Direito aplicado à logística
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- Herman Beppler de Lacerda
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1 6. TÍTULOS DE CRÉDITO 6.1 Caracterização Para Vivante, título de crédito é o documento necessário ao exercício de um direito literal e autônomo nele mencionado. O Código Civil de 2002 o definiu no artigo 887 como o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. Disto resulta que o título de crédito, diz respeito ao documento representativo de um crédito, ato de fé, confiança do credor de que irá receber uma prestação futura a ele devida. Serve como mecanismo de transferência de riquezas, isto é, na medida em que podem os títulos de crédito serem repassados de um credor a outro, nada mais eles são do que instrumentos de circulação de riqueza na sociedade. Para Fábio Ulhôa Coelho, os títulos de crédito são documentos representativos de obrigações pecuniárias. Não se confundem com a própria obrigação, mas se distingue dela na exata medida em que a representam. São assim dotados de características que lhe são peculiares e intrínsecas, que constituem verdadeiros requisitos para que atinjam sua função, que é, primacialmente, da circulação da riqueza. Nos títulos, o direito materializa-se em um documento, ou seja, no próprio título, também chamado de cártula. Tal documento passa a representar, assim, o direito ao crédito em si, sendo autônomo da relação jurídica que a ele deu origem e, por essa razão, pode ser transferido de um credor a outro, livremente, seja por simples entrega (tradição), seja por assinatura de um possuidor em favor do outro (endosso). As principais características do título de crédito são a literalidade, cartularidade e autonomia Cartularidade ou incorporação É o documento representado por uma cártula (papel). Serve para o possuidor exercitar os direitos decorrentes do crédito. Assim, a partir do momento em que o documento corporifica o direito, torna-se a cártula, então, o documento necessário e indispensável à satisfação desse direito por aquele que o detém, pouco importando o negócio que a ele deu origem. 59
2 Deste modo, quem detém o título tem legitimidade para exigir o cumprimento do crédito nele incorporado. Sem ele, por consequência, o devedor não está obrigado, em princípio, a cumprir com sua obrigação, ainda que aquele que a esteja exigindo seja seu legitimo credor. O direito não existe sem o documento, não se transmite sem a sua respectiva transferência e não pode ser exigido sem a sua exibição Literalidade Só se leva em consideração aquilo que estiver escrito no título de crédito. Atua tanto em favor do credor (de exigir o que consta do título), como também em favor do devedor (que não está vinculado a nada além daquilo que estiver nele expresso) Autonomia Esse requisito é primacial para a circulação do título na medida em que torna o portador da cártula titular de um direito autônomo em relação ao direito que tinham seus predecessores. O que efetivamente circula é o título e não o direito abstrato que nele se contém, ou seja, o possuidor exerce direito próprio que não se vincula às relações entre os possuidores anteriores e o devedor. Isto é, cada relação é autônoma em relação as suas antecessoras. Como consequência não pode ser oposta ao portador de boa-fé as exceções pessoais referentes ao credor originário, no que tange à obrigação extracartular entre ele e o devedor, emitente do título. Deste princípio, decorrem ainda os princípios da abstração e o da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé Abstração É a separação da causa do título por ela originado. Todo título nasce em razão de uma relação jurídica, deste modo, podem ter se embasado a emissão do título numa compra e venda, aluguel etc., podendo tal causa constar ou não do título. Quando não mencionado a relação inicial o título se torna abstrato em relação ao negócio originário, passando a circular sem qualquer ligação com a causa que lhe deu origem. 60
3 A abstração somente aparece quando o título é posto em circulação, ou seja, quando ele passa a vincular duas pessoas que não contrataram entre si (possuidor atual e devedor emitente do título), de modo que são unidos apenas pela cártula. Mais do que para proteger o possuidor de boa-fé, a abstração serve para garantir a segurança na circulação do título. Conclui-se, pois, que a cártula contém um direito autônomo e abstrato em relação ao negócio jurídico principal que a ela deu causa, ainda que seja dele decorrente. Dessa forma, nos títulos abstratos, a causa originária do negócio somente por ser oposta entre credor originário e devedor. Ela jamais poderá ser oposta contra terceiro possuidor do título, a não ser que este tenha conhecimento do vício que o aflige, e, nesse caso, estaria agindo de má-fé Inoponibilidade das exceções pessoais aos 3ºs de boa-fé Trata o artigo 916 do Código Civil que as exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé. Isto é, a terceiros, não podem ser opostas eventuais exceções pessoais que teria o devedor contra o credor originário, pois que, caso contrário não se estaria conferindo a estes portadores e boa-fé, plena garantia e confiança na aquisição de um título de crédito. A segurança para os eventuais portadores do título é essencial à negociabilidade e circulação do título de crédito. O subscritor do título, somente poderá opor contra o possuidor de boafé os vícios formais da cártula ou de seu conteúdo literal, como, por exemplo, eventual falsidade de sua assinatura, vício de capacidade ou falta de requisito necessário ao exercício da ação Legalidade ou tipicidade Os títulos de crédito estão definidos em lei, de modo que deve ser observada a tipicidade (ou legalidade) desses títulos Classificação dos títulos de crédito 61
4 6.2.1 Quanto ao modelo a) livres: não existe um padrão definido em lei para sua confecção podendo ser emitidos de forma livre, observados os requisitos da lei (ex. nota promissória e letra de cambio); b) vinculados: a lei atribui um padrão específico (forma) não permitindo sua livre confecção. Assim, ainda que contenham todos os requisitos exigidos aos títulos de crédito, se não forem representados pela forma prescrita em lei, não serão válidos. (ex. cheque e duplicata) Quanto ao prazo a) título à vista: são aqueles que devem ser pagos assim que apresentados ao devedor, porque possuem vencimento indeterminado. b) títulos a prazo: são aqueles que devem ser pagos na data previamente estabelecida como a do vencimento Quanto à circulação a) ao portador: títulos em que o emitente não identifica seu beneficiário, isto é, emitidos sem o nome do beneficiário, ou com a cláusula ao portador, transferindo-se assim, por mera entrega ou tradição (CC, 904). Será legitimo proprietário aquele que estiver na posse do título, tendo direito, portanto, à prestação nele indicada, bastando, para tanto, a sua apresentação. A Lei Uniforme veda a emissão de nota promissória, letra de câmbio e duplicata ao portador, quanto ao cheque, a Lei nº 9.069/95, em seu artigo 69, só admite a emissão ao portador se o valor for inferior a R$ 100,00. De se ressaltar o contido no artigo 907 do Código Civil, que dispõe ser nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial. b) nominais: no momento da emissão do título consta o nome do beneficiário. Estes podem ser: b.1) nominativos, cuja emissão se dá com o nome de um beneficiário determinado, sendo que a transferência se dá mediante registro no livro próprio do devedor, nos termos do que assevera o artigo 922 do CC: Transfere-se o título nominativo mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente. 62
5 Neste caso, o emitente somente estará obrigado a reconhecer como legítimo credor da dívida aquele que constar em seu registro nessa condição. Logo, perdido o título, não estará obrigado a pagá-lo a um estranho que o tenha encontrado. Pode haver a transferência por endosso em preto, nos termos do artigo 923 do CC: O título nominativo também pode ser transferido por endosso que contenha o nome do endossatário. 1 o A transferência mediante endosso só tem eficácia perante o emitente, uma vez feita a competente averbação em seu registro, podendo o emitente exigir do endossatário que comprove a autenticidade da assinatura do endossante. Estabelece o artigo 924 do CC, que ressalvada proibição legal, pode o título nominativo ser transformado em à ordem ou ao portador, a pedido do proprietário e à sua custa. b.2) à ordem: são os títulos emitidos em favor de uma pessoa determinada, contudo, sendo transferíveis por endosso. Endosso que é a simples assinatura do portador atual àquele a quem será transferido o título. Sua diferença básica quanto ao nominativo é que sua transferência se dá por simples endosso, enquanto que nos nominativos além do endosso, necessário se faz a escrituração de tal transferência. b.3) não à ordem: emitidos em favor de pessoa determinada, mas, em razão da existência desta cláusula, fica vedado o endosso. A cláusula à ordem é presumida nos títulos de crédito, de modo que, se houver a intenção de impedir a circulação deste, deve ser colocada a cláusula não à ordem, pois que, assim só poderá ser transferido mediante cessão civil do crédito Quanto à estrutura a) promessa de pagamento: o título apresenta duas relações jurídicas: o promitente, que é o devedor e o beneficiário que é o credor (ex. nota promissória, onde o promitente declara que, na data do vencimento, pagará determinada quantia ao beneficiário). b) ordem de pagamento: título em que há três relações jurídicas: a do emitente, subscritor ou sacador, que é quem dá a ordem para que certa pessoa pague o título a outra. Sacado, que é quem recebe a ordem e deve cumpri-la. Por fim, o beneficiário, que é a pessoa que receberá o valor descrito no título. (ex. cheque, onde o emitente (correntista) preenche o cheque e o entrega ao beneficiário, que o descontará 63
6 perante o banco (sacado), já que, no cheque, consta uma ordem para que o banco pague ao portador do título (beneficiário) Quanto à natureza a) títulos causais: a obrigação que lhes deu causa consta expressamente no título, estando a ela vinculados. Eles somente poderão ser emitidos se ocorrer o fato que a lei elegeu como causa possível para tanto. (ex. duplicatas e ações). b) títulos abstratos (ou não-causais): não mencionam a relação que lhes deu origem. Vale o crédito que estiver na cártula escrito, independentemente de outros questionamentos. (ex. cheque, nota promissória, letra de câmbio) quanto ao emitente a) títulos públicos: emitidos por pessoas jurídicas de direito público, voltados à arrecadação de rendas junto aos particulares, para que sejam empregadas nas necessidades públicas (ex. títulos da dívida pública federal, estadual e municipal). b) títulos privados: lançados por particulares, pessoas física ou jurídica, civil ou empresária, nelas se incluindo as sociedades de economia mista e empresas públicas (ex. nota promissória, letra de câmbio) Quanto ao número a) títulos individuais: emitidos caso a caso, para cada negócio jurídico efetuado. b) títulos seriados: são emitidos em série por pessoas jurídicas e, por serem muitos, são numerados. Cada um envolve um direito igual ao outro, servindo, geralmente, para pagamentos periódicos (ex. títulos da dívida pública) Requisitos formais dos títulos de crédito São requisitos essenciais, sem prejuízo das características peculiares a cada um deles: - denominação do título; - assinatura do subscritor (emitente ou sacador); - identificação de quem deve pagar; - indicação precisa do direito que confere; - data do vencimento (se não constar do título, este é à vista ); - data da emissão; - local da emissão e do pagamento. 64
7 Tais requisitos não precisam estar presentes no momento da emissão do título, podendo inclusive ser preenchidos antes de sua cobrança ou protesto. Assim é a dicção do artigo 891 do Código Civil: O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados. Por fim, cumpre ressaltar que a teor do artigo 888 do Código Civil: A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. 65
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