Provas especialmente adequadas destinadas a avaliar a capacidade para a frequência do ensino superior para maiores de 23 anos Português/Língua

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1 Provas especialmente adequadas destinadas a avaliar a capacidade para a frequência do ensino superior para maiores de 23 anos Português/Língua Grupo I Revisão de um texto com erros de língua e de ortografia (50 pontos): O medo de uma nova explosão Não te leves demasiado a sério, mas leva a sério o mundo. Pego em o jornal, leio a noticia: «Os pássaros cantão mais alto na cidade por causa do barulho», e esta notícia é tão bela que parece ter sido resultado da observação de um poeta. E penso então como seria interessante que jornais estivessem agora a envestir em enviados especiais que dominasse, não apenas a coragem (para estar próximo do mais terrível dos acontecimentos), mas tambem a poesia. Pensar de alguém que se aproxima de uma guerra ou de uma revolusão com os olhos de uma testemunha eficaz e com o melhor ouvido entre todos os animais alguém que domina a coragem e a poesia, eis um repórter diferente. E a notícia é então clara: não se trata a dizer que os pássaros da cidade cantam melhor do que os do campo ou floresta. O que a notícia diz é que os pássaros da cidade cantam mais alto: aumenta o volume, quere se fazer ouvir. Entre o incrivel e nunca interompido barulho das maquinas e dos homens em funcionamento, ali está a contestação da natureza: o canto do pássaro. Três vozes, portanto, e talvez entre elas exista uma competição crescente. Competição como entre feirantes: quem me dá atenção? A voz humana, a voz dos motores (desafinada, mas que só para por avaria e não por cançaso), e a voz dos elementos naturais três vozes que, enquanto caminhamos na cidade, chama-nos, nos interpela: ei, pst, tu, ouve lá. É evidente podemos ter um pezadelo, este: que o canto do pássaro da cidade vá copiando o tom do canto das máquinas e que, a certa altura, um cidadão de bom ouvido já não consiga distinguir se é uma ave, o que canta em cima da árvore, ou se aí instalarem um mecanismo cantante. Mas pesadelo igual seria pensar que as máquinas, os poucos, se libertasse daqueles sons de roldanas em andamento e motor que treme e passasse a soar como pássaros. Se a máquina começasse a fazer os barulhos da natureza, estariamos já num outro patamar da invazão da tenologia. Pego no jornal, leio outra notícia: nos Estados Unidos, no Estado de Geórgia, um Pastor levou grupo de crentes para junto de uma bomba de gasolina e «rezou para

2 que os preços baixassem». A oração junto a bomba de gasolina não era apenas para que os preços deste produto baixasse, a oração era também derigida para os preços do mundo, no geral. Claro que rezar junto a uma bomba de gasolina deveria ser proibido, da mesma forma que é proibido assender lume. Porque o potencial explosivo é identico, embora no caso do lume é um potencial de explosão material e concreta e, no caso da oração junto à bomba de gasolina, a potencial explosão seja simbólica. No entanto, talvez esta segunda explosão é mais perigoza. É que, no fundo, aqui, a oração, já não pede outro mundo nem outros homens, pede apenas que os preços baixem. Não se pede a salvação do indivíduo ou de uma comunidade, não se trata já de salvar espiritos mas de pedir para baixar preços. No limite, estamos diante do mundo que a oração serve para pedir discontos. Como se pudesse ter orações capazes de baixar 20% do preço de uma mercadoria, e outras orações mais convitas que fossem capazes de obter descontos «na ordem dos 40 por cento». Estamos já um novo Reino, num terceiro Reino. Num reino estranho e ambiguo, que quer juntar o Reino de César e o Reino de Deus. Passo agora perto uma bomba de gasolina. Asselero o paço. Não acendo lume e não rezo. Tenho medo de explosões. (Gonçalo M. Tavares, «Crónica», Visão 28 de Abril de 2011) Grupo II Explicação do sentido de frases (70 pontos): 1.«Pensar em alguém que se aproxima de uma guerra ou de uma revolução com os olhos de uma testemunha eficaz e com o melhor ouvido entre todos os animais alguém que domina a coragem e a poesia, eis um repórter diferente.» (35 pontos) 2.«Entre o incrível e nunca interrompido barulho das máquinas e dos homens em funcionamento, ali está a contestação da natureza: o canto do pássaro. Três vozes, portanto, e talvez entre elas exista uma competição crescente.» (35 pontos) Grupo III Redação de um texto expositivo/argumentativo (80 pontos): Partindo do texto apresentado, redija um texto expositivo/argumentativo subordinado ao tema: «a comunicação social pode condicionar a visão de mundo do Homem e o seu estado de espírito. Que lhe parece?»

3 SÚMULA Grupo I Erros a corrigir no texto (50 erros = 50 pontos): pego em o jornal por pego no jornal noticia por notícia cantão por cantam que jornais por que os jornais envestir por investir dominasse por dominassem tambem por também pensar de alguém por pensar em alguém revolusão por revolução do campo ou floresta por do campo ou da floresta aumenta por aumentam quere por querem se fazer por fazer-se não se trata a dizer por não se trata de dizer incrivel por incrível interompido por interrompido maquinas por máquinas cançaso por cansaço que chama-nos por que nos chama chama por chamam interpela por interpelam É evidente podemos por é evidente que podemos pezadelo por pesadelo

4 instalarem por instalaram libertasse por libertassem passasse por passassem os poucos por aos poucos estariamos por estaríamos invazão por invasão tenologia por tecnologia no Estado de Geórgia por no Estado da Geórgia levou grupo de crentes por levou um grupo de crentes junto a bomba por junto à bomba baixasse por baixassem derigida por dirigida assender por acender identico por idêntico embora no caso do lume é por embora no caso do lume seja é mais perigosa por seja mais perigosa perigoza por perigosa espiritos por espíritos do mundo que a oração por do mundo em que a oração discontos por descontos pudesse por pudessem convitas por convictas estamos já um novo reino por estamos já num novo reino ambiguo por ambíguo perto uma bomba por perto de uma bomba asselero por acelero

5 paço por passo Grupo II Explicação do sentido de frases (70 pontos): 1.«Pensar em alguém que se aproxima de uma guerra ou de uma revolução com os olhos de uma testemunha eficaz e com o melhor ouvido entre todos os animais alguém que domina a coragem e a poesia, eis um repórter diferente.» (35 pontos) Tendo em conta o título do artigo, «O medo de uma nova explosão», e a referência às notícias do jornal, o autor expressa a sua opinião sobre os jornalistas enviados especiais para uma guerra ou uma revolução com coragem mas também com a sensibilidade de um poeta. 2.«Entre o incrível e nunca interrompido barulho das máquinas e dos homens em funcionamento, ali está a contestação da natureza: o canto do pássaro. Três vozes, portanto, e talvez entre elas exista uma competição crescente.» (35 pontos) O autor refere o enorme ruído da poluição sonora das cidades e apresenta o canto dos pássaros como contestação ou protesto da natureza contra esta realidade cada vez mais insuportável. O autor acrescenta que se trata de três vozes em competição crescente: a voz humana, a voz dos motores e a voz dos elementos da natureza. Grupo III Redação de um texto expositivo/argumentativo (80 pontos): Partindo do texto apresentado, redija um texto expositivo/argumentativo subordinado ao tema: «a comunicação social pode condicionar a visão de mundo do Homem e o seu estado de espírito. Que lhe parece?» PLANO GERAL 1. A resposta deve comportar obrigatoriamente uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. 2. A resposta deve ser elaborada de forma cuidada, coerente e organizada. 3. Os conectores de discurso devem pautar a argumentação do candidato.

6 PROPOSTA DE REDAÇÃO Para discutir a problemática inerente ao enunciado a comunicação social pode condicionar a visão de mundo do Homem e o seu estado de espírito, procuraremos tecer algumas considerações que justifiquem essa afirmação, tentando desconstruir os discursos sobre esse mundo cada vez mais complexo que as páginas dos jornais, os ecrãs de televisão ou de computadores reflectem. Agora que vivemos em plena era da Informação ou era dita Digital, em que notícias circulam quase instantaneamente numa rede à escala de uma Aldeia Global, sem barreiras de tempo nem de espaço, o problema da informação é proporcionalmente inverso àquele com que a humanidade se debatia em tempos pretéritos. Num passado não muito distante, as referidas barreiras condicionavam o comportamento das comunidades, das suas estruturas sociais e do poder porque a ignorância e a desinformação podiam garantir a estabilidade dos detentores desse poder. As sociedades que apostaram no acesso ao conhecimento, à informação e ao debate livre são provavelmente àquelas que se têm desenvolvido num quadro que visa promover a ligação entre a sustentabilidade, a criatividade e a tecnologia, oferecendo igualmente aos seus cidadãos a capacidade de aprofundar o exercício da cidadania. Só que esse novo paradigma de divulgação, configurado por canais televisivos de informação em contínuo, pela internet e por blogues, resultou num fluxo excessivo de informação, dificultando a sua gestão, a sua interpretação e a sua utilização. Com efeito, há o sentimento difuso e partilhado por muitos consumidores ou cidadãos de que é cada vez mais custoso estabelecer hierarquias no volume de notícias que recebemos todos os dias, discernir o que é verdadeiramente relevante do que é acessório ou anedótico. Na verdade, os meios de comunicação incluem, excluem e hierarquizam a informação de acordo com motivações que nem sempre são transparentes. Se a comunicação social informa muito, também é certo que projecta uma imagem manipulada da realidade envolvente, condicionando a sua interpretação. Importa, então, ao cidadão comum desconstruir o manipulado que é a paisagem audiovisual e o mundo das notícias. De que vale noticiar o facto (comprovado por um estudo científico) de os pássaros piarem mais alto nos meios urbanos, quando a amplificação de casos sórdidos, a raiar o sensacionalismo, pode contribuir para aumentar audiências e vender mais periódicos? Por que motivo a visão do poeta ou a palavra do artista têm de ser abafadas pelas vozes impostas de tecnocratas, de economistas e de políticos, quando os discursos destes são rara e desassombradamente descomprometidos com grupos que lutam pelo poder? Com que ânimo o cidadão comum pode encarar o futuro, quando as derivas de toda a ordem, as injustiças sociais e a diminuição do

7 poder de compra comprometem a sua qualidade de vida? De facto, os exemplos positivos que deveriam inspirar-nos não abundam e assim se pode comprometer a auto-estima do país. O modo como se constroem estas imagens, ocorrências e ideias acaba por afectar a nossa percepção do mundo e, em grande medida, as nossas atitudes. Felizmente, é sempre possível, através da oferta da internet ou dos operadores de TV por cabo, confrontar essa paisagem com a visão que os meios de comunicação internacionais têm do nosso país. Não há dúvida, portanto, que cada meio de comunicação tenta convencer serem os seus conteúdos os mais adequados aos interesses da audiência, sendo que a construção da sua agenda resulta da mistura dos dois objectivos, o económico e o ideológico. Concluindo: se, por um lado, se espera que os meios de comunicação estejam conscientes do que fazem e procurem participar de forma construtiva no grande debate social, por outro, os consumidores ou cidadãos têm que estar atentos e críticos perante o que recebem. Com efeito, a agenda que determina a construção da realidade descrita e discutida, isto é, o conteúdo de cada meio de comunicação, apresenta-se como a combinação possível dos interesses do público, dos meios e da própria sociedade. Mas o carácter proteiforme do tratamento da informação confere aos temas da agenda uma dimensão fugidia que torna difícil a sua fixação nas memórias da audiência.