PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA QUINTA VARA FEDERAL C O N C L U S Ã O

Transcrição

1 48 C O N C L U S Ã O Nesta data, faço estes autos conclusos à MMª JUÍZA FEDERAL DRª. MARCELLA NOVA BRANDÃO Rio de Janeiro, 22 de Junho de Diretora de Secretaria MANDADO DE SEGURANÇA Processo n.º ª Vara Federal IMPETRANTE: CONFEDERAÇÃO DAS SANTAS CASAS DE MISERICÓRDIA, HOSPITAIS E ENTIDADES FILANTRÓPICAS - CMB IMPETRADO: DIRETOR-PRESIDENTE DA ANS AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR Juíza Federal: Drª. MARCELLA NOVA BRANDÃO SENTENÇA (A) Vistos, etc. I RELATÓRIO 1. CONFEDERAÇÃO DAS SANTAS CASAS DE MISERICÓRDIA, HOSPITAIS E ENTIDADES FILANTRÓPICAS CMB impetra Mandado de Segurança, com pedido de liminar, contra ato praticado pelo DIRETOR-PRESIDENTE DA ANS AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, objetivando a Impetrante que a autoridade impetrada se

2 49 abstenha de aplicar a Decisão da Diretoria Colegiada da ANS, de 09/03/2010, publicada em 11/03/2010, permitindo-se aos hospitais filantrópicos que operacionalizem planos de saúde como atividade vinculada à própria associação. 2. Sustenta que é inconstitucional a exigência da ANS para que as instituições filiadas da Impetrante constituam pessoa jurídica independente para a operacionalização dos planos de saúde, vez que o Estado não pode interferir no funcionamento de uma instituição. Aduz que se trata de obrigação inexeqüível por parte dos hospitais filantrópicos na medida em que a constituição de uma nova pessoa jurídica depende dos membros que integram a associação. Afirma que os filiados da Impetrante estão sendo submetidos a ato ilegal que acarretará a perda do Certificado de Entidades Beneficentes da Assistência Social. 3. Inicial acompanhada de procuração e documentos às fls. 25/44. Custas pagas às fls Decisão de fls. 46/48 deferindo o pedido de liminar. 5. Informações prestadas às fls. 53/61, acompanhada dos documentos de fls. 62/147, sustentando a autoridade impetrada, preliminarmente, a conexão com o mandado de segurança impetrado pela Federação das Misericórdias e Entidades Filantrópicas e Beneficentes do Estado do Rio de Janeiro, havendo também litispendência já que a Impetrante daquele processo é uma das filiadas da Impetrante destes autos. Argüiu, ainda, a impossibilidade jurídica do pedido, vez que a Impetrante utiliza-se de mandado de segurança coletivo para atacar lei em tese. No mérito, pugna pela denegação da segurança ante a inexistência de direito líquido e certo, haja vista a constitucionalidade e legalidade da decisão da Diretoria Colegiada da ANS, impugnada pela Impetrante. 6. O Ministério Público Federal opinou pela denegação da segurança às fls. 149/ A ANS interpôs agravo de instrumento, conforme as cópias acostadas às fls. 154/ A Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo FEHOSP requer, às fls. 161/171, a sua

3 50 habilitação no feito na qualidade de assistente litisconsorcial. Apresentou os documentos de fls. 172/ Em seguida, os autos foram conclusos para sentença. É o relatório. DECIDO. II FUNDAMENTAÇÃO 10. De início, INDEFIRO a inclusão da FEDERAÇÃO DAS SANTAS CASAS E HOSPITAIS BENEFICENTES DO ESTADO DE SÃO PAULO - FEHOSP no presente feito na qualidade de assistente litisconsorcial, haja vista que no mandado de segurança a instrução é sumária. Outrossim, tratando-se de ação coletiva, deve o juiz zelar para que não ocorra o tumulto processual. Sendo certo ainda que qualquer decisão judicial aqui proferida não alcança a requerente, não encontro interesse jurídico que ampare a sua pretensão. 11. Quanto à alegação de conexão e de litispendência, acolho-a na seguinte forma: Não é possível a reunião dos processos posto que o processo n distribuído à 26 ª vara federal já foi julgado. Não obstante, acolho a alegação e litispendência parcial. Veja-se que a ação distribuída ao juízo da 26ª vara federal foi proposta em 9/04/2010. Por outro lado, a ação em curso nesse juízo foi proposta em 27/04/2010. Há coincidência entre representados pelas entidades impetrantes nos dois processos. Embora tecnicamente não sejam os mesmos autores, há identidade parcial subjetiva de modo a ser acolhida a litispendência. Veja-se que o mandado de segurança coletivo não pode ser manipulado de modo que os entes substituídos possam ter várias chances de êxito no Poder Judiciário. 12. Afasto a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido, vez que a Impetrante se insurge contra os efeitos concretos da decisão da Diretoria-Colegiada da ANS, a qual fixa o entendimento de que as operadoras de planos privados de saúde com natureza filantrópica também devem observar o Artigo 34 da Lei nº /98, sustentando a Impetrante a ilegalidade do ato. 13. No mérito, a tese autoral merece guarida nos termos da decisão deferitória da liminar, constante de fls. 46/48. Pretende a Impetrante a concessão de ordem para que a autoridade impetrada se abstenha de aplicar a

4 51 Decisão da Diretoria Colegiada da ANS, de 09/03/2010, que exige que as entidades filantrópicas adequem o seu objeto social ao disposto no Artigo 34 da Lei nº /98 para fins de operacionalização de planos de saúde. 14. Dispõe o Art. 34 da Lei nº 9.656/98, alterado pela Medida Provisória nº , de 28 de agosto de 2001, in verbis: Art. 34. As pessoas jurídicas que executam outras atividades além das abrangidas por esta Lei deverão, na forma e no prazo definidos pela ANS, constituir pessoas jurídicas independentes, com ou sem fins lucrativos, especificamente para operar planos privados de assistência à saúde, na forma da legislação em vigor e em especial desta Lei e de seus regulamentos. 15. Assim, nos termos do referido dispositivo legal, a Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar ANS, em 09/03/2010, decidiu o seguinte: DECISÃO: Aprovados à unanimidade o Parecer da PROGE nº. 45/2010 e a Nota nº. 220/2009/DIOPE a respeito da submissão das operadoras do segmento filantrópico, com objeto social não exclusivo, ao art. 34 da lei 9656, de 1998, tendo a Diretoria Colegiada determinado a concessão de prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, a contar da data da publicação desta decisão na Imprensa Nacional DOU, para que estas procedam á adequação de seu objeto social, sob pena da aplicação dos artigos 24 e 35 da Resolução Normativa RN nº. 85, de 2004, e suas posteriores alterações. 16. Como se vê da inicial, as entidades filiadas da Impetrante, tais como Sociedade Espanhola de Beneficência, Associação Beneficente de Campo Grande, Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto, Associação Beneficente Católica, Hospital São Paulo, Fundação São Francisco Xavier, Santa Casa de Misericórdia da Bahia, possuem, dentre os seus objetivos estatutários, a assistência social, prestando serviços médico-hospitalares às comunidades mais carentes da sociedade.

5 Não obstante o objeto social das instituições filantrópicas não englobar as atividades de planos de saúde, é certo que desempenham importante papel para a sociedade e, em sua grande maioria, carecem de recursos para a manutenção de suas atividades essenciais. Assim, buscam alternativas para continuarem em funcionamento, muitas sobrevivendo de doações, rendas de aluguéis, bem como da comercialização de produtos e serviços, não podendo o Judiciário ignorar a real situação de tais entidades. 18. Vale acrescentar que a Constituição Federal, em seu Art. 150, VI, c, 6 o dispõe que a imunidade tributária abrange somente o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades de assistência social. Assim sendo, numa interpretação à contrario sensu pode-se afirmar, então, que a imunidade não abrange serviços que não estejam relacionados a suas finalidades essenciais. Ora, se a Constituição expressamente trata dos serviços relacionados às atividades essenciais das entidades, pode-se entender que tais entidades possam desempenhar atividades outras, que não abrangidas pela imunidade. 19. Ademais, como é sabido as filiadas da Impetrante, todas do segmento filantrópico e carentes de recursos, desenvolvem um trabalho social bastante louvável, de modo que atender às determinações da Diretoria- Colegiada da ANS contidas na decisão de 09/03/2010 impossibilitará a continuidade dos serviços assistenciais imprescindíveis à população. 20. Assim, ainda que não esteja dentre os seus objetivos sociais, a operacionalização de planos de saúde, não se vislumbra qualquer ilegalidade na conduta das instituições filantrópicas ao comercializarem planos de saúde, tampouco a obrigatoriedade da adequação de seus objetos sociais ao previsto no art. 34 da Lei nº /98, desde que, obviamente, sujeitas ao regime comum de tributação. III DISPOSITIVO Do exposto, : (i) julgo extinto o processo e acolho a litispendência para todos os substituídos da impetrante que também sejam filiados à Federação das misericórdias e e entidades filantrópicas e beneficentes do Estado do Rio de Janeiro;

6 53 (ii) confirmo a liminar e CONCEDO A SEGURANÇA para determinar que o Impetrado se abstenha de aplicar às entidades filiadas da Impetrante, que não sejam filiados à Federação das misericórdias e entidades filantrópicas e beneficentes do Rio de Janeiro ou qualquer outra entidade coletiva que tenha ajuizado demanda idêntica antes de 27/04/2010, a Decisão da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar, de 09/03/2010, publicada no DOU de 11/03/2010, que determina a adequação do objeto social aos ditames do Art. 34 da Lei 9.656/98, permitindo-se que os hospitais filantrópicos operacionalizem planos de saúde na forma instituída por seus estatutos, sujeitando-se ao regime comum de tributação. Defiro o prazo de cinco dias para que a impetrante indique todos os seus substituídos que não integram a Federação das misericordias e entidades beneficentes do Rio de Janeiro e não são representados por nenhuma outra entidade que tenha ajuizado demanda idêntica, anteriormente a 27/04/2010. Custas ex lege. Sem honorários advocatícios em face das Súmulas nº 512 do STF e nº. 105 do STJ. Sentença sujeita à remessa necessária. Oficie-se ao Relator do Agravo de Instrumento interposto, remetendo-lhe cópia da presente sentença. P. R. I. Rio de Janeiro, 13 de dezembro de MARCELLA NOVA BRANDÃO Juíza Federal Substituta da 15 a Vara do Rio de Janeiro