A ATUAÇÃO INTERDISCIPLINAR NA GERÊNCIA DO CUIDADO EM DIABETES MELLITUS TIPO 2
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- Márcio Sacramento Machado
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1 1 A ATUAÇÃO INTERDISCIPLINAR NA GERÊNCIA DO CUIDADO EM DIABETES MELLITUS TIPO 2 THE PERFORMANCE MANAGEMENT IN INTERDISCIPLINARY CARE IN TYPE 2 DIABETES MELLITUS Aline Cerqueira CRUZ¹, Gizele Ferreira DAVID², Juliana Costa LIBOREDO³ ¹Enfermeira, Mestre em Enfermagem. Auditora Assistencial, Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade de Minas- FAMINAS. alinecruzbr@yahoo.com.br ²Enfermeira, mestranda pela EEUFMG em Educação em Saúde. Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade de Minas FAMINAS. gizeledavid@hotmail.com ³Nutricionista, mestre e doutoranda em Ciência de Alimentos. Docente do Curso de Nutrição da Faculdade de Minas FAMINAS. juliboredo@yahoo.com.br Resumo O sucesso do tratamento do Diabetes depende de diferentes fatores relacionados à própria doença, ao acesso à saúde e ao paciente no seu contexto emocional, social e familiar. A partir dessa perspectiva, deve-se considerar a importância do acompanhamento desses pacientes com o objetivo de assegurar a aquisição de conhecimentos sobre a doença e o desenvolvimento de habilidades para o autocuidado. Nesse sentido, uma estratégia fundamental para moldar o comportamento dos pacientes no que diz respeito a pratica de exercícios físicos, à dieta e ao tratamento medicamentoso é a educação em saúde. A visão do paciente como um ser complexo e o trabalho direcionado para os diferentes aspectos que interferem no autocuidado podem contribuir para aumentar a adesão ao tratamento e consequentemente melhorar a qualidade de vida do paciente com diabetes. Com base nisso, este artigo fornece uma visão geral sobre a importância da interdisciplinaridade na educação do paciente diabético. Palavras chave: Interdisciplinaridade, Diabetes Mellitus, Gerência do Cuidado Abstract The successful treatment of diabetes depends on different factors related to the disease, access to health and patient in its emotional context, social and family life. From this perspective, one must consider the importance of monitoring these patients in order to ensure the acquisition of knowledge about the disease and the development of skills for self care. In this sense, a fundamental strategy to shape patient behavior with regard to the practice of physical activity, diet and drug therapy is the health education. The vision of the patient as a complex being and work directed to the different factors related to self-care can help to increase treatment adherence and thus improve the quality of life in diabetes. Based on this, this article provides an overview of the importance of interdisciplinary education in the diabetic patient. Key words: Interdisciplinary, Diabetes Mellitus, Management of Care
2 2 1 Introdução O Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) representa, dentre as classificações em diabetes, aproximadamente, 90% a 95% de todos os casos diagnosticados da doença (CDCP, 2011) e é considerado um problema de saúde pública em função de sua elevada e crescente prevalência em vários países do mundo. Em 2030, estima-se um aumento da prevalência entre adultos (20-79 anos) de 7,7% o equivalente a 439 milhões de pessoas; sendo que no Brasil, essa expectativa será de 12,7 milhões de adultos (WHO, 2011; SHAW, 2010). Essa característica epidemiológica do crescente número de casos de diabetes mellitus tipo 2 está relacionada ao aumento da expectativa de vida ou envelhecimento da população e aos hábitos pouco saudáveis, como o sedentarismo, dieta inadequada e obesidade (BRASIL, 2006; ADA 2011). A complexidade do tratamento desta patologia onera o Sistema Único de Saúde (SUS), devido, principalmente às complicações crônicas associadas, tais como retinopatia, nefropatia, neuropatia, cardiopatia, pé neuropático, entre outras (SBD, 2007). A reorganização da Atenção Primária à Saúde (APS), como porta de entrada dos usuários aos serviços, é uma estratégia para a prevenção e o controle do diabetes pela conscientização do usuário ao autocuidado, autogerenciamento e, consequentemente, o controle glicêmico (BRASIL, 2006). O investimento em programas de promoção e educação em saúde configura-se como uma estratégia de prevenção e controle dessa doença e é fundamental para o autocuidado e para a mudança de comportamento dos pacientes (RODRIGUES, 2010; OLIVEIRA, 2011). Dessa forma, para garantir o sucesso do tratamento do Diabetes, é importante considerar o paciente como um ser complexo e direcionar o trabalho para os diferentes aspectos que interferem no autocuidado para aumentar a adesão ao tratamento e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida. Com base nisso, este artigo fornece uma visão geral sobre a importância da interdisciplinaridade na educação do paciente diabético. 2 Fatores que interferem na adesão ao tratamento A adesão ao tratamento é um fator indispensável para se conviver bem com a diabetes (COMIOTTO; MARTINS, 2006), no entanto, a aceitação do tratamento pelo paciente depende de muitos fatores relacionados à própria doença; de características pessoais, como a motivação e auto-estima; e o apoio familiar.
3 3 Em estudo realizado com 11 indivíduos diabéticos hospitalizados, em sua maioria (63,3%) por problemas que podem estar relacionados ao diabetes descompensado em longo prazo (angina instável, insuficiência cardíaca congestiva, infarto agudo do miocárdio e insuficiência renal crônica), os maiores déficits de autocuidado encontrados foram nutricional, de monitoramento e de conhecimento sobre a doença. Entre os fatores relacionados, foram encontradas dificuldades de controlar a glicemia no domicilio por condições financeiras que impossibilitaram a aquisição do aparelho medidor e de restringir o açúcar da dieta (COMIOTTO; MARTINS, 2006). É, sobretudo, por meio das restrições no comportamento alimentar que o diabético toma consciência da doença e das limitações impostas por ela, pois a doença surge como uma ameaça à autonomia e representa um fator limitante para a qualidade de vida desses pacientes (SANTOS et al., 2005). Nesse contexto, a participação familiar deve ser considerada como ponto chave para a adesão ao tratamento, pois o suporte de quem convive com o paciente é um requisito para se colocar em prática as orientações recebidas e para enfrentar a doença (ZANETTI et al., 2007). Para Moreira et al. (2001), o grupo que apoia o familiar doente compreende as modificações decorrentes do problema e permite os ajustamentos necessários para garantir o tratamento da doença. Por isso, a orientação da família é fundamental para que a aceitação e a colaboração com o tratamento aconteçam de maneira menos traumática (ZANETTI et al., 2007). O problema no controle da alimentação também foi relatado em estudo de caso realizado por Santos et al. (2005) que observou sensação de frustração na paciente analisada, por não poder desfrutar do prazer da alimentação produzida por ela mesma e de não poder comer o que gosta nas condições e no momento que deseja. Além desse, também foram observados outros fatores que influenciam a adesão ao tratamento, como a desconfiança sobre a efetividade dos medicamentos, a busca de soluções alternativas e as influências interpessoais. Cyrino (2009) ainda descreve outros aspectos apontados por diabéticos como interferentes no autocuidado, tais como: o medo das complicações da doença, o nervosismo, a depressão, a renda familiar exígua, o medo da insulina, a descontinuidade do atendimento médico e a inadequada comunicação com os profissionais de saúde. 3 A abordagem interdisciplinar O debate acadêmico acerca da interdisciplinaridade emerge no bojo da crítica à fragmentação do saber e da produção de conhecimento. Para alguns autores, extrapola a mera
4 4 agregação dos seus campos de origem, visando à associação dialética entre dimensões polares como teoria e prática, ação e reflexão, conteúdo e processo (GARCIA ET Al 2006). Lück (2002) ambiciona avançar na superação da visão restrita de mundo e resgatar a centralidade humana na produção do conhecimento como determinante e determinada. A integração entre diferentes áreas e a abordagem de problemas de forma criativa demanda mudanças individuais, institucionais e ações intersetoriais. Vasconcelos (2002) descreve alguns obstáculos que a construção tão ambiciosa enfrenta. O arcabouço das Instituições de Ensino Superior (IES), organizado em faculdades e departamentos que eventualmente não se comunicam, pode impedir o desenvolvimento de cultura acadêmica que desenvolva e compartilhe o trabalho de forma interdisciplinar. Além disso, a formalização das profissões implica em reivindicações de saberes e competências exclusivos, às quais é atribuído um mandato social para realização de tarefas específicas, controle de recursos e responsabilidade legal, cristalizando a divisão social e técnica do trabalho. A institucionalização de organizações corporativas exerce controle na formação, nas normas éticas e na defesa de interesses econômicos e políticos dos respectivos grupos. Assim, as práticas na saúde incorporam estratégias de negociação saber/poder, de competição intra e intercorporativa em processos institucionais e socioculturais que impõem barreiras à troca de saberes cooperativa. O desenvolvimento de práticas interdisciplinares envolve flexibilização dos mandatos sociais e revisão das legislações profissionais, bem como a ampliação destas práticas na formação dos profissionais, buscando uma nova profissionalização capaz de enfrentar novos desafios teórico- práticos. Inclui a integração do ensino-pesquisa- extensão, a democratização da hierarquia institucional e a possibilidade de quebra das defesas corporativas, permitindo a troca e o aprendizado (VASCONCELOS, 2002) No campo da saúde, a interdisciplinaridade acena com a possibilidade da compreensão integral do ser humano no contexto das relações sociais e do processo saúde-doença. Sua construção ultrapassa a mera renovação de estratégias educativas, necessitando ser consolidada pela reestruturação acadêmica e institucional via o compromisso com as necessidades sociais de saúde.
5 5 4 A interdisciplinaridade na educação em saúde para pacientes diabéticos A educação em saúde deve ser estabelecida por meio de uma equipe multidisciplinar integrada empreendida em superar o isolamento dos saberes, adotar ações articuladas por meio de sistematização do serviço e melhoria de comunicação entre os profissionais, ou seja, é crucial romper a visão fragmentada constituída por bases disciplinares isoladas e adotar um modelo que contextualize ideias por meio de relações de troca de experiências (MEIRELLES, 2005). Para a realização da prática educativa são necessários comunicação e trabalho em equipe. A comunicação efetiva é capaz de favorecer o usuário no entendimento do processo saúde-doença e, a partir disso, a enfrentar seus problemas, podendo mudar posteriormente o seu comportamento (DIAS; SILVEIRA; WITT, 2009). Já no trabalho em equipe a ação de um profissional interage com a do outro, e ambos se transformam para causar impacto nos determinantes do processo saúde-doença de uma população (ARAÚJO, 2007). Paralelo a esse cenário a interdisciplinaridade em saúde ainda é confundida com o trabalho em equipe. Não havendo a construção de conhecimento, aquela não pode ocorrer apenas com a justaposição de ações fragmentadas que não atendem às necessidades emergentes de saúde, de compreender as novidades tecnológicas e as transformações das relações de trabalho e da vida cotidiana. A atuação interdisciplinar nas equipes de saúde implica na construção de conhecimento, aquisição de competências, prática de inter-relação e interação entre as diversas disciplinas, articulação dos conhecimentos e constante troca para resolução dos problemas e alcance dos objetivos (MEIRELLES, 2005). Segundo Torres (2010) a atuação envolvendo diversos saberes e profissionais, torna a atuação da equipe mais fácil, baseada na troca de saberes e compartilhamento dos mesmos, isso tudo objetivando a promoção da saúde do usuário portador do diabetes mellitus tipo 2. O contato com diferentes estruturas possibilitado pela interdisciplinaridade oferece condições do profissional de saúde perceber o homem como um todo, ultrapassando a especificidade de sua formação acadêmica, trazendo novas formas de cooperação, comunicação com os usuários; sobrepondo à valorização da concepção biológica do processo saúde e doença (LOCK-NECKEL, 2009). Substitui a didática de transmitir e produzir o conhecimento, ampliando a visão de mundo, da realidade, e de cada um enquanto pessoa e profissional. Assim, pode-se falar de interdisciplinaridade a partir do momento que houver a
6 6 comunicação entre conceitos e disciplinas dando origem a um novo conhecimento (VILELA, 2003). No diabetes, a educação deve ser constituída por um conjunto de estratégias para transmitir informações sobre a doença bem como desenvolver habilidades para favorecer o cuidado. E para o seu sucesso da educação, os programas devem visar ao atendimento global do diabético, sendo essencial considerar os fatores que influenciam a adesão ao tratamento, os aspectos emocionais e motivacionais para o autocuidado, bem como a participação da família e dos que convivem com os pacientes (FERRAZ, 2000). A necessidade de desenvolver atividades de ensino e práticas educativas de saúde, direcionadas à pessoa com diabetes e sua família, centradas na disponibilização do conhecimento e no fortalecimento de atitude ativa frente à doença, está relacionada à prevenção de complicações por meio do automanejo da doença, o que possibilita à pessoa conviver melhor com a sua condição (TORRES, 2003; TORRES, 2009). O tratamento do diabetes tipo 2 é baseado na mudança de hábitos de vida, que englobam a alimentação, a prática de exercícios físicos, bem o tratamento medicamentoso. E considerando essa diversidade no cuidado do paciente diabético, o processo educativo em saúde requer o envolvimento de diferentes profissionais para o sucesso do tratamento. Dentre eles, o médico tem participação importante para determinar a estratégia terapêutica a ser seguida para o controle da doença e a prevenção de complicações. Também se destaca o papel do enfermeiro na equipe multiprofissional em atividades nas quais ele conhece a realidade do indivíduo, podendo conduzi-lo à construção do seu próprio conhecimento sobre o diabetes (ZANETTI; OTERO; OGRIZIO, 2008) objetivando proporcionar ao paciente o desenvolvimento de habilidades e atitudes para o autocuidado. Entre essas atitudes, cumprir a dieta adequada é essencial no tratamento do diabetes. Porém, valores, símbolos e significados estão associados ao ato de comer e precisam ser compreendidos pelos profissionais de saúde para maior eficácia das ações com pacientes submetidos a rigoroso controle alimentar (PERES et al., 2006). Nesse sentido, o nutricionista tem papel importante para auxiliar o diabético a mudar os hábitos alimentares para adequar a dieta à sua necessidade, controlar a glicemia e prevenir ou retardar a ocorrência de complicações, considerando assim aspectos nutricionais, culturais e econômicos que influenciam a alimentação. Outra atitude importante que deve ser considerada na prática educativa é a realização de exercícios físicos que podem ser estimulados e melhor planejados com o auxílio de um educador físico considerando as possibilidades e individualidades de cada paciente.
7 7 Toda a abordagem educacional descrita anteriormente, feita pelo enfermeiro, médico, nutricionista e educador físico, tem importância fundamental para o paciente diabético, mas a educação não deve se restringir apenas à transmissão de conhecimentos. É de grande relevância considerar também os aspectos subjetivos e emocionais que influenciam a adesão ao tratamento. Por isso, a participação de um profissional da psicologia é fundamental para auxiliar o paciente e a família a lidarem com as dificuldades frente ao diabetes considerando os fatores emocionais para que eles aceites o tratamento e consigam enfrentar as mudanças necessárias. 5 Conclusão As contribuições das práticas educativas por meio do trabalho interdisciplinar mostram um resultado significativo na promoção do autocuidado do usuário e na organização dos serviços de saúde. A importância da formação de competência durante a graduação busca a autonomia e a responsabilidade do estudante diante do aprendizado e forma um profissional crítico e atualizado, capaz de promover mudanças com a equipe de trabalho e com a comunidade. A educação deve estar articulada entre teoria e prática, na participação ativa do estudante e na problematização da realidade, e ainda da participação conjunta de profissionais do campo como enfermeiro, nutricionista, médico, educador físico, psicólogo dentre outros. Para que a interdisciplinaridade ocorra é necessário desenvolver o trabalho em conjunto, no qual o objeto de estudo e os métodos devem ser gradativamente estabelecidos pela equipe, existindo reciprocidade, enriquecimento mútuo e horizontalização das relações de poder. A solução dos problemas, como os relacionados à gerência do cuidado do diabetes mellitus tipo 2, ocorrerá por meio de aprendizagem social, abertura e formação de redes, princípio da autonomia dos membros dos grupos, cooperação, trabalho das diferenças e a comunicação dos achados científicos. Além disso, é necessário que o diabético encontre uma rede de apoio nas práticas interdisciplinares, no sistema familiar e aparelhos sociais. A avaliação das intervenções das práticas interdisciplinares deve ser estimulada para que se possam firmar estratégias eficazes na promoção, na prevenção e no controle do diabetes mellitus tipo 2. Sendo assim, este estudo destacou a importância da comunicação dos saberes interdisciplinares para a promoção do autocuidado em diabetes e na sistematização do processo educativo.
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