UNIDADE GESTORA : PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO FELIX DO ARAGUAIA, PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVO SANTO ANTÔNIO e PREFEITURA MUNICIPAL DE LUCIARA

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1 PROCESSO Nº : /2013 ASSUNTO : REPRESENTAÇÃO INTERNA UNIDADE GESTORA : PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO FELIX DO ARAGUAIA, PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVO SANTO ANTÔNIO e PREFEITURA MUNICIPAL DE LUCIARA GESTORES RELATOR : JOSÉ ANTONIO DE ALMEIDA EDUARDO PENNO FAUSTO AQUINO DE AZAMBUJA FILHO : CONSELHEIRO JOSÉ CARLOS NOVELLI AUTOS DIGITAIS EMENTA: Representação Interna. Prefeitura Municipal de São Félix do Araguaia, Prefeitura Municipal de Novo Santo Antônio e Prefeitura Municipal de Luciara. Procedência parcial e determinação de instauração de tomadas de contas especial. PARECER Nº 2.563/2015 I - RELATÓRIO Trata-se da Representação Interna proposta pela Secex de Atos de Pessoal em desfavor da Prefeitura Municipal de São Félix do Araguaia, Prefeitura Municipal de Novo Santo Antônio e Prefeitura Municipal de Luciara apontando indícios das seguintes irregularidades no Poder Executivo Municipal: Responsáveis: Sr. José Antônio de Almeida (Prefeito de São Félix do Araguaia) e Sr. Fausto Aquino de Azambuja Filho (Prefeito de Luciara) 1

2 KA 01 - Pessoal_Gravíssima_01. Nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, ate o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração Publica direta e indireta, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas (Sumula Vinculante 13/2008 Supremo Tribunal Federal STF). KB 09 - Pessoal_Grave_09. Acumulação ilegal de cargos públicos (art. 37, XVI, da Constituição Federal). JB 15 - Despesa_a classificar_15. Concessão irregular de diárias (art. 37, caput da Constituição Federal e legislação especifica; legislação especifica do ente). Responsável: Sr. Eduardo Penno (Prefeito de Novo Santo Antônio) KB 09 - Pessoal_Grave_09. Acumulação ilegal de cargos públicos (art. 37, XVI, da Constituição Federal). Os gestores foram devidamente citados, ocasião em que o Sr. José Antônio de Almeida e Sr. Eduardo Penno apresentaram defesa e juntaram documentos. Foi declarada a revelia do Sr. Fausto Aquino Azambuja Filho, Prefeito de Luciara, através do julgamento singular nº 297/JCN/2014. Analisada a defesa pela Equipe Técnica, a Secex opinou pela manutenção da irregularidade e instauração de Tomada de Contas Especial para fins de comprovar a despesa com diária no período entre 04/02/2013 e 06/02/2013. Vieram os autos para apreciação Ministerial. É o suscito relatório. II - FUNDAMENTAÇÃO No mérito, verifica-se que a Secex apurou que a prefeitura de São Félix do Araguaia mantém em seu quadro de servidores dois irmãos, Daniela Caetano de Brito e 2

3 Rogério Caetano de Brito, ocupantes dos cargos em comissão de Procuradora Jurídica do Município e Assessoria Jurídica, respectivamente. A servidora Daniela Caetano de Brito ocupa também cargo em comissão na Prefeitura de Luciara, sendo supostamente madrasta do Prefeito de Luciara (Sr. Fausto Aquino de Azambuja Filho). A servidora Daniela Caetano de Brito acumula cargos em comissão em três Prefeituras: São Félix do Araguaia (Dirigente do Serviço Público - 44h), Luciara (Assessor Jurídico - 40h) e Novo Santo Antônio (Assessor Jurídico - 44h). A servidora Daniela Caetano de Brito teria recebido diárias das Prefeituras Municipais de São Felix do Araguaia de maneira simultânea com a Prefeitura de Luciara entre o período de 04/02/2013 a 06/02/2013. A defesa do Sr. José Antônio de Almeida, Prefeito de São Félix do Araguaia, alega que os servidores Daniela Caetano de Brito e Rogério Caetano de Brito não guardam qualquer vínculo de parentesco com a autoridade nomeante (gestor), não caracterizando hipótese de nepotismo. Quanto ao acúmulo de cargos, aduz que não tem conhecimento do fato de a servidora Daniela acumular cargos em outros municípios e que o cargo de Procuradora Jurídica Municipal não dispõe de horário fixo, mas tão somente de atribuições. Quanto ao pagamento de R$ 2.500,00 em diárias, o Gestor alega que o pagamento se deu em razão de serviços realizados pela servidores na cidade de Confresa/MT em razão de notificações da Vara do Trabalho, conforme documentos anexos. 3

4 Já o Sr. Eduardo Penno (Prefeito de Novo Santo Antônio) sustenta em defesa que a servidora Daniela efetivamente ocupou o cargo de Assessora Jurídica Municipal até 30/10/2013 (Portaria nº 174/2013 exoneração) sendo que a Lei Municipal nº 01/2013, art. 21, dispensa os assessores de nível superior de cumprir a jornada integral de trabalho. Ademais alega desconhecer o acúmulo de cargos em outra Prefeitura. A Equipe Técnica, após análise das defesas apresentadas, entendeu pela manutenção das irregularidades consistentes em acumulação ilegal de cargos públicos e nepotismo. Quanto ao recebimento de diárias de forma simultânea em dois municípios, sugeriu a instauração de Tomada de Contas Especial como forma de melhor apurar a legalidade dos pagamentos. Situações de nepotismo: O nepotismo, vedado pela Súmula Vinculante 13 do STF, é caracterizado pela relação de parentesco entre a autoridade nomeante e o servidor nomeado, ou, ainda, nomeação de parentes de servidor, na mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia, ou assessoramento, desde que exista subordinação hierárquica entre o servidor com cargo de direção e o servidor nomeado. O simples fato de duas pessoas com vínculo de parentesco trabalharem no mesmo órgão, por si só, não caracteriza situação de nepotismo. É imprescindível que seja demonstrada a situação de hierarquia e subordinação entre os servidores. No caso, a Secex apresentou como caso de nepotismo a nomeação dos irmãos Daniela Caetano de Brito e Rogério Caetano de Brito. Segundo consta dos autos, Daniela foi nomeada para o cargo em comissão de Procuradora Jurídica (Portaria nº 4

5 018/2013) e Rogério, por sua vez, foi nomeado para o cargo em comissão de Assessor Jurídico (Portaria nº 066/2013). Após consulta ao sistema Aplic, verifica-se que ambos os irmãos encontramse lotados no Gabinete do Prefeito de São Félix do Araguaia. No caso exposto não restou comprovado nos autos situação de subordinação hierárquica entre a servidora Daniela e o seu irmão Rogério capaz de caracterizar nepotismo. Ademais, não há nos autos demonstração de vínculo entre os servidores e a autoridade nomeante (Prefeito Municipal). A nomeação de parente de servidor ocupante de cargo em comissão que não goza de poder de decisão ou que não possui relação hierárquica sobre o servidor parente nomeado não pode ser entendido como caso de nepotismo. Quanto ao apontamento da Equipe Técnica de que a servidora Daniela Caetano de Brito seria madrasta do Sr. Fausto Aquino Azambuja Filho (Prefeito de Luciara), não há nos autos qualquer prova a corroborar este fato. O Gestor, apesar de notificado, permaneceu inerte, tendo sua revelia decretada. Entendo que a revelia, por si só, não gera procedência das alegações. Faz-se necessário a presença de fundamentos mínimos a sustentar eventual condenação. Sendo assim, tendo em vista a falta de provas a sustentar o apontamento, o Ministério Público de Contas entende pela impossibilidade de manter a irregularidade com relação ao Sr. Fausto Aquino Azambuja Filho. Acúmulo ilegal de cargo público: 5

6 Restou consignado que a servidora Daniela Caetano de Brito acumulou três cargos públicos em diferentes Prefeituras Municipais. Sobre a servidora Daniela Caetano de Brito consta as seguintes informações: - Na Prefeitura Municipal de São Félix do Araguaia ocupa o cargo em comissão de Procuradora Jurídica - Na Prefeitura Municipal de Luciara ocupou o cargo em comissão de Assessor Jurídico - Na Prefeitura de Novo Santo Antônio ocupou o cargo efetivo de Assessor Jurídico Segundo a Constituição Federal, a regra é a vedação a cumulação remunerada de cargos públicos. A própria Constituição traz exceções a esse regra, desde que haja compatibilidade de horários, nas seguintes situações: cumulação de dois cargos de professor; de um cargo de professor com outro técnico ou científico; de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas. O Sr. Eduardo Penno, Prefeito de Novo Santo Antônio, afirma que a Portaria nº 174/2013, de 01 de novembro de 2013, exonerou a servidora do quadro de pessoal do município. De acordo com as informações que constam no sistema Aplic, a servidora ocupou o cargo na Prefeitura de Novo Santo Antônio entre o período de 02/01/2013 a 01/11/2013, período que também era servidora no Município de São Félix do Araguaia. Aliás, coincidentemente, a servidora foi nomeada em ambos os cargos no mesmo dia (02/01/2013), sendo que permanece no cargo em São Félix do Araguaia até o momento. Com relação ao cargo na Prefeitura de Luciara, segundo informações do sistema Aplic, a servidora ocupou o cargo de Assessor Jurídico entre o período de 05/02/2013 a 14/10/

7 Portanto, no caso, verifica-se que a servidora Daniela Caetano de Brito, durante o período de 05/02/2013 a 14/10/2013, acumulou 3 (três) cargos técnicos ou científicos comissionados, situação que não se enquadra dentre as exceções permitidas pela Constituição. Insta salientar que a mera alegação de desconhecimento dos fatos pelos gestores não tem o condão de sanar a irregularidade. Pelo que consta dos autos, os gestores foram negligentes nas contratações. É importante exigir do servidor Declaração de não Acumulação de Cargos Públicos, sendo que a falsidade das informações constantes do documento podem, inclusive, configurar o crime do art. 299, CP. Sendo assim, em consonância com a Secex, o Ministério Público de Contas opina pela procedência da representação externa quanto à acumulação ilegal de cargos públicos da servidora Daniela Caetano de Brito (irregularidade KB 09) sob a gestão do Sr. José Antônio de Almeida (Prefeito de São Félix do Araguaia) e Sr. Eduardo Penno (Prefeito de Novo Santo Antônio). Quanto ao Sr. Fausto Aquino de Azambuja Filho (Prefeito de Luciara), verifica-se que o Acórdão 817/2014 TP, ao julgar as Contas Anuais de Gestão do Município de Luciara referente ao exercício de 2013 (Processo nº 73180/2013 TCE/MT), aplicou sanção de 11 UPFs/MT pela inobservância do artigo 37, XVI e XVII, da CF/88 (subitem 9.1). KB 09. Pessoal_Grave. Acumulação ilegal de cargos públicos (art. 37, XVI, da Constituição Federal). Item Constatou-se, conforme consulta no APLIC - Auditoria Pública Informatizada de Contas, demonstrado no Anexo XIV, que a Senhora Daniela Caetano de Brito acumulou 3 (três) cargos na Administração Pública a partir do mês de fevereiro de 2013 até sua exoneração no dia 14 de outubro de 2013 (Portaria 169/2013 Anexo XV)) 7

8 Sendo assim, por se tratar dos mesmo fatos, e a fim de evitar bis in idem, não cabe aplicação de sanção com relação ao Sr. Fausto Aquino de Azambuja Filho (Prefeito de Luciara). Recebimento de diárias das Prefeituras Municipais de São Felix do Araguaia e de Luciara: Quanto a percepção de diárias pela servidora Daniela Caetano de Brito, a equipe técnica sugeriu a instauração de Tomada de Contas Especial no âmbito da Prefeitura Municipal de Luciara para fins de comprovar a legalidade das despesas. Considerando os fundamentos expostos pela Secex, quais sejam: justificativas apresentadas pelo município de São Félix do Araguaia para o pagamento das diárias; revelia do gestor do município de Luciara; ausência de notificação da servidora Daniela Caetano de Brito, o Ministério Público de Contas entende pela necessidade de expedição de determinação legal ao Prefeito Municipal de Luciara para que proceda tomada de contas especial (nos termos do RI-TCE/MT, art. 156, 1º), referente à irregularidade JB 15 (Despesa_a classificar_15. Concessão irregular de diárias (art. 37, caput da Constituição Federal e legislação especifica; legislação especifica do ente).) 3 CONCLUSÃO Por todo o exposto, o Ministério Público de Contas, no uso de suas atribuições institucionais, manifesta-se: a) pelo conhecimento da Representação Externa; 8

9 b) pela procedência parcial: b.1) a fim de aplicar multa ao gestores Sr. José Antônio de Almeida (Prefeito de São Félix do Araguaia) e Sr. Eduardo Penno (Prefeito de Novo Santo Antônio), em razão do descumprimento do artigo 37, XVI e XVII, da CF/88 (irregularidade KB 09). b.2) pela determinação ao Prefeito Municipal de Luciara para que proceda tomada de contas especial (nos termos do RI-TCE/MT, art. 156, 1º), encaminhando a este Tribunal no prazo de 120 dias, esclarecimentos quanto as diárias pagas à servidora Daniela Caetano de Brito durante o exercício de É o Parecer. Ministério Público de Contas, Cuiabá/MT, 12 de maio de (assinatura digital 1 ) ALISSON CARVALHO DE ALENCAR Procurador de Contas 1 Documento assinado por assinatura digital baseada em certificado digital emitido por autoridade certificadora credenciada, nos termos da Lei Federal nº 11419/