riscos num esforço de evitar desastres ou de amenizar seus impactos. Uma defesa civil eficiente se dá pela integração de planos de prevenção e de emergência, com envolvimento de agentes governamentais e não governamentais de todos os níveis. Observa-se que a estrutura da Defesa Civil do país, institucionalizada pelo Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC), encontra-se, na legislação, bem definida e representada, já que integram-se ao SINDEC os diversos entes federados e as representações da sociedade atuantes nesse tema. Considerando que o desastre ocorre em âmbito local, ou seja, no município, a instituição local deve estar bem estruturada, articulada com os demais órgãos integrantes do SINDEC, e, ainda, servir de referência para a tomada de decisão sobre ações preventivas e de resposta (socorro e assistência às vítimas, restabelecimento do cenário afetado e reconstrução de áreas atingidas). No entanto, percebe-se a baixa implementação da defesa civil municipal (menos de 10% dos municípios brasileiros têm órgãos de defesa civil implementados e estruturados), o que demonstra a necessidade de políticas que visem à implementação e à estruturação desses órgãos locais, principalmente nos municípios recorrentemente afetados por desastres. A ampliação e a conexão entre os elementos integrantes da rede de informação sobre desastres no Brasil surgem, nesse contexto, como uma ação relevante para a estruturação do planejamento e das ações da Defesa Civil. Para se induzir a atuação em rede e dar suporte às decisões de prevenção a desastres, pressupõe-se a estruturação de um sistema central de monitoramento, previsão e alerta de desastres naturais, fazendo uso de tecnologias modernas e com capacidade de monitoramento ininterrupto. Esse sistema deve ter condições de realizar pesquisas a respeito das condições de ocorrência e da natureza dos eventos deflagradores dos desastres, podendo, de forma adaptativa, ser capaz de incorporar novos conhecimentos. Deve, ainda, ser capaz de incorporar e processar informações de diversas fontes, a exemplo da rede de radares meteorológicos, da rede nacional hidrometeorológica, de imagens de sensores remotos e da rede nacional de sismógrafos, produzindo a informação que permita alertar sobre a probabilidade de ocorrência de desastres e viabilizar a ação preventiva dos órgãos do SINDEC e da sociedade. Não obstante a atuação do SINDEC em âmbito nacional revela-se ainda importante a participação do Brasil nas discussões internacionais sobre o tema, visto que a gestão de riscos e a resposta a desastres integram a política brasileira de cooperação humanitária internacional. Em se tratando de resposta a desastres e reconstrução, observa-se que os recursos federais destinados a essas ações sofreram ajustes significativos nos últimos anos. Diversos fatores explicam esse incremento de recursos, desde o aumento da frequência e da intensidade dos fenômenos climáticos até a expansão e adensamento urbanos nas áreas sujeitas a inundações, enxurradas e deslizamentos.
5 A Figura 3 demonstra o aumento exponencial dos recursos destinados no período de 2004 a 2010, de R$ 130 milhões para R$ 3 bilhões. Figura 3 - Recursos destinados à Resposta aos Desastres e Reconstrução Dados: SIGPLAN - Programa 1029 / PPA (Resposta aos Desastres e Reconstrução). Elaboração: Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (MP) A evolução significativa na aplicação de recursos em ações de resposta e de reconstrução devido a desastres, e em intervenções estruturais para controle de inundações, demonstra o esforço do Governo Federal em amenizar os danos decorrentes desses eventos. Entendese que o esforço do Estado deve, cada vez mais, ser concentrado nas ações de prevenção. Para tanto, o enfrentamento da questão também se dará em outras políticas públicas além da política de gestão de riscos e resposta a desastres, a exemplo das políticas de: saneamento básico, oferta de água, planejamento urbano, habitação, energia nuclear e conservação ambiental. Para tanto, a fim de orientar essas e outras políticas públicas, os órgãos e instituições do Sistema Nacional de Defesa Civil devem, estar estruturados e integrados.
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