TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SEGUNDA CÂMARA CÍVEL Agravo de Instrumento nº Agravante: MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS Agravado: ROSÂNGELA FERREIRA SIMÕES Relatora: Des. ELISABETE FILIZZOLA ACÓRDÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA. AUSÊNCIA DE LAUDO MÉDICO. MULTA. Recurso contra decisão que antecipou os efeitos da tutela e determinou a internação compulsória do filho da Agravada. Portador de esquizofrenia e usuário de drogas apresentando quadro de heteroagressividade. Internação compulsória que demanda prova robusta da necessidade da medida. Ausência de laudo médico nos autos. Parcial provimento do recurso para determinar aos Réus que conduzam o filho da Agravada, ainda que contra sua vontade, à instituição médica da rede pública estadual, municipal ou privada, especializada no tratamento de dependentes químicos, para avaliação médica e psicológica, oportunizando a ele o tratamento de forma voluntária, determinando-se desde já que, após a elaboração deste laudo médico, caso haja concluído no sentido do total comprometimento de sua liberdade de escolha, proceda-se à internação compulsória. Valor da astreinte arbitrada em R$ 1.000,00 (um mil reais), inicialmente, limitada a 30 dias que se revela excessivo, merecendo ser reduzido para R$ 100,00 (cem reais) por dia de descumprimento da obrigação. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Vistos, relatados e discutidos os autos do Agravo de Instrumento nº , em que figuram, como Agravante, MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS e, como Agravada, ROSÂNGELA FERREIRA SIMÕES.

2 2 ACORDAM os Desembargadores que integram a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em conhecer do recurso e, a unanimidade de votos, dar-lhe parcial provimento. Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra decisão do ilustre Juiz do Cartório do Plantão Judiciário da Comarca de Rio Bonito e Adjacências que, nos autos da ação cautelar ajuizada por ROSÂNGELA FERREIRA SIMÕES, em desfavor de BRUNO FERREIRA SIMÕES, em face de MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS e ESTADO DO RIO DE JANEIRO, deferiu a antecipação dos efeitos da tutela para determinar a internação compulsória de Bruno Ferreira Simões, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (um mil reais), inicialmente, limitado a 30 (trinta) dias. Inconformado, recorre o 1º Réu, ora Agravante, arguindo, em síntese, a impossibilidade de atendimento à decisão agravada ante a ausência de laudo médico específico indicando a necessidade de internação. Aponta a competência hierarquizada entre a União, os Estados e os Municípios para a execução do serviço complexo de saúde e, em nenhum momento o Município negou-se a fornecer o adequado tratamento de saúde ao paciente. Sustenta a violação ao princípio da isonomia; a reserva do possível; o indevido critério de fixação do prazo para cumprimento da decisão e o excesso do valor atribuído à multa cominatória. Requer o provimento do recurso com a reforma da decisão. Manifestação do Ministério Público de 2º grau a fls. 25/33 (ejud 25) pelo conhecimento e parcial provimento do recurso. É o Relatório. VOTO Relata a Autora que seu filho - Bruno Ferreira Simões sofre de dependência química e, por isso, apresenta comportamento agressivo, fundamentando o pedido de internação compulsória, já que ele se nega a comparecer aos tratamentos ambulatoriais.

3 3 Relatório fornecido pela Subsecretaria de Atenção Especializada do Município de Rio das Ostras (fls. 18, ejud 6, anexos 1) - subscrito por Psicóloga e por Terapeuta Ocupacional - informa que Bruno Ferreira Simões iniciou tratamento no Centro de Reabilitação, em dezembro de 2011, sendo diagnosticado com esquizofrenia (F20, CID-X) e usuário de substâncias psicoativas (maconha e álcool), sem apresentar assiduidade no tratamento. Médico psiquiatra informa à Secretaria Municipal de Saúde que o paciente Bruno não aceitou a medição prescrita e, por isso, não possui vínculo de tratamento, sugerindo realização de avaliação pericial por perito judicial (ejud 43, anexos 1). A internação compulsória está prevista no artigo 6º, parágrafo único, inciso III da Lei Federal nº /01, a qual dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e, sendo certo que a dependência química se tornou questão de saúde pública, os Entes federativos devem adotar medidas capazes de garantir o seu tratamento. Ocorre que, o artigo 4º da supracitada lei determina que a internação somente será deferida quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. Trata-se, portanto, de medida excepcional que exige prova substancial quanto à sua necessidade. Ademais, o caput do referido artigo 6º ainda preconiza que a internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.. Compulsando os autos, verifica-se que a demanda não foi instruída com laudo psiquiátrico a fim de justificar o pedido de internação compulsória. Nesse sentido, seguem decisões deste Tribunal de Justiça: Apelação Cível. Internação compulsória. Dependência química. Sentença de procedência. Inobservância do devido processo legal. Matéria que deve ser analisada à luz dos preceitos constitucionais,

4 4 notadamente, aqueles que asseguram o direito à liberdade e à saúde. Pedido formulado pelo Ministério Público que não veio acompanhado de laudo médico circunstanciado a indicar a internação. A internação compulsória demanda prova robusta da necessidade da medida. Inobservância do devido processo legal. Instrução processual insuficiente. Anulação do julgado que não se justifica ante a maioridade alcançada pelo dependente químico. Em reexame necessário, se reforma, com fulcro no artigo 557 do Código de Processo Civil, a sentença para julgar improcedente o pedido. (REEXAME NECESSARIO DES. CLAUDIO BRANDAO - Julgamento: 27/03/ QUARTA CAMARA CIVEL) (grifei) Agravo Inominado em Agravo de Instrumento. Provimento do recurso original para cassar a decisão que deferiu a antecipação da tutela para internação do filho da Agravante, então dependente químico. Inconformismo da parte autora. Matéria que deve ser analisada à luz dos preceitos constitucionais, notadamente aqueles que asseguram o direito à liberdade e à saúde. Pessoa cuja internação se pleiteia, que já ostenta maioridade, não existindo, por outro lado, prova de sua interdição. Internação compulsória de pessoa capaz que demanda prova robusta, de modo a indicar a necessidade desta medida. Inexistência de documento que aponte para realização daquele procedimento na forma perseguida. Manutenção da decisão hostilizada. Improvimento do agravo. (AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. PEDRO FREIRE RAGUENET - Julgamento: 08/02/ SEXTA CAMARA CIVEL) (grifei) AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA CONSISTENTE NA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DO FILHO DA AGRAVANTE PARA O TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA. DECISÃO QUE NÃO MERECE REFORMA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. O filho da agravante é maior de idade, não se encontra interditado e não consta nos autos laudo médico circunstanciado que recomende sua internação compulsória em decorrência de doença mental. Portanto, não se vislumbra na hipótese vertente os requisitos do art. 273 do CPC, razão pela qual não merece reforma a decisão agravada. Ademais, aplica-se à hipótese o verbete de nº 59 da Súmula deste Tribunal. Recurso desprovido.

5 5 (AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. CLAUDIO DE MELLO TAVARES - Julgamento: 19/10/ DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL) (grifei) Desse modo, faz-se necessário conferir parcial provimento ao recurso para adotar medida diversa daquela deferida pelo douto magistrado a quo para determinar aos Réus que conduzam Bruno Ferreira Simões, ainda que contra sua vontade, à instituição médica da rede pública estadual, municipal ou privada, especializada no tratamento de dependentes químicos, para avaliação médica e psicológica, oportunizando a ele o tratamento de forma voluntária, determinando-se desde já que, após a elaboração deste laudo médico, caso haja concluído no sentido do total comprometimento de sua liberdade de escolha, proceda-se à internação compulsória de Bruno. No tocante à cominação da multa diária, tal medida consiste em meio coercitivo previsto pelo legislador e colocado à disposição do juiz exatamente com o fito de inibir o descumprimento dos comandos judiciais e conferir às partes a tão ansiada efetividade ao processo, visando, desta forma, que a tutela jurisdicional seja prestada em sua inteireza, e não submetida aos intuitos procrastinatórios e recalcitrantes dos litigantes. Destarte, ainda que figure no polo passivo da demanda pessoas jurídicas de direito público, não há como se pretender arrostar a utilização da referida medida coercitiva, porquanto, em princípio, a mesma exsurge como o meio mais adequado para buscar compelir o Município, ora Agravante, a efetuar o cumprimento do comando judicial, não se podendo admitir que questões burocráticas e de gestão interna dos entes federativos sirvam de óbice à efetiva tutela dos direitos à vida e à saúde que vêm expressamente assegurados em nossa Carta Magna. No entanto, o valor da astreinte arbitrada em R$ 1.000,00 (um mil reais), inicialmente, limitada a 30 dias pelo ilustre magistrado de primeiro grau revelou-se excessiva, merecendo ser reduzida para R$ 100,00 (cem reais) por dia de descumprimento da obrigação.

6 6 Por tais fundamentos, conheço do recurso e dou-lhe parcial provimento para determinar aos Réus que conduzam Bruno Ferreira Simões, ainda que contra sua vontade, à instituição médica da rede pública estadual, municipal ou privada, especializada no tratamento de dependentes químicos, para avaliação médica e psicológica, oportunizando a ele o tratamento de forma voluntária, determinando-se, desde já, que, após a elaboração deste laudo médico, caso haja concluído no sentido do total comprometimento de sua liberdade de escolha, proceda-se à internação compulsória de Bruno e, ainda, para reduzir a multa diária arbitrada para R$ 100,00 (cem reais) em caso de descumprimento. Rio de Janeiro, 09 de abril de Des. ELISABETE FILIZZOLA Relatora