Vistos, etc., ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO DES. SAULO IIENRIQUES DE SÁ E BENE VIDES

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1 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO DES. SAULO IIENRIQUES DE SÁ E BENE VIDES DECISÃO TERMINATIVA APELAÇÃO CÍVEL N /002 Comarca de Bonito de Santa Fé. RELATOR :Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides. APELANTE :Norma Cristina Leite Tavares. ADVOGADO :José Batista Neto. APELADA :Cláudia Aparecida Dias. ADVOGADO :Paulo Sabino de Santana. ADMINISTRATIVO MANDADO DE SEGURANÇA SER- VIDOR PÚBLICO MUNICIPAL REMOÇÃO ATO DIS- CRICIONÁRIO DESVIO OU ABUSO DE PODER NÃO COMPROVAÇÃO DENEGAÇÃO DA ORDEM APELA- ÇÃO CÍVEL NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DO ATO AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO DO ATO COMPRO- VAÇÃO ATO INVÁLIDO REFORMA DO DECISUM PROVIMENTO DO RECURSO. Deve ser motivado o ato administrativo que transfere servidor de uma para outra localidade, afim de que o judiciário possa avaliar se os motivos determinantes da atitude do administrador coadunam-se com a situação de fato ensejadora de sua opção. Cometendo a autoridade apontada como coatora ato flagrantemente ilegal e, havendo-se ela com evidente desvio de' poder, impõese a concessão da segurança, como resguardo dos direitos da impetrante. Vistos, etc., Trata-se de Apelação Cível interposta em face da sentença de fls. 102/107, proferida pelo juízo da Comarca de Bonito de Santa Fé nos autos do Mandado de Segurança impetrado por Norma Cristina Leite Tavares em desfavor da Secretaria de Administração e Fazenda do município de Monte Horebe, a Sra. Cláudia Aparecida Dias. A impetrante é servidora pública municipal desde o ano de 1999, lotada para a função de Professora de Educação Física na Escola Municipal de Ensino Fundamental José Dias Guarita. Alega que no ano de 2010 foi surpreendida com urna determinação da autoridade impetrada, determinando a sua remoção para a Escola Municipal Jonas de Sá Ramalho, localizada a mais de 151cm de distância da sede do município, sem apresentar, contudo, qualquer justificativa para tanto.

2 Dirimindo a controvérsia, o MM. Juiz a quo denegou a segurança, ao argumento de que a impetrante não havia trazido aos autos qualquer elemento comprobatório de abuso de poder ou desvio de finalidade por parte da Administração Municipal (fls. 102/107). Irresignada, a recorrente alega, em síntese, que tem direito liquido e certo à recondução ao seu antigo local de trabalho, uma vez que o ato administrativo de remoção ocorrei sem motivação ou justificativa. Ao final, pugna pelo provimento do recurso, para que seja reformada a sentença, e por consequência, concedida a segurança (fls. 110/125). Contrarrazões às fls. 152/ Instada a se pronunciar, a Douta Procuradoria de Justiça, em seu parecer de7fls. 172/174 opinou pelo provimento do recurso, para que seja revista a decisão mgular e concedida a segurança. É o relatório. Decido. De início, cumpre esclarecer que a referida conjectura, de fato, traduz a denominada remoção de servidor, uma vez que o seu deslocamento ocorrera no âmbito do mesmo quadro, sem mudança de sede. A propósito, nos termos em que esclarecido pelo art. 36, da Lei 8.112/90, a Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de oficio, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede. No entanto, vale salientar que, embora caiba à Administração Pública o poder discricionário de reconhecer a op. ortunidade e o interesse público na remoção de um funcionário, a mesma jamais poderá proceder à mudança sem motivar o seu ato. As palavras do distinto doutrinador Celso Antônio Bandeira de Mello apresentam-se deveras oportunas, conforme transcrição a seguir: "Parece-nos que a exigência de motivação dos atos administrativos, contemporânea à prática do ato, ou pelo menos anterior a ela, há de ser tida como uma regra geral, pois os agentes administrativos não são "donos" da coisa pública, mas simples gestores de interesses de toda a coletividade, esta, sim, senhora de tais interesses, visto que, nos termos da Constituição "todo poder emana do povo (.)" (art. 1, parágrafo único). Logo, parece óbvio que, praticado o ato em um Estado onde tal preceito é assumido e que, ademais, qualifica-se como "Estado Democrático de Direito" (art. I, caput), proclamando, ainda, ter como um de seus fundamentos a "cidadania" (inciso I), os cidadãos e em particular o interessado no ato têm o direito de saber por que foi praticado, isto é, que fundamentos o justificam. Há de se entender que as razões expostas, em princípio, exigem mais do que a simples enunciação ulterior das razões que o estribaram, vez que para a ciência a posteriori bastaria o supedâneo fornecido pelos incisos XXXIII e XXXIV, "h" do art. 5, segundo os quais, e respectivamente, é garantido aos administrados o direito de receber dos órgãos públicos "informações de seu.interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral", e obter "certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal." Acresce que, se os próprios julgamentos proferidos pelo Poder Judiciário devem ser fundamentados, pena de nulidade(art. 93, IX, da Constituição e Código de Processo Civil, art. 458, II) e as decisões administrativas dos Tribunais terão de ser motivadas (inciso X do mesmo

3 artigo), a fortiori devera sê-lo os atos administrativos oriundos de quaisquer dos outros Poderes." (In, Curso de Direito Administrativo, 21' ed, Ed Malheiros. São Paulo, 2006, p ). Observe-se, no entanto, que o ato de remoção, consubstanciado pela edição do ato administrativo impugnado (colacionado aos presentes autos à fl. 30), não traz consigo o mínimo de fundamentação capaz de justificar os motivos determinantes à sua consolidação. Não há, noutras palavras, elementos que afastem a possibilidade de ocorrência de desvirtuação das finalidades inerentes ao ato (desvio de finalidade), uma vez que não se vislumbra a exímia demonstração, por exemplo, do motivo pelo qual a servidora impetrante, fora indistintamente removida para a localidade mencionada. Como bem ressaltado pelo douto parecer ministerial: "No caso, a liquidez e certeza do direito vindicado se avultam incontestes. Com efeito, conclui-se da análise da portaria que segue encartada às fls. 30, que o ato de transferência carece de motivação, sendo, assim, nulo de pleno direito. Obviamente, eventual justificativa e os motivos do ato devem constar na portaria, não apenas em informaçóes prestadas em mandado de segurança". Desse modo, se o ato fora praticado sem a devida motivação, sem a demonstração do interesse público, resta patente a sua ilegalidade, merecendo, pois, ser anulado. Os Tribunais Pátrios mantêm entendimento pacífico nesse sentido, conforme se deduz dos transcritos a seguir: REMOÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO MANDADO DE SEGURANÇA Ilegalidade de ato administrativo municipal de remanejamento de servidor público, sem a devida motivação ou demonstração do interesse público e, ainda, que reteve dolosamente o pagamento do salário deste. Improvimento do recurso necessário integrando-se a sentença. (TJBA RN /02 (18.158) 3' C.Civ. Rela Desa Lucy Moreira J ). MANDADO DE SEGURANÇA Transferência indevida de funcionário concursado para local diverso daquele em que foi lotado. Ilegalidade. Procedência. Reexame necessário. Confirma sentença. (TJMG APCV /00 8' C.Civ. Rel. Des. Roney Oliveira J ). ADMINISTRATIDO Transferência de servidor. Ato vinculado ao interesse do serviço. Lei n 8.112/90. 1 O ato que transfere servidor de uma para outra localidade não é discricionário, mas vinculado ao interesse do serviço (Lei n /90, art. 23). 2 Nulo, portanto, o ato que, sem qualquer motivação, transfere servidor de um para outro lugar. 3 Remessa oficial improvida. 4 Sentença mantida. (TRF 1' R. REO RO I' T. Rel. Juiz Plauto Ribeiro DJU ). Tribunal de Justiça: Nesse mesmo sentido, é o entendimento esposado pelo Superior ADMINISTRATIVO SERVIDOR PÚBLICO REMOÇÃO ATO NÃO MOTIVADO NULIDADE ART. 8, INCISO I DA LEI ESTADUAL N 5.360/91 PRERROGATIVA DE INAMOVIBILIDADE INEXISTÊNCIA PRECEDENTES - RECURSO PROVIDO. I O principio da motivação possui natureza garantidora quando os atos levados a efeito pela Administração Pública atingem a seara individual dos servidores. Assim, a remoção só pode ser efetuada se motivada em razão de interesse do

4 serviço. Precedentes. II - O art. 8, inciso I da Lei Estadual n 5.360/91 não impede que o servidor por ela regido seja removido. Não se cogita de inconstitucionalidade da expressão "fundamentada em razão do interesse do serviço" nele contida. III - No caso dos autos, o ato que ordenou as remoções encontra-se desacompanhado do seu motivo justificador. Conseqüentemente, trata-se de ato eivado de nulidade por ausência de motivação, que desatende àquela regra especifica que rege os Agentes Fiscais da Fazenda Estadual. IV - Recurso provido. (STJ ROMS PB Rel. Min. Gilson Dipp DJ ) (grifo nosso) Assim, em consonância com o parecer ministerial, e com fulcro no art. 557, 1 -A do CPC, DOU PROVIMENTO AO RECURSO para tornar sem efeito a portaria 053/2010 (fl. 30) e, por consequência, determinar que a impetrante regresse ao local de trabalho anterior à edição do referido ato. Publique-se. Intimem-se. João Pessoa, 26 de janeiro de Des. Saulo tques de Sá e Benevides Relator

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