AGROECOLOGIA E EXTENSÃO DENTRO DO CAMPUS LUIZ DE QUEIROZ DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
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- Ana Lívia Eger de Oliveira
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1 Eixo Temático: Ciências Sociais AGROECOLOGIA E EXTENSÃO DENTRO DO CAMPUS LUIZ DE QUEIROZ DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Tomás Mauricio Almeida Carvalho 1 Orientador: Carlos Armênio Kauthonian 2 Resumo: Na proposta de ambientalização dos seus campi, a Universidade de São Paulo, promoveu a realização do projeto A formação para a sustentabilidade no campus Luiz de Queiroz : Aprender, Produzir, Reciclar e Ensinar. O projeto objetivou ampliar as reflexões sobre sistemas agroalimentares mais sustentáveis dentro do âmbito acadêmico, convergindo a produção de hortaliças e frutas orgânicas, entregas na creche do campus, e a realização de aulas abertas. O trabalho, de extensão dentro da Universidade, teve caráter técnico-produtivo e educativo alimentar, de modo que, os alunos envolvidos puderam desenvolver responsabilidade para com o planejamento produtivo e pró-atividade na organização de eventos. Palavras-chave: Sustentabilidade, Sistemas Agroalimentares, Extensão Universitária, Agroecologia 1. INTRODUÇÃO A agroecologia, arcabouço teórico do projeto, integra os princípios agronômicos, ecológicos, e socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo (ALTIERI, 2009). A preservação e ampliação da biodiversidade dos agroecossistemas é o primeiro princípio utilizado, pela agroecologia, para produzir auto-regulação e sustentabilidade (Altieri, Anderson e Merrick, 1987). A agroecologia fornece as ferramentas metodológicas necessárias para que a participação da comunidade venha a se tornar a força geradora dos objetivos e atividades dos projetos de desenvolvimento (ALTIERI, 2009). Compreendemos que o referencial da agroecologia representa o melhor que, até o momento, se alcançou na busca pela sustentabilidade nos agroecossistemas. Neste sentido, a Universidade é uma referência para a sociedade no que diz respeito ao tratamento de grandes questões que afligem a coletividade, particularmente naquelas relacionadas ao meio ambiente e ao uso sustentável dos recursos naturais. Para estimular o desenvolvimento de soluções para problemas nessa área, a Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP, ao qual foi submetido e aprovado o projeto A formação para a sustentabilidade no campus Luiz de Queiroz : Aprender, Produzir, Reciclar e 1 Graduando em Gestão Ambiental pela ESALQ/USP 2 Professor Doutor do Departamento de Produção Vegetal da ESALQ/USP.
2 Ensinar buscou atingir os objetivos: (i) que a agricultura de base ecológica ganhasse visibilidade no âmbito acadêmico; (ii) ampliar as reflexões sobre sistemas agroalimentares mais sustentáveis; (iii) prover aos estudantes um aprendizado centrado na premissa de que ação e reflexão se dão simultaneamente (FREIRE, 1983). O projeto buscou aprofundar as ações discentes, que permitiram às cozinheiras do Centro de Convivência Infantil Ermelinda de Souza Queiroz e à comunidade maior reflexão sobre os sistemas agroalimentares. Nesse projeto foram envolvidos quatro grupos de extensão do Núcleo Nheengatu: Amaranthus (Agricultura Orgânica), SAF-Pirassikauá (Sistemas Agroflorestais), TERRA (Territorialidades Rurais e Reforma Agrária) e CEPARA (Centro de Estudos e Pesquisas em Aproveitamento de Resíduos Agroindustriais). Discutimos erros e acertos das atividades conduzidas, o aprendizado resultante e possíveis aprimoramentos em projetos futuros. 2. MATERIAIS E MÉTODOS O projeto se orientou por dois principais eixos de atividade: (i) a realização de aulasabertas sobre agricultura de base ecológica (ii) o fornecimento de alimentos à creche do campus Luiz de Queiroz. Na condução das atividades ao redor desses dois eixos, cada grupo de extensão conduziu ações pertinentes ao seu foco temático e convergentes para ampliar as reflexões e percepções de sistemas agroalimentares mais sustentáveis Produção de Composto Orgânico O grupo CEPARA teve o objetivo de produzir grande quantidade de adubo orgânico para abastecer os grupos que exerceram as atividades produtivas. Com base no princípio de reaproveitamento de resíduos para a produção de composto, o grupo utilizou como matéria prima esterco de gado, proveniente do Departamento de Zootecnia, e cavaco, oriundo do Departamento de Ciências Florestais. Esse composto foi fornecido ao grupo Amaranthus, para a produção de hortaliças orgânicas, e ao grupo SAF, para a produção de frutas em agroflorestas Produção Orgânica de Hortaliças e Frutas O grupo Amaranthus teve como finalidade a produção orgânica de hortaliças convencionais e não convencionais (pancs). O grupo SAF-Pirassykauá objetivou a entrega de espécies frutíferas, em manejo agroflorestal biodiverso, já existentes em suas áreas. O tempo do projeto foi o fator de decisão, para ambos os grupos, na escolha de quais espécies seriam cultivadas. As áreas de experimentação dos grupos estão nas dependências da ESALQ/USP.
3 2.3. Fornecimento de Alimentos Orgânicos para a Creche Os grupos Amaranthus e SAF-Pirassikauá se comprometeram a entregar, semanalmente, hortaliças e frutas à creche. Os alunos auxiliaram as cozinheiras no que diz respeito às possibilidades de receitas a serem feitas com plantas alimentícias não convencionais pouco utilizadas em dietas alimentares, como a serralha (Sonchus oleraceus L) Educação Ambiental na Creche O grupo TERRA desenvolveu atividades de caráter educacional com ênfase no meio ambiente, com crianças de dois a cinco anos. Os eixos norteadores das ações educativas foram a separação de resíduos e o plantio de hortaliças. Os encontros ocorreram semanalmente e tiveram duração de uma hora Aulas Abertas As Aulas Abertas tiveram como público alvo as comunidades de alunos da ESALQ e moradores da cidade de Piracicaba. Foram realizadas sete aulas com os seguintes temas: (i) comercialização na agricultura familiar; (ii) sistemas agroflorestais sucessionais; (iii) compostagem em pequenos espaços; (iv) hortas orgânicas em pequenos espaços; (v) educação alimentar; (vi); produção de shimeji; (vii) fabricação de tijolos de adobe. O coffee-break oferecido nos intervalos das aulas foi elaborado com produtos de agricultores da região de Piracicaba e dos grupos envolvidos no projeto Coordenação das Atividades Para garantir a qualidade dos trabalhos, os estudantes se reuniram semanalmente, para discutir a entrega de alimentos à creche e a organização de aulas abertas. Oito bolsistas sendo, um coordenador sem vinculo direto com os grupos, duas do grupo SAF-Pirassikauá, três do grupo Amaranthus, um do grupo CEPARA e outro do grupo TERRA, realizaram o projeto. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A principal dificuldade vivenciada ao longo do processo foi a falta de experiência do grupo, composto integralmente por alunos de graduação. Apesar do acúmulo em temas técnicos, os estudantes tiveram como maior desafio provar que seu modelo de produção e organização era capaz de cumprir as metas propostas. Assim, foram das inexperiências que se fez também o maior aprendizado do grupo. Porém, apesar de os alunos serem de uma faculdade de ciências agrárias, a princípio, eles não tinham a prática do planejamento produtivo e da produção. Assim um dos principais objetivos
4 do projeto, a formação técnica e profissional dos estudantes foi realizada com sucesso justamente devido à falta de preparo dos alunos. Pela realização de atividades variadas, houve intensa colaboração entre os estudantes, o que gerou intercâmbio de aprendizados além da área de atuação de cada indivíduo. Ao longo das atividades foi valorizada a diversidade de produção, com total de 28 espécies sendo as principais: berinjela (S. Melongena); alface (Latuca Sativa); taioba (Xanthosoma sagittifolium); maxixe (C. anguria). A falta de uma estrutura de pós-colheita fez com que essa parte do processamento alimentar ficasse prejudicada e pouco desenvolvida entre os estudantes. O contato com as representantes da creche se manteve intenso ao longo do projeto. Dessa forma, o cardápio semanal do Centro de Convivência Infantil Luiz de Queiroz promoveu a experimentação de novos sabores, com o resgate de receitas culinárias tradicionais. As aulas abertas tiveram destaque como principal espaço de visibilidade das técnicas da Agroecologia. Possibilitaram, assim, a melhoria do debate em temas ligados à sustentabilidade nos sistemas agroalimentar. Ao todo as aulas abertas atingiram diretamente 250 pessoas, incluindo entre elas, estudantes de ciências agrárias e ambientais, funcionários e professores da ESALQ/USP, interessados em agricultura e sustentabilidade. As pessoas envolvidas tiveram contato com temas específicos como a produção do cogumelo Shimeji Branco e Compostagem em Pequenos Espaços. Do mesmo modo, temas mais amplos como a comercialização de alimentos orgânicos e educação alimentar foram abordados com aqueles interessados em capilarizar os saberes em seus meios sociais e profissionais. Os intervalos das Aulas Abertas se constituíram importantes canais de difusão de espécies não convencionais e receitas entre os alunos e o público participante. As espécies consideradas pragas em certos sistemas de produção passaram a ser vistas com apreço, por todos que tiveram contato com o projeto. Os estudantes protagonistas, ao decorrer do trabalho, desenvolveram habilidades como a elaboração e estruturação do tema, convite de palestrantes e divulgação de eventos. O planejamento orçamentário, para os mesmos, foi um ponto que poderia ter sido mais bem desenvolvido. Para melhor gestão do projeto teria sido necessário um melhor planejamento orçamentário, que foi reestruturado devido a um corte dos recursos. Do mesmo modo, a divulgação dos eventos, apesar de, algumas técnicas terem sido desenvolvidas, poderia ter maior efeito se houvesse alguém da área de comunicação. A reprodução do projeto foi, e é altamente recomendável pelos estudantes envolvidos. A convergência de produção-entrega de alimentos orgânicos e aulas abertas constituíram uma boa metodologia para que sistemas agroalimentares mais sustentáveis ganhassem maior visibilidade. Porém, estruturar um planejamento produtivo é fundamental, assim como, um plano orçamentário para que não haja descumprimento de acordos feitos no início do projeto.
5 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O termo agroecologia, antes trabalhado somente por um pequeno grupo de estudantes e pesquisadores, ganhou maior abrangência no ambiente universitário. O debate ambiental ganhou maior visibilidade, tanto nas práticas realizadas quanto nas discussões promovidas. O regaste de plantas alimentícias não convencionais despertou o interesse e a criatividade das cozinheiras da creche para realizarem novas receitas. Os estudantes se capacitaram em diversas habilidades de caráter técnico-científico e em organização de eventos. Deste modo, as ações de extensão do projeto se tornaram laboratórios de aprendizagem e capacitação para as pessoas envolvidas direta e indiretamente. REFERÊNCIAS ALTIERI, M. Agroecologia - A Dinâmica Produtiva da Agricultura Sustentável. UFRGS Editora, Quinta Edição, p e 27p. ALTIERI, M.A.; ANDERSON, M.K.; MERRICK, L.C. Peasant agriculture and the conservation of crop and wild plant resources. Conservation Biology. v.1, p.49-58, 1987 FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 13ª Edição p.
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