PREVALÊNCIA DE IMAGENS RADIOLÚCIDAS EM DENTINA EM RADIOGRAFIAS PANORÂMICAS DE CRIANÇAS COM 5 A 13 ANOS DE IDADE DA CIDADE DO RECIFE PE

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1 PREVALÊNCIA DE IMAGENS RADIOLÚCIDAS EM DENTINA EM RADIOGRAFIAS PANORÂMICAS DE CRIANÇAS COM 5 A 13 ANOS DE IDADE DA CIDADE DO RECIFE PE PREVALENCE OF DENTIN RADIOLUCENT IMAGES IN PANORAMIC RADIOGRAPHS OF 5-TO 13-YEAR-OLD CHILDREN IN RECIFE-PE Ana Kaliny Araújo de Siqueira 1 Ana Luiza Koury Xavier 1 Wender Vieira da Silva 1 Simone Alves de Sousa 2 Aronita Rosenblatt 3 RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo verificar a prevalência de imagens radiolúcidas em dentina de dentes posteriores permanentes de crianças com idade entre 5 e 13 anos. Para isto, foram analisadas radiografias panorâmicas. Os resultados mostraram uma prevalência de 3% dessas imagens em dentina coronária, com 6,67% em dentes no estágio pré-eruptivo e 93,33% em dentes já erupcionados. O maior percentual dessas imagens foi encontrado em pacientes com 13 anos (19,78%); do gênero feminino (60,4%); na dentição mista (61,5%) e nos molares permanentes inferiores (55,83%). Com base nos resultados obtidos, pode-se observar uma alta prevalência de imagens radiolúcidas em dentina coronária em molares permanentes, sugerindo que a radiografia panorâmica pode ser considerada instrumento eficiente de triagem dessas imagens. Palavras-chave: radiotransparências, radiografia panorâmica, criança. Titulação autores INTRODUÇÃO A ciência vem evoluindo muito nas últimas décadas, principalmente em relação à conscientização do diagnóstico precoce de doenças. Na Odontologia, o diagnóstico precoce das lesões de cárie tornou-se o procedimento mais apropriado para prevenção e promoção de saúde. Existem vários métodos para diagnosticar precocemente essas lesões, entre eles está o método radiográfico. Dentre as técnicas radiográficas mais utilizadas no dia-a dia do dentista estão a periapical (cujo objetivo mais importante é proporcionar uma visão de conjunto das estruturas componentes do órgão dentário e região periapical) e a interproximal (cujo objetivo principal é o exame das faces interproximais dos dentes posteriores e da crista óssea alveolar, com a finalidade de detectar a presença de processos de cárie nesta região). A radiografia panorâmica, no entanto, é um método prático 1Aluno de Graduação da Faculdade de odontologia de Pernambuco (FOP) - UPE 2Especialista, Mestre e Doutoranda em Odontopediatria pela FOP-UPE. 211

2 que permite um exame radiográfico de toda região dentoalveolar e estruturas adjacentes, além de poder ser usada também para detecção de imagens radiotransparentes em dentina de todos os dentes, até mesmo nos não erupcionados 1. Nos casos de imagens radiotransparentes em coroas dentárias, a lesão tem sido localizada na dentina coronária com pouca ou nenhuma conexão óbvia com a polpa ou com a superfície externa do dente. Embora ao exame clínico e radiográfico o esmalte destas lesões se encontre intacto, elas são relatadas como grandes o suficiente para socavar uma cúspide de um molar ou prémolar 2. O termo cárie oculta ou cárie escondida referese às cáries que não são diagnosticadas clinicamente porque a superfície oclusal apresenta-se hígida ou minimamente desmineralizada, enquanto observa-se, radiograficamente, radiotransparências em dentina 3,4. Tem sido relatada uma prevalência dessas lesões de 2,2 a 19,3%, em dentes erupcionados e 0,5 a 2% nos ainda não erupcionados 4,5. Várias causas de radioluscência em dentina de dentes permanentes não erupcionados têm sido descritas na literatura, tais como: resultado de inflamação apical de dente decíduo, cárie dental ou processo de reabsorção dentinária. A inflamação apical geralmente tem sido descrita como fator etiológico na patogênese do defeito hipoplásico na coroa dentária do seu sucessor permanente 6,7,8,9. A inflamação apical do dente decíduo pode causar o rompimento do epitélio de proteção dental do sucessor permanente e permitir a invasão de células vasculares normais ou de reabsorção inflamatória na coroa dos mesmos 10. No entanto, deve haver outro fator etiológico para a reabsorção dentinária já que os molares permanentes não têm antecessores decíduos 9. As imagens radiotransparentes em dentes não erupcionados estão associadas às evidências histológicas de reabsorção no esmalte e na dentina 10. Alguns estudos sugerem que as radiotransparências em dentes não irrompidos são de origem de desenvolvimento anormal no qual secções dos dentes não são mineralizadas devidamente 11,8,9. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi verificar a prevalência de dentes permanentes com imagens radiotransparentes em dentina com a superfície de esmalte radiograficamente hígida, tanto no estágio de desenvolvimento pré-eruptivo como pós-eruptivo, em radiografias panorâmicas de crianças com 5 a 13 anos de idade. 212

3 MATERIAIS E MÉTODOS Foram analisadas radiografias panorâmicas dos maxilares, de crianças entre 5 e 13 anos de idade. A análise das radiografias foi realizada por três examinadores (AKAS, ALKX, WVS), que foram submetidos à calibração e teste de concordância Kappa intra-examinador (k = 1,00) e inter-examinadores (k = 0,95). A interpretação radiográfica foi feita em ambiente escuro, utilizando negatoscópio (o mesmo para os três examinadores) e lupa. Cada examinador avaliou um total de 50 radiografias por dia, respeitando um intervalo de 30 minutos para descanso visual entre grupos de 25 radiografias. As anotações foram feitas em fichas de avaliação radiográfica considerando os critérios: idade, sexo, dentição (decídua, mista, permanente), elemento dentário, estágio de erupção do dente afetado (pré ou pós-eruptivo), tipos de imagens (imagem radiolúcida sugestiva de lesão de cárie em dentina intracoronária, imagem radiolúcida sugestiva de material restaurador resinoso e imagem radiopaca sugestiva de material restaurador metálico). O dente foi considerado não erupcionado quando sua imagem radiográfica estava abaixo do nível ósseo e/ ou mucosa, enquanto considerou-se como erupcionado o dente cuja imagem radiográfica apresentava-se acima do nível ósseo e/ou mucosa, sugerindo contato com a cavidade bucal. RESULTADOS Do total de radiografias panorâmicas analisadas no presente estudo, 91 (3,12%) delas apresentaram imagem radiolúcida em dentina de dentes posteriores com a superfície de esmalte radiograficamente íntegra. De acordo com o estágio de desenvolvimento da dentição dos elementos dentários, 8 dentes (6,67%) apresentavam-se no estágio pré-eruptivo, enquanto 112 (93,33%) estavam erupcionados no momento do exame radiográfico. Quanto à idade, a faixa etária que apresentou maior percentual dessas imagens radiolúcidas foi a de 13 e 12 anos com 19,78% e 15,38%, respectivamente; enquanto, o menor percentual foi encontrado na idade de 5 anos, com 2,2% dos casos (Gráfico 1). 213

4 Gráfico 1. Distribuição das radiografias, segundo a idade. Das 91 radiografias que apresentaram imagens radiolúcidas em dentina sob esmalte intacto, 55 (60,4%) pertenciam a pacientes do sexo feminino, 31 (34,1%) pertenciam a pacientes do sexo masculino e em 5 casos (5,5%) o sexo não foi identificado. Analisando-se estas 91 radiografias quanto ao tipo de dentição constatou-se que 56 pacientes (61,5%) tinham dentição mista, 34 (37,4%) tinham dentição permanente e apenas 1 (1,1%) apresentou dentição decídua. Quanto à disposição dos dentes com imagem radiolúcidas, evidenciou-se que 104 (86,7%) estavam na mandíbula e 16 (13,3%) encontravam-se na maxila. Já em relação ao elemento, observou-se que a maior prevalência dessas imagens foi encontrada no primeiro molar permanente inferior direito com 37 (30,83%) casos, seguido pelo primeiro molar permanente inferior esquerdo com 30 (25%) casos, segundo molar permanente inferior esquerdo com 15 (12,5%) casos, e o segundo molar permanente inferior direito com 14 (11,67%) casos (Gráfico 2). 214

5 Gráfico 2 - Distribuição das imagens, segundo o dente. Das 91 radiografias, 66 (73%) tiveram apenas 1 dente com imagem radiolúcidas em dentina sob esmalte radiograficamente intacto, comparando com 21 (23%) que tiveram 2 dentes neste quadro, enquanto que 4 (4%) apresentaram 3 dentes (Gráfico 3). Gráfico 3 - Distribuição das radiografias quanto ao número de dentes com imagens radiotransparentes em dentina coronária DISCUSSÃO Há um crescente reconhecimento que superfícies oclusais clinicamente intactas ou com selantes de fissuras podem apresentar radiolucências em dentina coronária, sugestiva de lesão de cárie 8,12. Tal achado é conhecido como cárie oculta ou lesão fechada de dentina e 215

6 pode ser encontrado em dentes erupcionados ou em estágio pré-eruptivo. O diagnóstico radiográfico dessas imagens pode ser através da técnica interproximal ou periapical. Entretanto, Dalla-Bona, Fontanella, Gegler 13 sugeriram iniciar o exame radiográfico de rotina por uma técnica mais abrangente, partindo do geral para o específico, com radiografias panorâmicas, tendo em vista a simplicidade da técnica e a relação custo-benefício para o paciente, apesar de afirmarem que a exposição radiográfica equivale às citadas anteriormente. Seguindo este raciocínio, no presente estudo, a radiografia utilizada foi a panorâmica por ser comumente usada na prática clínica e por oferecer uma máxima visualização de dentes erupcionados e não erupcionados numa única tomada. Das radiografias panorâmicas utilizadas no presente estudo, 91 (3%) delas apresentaram imagem radiolúcida em dentina nos dentes posteriores com a superfície de esmalte radiograficamente hígida. Destas radiografias, 8 (0,3%) apresentaram 8 dentes, com imagens radiolúcidas em dentina, no estágio de desenvolvimento pré-eruptivo e 83 (2,84%) apresentaram 112 dentes, com essa imagem no estágio pós-eruptivo; correspondendo a um total de 120 dentes. Tais achados concordam com a literatura que apresenta uma prevalência em torno de 6% de radiografias com essas imagens, assim como de 0,5 a 2% de imagens radiolúcidas em dentina intracoronária em dentes em estágio préeruptivo 4,8,12,14. Foi constatado que o maior envolvimento de dentes em estágio pré-eruptivo com imagens radiolúcidas em dentina, foi dos segundos pré-molares inferiores, seguidos pelos segundos molares permanentes inferiores e terceiros molares 8. No entanto, na presente pesquisa foram encontradas 7 imagens pré-eruptivas (5,83%) em molares inferiores e apenas 1 em pré-molar (0,83%), estando de acordo com outros estudos 15,12. O restante das imagens (93,3%) estava em dentes no estágio pós-eruptivo. O aspecto multifatorial da doença cárie não explica a presença de imagem radiolúcida em dentina coronária de dentes não erupcionados devido à impossibilidade de contaminação do dente. Entretanto, a literatura sugere que nos casos em que o dente está separado da cavidade bucal apenas pela mucosa pode haver uma comunicação clinicamente não detectável que justifique a disseminação bacteriana até o elemento dentário, provocando a sua desmineralização. 216

7 A possibilidade das imagens radiolúcidas encontradas nas dentinas coronárias de dentes nãoerupcionados serem reabsorções, más formações ou defeitos dentinários talvez seja a justificativa mais plausível para o surgimento deste tipo de achado. A literatura específica necessita de mais pesquisas sobre o início da formação dessas imagens para que as dúvidas em torno da sua etiologia possam ser esclarecidas. Seguindo este raciocínio, as lesões de cárie oculta podem ser resultado de um maior susceptibilidade do elemento dentário possuidor de algum tipo de defeito na formação que o torne mais frágil em sua estrutura e defesa. Os resultados de algumas pesquisas sobre a cárie oculta demonstraram uma relação direta da sua prevalência e a idade do paciente, tais como 26% em adolescentes de 14 anos, 37,5% aos 17 anos e até 50% aos 20 anos de idade 5. Neste estudo, em acordo com a literatura, verificou-se que a idade com o maior número de imagens estava entre 12 e 13 anos, com respectivamente 19,78% e 15,38%, enquanto a que apresentou menor percentual foi a de 5 anos com 2,2% dos casos. Analisando-se o gênero, verificou-se que 55 radiografias (60,4%) eram de pacientes do sexo feminino, enquanto que 31 (34,1%) eram do sexo masculino. Não há relatos na literatura sobre diferença significativa entre prevalência desses defeitos e o sexo ou raça. Com relação ao tipo de dentição, foi observado que a dentição mista foi a que obteve maior quantidade de dentes com a radiolucência em dentina (61,5%) enquanto na dentição decídua houve apenas 1 caso (1,1%). A falha no diagnóstico e no relato em dentição decídua pode ser devido ao fato de que as radiografias de rotina em crianças jovens, geralmente, não são realizadas até aproximadamente 4-5 anos de idade. Por isso, muitos defeitos que tivessem origem durante o estágio pré-eruptivo poderiam se tornar indistinguíveis da cárie dental e geralmente diagnosticadas como tal 8,18,19,20,21. Quanto às imagens relacionadas com a disposição dos dentes nos maxilares, evidenciou-se que 104 (86,7%) estavam na mandíbula e 16 (13,3%) encontravam-se na maxila. Em relação ao elemento mais afetado pelas imagens radiolúcidas, observou-se que a maior prevalência foi encontrada nos primeiros molares inferiores permanentes (55,83%), seguidos pelos segundos molares inferiores permanentes (24,17%). Esses achados podem ser justificados pelo maior tempo de erupção do dente na 217

8 cavidade bucal explicar o grande percentual de superfícies oclusais em estágio de cavitação nos primeiros molares inferiores 16,17. Entretanto, reabsorções dentinárias pré-eruptivas encontradas, em maior percentual, nos primeiros molares inferiores, podem ser consideradas responsáveis pela propensão à cavitação das superfícies oclusais desses elementos 14. A abordagem abrangente da radiografia panorâmica permite a identificação precoce de imagem radiolúcida em dentina sugestiva de defeito ou má formação que em contato ou não com o meio bucal alerta para a necessidade de cuidados preventivos especiais nestes casos. CONCLUSÕES 1. A prevalência de imagens radiolúcidas em dentina coronária, de dentes com esmalte radiograficamente hígido no estágio de desenvolvimento pré ou pós-eruptivo, em radiografias panorâmicas está de acordo com a literatura específica, servindo de indicação para a utilização de outras técnicas radiográficas mais específicas. 2. Os primeiros molares permanentes inferiores foram os dentes mais comumente afetados. 3. A prevalência das imagens radiotransparentes aumentou de acordo com a idade. 4. Há necessidade de novas pesquisas sobre os primeiros sinais dessas lesões em dentes não erupcionados ABSTRACT The aim of this research was to verify the prevalence of radiolucent images in the dentin of permanent posterior teeth of children aged between 5 and 13 years. A total of 2,914 panoramic radiographs were analyzed. The results showed a 3% prevalence of radiolucent images in coronary dentin, 6.67% being found in partially-erupted teeth and 93.33% in erupted teeth. Most of the images were seen in 13-year-old patients (19.78%); females (60.4%); in the mixed dentition (61.5%) and in mandibular permanent molars (55.83%). The results show a high prevalence of radiolucent images in the coronary dentin of permanent molars, suggesting that panoramic radiographs can be used as an effective method for screening these images.. Keywords: Child, radiolucencies, panoramic radiographs. 218

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