DESENVOLVIMENTO DE CULTIVARES DE ALGODOEIRO PARA MINAS GERAIS
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1 DESENVOLVIMENTO DE CULTIVARES DE ALGODOEIRO PARA MINAS GERAIS. Marcelo Abreu Lanza - Doutor em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas) Pesquisador da Epamig Uberaba, MG mlanza@epamiguberaba.com.br. O Cerrado brasileiro desponta como a região de maior potencialidade para a expansão do algodoeiro no País. Trata-se da nova fronteira agrícola para o algodão como alternativa de rotação com a soja que é cultivada em grandes áreas e em elevado nível tecnológico (Freire et al., 1998). Ao lado das condições edafoclimáticas favoráveis, solos com topografia propícia para mecanização, os produtores mineiros são detentores de tecnologia e infra-estrutura para uma exploração agrícola empresarial. Além destes aspectos, Minas Gerais possui um parque têxtil que consome cerca de 120 mil toneladas/ano de algodão em pluma, para uma produção média 50 mil toneladas, o que representa um déficit de 70 mil toneladas/ano em pluma, significando evasão de divisas e oportunidades de emprego. Em Minas Gerais as boas condições de mercado, a adoção de novas tecnologias e o incentivo fiscal por parte do governo, por intermédio do PROALMINAS - Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão, viabilizaram investimentos no Estado, com incrementos na produtividade. A expectativa para a safra mineira em 2005 é de uma produção de t, numa área plantada de ha (LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA, 2005). O sistema de produção utilizado no Cerrado (Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste do Estado) é considerado de alta tecnologia, onde a mecanização se faz presente do plantio à colheita. É praxe a utilização intensiva dos insumos agrícolas como corretivos, adubos químicos, herbicidas, fungicidas, reguladores de crescimento e desfolhantes. Entretanto, é necessário ainda a inclusão de cultivares com resistência às viroses, principalmente à doença azul, resistência a doenças fúngicas, tais como ramulose, ramulária, ao complexo Fusarium x nematóides e, mais recentemente, ao mofo branco que são de ocorrência comum nestas regiões e que podem tornar a atividade de grande risco, caso as cultivares não sejam resistentes a elas. A cotonicultura do Cerrado Mineiro apresenta estabilidade de produção e dispõe de infraestrutura para ampliação de área e de aumento de produtividade. Para a consolidação, portanto, da região como grande pólo agro-industrial, faz-se necessário o aperfeiçoamento do sistema de produção e o desenvolvimento de cultivares de maior potencial produtivo, adaptadas às condições de Cerrado e à colheita mecanizada, resistentes às principais doenças que ocorrem na região e com características de fibras que atendam as exigências da indústria têxtil. Para a região Norte de Minas Gerais as
2 cultivares deverão possuir além de algumas destas características, principalmente a tolerância à escassez hídrica e adaptação ao sistema de cultivo de pequenas propriedades e baixo nível tecnológico. A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais EPAMIG tem desenvolvido tecnologias para proporcionar aos produtores de algodão, condições indispensáveis ao sucesso do empreendimento agrícola. Dentre estas tecnologias, destaca-se o desenvolvimento de variedades de alta performance que atendam as exigências da cadeia produtiva do algodão. Uma particularidade do melhoramento do algodoeiro, que o torna mais difícil, refere-se à necessidade de cultivares com características específicas que atendam os três segmentos da cadeia produtiva: os produtores que exigem boa produtividade, resistência a doenças, boa arquitetura de planta que possibilite a colheita mecanizada, boa abertura de capulhos; aos beneficiadores que desejam um algodão com alta porcentagem de fibra e da indústria têxtil, principal consumidor, que requer um algodão com fibras de alto padrão de qualidade tecnológica e em quantidade suficiente para atender a demanda. (GRIDI-PAPP et al., 1992). Antes do estabelecimento de um programa de melhoramento é necessário que se conheçam as bases genéticas dos caracteres a serem melhorados. Uma boa variedade de algodão deve ser produtiva, com boa arquitetura de planta, com resistência múltipla às principais doenças, de bom rendimento de fibra e de boa qualidade tecnológica de fibra. A indústria têxtil, atualmente, exige novos padrões de qualidade de fibra, os quais estão sob controle genético e, portanto, com maior ou menor grau de dificuldade para serem obtidos via melhoramento, dependendo do caráter. O rendimento é uma das características mais desejadas pelos melhoristas. Este caráter está positivamente correlacionado com a percentagem de fibra e a finura e, ainda, negativamente com peso de capulho, comprimento e resistência da fibra. Dados de Carvalho (1993) mostram correlação negativa entre o rendimento de algodão em caroço e a resistência da fibra. Melhoramento do algodoeiro da EPAMIG O Programa de Pesquisa com o Algodoeiro conduzido pela EPAMIG tem como meta o desenvolvimento de variedades de algodão para as regiões produtoras de Minas Gerais, a saber: Norte, Noroeste, Triângulo e Alto Paranaíba. Está centralizado no Centro Tecnológico do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, em Uberaba, onde se realiza a pesquisa básica do melhoramento genético.
3 Neste local encontra-se armazenada a coleção de Gossypium composta de itens provenientes do Brasil e de diversos países. No início da década de setenta, a EPAMIG assumiu os trabalhos de melhoramento do algodoeiro em Minas Gerais, transferindo a coleção de germoplasma de Sete Lagoas, bem como todo trabalho básico, para a Fazenda Experimental Getúlio Vargas, em Uberaba. Foram desenvolvidos vários cultivares adaptados às regiões algodoeiras do Estado, com altos índices de produção e qualidade de fibra, tais como: Minas Dona Beja (seleção de IPEACO-SL-7), Minas Sertaneja (seleção de DPL), EPAMIG 3 (seleção de Minas Dona Beja), EPAMIG 4 ou Redenção (Seleção de IAC 17), EPAMIG PRECOCE 1 (seleção da linhagem C ), Alva ( di-haplóide duplicado da C ) e Liça ( di-haplóide duplicado de GH ) (PENNA, 1999). No início das pesquisas com algodoeiro, deu-se ênfase à introdução de materiais exóticos com seleção para maior produtividade e melhoria no sistema de manejo como melhor época de semeadura, espaçamento adequado e melhor controle de pragas. Posteriormente, com a ocorrência de algumas doenças, a prioridade do melhoramento foi modificada, necessitando incorporar aos programas em atividades a resistência genética a doenças. Concomitantemente aos novos aspectos abordados, o desenvolvimento da indústria têxtil, com a utilização de equipamentos sofisticados com maior velocidade das máquinas e maior rendimento industrial, sobretudo na fiação, são exigidos materiais com maior resistência de fibra, comprimento adequado, boa uniformidade, baixos índices de fibras curtas e finura adequada do fio. Desta forma, a escolha de cultivares mais apropriados requer estudos e testes prévios, numerosos e onerosos, com base em recomendações técnicas realizadas de forma sistemática e organizada, a fim de se evitarem prejuízos aos elementos integrantes da cadeia produtiva do algodão. Os objetivos do melhoramento do algodoeiro da EPAMIG são: obter cultivares de bom potencial de rendimento, com resistência múltipla às doenças, com fibra de boa qualidade e adaptadas ao cultivo nas regiões produtoras do Estado de Minas Gerais; avaliar os novos genótipos nas regiões produtoras de Minas Gerais; Formar núcleos de semente genética de linhagens promissoras e de cultivares recomendadas. Os trabalhos de melhoramento conduzido pela EPAMIG podem ser divididos em sete etapas:
4 1 a ) Hibridação de progenitores, previamente escolhidos, portadores de características genéticas como: precocidade (específica para o Norte de MG), tolerante a pragas, resistente a doenças, com bom potencial produtivo e boa qualidade de fibra. 2 a ) Multiplicação das sementes dos cruzamentos sob cultivo protegido, no ano subsequente aos mesmos. A primeira geração segregante (F 2 ) é semeada no campo, isoladamente, com vistas ao aumento das sementes e eliminação de plantas atípicas. A geração F 3 são semeadas, devidamente isoladas, em cuja população se efetuam as primeiras seleções. 3 a ) Seleção de plantas nas gerações segregantes, seguindo-se a sua condução através do método de Pedigree, com as adaptações necessárias ao algodoeiro, até a estabilização das linhas para as características propostas. 4 a ) Seleção de linhagens - após a estabilização das linhas, as que forem consideradas superiores, são selecionadas e avaliadas, através de delineamentos experimentais próprios, nas regiões algodoeiras do Estado. 5 a ) Para que haja sementes suficientes para os testes de linhagens, são conduzidos campos de pequeno aumento - CPA, devidamente isolados por cortinas vegetais (milho ou crotalária), para cada linhagem. 6 a ) De maneira semelhante aos CPA s, são implantados os campos de aumento - C.A. constituídos das novas linhagens selecionadas para os Ensaios Regionais de Variedades. Eles também são isolados por cortinas vegetais, a fim de se evitar a polinização natural e preservar a pureza genética de cada variedade. Estes campos constituem-se no primeiro núcleo das sementes genéticas. 7 a ) Definido o novo cultivar, após os testes finais de avaliação, este é semeado em área isolada, condicionado a quantidade de semente disponível e da demanda inicial. A seguir, é conduzido um campo para produção de semente genética. A produção de sementes básicas é realizada com produtores terceiros nas regiões algodoeiras de Minas, alcançando, rapidamente, o alvo principal do trabalho, o agricultor.
5 REFERÊNCIAS CARVALHO, L. P. Divergência genética e análise dialélica em Gossypium hirsutum L. var. latifolium Hutch f. Tese (Doutorado em Agronomia). Universidade Federal de Viçosa, FREIRE, E.C.; FARIAS, F.J.C.; AGUIAR, P.H. Cultivares de algodoeiro disponíveis para utilização no cerrado do Centro-Oeste. Campina Grande: Embrapa-CNPA, Comunicado Técnico, p. GRIDI-PAPP, I. L.; CIA, E.; FUZZATTO, M. G.; SILVA, N. M.; FERRAZ, C. A. M.; CARVALHO, N.; CARVALHO, L. H.; SABINO, N. P.; KONDO, J. I.; PASSOS, S. M. G.; CHIAVEGATO, E. J.; CAMARGO, P. P.; CAVALERI, P. A. Manual do produtor de algodão. São Paulo: Bolsa de Mercadorias & Futuros, 1992,158 p. LEVANTAMENTO SISTEMÁTICO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA. Rio de janeiro: IBGE/CPAGRO, v.17 n.1 p.1-62, janeiro PENNA, J. C. V. Melhoramento do algodão. In: BORÉN, A. Melhoramento de espécies cultivadas. Viçosa, MG: UFV, cap. 1, p
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