Setorização Gerando a Descentralização para uma Conversão Pastoral

Transcrição

1 Setorização Gerando a Descentralização para uma Conversão Pastoral Elen Márcia Damico - Brasil A Nova Evangelização, pela definição de Redemptoris Missio 33, nos impõe o desafio de cumprirmos a INTEGRALIDADE da Missão e da Pastoral da Igreja. Sendo assim, para cumprí-la: - quanto aos Destinatários: precisamos CHEGAR A TODOS. Todas as pessoas que vivem em nossos territórios paroquiais. Os Conselhos Pastorais Paroquiais terão de estar formados por discípulos missionários constantemente preocupados em chegar a todos. (DA 203) Não se propõe que a Paróquia chegue só a sujeitos afastados, mas à vida de todas as famílias, para fortalecer nelas a dimensão missionária. (DA 204) - Chegar ao HOMEM TODO: como pede a missão da Igreja. Toda autêntica missão unifica a preocupação pela dimensão transcendente do ser humano e por todas as suas necessidades concretas, para que todos alcancem a plenitude que Jesus Cristo oferece. (DA 176) - quanto aos Agentes: precisamos ENVOLVER TODOS. Todos envolvidos, todos ativos, todos comprometidos. Todos os membros da comunidade paroquial são responsáveis pela evangelização dos homens e mulheres em cada ambiente. (DA 171) - quanto ao Conteúdo: precisamos DAR TUDO. Toda a Missão e toda a Pastoral da Igreja para poder dizer, que estamos evangelizando, conforme a definição da palavra Evangelização, dada pelo Papa João Paulo II, quando ainda cardeal, no Lineamenta para o Sínodo sobre Evangelização (1974). Só assim responderemos os novos desafios do nosso tempo. Papa Francisco, em um de seus discursos no Brasil, afirmou que o Documento de Aparecida está apoiado em dois pilares: Missão Permanente e Conversão Pastoral. Porém, para que haja missão permanente é necessário, antes, uma conversão pastoral, ou seja, novas estruturas que permitam que a dimensão missionária aconteça, de forma permanente. 1

2 A necessidade de uma Conversão Pastoral já é uma advertência desde o documento de Santo Domingo: É urgente e indispensável dar soluções às interrogações que se apresentam às paróquias urbanas, para que estas possam responder aos desafios da Nova Evangelização. Temos que pôr em prática estas grandes linhas: - Renovar as Paróquias a partir de estruturas que permitam setorizar a pastoral, mediante pequenas comunidades eclesiais nas quais apareça a responsabilidade dos fiéis leigos; - Qualificar a formação e participação dos leigos, capacitando-os para encarnar o Evangelho nas situações específicas onde vivem ou atuam. - Nas Paróquias urbanas, privilegiem-se planos de conjunto em áreas homogêneas para organizar serviços ágeis que facilitem a Nova Evangelização. (SD 60) Com as atuais estruturas estamos constando que: - não estamos chegando a todos, somente a alguns que representam uma porcentagem mínima de nossos territórios paroquiais. - não estamos envolvendo todos. Os realmente envolvidos nas ações de uma Paróquia são pouquíssimos e, em muitas ações, os mesmos. - não estamos dando tudo, todos os elementos da Missão e da Pastoral da Igreja, com a grave consequência de termos a maioria dos Católicos não evangelizados em nível de querigma, e insuficientemente catequizados, tornado-se vulneráveis. Segundo nossa experiência pastoral, muitas vezes, a pessoa sincera que sai de nossa Igreja, não o faz pelo que os grupos não católicos, crêem, mas, fundamentalmente por causa de como eles vivem... Procuram, não sem sérios perigos, responder a algumas aspirações que, quem sabe, não tem encontrado, como deveria ser, na Igreja. (DA 225) Por isso é URGENTE uma CONVERSÃO PASTORAL que nos permita cumprir a Integralidade da Missão da Igreja e, em consequência, a Nova Evangelização, como apresenta o Documento de Aparecida: A renovação missionária das Paróquias se impõe, tanto na evangelização das grandes cidades como do mundo rural de nosso continente... Particularmente no mundo urbano, é urgente a criação de novas estruturas pastorais, visto que muitas delas nasceram em outras épocas para responder às necessidades do âmbito rural. (DA 173) A Conversão Pastoral a que todos nós estamos chamados, não implica em realizar, cada um a seu modo, mudanças profundas e radicais, isso pode ser um risco, mas, em observar com atenção o rumo que o Espírito tem dado à Igreja. Os bispos, presbíteros, diáconos permanentes, consagrados e consagradas, leigos e leigas, são chamados a assumir atitude de permanente conversão pastoral que implica escutar com atenção e discernir o que o Espírito está 2

3 dizendo às Igrejas (Ap 2,29) através dos sinais dos tempos em que Deus se manifesta. (DA 366) Por isso, o que queremos tratar aqui, é justamente, dessa estrutura pastoral renovada e integral, aberta a descentralização e plenamente favorável a dimensão missionária permanente. Precisamos sair das estruturas só de manutenção para uma estrutura que permita que a paróquia seja PERMANENTEMENTE MISSIONÁRIA e PERMANENTEMENTE PASTORAL... Surge a urgência de pensar estruturas pastorais que favoreçam a realização da atual consciência missionária... Não se trata, portanto, de negar tudo que já foi feito em outras épocas, mas de reconhecer que nessa mudança de época é preciso agir com firmeza e rapidez. (DGAE 26) Para compreender de onde a Igreja parte com suas propostas, seria necessário recordarmos a própria organização da Igreja, em duas dimensões: Territorial e Ministerial. TERRITORIAL MINISTERIAL Igreja Dioceses e Congregações romanas - Bispos Diocese Paróquias e Secretariados diocesanos - Párocos Paróquia Setores e Pastorais ou Ministérios Resp. Setor Para cumprirmos a integralidade da missão da Igreja, um dos primeiros obstáculos que encontramos é que sem a renovação da Paróquia a oferta da Igreja continua centralizada para uma extensão territorial muito grande, onde muitos, ainda, apesar de pertencer à Paróquia de forma territorial, nunca são atingidos pela oferta Missionária e Pastoral da Igreja que, muitas vezes, se mantém apenas sacramentalista, com uma pastoral só de manutenção e somente para aqueles que vem buscar... O grande apelo dos atuais documentos: Aparecida e, para nós brasileiros, as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, é transformarmos as nossas paróquias, de secretaria de serviços religiosos em Paróquias missionárias e evangelizadoras. Para isso, nos adverte, com clareza, o Documento de Aparecida: Levando em consideração as dimensões de nossas paróquias, é aconselhável a setorização em unidades territoriais menores, com equipes próprias de animação e coordenação que permitam maior proximidade com as pessoas e grupos que vivem na região. (DA 372) Porém, a divisão em setores ou organização do Povo de Deus em porções menores, já é uma indicação muito antiga, para que se possa melhor atender e pastorear o povo. Este princípio, já o encontramos no livro do Êxodo 18, 13-24:...Moisés sentou-se para resolver os assuntos do povo. Ora, o povo procurava por ele desde o amanhecer até a noite. O sogro de Moisés viu 3

4 tudo o que este fazia pelo povo, e lhe disse: O que é que você está fazendo com o povo? Por que está sentado sozinho, enquanto todo o povo o procura de manhã até a noite? Moisés respondeu ao sogro: O povo me procura para que eu consulte a Deus. Quando eles tem alguma questão para resolver, me procuram para que eu resolva e para que eu explique os Estatutos e as Leis de Deus. O sogro de Moisés replicou: mas o que você está fazendo não está certo.você está matando, tanto a si mesmo como ao povo que o acompanha. É uma tarefa muito pesada, e você não pode fazê-la sozinho. Aceite meu conselho, para que Deus esteja com você: represente o povo diante de Deus e apresente junto de Deus as causas dele. Ensine a eles os estatutos e as leis; faça que eles conheçam o caminho a seguir e as ações que devem praticar. Escolha entre o povo homens capazes e tementes a Deus, que sejam seguros e inimigo do suborno: estabeleça-os como chefes de mil, de cem, de cinquenta e de dez. Eles administrarão regularmente a justiça para o povo: os assuntos graves, eles trarão a você; os assuntos simples, eles próprios resolverão. Desse modo, vocês repartirão a tarefa, e você poderá realizar a sua parte. Se você fizer assim e Deus lhe der as instruções, você poderá suportar a tarefa, e o povo voltará para casa em paz. Moisés aceitou o conselho do sogro e fez o que ele havia dito. Por isso, os documentos quando falam em setorização, estão em plena sintonia com a Palavra de Deus, não só em Êxodo como também em Lucas 9, 10-17, na multiplicação dos pães quando o próprio Jesus pede aos discípulos para organizar o povo em grupos de cinquenta pessoas para que pudessem atender a todos. Para que a setorização seja eficiente é preciso entender porque e para que são os setores: - CUMPRIR A INTEGRALIDADE: os setores vão se tornando pouco a pouco integrais, na medida em que as pastorais vão sendo setorizadas. Tornam-se também integradores porque está organizado para levar essa oferta a todos e trazer a necessidades encontradas no território para serem avaliadas e respondidas pelas pastorais. Só através dos setores se cumpre a Integralidade em todas as suas dimensões: IR A TODOS, AO HOMEM TODO, ENVOLVENDO TODOS e DANDO TUDO. - DESCENTRALIZAR A OFERTA DA IGREJA, ORGANIZAR E FAZER CHEGAR A TODOS: os setores multiplicam a presença da Igreja em todos território paroquial, levando a oferta de vida cristã integral onde as pessoas vivem ou trabalham, através da visita integral permanente, descentralizando toda a ação Missionária e Pastoral do templo, por consequência, aproximando a oferta da Igreja de todas as pessoas do território paroquial. - CONSTRUIR A COMUNHÃO PAROQUIAL: a divisão geográfica, ainda que territorial, visa a construção da comunhão, por isso os critérios usados para setorizar devem trazer consigo a preocupação de construir unidades territoriais menores que permitam a comunhão, cuidem do menor e mais íntimo nível de comunhão que são as pequenas comunidades e gerem a grande comunhão paroquial, atuando como um nível intermediário e fundamental de comunhão. 4

5 A setorização da paróquia pode favorecer o nascimento de comunidades, pois valoriza os vínculos humanos e sociais. Assim, a Igreja se faz presente nas diversas realidades, vai ao encontro dos afastados, promove novas lideranças e a iniciação à vida cristã acontece no ambiente em que as pessoas vivem. (DGAE 62) - ARTICULAR TUDO: O setor deve dar tudo a todos. Para isso, deve encadear e articular as ofertas necessárias à vida cristã, começando por enviar um visitador e, a partir de uma resposta espontânea ao anúncio querigmático, dando continuidade à oferta com os Retiros Querigmáticos, Comunidades, Catequese e Apostolado. Também quanto aos serviços e necessidades, o setor realiza essa articulação, unindo as crianças à Catequese, doentes à Pastoral da Saúde, carentes à Pastoral de Ação Social, etc. Só através dos setores: - SE VAI A TODOS - SE ARTICULA TUDO - SE CONSTROE COMUNHÃO - SE GARANTE A OFERTA DE VIDA CRISTÃ INTEGRAL O trabalho de setorização de uma paróquia evita o surgimento de super estruturas, onde cada movimento ou pastoral cria sua divisão setorial (Ex.: setor para o dízimo, setor para as missões, divisões usadas em movimentos). Por isso, numa paróquia deve haver uma única setorização que possa atender a todas as necessidades paroquiais, ou seja, uma estrutura que comporte a setorização das pastorais. PASSOS PARA A SETORIZAÇÃO ORIENTADOS PELO SISTEMA INTEGRAL DA NOVA EVANGELIZAÇÃO ( SINE) MAPA: Quando partimos de uma paróquia centralizada, a primeira coisa que se deve fazer é um mapa bem preciso de todo o território Paroquial, com seus limites muito bem definidos. LEVANTAMENTO DAS UNIDADES TERRITORIAIS: depois, devem ser contadas todas as unidade de lotes que se encontram no território paroquial, como por ex.: casa (mesmo vazias), lotes, comércio, escolas, etc. SETORIZAÇÃO: essa divisão geográfica deverá ser feita de modo que os setores não sejam tão grandes que inviabilize chegar a todos e nem tão pequenos que não se consiga recursos humanos suficientes para, futuramente, setorizar as pastorais. IDEAL = 500 A 1000 famílias Essa variação existe, justamente por ser o setor uma unidade importante na construção da comunhão. Então, alguns fatores precisam ser levados em conta para que na prática a setorização fique adequada e funcione, como por exemplo: 5

6 - cuidar da homogeneidade (pessoas que se reconheçam e se relacionem entre si) - Aproveitar as divisões naturais geográficas como divisões entre setores, como por exemplo: rios, desníveis acentuados do território, mas também avenidas movimentadas, etc. Para os setores, serão nomeados, pelo Pároco, os Responsáveis de Setor. São leigos que responderão pela tarefa da Igreja nessa parte delimitada do território paroquial. SUB-SETORES: a realização da tarefa setorial exige uma estrutura de organização interna do setor. Sendo assim, o setor é dividido em sub-setores de 100 a 150 famílias. Cada Sub-Setor deverá ter um coordenador que auxilia o Responsável de Setor, principalmente no que diz respeito à visita permanente integral. ÁREAS DE VISITAÇÃO: como organização para a implantação da Visita Permanente Integral, é necessário criar, com todas as unidades territoriais encontradas, áreas de visitação de aproximadamente 20 unidades territoriais, que serão entregues sob responsabilidade de visitadores já evangelizados (querigma) e em Pequenas Comunidades com Catequese permanente. Entre as formas de renovação da paróquia está a urgência de sua setorização em unidades territoriais menores... Sabemos que nem sempre é fácil passar de uma paróquia centralizada num único prédio, onde acontecem todas as atividades a uma paróquia comunidade de comunidades espalhada por todo seu território. Importa, porém, investir na descentralização, seja iniciando experiências significativas, seja reconhecendo, no dia a dia das comunidades, o que já existe. O importante é ter sempre em conta a advertência de Aparecida: ninguém pode se isentar de dar estes passos. (DGAE 101) Diante dessa reflexão, fica claro, através dos documentos da Igreja, que, a setorização é o primeiro passo para a conversão pastoral que nos permitirá realizar a missão de forma permanente. E para isso, o SINE apresenta uma metodologia eficaz para concretizar, de maneira ordenada, articulada, sistemática e integral, todas essas necessidades ou urgências que a Igreja nos tem apontado como essencial. Nenhuma comunidade deve isentar-se de entrar decididamente, com todas as forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favorecem a transmissão da fé. (DA365) A Conversão Pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. Assim será possível que o único programa do Evangelho continue introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial (DA370) 6