SENTENÇA. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Carmen Cristina Fernandez Teijeiro e Oliveira VISTOS.

Transcrição

1 fls SENTENÇA Processo nº: Classe - Assunto Mandado de Segurança Coletivo - Produtos Controlados / Perigosos Impetrante: Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo - Sinafresp Impetrado: Diretor Executivo da Administração Tributária da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo e outros End. Impetrado(a/s) Av. Rangel Pestana, 300, Bras - CEP , São Paulo-SP, Av. Rangel Pestana, 300, Bras - CEP , São Paulo-SP, Rua Pamplona, 227, Jardim Paulista - CEP , São Paulo-SP Juiz(a) de Direito: Dr(a). Carmen Cristina Fernandez Teijeiro e Oliveira VISTOS. SINDICATO DOS AGENTES FISCAIS DE RENDAS DO ESTADO DE SÃO PAULO - SINAFRESP impetrou o presente MANDADO DE SEGURANÇA, pelo rito especial, contra ato do DIRETOR EXECUTIVO DA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA DA SECRETARIA DA FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, COORDENADOR GERAL DA ADMINISTRAÇÃO DA SECRETARIA DA FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, alegando, em síntese, que os seus representados vêm sendo submetidos a risco de vida e à integridade da saúde, em razão das diligências decorrentes da Operação de Olho na Bomba, regulamentadas por meio do Ofício Circular DEAT 17/2016, uma vez que eles realizam a operação de coleta das amostras-testemunha de combustíveis nos postos de gasolina sem treinamento prévio, sem EPIs, e as acondicionam em embalagens não certificadas pelo INMETRO, transportando-as, ainda, em veículos lauda 1

2 fls inadequados, com motoristas não capacitados e em veículos não equipados com itens de segurança imprescindíveis, sendo que, ao final, as amostras são irregularmente acondicionadas nas unidades tributárias, onde permanecem por vários dias até serem retiradas pelos laboratórios que farão as análises. Todas estas circunstâncias geram riscos de explosões e incêndios. Sustentando a ilegalidade do ato referido, requereram, em sede de tutela de urgência, a suspensão da aludida operação, até que todos os procedimentos de segurança sejam obedecidos e, ao final, a declaração de ilegalidade da operação referida, vedando-se qualquer procedimento dos seus representados sem as devidas cautelas para a sua segurança e a preservação de sua vida. A autoridade coatora prestou as informações que lhe foram solicitadas, sobrevindo decisão que concedeu a tutela de urgência para suspender as diligências da Operação de Olho na Bomba até que providenciadas todas as exigências legais de segurança na coleta, envase, transporte e armazenamento das amostras de combustível. Notificadas, as autoridades coatoras arguiram, preliminarmente, ilegitimidade passiva e decadência. No mérito, refutaram a aplicação de algumas exigências normativas de segurança, em face da pequena quantidade de combustível transportada e, no mais, informaram que estão providenciando as adequações às normas de regência. O Ministério Público manifestou-se. É O RELATÓRIO lauda 2

3 fls DECIDO. É caso de concessão parcial da segurança. Afasto, em primeiro lugar, a preliminar de ilegitimidade, porquanto na condição de Sindicato, detém o impetrante legitimidade para figurar no pólo ativo do presente writ independentemente de qualquer autorização expressa e individual dos seus associados, na medida em que esta exigência constitucional destina-se apenas às associações, conclusão que se depreende da leitura do acórdão proferido no RE , do STF. Com efeito, referido dispositivo, diversamente do que ocorre com o artigo 5º, inciso XXI, da CF, que trata das associações, não demanda a autorização expressa para defender em Juízo o interesse de seus associados, justamente porque os sindicatos são verdadeiros substitutos processuais destes, por autorização constitucional, ao passo que as associações figuram como meras representantes. Afasto, outrossim, a preliminar de ilegitimidade passiva do Coordenador da Administração Tributária, impondo-se, na espécie, a aplicação da Teoria da Encampação, eis que ela exerceu ampla defesa, refutando a pretensão inicial, sem qualquer prejuízo para a administração. Rejeito, por fim, a alegação de decadência do presente mandamus. Com efeito, o impetrante se volta contra a lauda 3

4 fls conduta omissiva das autoridades coatoras na preservação da vida e da saúde dos seus associados, na execução do procedimento de coleta das amostras dos combustíveis, e não propriamente contra a Resolução que estabeleceu a operação "De olho na Bomba". De fato, não pretendem eles anular o aludido ato normativo, seja total ou parcialmente, nem tampouco vedar a continuidade da operação, mas apenas compelir as impetradas a atender as normas de segurança aplicáveis e compatíveis com a atividade por eles realizada no âmbito da operação referida, as quais, repise-se, não se encontram previstas nos atos administrativos expedidos pelas autoridades impetradas, e sim na legislação alusiva à produtos perigosos sobre a qual se discorrerá adiante. E, em se tratando de condição omissiva, que não é estanque, mas ao contrário, se protrai no tempo, porquanto em curso a referida operação até a data da impetração, não há falar-se em decadência ante a renovação do coator a cada ordem de serviço expedida. No mais, assiste parcial razão ao impetrante. Com efeito, especificamente no que se refere ao transporte das amostras, as disposições constantes da Resolução ANTT 3.665/11 são regulamentadas pela outra Resolução 420/04, a qual efetivamente dispensa alguns requisitos de segurança na hipótese de transporte de até 33kg de gasolina em embalagens de até 1 litro, como ocorre na Operação de Olho na Bomba. Nestas hipóteses, o aludido regulamento dispensa lauda 4

5 fls a utilização de EPIs, equipamentos de emergência no veículo (exceto o extintor de incêndio), e treinamento do condutor do veículo, autorizando, ainda, a possibilidade de passageiro no veículo. Portanto, neste ponto específico, não assiste razão ao SINAFRESP. Não obstante, no que se refere aos demais tópicos, a despeito das negativas iniciais trazidas nas informações, ao final destas houve inegável reconhecimento das irregularidades descritas na inicial. Com efeito, no que se refere aos Equipamentos de Proteção Individual, sustentam as impetradas que já existem e são disponibilizados aos Agentes Fiscais, mas ao final das informações prestadas dão conta de que outros serão adquiridos em quantidade suficiente para que sejam utilizados em todas as ações da Operação de Olho na Bomba (fls. 1090). Tem-se, pois, o reconhecimento das impetradas, no sentido de que eventuais EPIs existentes eram insuficientes. E nem se alegue sua desnecessidade, sob o fundamento de que a coleta é realizada pelos frentistas dos postos, porquanto é bastante possível e até mesmo provável que alguns deles, cumprindo ordem de seus patrões, se recusem a colaborar com a fiscalização, hipótese em que, à evidência, a coleta deverá ser realizada diretamente pelos fiscais, donde exsurge a necessidade dos aludidos equipamentos lauda 5

6 fls Para além disso, informaram que estão tomando diversas providências, dentre elas, a aquisição de frascos para acondicionamento das amostras de combustíveis certificados pelo INMETRO, conforme postula o autor deste writ. Registre-se, quanto a este tema, que a observância da Resolução ANP 9/2007 e Regulamento Técnico ANP 1/2007, pelas autoridades coatoras, não afasta a necessidade do Selo de Identificação de Conformidade estabelecido pela Portaria INMETRO 326/06, obrigatório para embalagens que acondicionam produtos perigosos nas condições em que realizado na Operação de Olho na Bomba, restando comprovada, assim, a inadequação da embalagem utilizada atualmente. Igualmente elencaram as impetradas, como providência a ser tomada antes da retomada da Operação, a determinação para que o transporte dos combustíveis entre o posto de gasolina e a DRT seja realizado exclusivamente em caminhonetes oficiais com carroceria aberta (fls e 1092/1093), atendendo, assim, o reclamo do SINAFRESP, no sentido de que este transporte deveria ser realizado em veículo do tipo misto, nos termos do que dispõem as normas da ANTT. A referida determinação implica no reconhecimento inexorável de que o transporte era realizado irregularmente, por meio de veículos oficiais fechados, ou ainda, em veículos particulares pertencentes aos Agentes Fiscais. Neste aspecto, oportuno consignar que a lauda 6

7 fls Resolução ANTT 3665/11 é regulamentada pela Resolução ANTT 420/04, a qual excepciona alguns requisitos para o transporte de até 33kg de gasolina em embalagem de até 1 litro, como ocorre na Operação de Olho na Bomba, dentre eles, a utilização de EPI, equipamento de emergência (à exceção de extintor de incêndio), treinamento para o condutor, autorizando, ainda, o passageiro. Ressalte-se, outrossim, que a Resolução CONTRAN 26/98, que trata do transporte de carga em veículos destinados à passageiros, aplicável à espécie, remete às exigências constantes dos regulamentos dos respectivos poderes concedentes dos serviços, de forma que a mitigação das exigências trazidas na Resolução ANTT 420/04 deve ser observada. Não se olvide, outrossim, que o artigo 145, do CTB, é inaplicável à espécie, porquanto destinado ao condutor de veículo de transporte de produtos perigosos, ou seja, veículos próprios destinados exclusivamente a este fim, como caminhões tanque, o que não ocorre no caso em exame, em que a gasolina é transportada em veículo de passageiros. Por fim, as impetradas ainda afirmam que estão ajustando com a UNICAMP, cujo laboratório realiza a análise das amostras de combustível, cronograma para que elas sejam retiradas no mesmo dia da coleta, de forma que não seja necessário o seu ingresso nas dependências internas das DRTs (fls. 1090), em inegável reconhecimento da situação descrita na inicial, relativa ao arriscado e irregular armazenamento de combustível naquelas unidades tributárias, em desacordo com o que determina a Instrução Técnica 27/04, do Corpo de Bombeiros lauda 7

8 fls Posto isto, CONCEDO PARCIALMENTE a SEGURANÇA, para o fim de determinar às autoridades coatoras que se abstenham de determinar aos Agentes Fiscais de Rendas de São Paulo a realização do procedimento de coleta e transporte das amostras de combustível no âmbito da Operação de Olho na Bomba sem a observância estrita de todas as normas de segurança aplicáveis à cada etapa do procedimento, notadamente: a disponibilização de EPIs adequados à coleta; de embalagens para acondicionamento das amostras em estrita observância às normas de regência, em especial a Portaria INMETRO 326/06; ao transporte adequado das amostras em veículo do tipo misto aberto e em obediência à Resolução ANTT 3665/11 com as exceções previstas na Resolução ANTT 420/04; ao eventual armazenamento das amostras nas unidades tributárias, nos termos do que dispõe a Instrução Técnica 27/04, do Corpo de Bombeiros, bem como de outras normas de segurança aplicáveis. em honorários, nos termos do art. 25, da Lei /09. Custas na forma da Lei, e descabida a condenação Transcorridos os prazos para a interposição de recursos voluntários, remetam-se os autos ao E. TJSP Seção de Direito Público, para reexame necessário. P.R.I.O., servindo a presente como ofício. São Paulo, 27 de setembro de Carmen Cristina F. Teijeiro e Oliveira Juíza de Direito lauda 8