MAPA DO VINHO ÁFRICA DO SUL POR PETER WOLFFENBÜTTEL

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1 1 MAPA DO VINHO ÁFRICA DO SUL POR PETER WOLFFENBÜTTEL

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4 ÍNDICE 4 1- UM PANORAMA DA ÁFRICA DO SUL REGIÕES PRODUTORAS PRINCIPAIS UVAS FINAL...17

5 5 UM PANORAMA DA ÁFRICA DO SUL Com a vista da famosa Table-Mountain, a África do Sul foi visitada pelos portugueses lá por 1490 como rota alternativa para chegar ao Oriente em busca das famosas especiarias fugindo do jugo dos italianos que dominavam o Mare Nostrum. Depois os holandeses participaram com apoio logístico e comercial, mas, em franca competição com os ingleses pelo que se pode chamar de comércio exterior da época. Com o descobrimento das jazidas de diamantes e ouro a região passou a ser disputada pelos europeus, principalmente, os ingleses e os holandeses. Influência explícita destes países na formação da África do Sul. Após o término do hediondo apartheid a África do Sul renasceu para o mundo em todos os sentidos, inclusive no que refere-se ao vinho.

6 6 A nova bandeira nacional nos diz um pouco da história deste país. Foi criada após o fim do apartheid em As seis cores, preta, amarela, branca, azul, verde e vermelho, no centro há o desenho de um Y que representa a união de tantas culturas diferentes que existem no país. O vermelho traz a lembrança do sangue que foi derramado nas tantas guerras e, principalmente, na luta contra o apartheid, o regime que separava os brancos dos negros criando para estes condições indignas de vida. O azul lembra o céu, o verde as maravilhosas florestas do país, o preto (africanos), o branco (europeus) e o amarelo as riquezas minerais do país, ouro e diamantes. E os vinhos? OS VINHOS Falando de vinhos a África do Sul é um país abençoado. Toda a região vinícola de importância internacional está na Cidade do Cabo, regiões como Constantia, Stellenbosch, Paarl e mais recentemente Elm e outros cantinhos bem ao sul do país. Estes vinhedos são plantados entre os paralelos 30 e 35 os mesmos das melhores regiões vitícolas da Austrália, Argentina, Brasil, Uruguai e Chile, portanto, indicadores de bons vinhos. A acidentada geografia onde estão os vinhedos criam vários microclimas favorecendo a produção de diferentes vinhos com a mesma uva mesmo em vinhedos próximos. As principais castas são a Chenin Blanc, esta para mim o que a África do Sul produz de melhor, Sauvignon Blanc e Chardonnay, nas brancas. Nas tintas, a Pinotage, tida por muitos como a casta ícone do país, na verdade é um cruzamento entre a Pinot Noir e a Hermitage (nossa velha conhecida Cinsault, uma das rainhas do mediterrâneo e base de grandes roses no sul da França), plantam também, Cabernet Sauvignon, Syrah, Pinot Noir, Cabernet Franc e Merlot, para ficarmos apenas nas mais conhecidas.

7 AS REGIÕES PRODUTORAS 7 Vou falar na sequência das principais regiões. As mais conhecidas aquelas cujos vinhos chegam com frequência no Brasil e, principalmente, aquelas que deram início ao mundo de Baco na África do Sul. Seguem: Constantia, Paarl e Stellenbosch.

8 8 CONSTANTIA - OS PRIMEIROS VINHEDOS No subúrbio da Cidade do Cabo, 15 quilômetros poucos minutos de carro está o vale de Constantia e começa a rica história dos vinhedos da África do Sul. Constantia Estate foi criada em 1685 pelo segundo governador do Cabo da Boa Esperança, Simon van der Stel. Ele foi subdividido em três partes após a sua morte em Klein Constantia, Groot Constantia e Bergvliet. Em 1778, Klein Constantia foi comprado pelo produtor Hendrik Cloete, que começou a fazer vinhos de sobremesa não fortificados de Muscat Blanc. Vin de Constance era referenciado na Europa pela alta elite. Os primeiros vinhedos plantados abaixo da linha do Equador certamente o foram em Constantia. As primeiras vinhas produziam um vinho branco doce muito apreciado na Europa. Hoje os vinhedos, como em todo o mundo, vêm sofrendo drásticas mudanças com a modernização e nas técnicas de produção. Assim aos poucos a região destaca-se na produção de modernos vinhos.

9 Sua região é privilegiada, a famosa Table-Mountain protege os vinhedos dos frios ventos que sopram do oceano Atlântico na primavera e verão refrescando os vinhedos durante a noite. As vinhas vão subindo a montanha para chegar à altura média de 400 metros com solos graníticos e bem drenados. O frio nos traz uvas brancas com acidez interessante e, por isto, vinhos refrescantes. Hoje é terra de bons brancos, secos e refrescantes, como os produzidos pela Sauvignon Blanc e Chardonnay. Variedades de Bordeaux, como Cabernet Sauvignon e Merlot estão a prosperar ainda mais para baixo nas encostas onde mais horas insolação ajudam o processo de amadurecimento ao longo do período de maturação. Os tintos são novidade por aqui. Os vinhedos têm perto de uma década de vida e entraram justamente após a queda do Apartheid quando o país renasceu para o mundo. Iniciou-se uma nova fase de exportações e os produtores começaram a encontrar o melhor terroir, em Constantia para os tintos. 9

10 10 PAARL TERRA DE SYRAH E SAUVIGNON BLANC O vale de Paarl mais ao norte de Stellenbosch. Terceiro centro urbano a se desenvolver na África do Sul. Em 1687, o governador Simon van der Stel iniciou o desenvolvimento com as primeiras fazendas coloniais. Importante capítulo ficou com os Huguenotes franceses, fugindo de perseguições religiosas na França trazendo as primeiras mudas da Chenin Blanc e de outras uvas importantes, entre elas a Hermitage (Cinsault). Um belo impulso ao nascente vinho sul-africano. O vale de Paarl tem clima perfeito para as uvas e outras típicas frutas de frio, como maçã, pêssego e figo. Tornou-se, rapidamente, em importante polo de fruticultura.

11 11 Cercado de uma cadeia de altas montanhas seus vinhedos estão no centro deste vale, como o da foto ou nas encostas das montanhas para ganhar, na altura, condições mais favoráveis a algumas castas tintas e maioria das brancas, principalmente, a Chenin Blanc. Situado a 60 quilômetros a leste da Cidade do Cabo este vale está bem protegido dos ventos gelados do oceano Atlântico e da Antártida. Até poucos anos atrás plantava-se, basicamente, castas brancas, como a Chardonnay, Chenin Blanc e mais recentemente a Sauvignon Blanc nas subidas das montanhas onde no verão aproveitando os ventos frios que refrescam os vinhedos retardando a maturação das uvas e garantindo, assim, a acidez necessária para a produção de um branco de qualidade. Além da Chenin Blanc, um caso a parte que será visto junto com a Pinotage, hoje vem se destacando a Sauvignon Blanc, esta última mantendo o caráter mineral, com aromas cítricos assim como os produzidos na sua terra natal, vale do Loire, França. Importante destacar, também, o espaço cada vez maior de área plantada com a Syrah na área central do vale onde é mais quente nos meses de primavera e verão. Lembre-se que a Syrah originária do Rhône norte adora, na reta final de maturação muito sol e calor sem prescindir dos frios ventos noturnos que refrescam os vinhedos no verão. Realmente é de se mencionar a melhoria acentuada que esta casta vem tendo na África do Sul, principalmente os produzidos no Vale de Paarl. Portanto, se estiverem à frente de um Sauvignon Blanc, um Chenin Blanc ou um Syrah desta região não hesitem.

12 12 STELLENBOSCH E OS MICROCLIMAS Stellenbosch a 50 quilômetros da Cidade do Cabo e situada numa região montanhosa e protegida dos fortes ventos que sopram oceano Atlântico, principalmente no inverno. Segunda cidade a nascer após a Cidade do Cabo, também, pelo precursor Simon Van Der Stel. Bosch significa mato, portanto, é Mato do Stel a tradução. O que importa é que aqui também os Huguenotes deixaram sua marca. Hoje, o centro vitícola da África do Sul está baseado neste no trinômio, Paarl, Stellenbosch e Franschoek.

13 Clima mediterrâneo, proteção natural da cadeia de montanhas e vários microclimas pelo relevo de montanha, certamente, nos trazem vinhos muito especiais e diferentes entre as mesmas uvas. Tudo depende de onde foram plantados e qual a ideia do produtor, assim, cada vinhedo tem seu terroir específico. Com vinhedos plantados em várias alturas, de 20 a 300 metros de altura e nas encostas das montanhas que em alguns casos chegam a mais de 1000 metros. A altura exercendo influência decisiva na característica dos vinhos. As uvas no seu período final de maturação, isto é, nos últimos 20 dias, dependendo da casta não pode sofrer calor excessivo sob pena de comprometer toda a safra. Quanto mais lento for este período final de maturação mais aromas, açúcar e taninos tem a uva. Desta maneira, dependendo da uva é determinante a altura em que estão os vinhedos. O destaque fica para a Cabernet Sauvignon, a Pinotage e a Merlot. Nas brancas a Chardonnay e a Chenin Blanc. Mas, sem dúvida alguma os diversos microclimas em face das diferentes alturas dos vinhedos é que dá o charme todo especial para os vinhos aqui produzidos. 13

14 14 PRINCIPAIS UVAS CHENIN BLANC Mas quem é a Chenin Blanc? A Chenin Blanc é uma casta originária da região central do vale do Loire introduzida na África do Sul no século 16 juntos com as primeiras mudas vinda da França, lá também conhecida por Steel. Muito plantada na região de Paarl e Constantia, como é muito vigorosa durante anos deu origem a vinhos populares sem maiores qualidades. Nos últimos 15 anos vêm sendo trabalhada de uma maneira mais correta, diminuindo a sua área plantada e melhorando e muito a qualidade dos vinhos. A Chenin tem por característica a sua versatilidade, produz desde vinhos com baixa acidez a até vinhos com acidez média-alta e ligeiramente encorpados. Serve de vinho base para o espumante sul-africano chamado de Cap-Classique. Pode originar vinhos de colheita tardia ou até mesmo afetados pela podridão nobre, a Botrytis Cinerea.

15 15 Portanto, a casta é uma das mais versáteis do mundo. Na África do Sul, hoje, seguramente, se faz Chenin Blanc capazes de rivalizar com os produzidos no vale do Loire, berço da casta, na França. Um bom Chenin sul-africano de região mais fria como os locais altos de Stellenbosch e Paarl, tem um tom mineral, com aromas levemente cítricos, algo como frutos de polpa branca, maçã e pera. Já os de regiões mais quentes têm aromas de abacaxi e frutas tropicais.

16 16 PINOTAGE Já a Pinotage é casta tinta um cruzamento da Pinot Noir com a Cinsault, conhecida na África do Sul como Hermitage. A Pinot Noir, casta da Borgonha, muita conhecida no mundo. A Cinsault é uma das rainhas do Mediterrâneo e responsável por grandes vinhos, seja em varietal, principalmente nos roses, como os de Tavel, única região demarcada na França autorizada a produzir roses, bem como nos cortes, geralmente com a Grenache.

17 Pois bem, a Pinotage, casta típica da África do Sul, produz os mais variados vinhos, talvez daí a dificuldade que se tem de defini-lo. Como disse, a África do Sul é um país que possui muitos microclimas somados aos mais variados estilos de vinificação, uns com mais madeira outros menos, uns colhendo as uvas mais tardiamente outros não, certamente nos brinda com os variados estilos de Pinotage. Mas em geral é um vinho de cor vermelho escura, aromas de frutos vermelhos e frutas secas. Em termos madeira alguns são mais acentuados com aromas de fumados e café, este último aroma vem do carvalho, se primeiro uso ou não. Interessante destacar que não é a casta mais plantada por lá, perde para a Chenin Blanc e para a Cabernet Sauvignon. 17 FINAL Quero destacar que há uma monolítica classificação no mundo do vinho dividindo-o em: Vinhos do velho mundo (lado de cima da linha do Equador, menos os EUA) e os do novo mundo (abaixo da linha do Equador, menos os EUA). Nesta divisão teríamos estilos bem distintos. Os do velho mundo menos concentrados, alcoólicos, mais elegantes e quase sempre em varietais, isto é, feitos com a quase totalidade de uma só uva. Os do novo mundo em estilos quase opostos, mais concentrados, mais alcoólicos e elaborados na quase totalidade em blend (corte) de duas ou mais uvas. Pois bem os vinhos da África do Sul são o que chamo de novo velho mundo. Os vinhedos mais antigos que se tem notícia abaixo da linha do Equador, mas seus vinhos mantêm um estilo, absolutamente, velho mundista. Menos álcool, menos concentração e mais elegantes.