USO DA PESQUISA QUANTITATIVA NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

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1 USO DA PESQUISA QUANTITATIVA NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES E DESAFIOS João Jacques de Alencar Coêlho 1 Gésica Borges Bergamini 2 Resumo: Com a finalidade de alcançar seus objetivos, a pesquisa percorre caminhos diversos produzindo conhecimento. Este artigo retrata de maneira geral as dificuldades e possibilidades encontradas pelo pesquisador no uso da pesquisa quantitativa nas pesquisas em educação. As pesquisas educacionais no Brasil apresentam uma forte tendência à abordagem qualitativa, mas veremos que estas também podem ser realizadas de forma quantitativa, pois a escolha do caminho deve ocorrer visando às respostas que o pesquisador pretende encontrar. O estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica objetivando uma maior compreensão da utilização da abordagem quantitativa em pesquisas na área das ciências humanas, principalmente na educação. Palavras- Chaves: Pesquisas em educação; Abordagem Quantitativa; Observação. Abstract: In order to achieve its objectives, the research covers different paths producing knowledge. This article shows in general the difficulties and opportunities encountered by the researcher in the use of quantitative research in education research. Educational research in Brazil have a strong tendency for qualitative approach, but we will see that they can also be carried out quantitatively, because the choice of the path must occur seeking the answers the researchers want to find. The study was conducted through a bibliographical research aiming at a better understanding of the use of quantitative approach to research in the humanities, especially in education. Words- keys: Research on education; Quantitative Approach; Bibliographic research. INTRODUÇÃO O aumento progressivo dos estudos em educação tem proporcionado uma maior diversidade de temas, enfoques e contextos. Com o objetivo de compreender a utilização da abordagem quantitativa nestas pesquisas e os cuidados que devemos tomar nesse processo de produção científica, pretendese analisar os procedimentos presentes na pesquisa educacional, explicitando os critérios de escolha no uso dessa abordagem. 1 Mestrando em Ciência da Educação. Pós-Graduando e Especialista em Treinamento Desportivo e Exercício Físico. Joaojacques_1@hotmail.com 2 Doutora em Saúde Pública. Mestra em Psicologia. Especialista em Neuropsicologia Clínica. Especialista em Neurociência e Psicopedagogia. Graduada em Psicologia. gpensemagro@gmail.com

2 Segundo André (2007), os trabalhos devem estar fundamentados teoricamente, atendendo a critérios de relevância científica e social, acrescentando, portanto, novos conhecimentos aos já existentes. Além de definir e justificar claramente o objeto de pesquisa; os objetivos e os procedimentos metodológicos. Os tipos e métodos utilizados na pesquisa, portanto, sempre provocaram divergências e discussões, principalmente no meio acadêmico, resultado da dificuldade que os alunos possuem para definir qual método estão utilizando para a produção do conhecimento. Diante disso podemos observar que a metodologia quantitativa pode ser muito útil na compreensão de vários problemas educacionais, e que esta se for combinada com a metodologia qualitativa enriquecerá a compreensão dos eventos, mas esta combinação de metodologias exigirá uma reflexão do pesquisador para dar sentido ao material analisado. Desta forma é de extrema relevância entender os critérios utilizados na metodologia quantitativa e sua contribuição para a produção científica. Este artigo pretende, através da análise de uma pesquisa bibliográfica, oferecer subsídios para esta compreensão, contribuindo para a produção de trabalhos científicos com qualidade. 1 A PESQUISA EM EDUCAÇÃO Sendo um termo muito utilizado atualmente, a pesquisa para cumprir o seu papel facilitador da construção de conhecimentos novos, requer a ampla compreensão de seu conceito, só assim contribuirá na realização de estudos de qualidade que auxiliem na compreensão da realidade. Conceituando o termo, Martins & Ramos, (2013, p.6), afirma que pesquisar vem da palavra latina perquirere, que significa buscar com cuidado, procurar por toda parte, informar-se. O confronto entre os dados, as evidências e informações coletadas sobre o assunto com a teoria que embasa o conhecimento teórico oriundo do processo de investigação, é essencial para a construção de um trabalho complexo, profundo, ocorrendo partir da busca por

3 respostas que surge diante de um problema observado pelo pesquisador (LUDKE & ANDRE, 1986). Conhecimentos científicos são produzidos mediante o uso de métodos e técnicas adequados e resultam em respostas ao problema investigado, e este processo representa a visão de mundo que orienta o pesquisador, demonstrando a união entre o sujeito da pesquisa, o pesquisador e o objeto do estudo, pois os conhecimentos adquiridos pelo pesquisador através das diversas teorias estudadas e seus questionamentos é que vão construir o conhecimento sobre o fato pesquisado. (LUDKE & ANDRÉ, 1986); (MARTINS & RAMOS, 2013). O positivismo, a fenomenologia e o materialismo histórico-dialético, são os paradigmas mais trabalhados nas pesquisas em educação, e estes são unidos pelos estudiosos do assunto em dois grupos de abordagens: quantitativa e qualitativa. (MARTINS & RAMOS, 2013). Através de um balanço da pesquisa em educação nos últimos tempos, André (2007), afirma uma forte tendência da pesquisa ao pragmatismo imediatista, pelo seu caráter simplista ao encarar os fatos sem aprofundamento no estudo. Segundo ela pela sua própria natureza e processo de construção, a pesquisa não pode visar a solucionar pequenos impasses, pois o ponto de origem de uma investigação científica é o fato de não possuir resposta evidente. Sobre essa questão Martins e Ramos (2013), afirmam a evolução das pesquisas ocorrem através de um estudo profundo e complexo para a explicação de fatos, fenômenos ou compreensão da realidade. Segundo André (2007), para ter uma pesquisa de qualidade é necessário haver um diálogo entre os produtores de conhecimento e de informação propiciando condições que estabeleçam um consenso a respeito da qualidade da pesquisa em educação. 2 A ABORDAGEM QUANTITATIVA: CONCEITOS E FINALIDADES Segundo Richardson (1989), o que caracteriza este método é o emprego da quantificação na coleta de informações e em seu tratamento através de técnicas estatísticas, garantindo a precisão dos trabalhos realizados e reduzindo as chances de distorções dos resultados.

4 Nos estudos de campo quantitativos, bem como na pesquisa experimental, o pesquisado parte de quadros conceituais de referência bem estruturados, que servem de subsídio na formulação de hipóteses sobre os fenômenos que quer estudar, gerando então uma lista de consequências que terá sua ocorrência verificada através da coleta de dados. Os dados serão analisados através da Estatística ou outras técnicas matemáticas. (POPER, 1972) De acordo com Richardson (1989), este método é frequentemente aplicado nos estudos descritivos e se propõem a investigar as características de um fenômeno como tal. DIEHL (2004) destaca que entre os tipos de estudos quantitativos existem além dos descritivos, os estudos comparativos causais, em que para descobrir seus antecedentes o pesquisador parte dos efeitos observados, e os estudos experimentais, que proporcionam meios para testar a hipótese. No processo de construção deste tipo de estudo para que se possam explicar as características de um problema, primeiro as principais variáveis devem ser identificadas (RICHARDSON, 1989). Da mesma forma Tripoldi (1981, p.48) afirma que estudos quantitativos-descritivos são uma categoria dentro da pesquisa e que esta possui sub-divisões, bem como de uma maneira geral a verificação de hipóteses e a descrição de relações quantitativas entre as variáveis específicas. O referido autor, Tripoldi (1981, p. 51) evidencia que as características de busca aleatória e o trabalho em cima das variáveis independentes não podem fazer parte dos estudos quantitativos-descritivos. Desde que se tenha um controle sobre as variáveis, a pesquisa classificada, pode assumir um papel importante nos estudos quantitativosdescritivos e o método Survey é a técnica mais conhecida para se trabalhar nesse sentido. (HYMAN, 1967). Questionários e entrevistas, geralmente realizam a coleta de dados neste tipo de abordagem metodológica e apresentam variáveis distintas e relevantes pra pesquisa, que em análise é geralmente apresentado por tabelas e gráficos. 3 A PESQUISA QUANTITATIVA NO BRASIL: POSSIBILIDADES E DESAFIOS

5 A afirmação de que até meados do século passado, no Brasil predominava os estudos de natureza quantitativa, chamados de tecnicistas ou positivistas, é muito frequente, mas estudos publicados no início dos anos 1970, Gouveia, (1980) e Di Dio, (1974), revelam que a produção de pesquisas em educação era mínima, senão irrelevantes, e que desta produção a maioria não utilizavam a metodologia quantitativa ou quando usavam era sob a forma de análise descritiva de tabelas de frequência. No Brasil, a utilização de dados quantitativos na pesquisa educacional por não ser mais ampla, resultou na consolidação da dificuldade do uso, de uma forma mais consistente, impedindo, portanto, a construção de uma perspectiva real dos limites deste método, limites estes que também estão presentes na abordagem qualitativa, mas que geralmente não são considerados. Isto também dificulta que discussões sobre dados quantitativos realizados no âmbito acadêmico ou público, não tenham uma visão crítica e contextuada sobre o assunto. (ANDRÉ, 2007). Pesquisas em educação que utilizam a metodologia quantitativa, principalmente as que usam métodos mais sofisticados, não são realizados por educadores, mas por pesquisadores de outras áreas, o que prejudica as reflexões sobre a educação, por dificultar a incorporação das interpretações e teorizações. (ANDRÉ, 2007). Segundo Falcão e Régnier (2002, p.32), quanto ao papel da quantificação na pesquisa educacional, a análise de dados quantitativos proporciona que a informação que não pode ser diretamente visualizada a partir de uma massa de dados poderá sê-lo se tais dados sofrerem algum tipo de transformação que permita uma observação de um outro ponto de vista. Os referidos autores complementam afirmando que a quantificação abrange um conjunto de procedimentos, técnicas e algoritmos destinados a auxiliar o pesquisador a extrair de seus dados subsídios para responder à(s) pergunta(s) que o mesmo estabeleceu como objetivo(s) de seu trabalho. Desta forma ficam evidentes que, para o pesquisador, os métodos quantitativos de análise são recursos importantes e que este deve trabalha-los em seu contexto de reflexão, entendendo que são fornecedores de indícios e não de verdade, que proporcionam plausibilidades, não certezas.

6 O domínio que o pesquisador deve ter sob este método depende do conhecimento de cada técnica de análise quantitativa utilizada, pressupondo conhecer o contexto em que os dados foram produzidos, ou seja, a área onde os problemas estudados estão inseridos e um domínio das teorizações, permitindo desta forma perceber as distorções de análises causadas pelo uso incorreto desta metodologia. Dependendo da natureza do objeto, dos objetivos do investigador e do instrumento de coleta, muitas são as formas de quantificações. Podemos evidenciar três tipos de dados: categóricos, ordenados e métricos, cada tipo de dado requer um tratamento estatístico diferente e o pesquisador deve levar em consideração também o fato de que as medidas por si só não devem ser tomadas como próprias da natureza das coisas, visto que são criadas. Ao se criar uma tradução numérica de fenômenos é necessário que esta tenha algum grau de validade teórica. CONSIDERAÇÕES Com base nas análises apresentadas neste artigo, podemos observar que o processo de produção do conhecimento exige muito estudo, planejamento, organização e dedicação do pesquisador, e que suas indagações são o ponto central da investigação científica. Para que uma pesquisa contribua para o avanço do conhecimento, é necessário que concretize sua relevância científica e social, que é seu verdadeiro papel, e para alcançar este objetivo, o problema da pesquisa deve ser bem delimitado, a partir daí, levando em consideração os objetivos propostos é que se analise qual é a metodologia adequada para o trabalho. Ao escolher a abordagem quantitativa, o pesquisador deverá estar atento ao fato de que apesar das dificuldades enfrentadas, a análise feita a partir de dados quantificados, embasados por perspectivas teóricas, fornece subsídios concretos para a compreensão de fenômenos educacionais, exigindo deste, sensibilidade, raciocínio, determinação, além de dominar as técnicas utilizadas, trazendo evidências concretas que comprovem as conclusões obtidas com a pesquisa.

7 O presente trabalho apresentou um panorama geral da utilização da metodologia quantitativa nas pesquisas educacionais, evidenciando a necessidade do pesquisador de se apropriar das metodologias com exatidão, aproveitando todas as suas potencialidades. Dessa forma surgirão trabalhos capazes de contribuir efetivamente nas questões educacionais da nossa sociedade. REFERÊNCIAS ANDRÉ, M. Questões sobre os fins e sobre os métodos de pesquisa em Educação. Revista Eletrônica de Educação. São Carlos, SP: UFSCar, v. 1, n.1, p , set Disponível em: DI DIO, R. A. T. A pesquisa educacional no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 60, n. 136, p , out./dez DIEHL, A. A. Pesquisa em ciências sociais aplicadas: métodos e técnicas. São Paulo: Prentice Hall, FALCÃO, J. T. da R.; RÉGNIER, J. Sobre os métodos quantitativos na pesquisa em ciências humanas: riscos e benefícios para o pesquisador. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 81, n. 198, p , maio./ago GOUVEIA, A. J. Origem social, escolaridade e ocupação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 32, p. 3-30, fev HYMANN, H. Planejamento e análise da pesquisa: princípios, casos e processos. Rio de Janeiro: Lidador, LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, MARTINS, R. X.; RAMOS, R. Metodologia de pesquisa: guia de estudos. Lavras: UFLA, 2013, p POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. 2. ed. São Paulo: Cultrix, RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas,1989. TRIPOLD, T. et al. Análise da pesquisa social. 2 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves,