Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Jair Varão Des.(a) Jair Varão 04/07/ /07/2013 EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO NÃO CONHECIDO. APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE. MULTA. DESCUMPRIMENTO DO TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA - TAC. ÁREA DE RESERVA LEGAL NÃO AVERBADA NO CRI. NOVO CÓDIGO FLORESTAL. ATO JURÍDICO PERFEITO. RECURSO PROVIDO. 1. Não se conhece do reexame necessário quando a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, nos termos do art. 475, 2º, do CPC. 2. De acordo com o 1º do art. 6º da LINDB "Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou". 3. O título executivo que lastreia a execução por quantia certa contra devedor solvente, qual seja, multa em razão da inobservância do Termo de Ajustamento de Conduta - TAC, formalizado sob a égide da Lei nº 4.771/1965, possui exigibilidade, pois resultante de ato jurídico perfeito. 4. Recuso provido. AP CÍVEL/REEX NECESSÁRIO Nº /001 - COMARCA DE ALFENAS - REMETENTE: JD 2 V CV COMARCA ALFENAS - APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - APELADO(A)(S): LEDA MARIA ABREU SWERTS, GERALDO DIAS SWERTS E SUA MULHER 1

2 A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 3ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em não conhecer da remessa oficial e dar provimento ao recurso. DES. JAIR VARÃO RELATOR. DES. JAIR VARÃO (RELATOR) V O T O Trata-se de reexame necessário e recurso de apelação interposto contra a sentença de fls. 137/139, prolatada pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Alfenas que, nos autos da ação de execução por quantia certa contra devedor solvente ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais em desfavor de Geraldo Dias Swerts e Leda Maria Abreu Swerts, julgou extinto o processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, VI, do CPC, por entender que o título executivo exequendo era inexigível. Em suas razões recursais, de f. 143/165, a parte apelante, em suma, aduz que a decisão hostilizada merece reforma, porquanto a multa consubstanciada no Termo de Ajustamento de Conduta, decorrente da inobservância do compromisso de providenciar a averbação da área de Reserva Legal no Cartório de Registro de Imóvel continua sendo exigível. Isso porque, malgrado a Lei nº /12 tenha inovado a matéria impondo o registro junto ao Cadastro Ambiental Rural - CAR, seus efeitos são irretroativos, haja vista cuidar-se a hipótese de ato jurídico perfeito. Inobstante, argumenta que o novo Código Florestal não suprimiu o dever de averbação da Reserva Legal no CRI, vez que esse ato deixará de ser obrigatório após a criação do CAR, o que ainda não sucedeu. Afirma, também, que a competência legislativa para a matéria ambiental é concorrente, logo, 2

3 aplicável a Lei Estadual nº /02 que prevê a averbação em comento, até porque o novo Código Florestal, por ter dispensado a averbação no CRI, revelou-se, inconstitucional neste aspecto, pois diminuiu a proteção ao meio ambiente. Destarte, requer o conhecimento e provimento desta apelação, a fim de que a decisão recorrida seja reformada, concluindo-se pela exigibilidade do título executivo extrajudicial, com o conseguinte prosseguimento da ação executiva. Recebido o recurso no duplo efeito, a parte apelada apresentou as contrarrazões de fls. 168/169, batendo-se pela manutenção da r. sentença. Remetidos os autos a doutra Procuradoria-Geral de Justiça, esta se manifestou às f. 177/191, pelo provimento do recurso. É o relatório. I. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE A) APELAÇÃO Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso de apelação, porque próprio, tempestivo, regularmente processado e isento do preparo por força do art. 511, 1º, CPC c/c art. 10, I, da Lei Estadual nº /2003. B) REEXAME NECESSÁRIO Com o devido respeito ao juízo a quo, não conheço da remessa oficial, na medida em que se trata de ação de execução contra devedor solvente, onde o interesse econômico pretendido afigura-se inferior a 60 (sessenta) salários mínimos, logo, incindível a regra contida no art. 475, 2º, do CPC. Note-se que a ação foi proposta em (f. 02-V), 3

4 com a finalidade de obter o pagamento de R$25.500,00 (f. 05), valor inferior a 60 salários mínimos. Em verdade, nos termos da Lei n , de 25 de fevereiro de 2011, o salário mínimo, à época, cingia a cifra de R$545,00. Pois bem, esse valor multiplicado por 60 totaliza R$32.700,00, montante superior ao pretendido pelo autor. Portanto, não conheço do reexame necessário. II. MÉRITO O tema central posto em debate situa-se em verificar se a multa consubstanciada no Termo de Ajustamento de Conduta - TAC, como corolário da inobservância do compromisso de providenciar a averbação da área de Reserva Legal no Cartório de Registro de Imóvel - CRI, continua exigível, mesmo após o novo Código Florestal dispensar essa averbação. apelante. Após criteriosa análise dos autos, tenho que razão assiste ao Isso porque, o título que lastreia a execução em comento, isto é, multa em virtude da inobservância do Termo de Ajustamento de Conduta - TAC foi formalizado sob a égide da Lei nº 4.771/1965, que, no seu art. 16, 8º, preconizava a averbação tal como acordado entres as partes, apelante e apelado. Senão veja-se: "Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo: (...) 8o A área de reserva legal deve ser averbada à margem da 4

5 inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembramento ou de retificação da área, com as exceções previstas neste Código". É indubitável, portanto, tratar-se a situação de ato jurídico perfeito, haja vista que o título executivo reuniu os elementos necessários a sua formação, estando, por isso, apto a produzir seus efeitos. Acerca do tema, manifestou-se o colendo Supremo Tribunal Federal. In verbis: "AGRAVO DE INSTRUMENTO - CADERNETA DE POUPANÇA - CONTRATO DE DEPÓSITO VALIDAMENTE CELEBRADO - ATO JURÍDICO PERFEITO - INTANGIBILIDADE CONSTITUCIONAL - CF/88, ART. 5º, XXXVI - INAPLICABILIDADE DE LEI SUPERVENIENTE À DATA DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE DEPÓSITO, MESMO QUANTO AOS EFEITOS FUTUROS DECORRENTES DO AJUSTE NEGOCIAL - RECURSO IMPROVIDO. - Os contratos submetem-se, quanto ao seu estatuto de regência, ao ordenamento normativo vigente à época de sua celebração. Mesmo os efeitos futuros oriundos de contratos anteriormente celebrados não se expõem ao domínio normativo de leis supervenientes. As conseqüências jurídicas que emergem de um ajuste negocial válido são regidas pela legislação em vigor no momento de sua pactuação. Os contratos - que se qualificam como atos jurídicos perfeitos (RT 547/215) - acham-se protegidos, em sua integralidade, inclusive quanto aos efeitos futuros, pela norma de salvaguarda constante do art. 5º, XXXVI, da Constituição da República. Doutrina e precedentes. - A incidência imediata da lei nova sobre os efeitos futuros de um contrato preexistente, precisamente por afetar a própria causa geradora do ajuste negocial, reveste -se de caráter retroativo (retroatividade injusta de grau mínimo), achando-se desautorizada pela cláusula constitucional que tutela a intangibilidade das situações jurídicas definitivamente consolidadas. Precedentes." (AI ED, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 19/11/2002, DJ PP EMENT VOL- 5

6 PP-01746) E, mais especificamente, este egrégio Tribunal de Justiça: "APELAÇÃO CÍVEL - SUSPENSÃO DO PROCESSO - PROMULGAÇÃO DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL - PERDA DO OBJETO - ATO JURÍDICO PERFEITO - IRRETROATIVIDADE DA LEI CIVIL - TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA - TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL - PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA - AVERBAÇÃO DA RESERVA LEGAL - OBRIGAÇÃO DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL - MINISTÉRIO PÚBLICO - COMPETÊNCIA PARA FISCALIZAR RESERVA LEGAL - INSTITUIÇÃO DA RESERVA LEGAL - INICIATIVA DO PROPRIETÁRIO. - A entrada em vigor do Novo Código Florestal em nada afeta a execução em trâmite, cujo título executivo extrajudicial consiste no Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre o executado e o Ministério Público, portanto, ato jurídico perfeito, que não pode ser alcançado pela nova Lei, eis que instituído na vigência da Lei 4.771/1965, nos termos do art. 6º, 1º, do Decreto-Lei 4.657/1942 (Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, nova redação da Lei /2010). - A falta de limitação para a incidência da multa diária, não torna nulo o Termo de Ajustamento de Conduta, principalmente porque a fixação do termo final da incidência da multa, não constitui requisito legal para sua imposição no Termo de Ajustamento de Conduta. - Não acarreta a nulidade do Termo de Ajustamento de Conduta, o fato de inexistir vegetação nativa no imóvel de propriedade do embargante, tendo em vista ser obrigatória a averbação da área de reserva legal, visando precipuamente à preservação ambiental, como determinado pela Lei 4.771/1965 (Código Florestal), no seu art. 16, 8º, aplicável à espécie, pois vigente à época da instituição do Termo de Ajustamento de Conduta. 6

7 - A pretensão do executado de se eximir do cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o MP afronta o princípio da boa fé objetiva, já que sua obrigação consta do TAC firmado e a ninguém é permitido venire contra factum proprium (pleitear em juízo contra os próprios atos). - A instituição da reserva legal é dever do proprietário, possuidor ou adquirente do imóvel rural, independentemente da existência de florestas ou outras formas de vegetação nativa no imóvel. - O Ministério Público tem competência para fiscalizar as áreas de reserva legal, amparado na legislação ambiental vigente. - Deve partir do proprietário ou do possuidor do imóvel rural, a iniciativa da instituição e averbação da reserva legal." (Apelação Cível /001, Rel. Des.(a) Valdez Leite Machado, 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/11/2012, publicação da súmula em 07/12/2012, grifamos) De acordo com o 1º do art. 6º da LINDB "Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou". Neste viés, é evidente que o título executivo em testilha configura ato jurídico perfeito, eis que em consonância com a lei vigente à época da sua constituição. III. CONCLUSÃO Com tais considerações, dou provimento ao recurso, para fins de reformar a decisão primeva e, assim, determinar o prosseguimento da execução. Custas pelo agravado. DES. KILDARE CARVALHO (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). 7

8 DESA. ALBERGARIA COSTA - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "NÃO CONHECERAM DA REMESSA OFICIAL E DERAM PROVIMENTO AO RECURSO." 8