Diários sem papel: O presente e o futuro do jornalismo impresso sob o impacto das novas tecnologias

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1 1 Diários sem papel: O presente e o futuro do jornalismo impresso sob o impacto das novas tecnologias M E L E C H, Edgard (Mestre) Unicentro/Paraná Os sinos não dobram quando fecha um jornal, mas dobram pelo jornalismo. Nenhum jornal é uma ilha menos um jornal, menor a imprensa. Menos um diário, menor o continente, o mundo, a humanidade. Resumo: Alberto Dines (2010) 1 Este artigo se propõe a analisar o momento histórico por qual passam jornais impressos, que depois de terem alcançado a maioridade no século passado, vêem-se agora, confrontados por novas e interativas tecnologias de informação, produção, transmissão e consumo de notícias. Com elas surge um novo fazer jornalístico, colocando em xeque as razões industriais, modelos e sistemas que até aqui fizeram dos veículos de comunicação os media responsáveis pela captura, filtragem e distribuição de conteúdos simbólicos. A discussão proposta leva em conta o recente fechamento, em setembro de 2010, do mais tradicional jornal impresso brasileiro, o Jornal do Brasil, que foi o primeiro a disponibilizar sua versão na Internet. Mas a referência principal para este trabalho é outro caso, ocorrido no início de 2011, que foi o fechamento de um dos jornais diários mais tradicionais e importantes da região sul do país: O Estado do Paraná, apenas a alguns meses de completar seus 60 anos de existência. Ambos os fatos marcam a história recente da imprensa brasileira, e caracterizaram aquilo que os empresários chamaram de migração do meio impresso para o meio digital ainda que aparentemente tenham acontecido de forma radical e sem o planejamento necessário. Vida e morte de um diário Lágrimas e expectativas quanto ao futuro foram a principal preocupação dos profissionais do diário O Estado do Paraná na madrugada do dia 6 de fevereiro de 2011, quando esse veículo de comunicação paranaense foi impresso pela última vez. A melancólica despedida desse quase sessentão, referência regional e ganhador de importantes títulos, entre eles três prêmios Esso, só não foi mais triste para gráficos, jornalistas e publicitários porque a data em que a sua versão impressa morria também foi a mesma em que nascia a sua versão online.

2 Fundado em 1951 por Fernando Afonso Alves de Camargo e Aristides Merhy, O Estado do Paraná tinha redação localizada na Rua Barão do Rio Branco, centro da capital paranaense. Alguns anos mais tarde foi vendido ao empresário de comunicação e ex-governador Paulo Pimentel, que há 30 anos montou sede nova e muito bem equipada localizada no bairro das Mercês, com uma infra-estrutura que causou inveja aos concorrentes. Ao completar 59 anos, no dia 17 de julho de 2010, o jornal tinha orgulho de possuir edições ininterruptas no formato standard, impressas em moderno parque gráfico. Sua produção envolveu excelentes jornalistas, fotógrafos, chargistas, publicitários, gráficos e, em seus melhores dias, chegou a ter uma equipe integrada por mais de cem profissionais. 2 Entre as coberturas de maior impacto realizadas por esse jornal paranaense, ao longo dos anos, destacaram-se as operações policiais contra estudantes nos piores momentos da ditadura militar, as greves de professores e operários da construção civil na década de 80, os conflitos de terras com os brasiguaios brasileiros que emigraram para o Paraguai durante os anos 70; o escândalo envolvendo a lavagem de dinheiro em contas no Banco Del Paraná, hoje incorporado ao Banco Itaú; as ligações subterrâneas do governo do estado com populistas latino-americanos; eleições no Paraguai, coberturas de várias copas do mundo, olimpíadas, notícias do cotidiano e de polícia, entre outros. O jornal também investiu, por muito tempo, no melhor caderno de cultura do jornalismo regional Almanaque. Entre 1970 e 1990 foi o jornal cuja circulação atingia a maior parte de municípios do estado, dando ao veículo conceito e prestígio. Nos últimos dez anos, no entanto, diversos fatores ampliaram a crise financeira que se abatia sobre O Estado do Paraná: Entre eles destacam-se a falta de planejamento e organização, redução da verba governamental e privada em publicidade, dívidas trabalhistas, elevação dos custos gráficos com o aumento do preço internacional do papel e tintas e, principalmente, a queda na venda de exemplares em bancas e a brutal diminuição do número de assinantes. Além disso, como o perfil do veículo sempre buscou uma atuação regional, ou seja, tinha a meta de abranger todo o estado, também este tornou-se uma outra dificuldade, haja vista o grande desenvolvimento recente dos jornais do Interior que tratam com maior proximidade e interesse seu público alvo. Ao mesmo tempo em que enfrentava momentos difíceis para manter o jornal impresso, a direção da empresa encontrou outra mídia para chegar até seus leitores, com o lançamento do site Paraná OnLine - experiência anterior à do jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul. Desde 16 de junho de 1997 a editora vinha abastecendo o site com as notícias, reportagens e artigos publicados pelo O Estado do Paraná e pela Tribuna do Paraná, outro jornal do grupo que ainda se mantém como impresso. O serviço de notícias que chegava aos s de uma grande clientela, ainda não incomodava a concorrência, porque naquele momento a Internet estava apenas em sua fase inicial no Brasil. Alguns importantes jornais regionais e nacionais ainda nem possuíam sites, inclusive seu maior concorrente local, o diário Gazeta do Povo, do grupo Rede Paranaense de Comunicação, vinculado à Rede Globo.

3 A experiência com o site de notícias e a confiança no público da Internet permitiu que a empresa vislumbrasse um novo horizonte para expandir seus negócios sem, entretanto, abandonar o jornalismo, segundo Pimentel (2011)2. No entanto, as mudanças não aconteceram da forma esperada o que gerou problemas ainda não resolvidos. O maior deles foi a falta de estratégias para essa importante mudança, o que levou à insegurança dos funcionários quando ao futuro da empresa e de seus próprios empregos, além da quase total falta de informação junto ao público. Houve vários relatos de leitores que se sentiram traídos ao irem às bancas comprar seus exemplares e descobrirem que o jornal impresso não mais existia. Ao encerrar suas atividades, o Estado do Paraná informava uma tiragem média de 40 mil exemplares com 35 páginas nos dias úteis e 40 páginas nos finais de semana, sendo 40% do espaço ocupado com publicidade e 60% com notícias. (SEVERO, NETO, 2009) 3 3 O fim do jornal impresso e a criação do acabou sendo alvo de muitas críticas, pois desconsiderou aspectos técnicos e de bom senso que mereceriam ser observados. Mesmo com todos os problemas advindos da mudança, entretanto, o futuro do veículo dependerá das ações estratégicas a serem realizadas daqui em diante. Segundo seu proprietário, em entrevista publicada na última edição impressa (06 de fevereiro de 2011), essas novas mídias provocaram alterações no perfil dos leitores, que buscam notícias rápidas e instantâneas: Como a mídia impressa vai competir com esse sistema tão rápido de transmissão da notícia? Não há nenhuma possibilidade. E o custo se torna cada vez mais elevado. O jornal impresso depende da chapa, da tinta, do papel, do barbante, do empacotamento, do transporte. Isso tudo está ficando no passado. O presente é a transmissão da notícia rapidamente, com todas as facilidades, com fotos, gráficos e charges em qualidade excepcional e riqueza de detalhes, além da possibilidade de atingir um público maior. Nós temos, por exemplo, um índice alto de acessos do nosso site, o Paraná Online ( com.br), no Japão, de paranaenses que lá trabalham e que têm interesse em receber notícias da sua gente, de seu Estado. (PIMENTEL 20114) E xpectativas para o p roduto notícia Mas antes mesmo que a última impressora seja desligada, muitas dúvidas ainda terão que ser respondidas sobre as vantagens e desvantagens dessa mudança do papel para a Internet. Segundo JENKINS (2008)5, as mídias tradicionais são passivas, enquanto as mídias atuais são participativas e interativas: Elas coexistem e estão em rota de colisão. Estaríamos vivenciando, por essa análise, o fim da imprensa diária e de um modo industrial e se fazer jornalismo? Haverá alguma luz no fim do túnel para

4 notícias e comerciais no papel, em contrapartida à materialização de uma realidade virtual irreversível através das novas tecnologias de comunicação? 4 O arrojado projeto do jornal O Estado do Paraná, com todas as falhas que lhe são de direito, não escapa à regra adotada por muitos jornais no mundo todo, inclusive alguns famosos como o próprio Jornal do Brasil, que desde 1996 vinha conciliando o papel e Internet. Em geral, as fortes críticas decorrem porque ainda são poucos os jornais que abandonam por completo a versão impressa e optam pelo caminho da interatividade das mídia. Na prática, ainda desconfiam que essas transformações não seriam tão radicais, mas segundo a Organização das Nações Unidas, um a cada três habitantes do planeta já tem acesso à rede, o equivalente a 2 bilhões de internautas (ONU, 2010)6. O atual contexto tecnológico possivelmente incentivará fortes mudanças nas empresas de comunicação, alterando os modos de produção e envio de informações, mas especialistas dizem que o consumidor estará ainda mais crítico e exigirá maior qualidade de conteúdo. No mercado publicitário, por exemplo, a Internet vem ganhando cada vez mais espaço - assumindo papel de protagonista. Nos últimos anos, diversas marcas têm iniciado suas campanhas na web antes de veiculá-las em mídias tradicionais, como jornais impressos, revistas, rádios e canais de TV. Mas dúvidas pairam sobre muitos anunciantes que ainda não sabem exatamente como a Internet funciona: Alguns não tem certeza sobre onde e quanto investir, mas tem consciência de que precisam destinar uma parte de seus recursos para a mídia online, diz o diretor comercial do Jornal O Estado do Paraná, Rafael Tavares (2011)7. Desde o final do século 19 houve importantes mudanças que provocaram alterações no modo de produção e consumo de notícias e comerciais. Em Notícia - Um produto à venda, Cremilda Medina ressalta que, desde aquele tempo, os jornais brasileiros já apresentavam características que fundamentavam a importância da organização empresarial no contexto da imprensa: Nesta época, especialmente no Rio de Janeiro (centro de decisões e de movimento econômico), observam-se duas tendências no sentido de transformar a atividade jornalística em exploração comercial e industrial: de um lado, os jornais como a Gazeta de Notícias e o Jornal do Comércio, tradicionais folhas que vêm do tempo do Império, adquirindo equipamento e passando a faturar, principalmente, a venda de espaço publicitário; de outro, surgem novos órgãos já inteiramente estruturados como empresa e voltados, como qualquer negócio, para o lucro como objetivo. (MEDINA, 19788)

5 Mas no início deste século as mudanças aceleraram: Convergência, interatividade, e até mesmo o que muitas organizações de comunicação já temiam, que é a perda do controle da informação centralizada, capitaneada por monopólios e oligopólios do poder midiático. Steven Johnson considera que há necessidade de se avaliar esse impacto: 5 (...) há realmente dois cenários piores que nos preocupam agora, e é importante distinguir entre eles. Primeiro, há o pânico de que os jornais vão desaparecer como empresas. E, depois, há o pânico de que as informações cruciais vão desaparecer com eles, que nós vamos sofrer culturalmente, porque os jornais não serão, por muito tempo, capazes de gerar as informações que temos invocado por tantos anos. (JOHNSON, 20089) Essas violentas alterações na produção e veiculação de conteúdos de mídia, que afetam diretamente a indústria jornalística, também geram ansiedade quanto à obrigação que os jornais têm de se adaptarem às novas tecnologias. Essa pressa de mudar sem um planejamento adequado, para atender às expectativas de usuários da Internet, tem gerado problemas consideráveis para muitos diários, pois não basta apenas e simplesmente mudar do papel para o digital. É necessário que as empresas planejem com muito cuidado as escolhas que vão adotar, segundo John Pavlik. Ele observa que o conteúdo de notícias online deve evoluir através de três etapas: A primeira etapa envolve a adaptação dos conteúdos do jornal impresso para a edição on-line. Na segunda fase, o conteúdo é ampliado com recursos interativos, como os motores de busca, links e alguma personalização para o usuário que recebe notícias. A terceira fase é caracterizada pela criação de conteúdos originais, concebidos especificamente para o medium. (PAVLIK, ) Além disso, as empresas precisam deixar claro suas posições políticas e mercadológicas, sob o risco de verem desmoronar suas estruturas sob um mundo onde as informações já não podem ser controladas. Neste sentido, os modelos de jornalismo feitos à base de subsídios escusos, muito comum em épocas de autoritarismo, estão condenados ao fracasso e não conseguem intervir neste sistema onde produtor e consumidor tem o mesma importância. A interatividade também criou novas condições e desafios. Uma delas é a nova configuração para profissionais da notícia: ciberjornalistas - adaptados a trabalhar interativamente com imagem, texto e áudio; e para os ex-consumidores passivos da notícia (antigos leitores ) um pomposo título: jornalistas cidadãos. Trata-se de uma realidade diferente, onde os internautas não são apenas co-produtores passivos da informação, mas também produtores cooperativos dos mundos virtuais, segundo LÉVY (199911).

6 É compreensível, portanto, que em meio ao caos que toma conta da imprensa mundial, quando o tema é Novas Tecnologias, busquem-se respostas e posturas às vezes equivocadas e que acabam gerando prejuízos para as empresas de comunicação e, em cascata, para a qualidade do jornalismo. Muitas dessas empresas, aliás, substimavam seus leitores ao deixar de oferecer conteúdos não apenas qualitativos, mas principalmente, comunicativos. Trata-se de um equívoco, pois segundo o departamento de telecomunicações da Organização Mundial das Nações Unidas, 57% dos internautas estão em países em desenvolvimento e, para esse novo leitor não basta apenas conteúdos atrativos, já que dispõe de uma gama bastante diversificada de meios para obter informações cada vez mais especializadas (ONU, ). 6 Previsões polêmicas: quanto tempo ainda há? As previsões são um pouco dramáticas: Philip Meyer calcula que o primeiro trimestre de 2043 será o momento em que o jornal impresso morrerá nos Estados Unidos, quando o último leitor cansado colocar de lado a última edição amarrotada (MEYER, ). Vin Crosbie acredita que, até 2021, haverá poucos jornais impressos de circulação nacional nos EUA (CROSBIE, ). Alguns prevêem, no entanto, que não será necessário tanto tempo para o fim do jornalismo impresso. Steve Ballmer sugere um cenário em que o impresso não sobreviverá após 2018 (BALLMER, ), enquanto Arthur Sulzberger avalia que a longa história impressa do New York Times pode durar apenas mais alguns poucos anos (SULZBERGER, ). Para ratificar essas análises, o Projeto Pew Research Center for Excellence in Journalism divulgou recentemente os resultados de sua pesquisa The State of News Media, sobre a mídia americana em 2008/2009. A pesquisa é desenvolvida desde 2004, e permite uma série estatística de indicadores que revelam uma crise generalizada no atual modelo de negócios da mídia nos Estados Unidos. Segundo Rom Rosenstiel, jornalista que assina a pesquisa e coordena o projeto, os resultados parecem assustadores : As receitas de publicidade em jornais caíram 23% nos últimos dois anos. Alguns jornais estão em processo de falência e outros perderam 75% de seu valor. Estimamos que, cerca de um em cada cinco jornalistas, que trabalhavam em jornais, em 2001, não estavam mais nesse mercado no final de 2008 e (...) Ocorre uma migração acelerada do público para a Internet. O número de americanos que utilizam regularmente a Internet para acesso à notícias, de acordo com o levantamento, aumentou 19% nos últimos dois anos, sendo que em 2008, o tráfego para sites de notícias importantes aumentou 27%. (ROSENSTIEL, ) As previsões quanto ao tempo que ainda restaria para jornais impressos abandonarem por completo o suporte de papel, mostram que mesmo para norte-

7 americanos a situação encontra-se indefinida. São muitas as possibilidades levantadas, várias delas polemizando diferentes perspectivas e que apontam para três hipóteses básicas: A primeira hipótese é a de que os jornais podem adotar essas novas tecnologias sem abandonar a versão impressa, adaptando os conteúdos (impresso e online) aos seus públicos. A segunda hipótese apresenta o caminho dos tablets digitais específicos para recepção de jornais e revistas, que mantém a estética tradicional para os leitores acostumados a esses produtos. A terceira hipótese vai em direção a um novo e totalmente diferente conceito, que obriga o jornal a integrar-se aos padrões visuais e estéticos das mídias sociais, como Twitter, Facebook, blogs e sites de informação, eliminando assim qualquer vestígio dos padrões e formatos que historicamente marcaram a imprensa. 7 Vale observar que essa empolgação pelas novas tecnologias ainda reflete tendências com determinantes superficiais, pois há dados e pesquisas que revelam situações inovadoras na abordagem do problema. A mais nova perspectiva para jornais e revistas manterem cativos seus públicos vem com o tablet iped, tela digital portátil em que o leitor acessa através da Internet seu jornal preferido, baixa o arquivo online (através de download) e depois vê offline aquilo que desejar. O primeiro jornal do mundo para a base ipad foi lançado em fevereiro de 2011, o The Daily, com mais de 100 páginas de conteúdo diário aliados a bases multimídias, com imagens que giram em 360 graus, vídeos de alta definição e infográficos. Aqui essa proposta também já foi materializada com o lançamento do Brasil 247, o primeiro jornal brasileiro exclusivo para o ipad, uma publicação da Editora 247, comandada pelos jornalistas Leonardo Attuch e Joaquim Castanheira (ABRIL, ). No entanto, em alguns poucos meses de vida no Brasil, o ipad ainda foi pouco comercializado devido ao seu custo, que é o maior no ranking entre os principais usuários. Em dezembro de 2010, o produto era comercializado por R$848,00 nos EUA, enquanto em nosso país custava o dobro (MACMAGAZINE, ). Números divulgados pela Associação Nacional dos Jornais apresentam no mínimo condições para aumentar ainda mais as dúvidas quanto ao futuro: De 2001 a 2008, aumentou consideravelmente o número de jornais impressos diários no país, e ainda mais o número de jornais com periodicidade semanal. Acompanha este crescimento a verba publicitária para esse veículo, que triplicou nos últimos oito anos. Entretanto, quando comparado com outras mídias, o jornal impresso teve reduzida sua participação no rateio da verba. Por exemplo: O jornal impresso tinha 21,73% do investimento em comunicação em 2001 e acabou com uma redução para 15,91% em Enquanto isso, a Internet, que possuía apenas 1,49% em 2001, foi para 3,54% em 2008 (ANJ, ). Diferentemente do que preconizam os videntes tecnológicos, estudo da Associação Mundial de Jornais (WAN) mostra que leitores de sete países desenvolvidos ainda preferem o papel à Internet. A pesquisa foi executada em sete países do primeiro mundo: Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Holanda e Suíça. Foram entrevistados pessoas entre leitores, editores, anunciantes, jornalistas e

8 outros profissionais envolvidos. De acordo com os resultados, os jornais tradicionais ainda têm uma forte ligação com o seu leitor. Além disso, dois terços dos entrevistados disseram que, apesar do adento do jornal diário gratuíto, estão dispostos a pagar por notícias da Internet (WAN, ). 8 Considerados os números que apresentam uma condição até certo ponto inusitada, é possível avaliar que seria precipitado falar no fim do jornalismo impresso, afinal, o número de publicações diárias no Brasil em 2007 era de 555, distribuídos entre Região Norte (31), Região Nordeste (55), Região Sudeste (278), Região Centro-Oeste (44) e Região Sul (147). Além disso, temos grandes jornais de circulação paga com tiragens médias de 300 mil exemplares, - entre os cinco maiores estão a Folha de São Paulo, Super Notícia, Extra, O Globo e o Estado de São Paulo (ANJ, IVC, ). No Paraná, onde há um total de 183 títulos entre diários e semanários, a Associação de Jornais e Revistas do Interior reúne 86 empresas filiadas que, juntas, produzem mais de 450 mil exemplares semanais de jornais que cobrem praticamente todos os municípios, menos a capital. Esse avanço da mídia impressa, entretanto, não impõe o esquecimento da nova realidade tecnológica, e cobra ainda mais responsabilidade de todos os profissionais da imprensa, segundo Rosental Calmon Alves, que participou da construção do primeiro jornal unicamente online do país: Ainda bem que a maioria dos jornalistas vem dos meios tradicionais. É muito importante que levem para a Internet os valores éticos e profissionais do jornalismo tradicional. Mas muitos jornalistas vindos dos meios tradicionais têm demonstrado uma enorme capacidade de se adaptar ao novo meio. (ROSENTAL, ) A reflexão dos rumos que serão tomados exigirá, no entanto, avaliar e racionalizar essas novas condições que se impõe sobre os veículos de comunicação impressos. Também é interessante considerar que é possível observar picos negativos na circulação média diária de jornais no Brasil, iniciados em 1994, depois em 1996, e de 2001 a 2003, com uma pequena recuperação após esse período. Mesmo com essas variações negativas, a média diária desde 2007 ultrapassa a marca dos 8 milhões de exemplares. Parece muito, mas comparando-se com os mais de 40 milhões de brasileiros economicamente ativos e, com os mais de 80 milhões de brasileiros leitores, é pouca a inserção do veículo na vida do brasileiro (ANJ, ). Não é a toa que Steven Johnson defende que o espaço da notícia é como um ecosistema, formado pela diversificação, complexidade e interligação presente no espaço de criação. Para ele, o mais importante não é o futuro da indústria da notícia, ou o negócio do jornal impresso, mas o futuro da notícia em si (JOHNSON, ). Entre as principais mudanças está o fato de que os fluxos de informação monstram-se mais acelerados e instantâneos, obrigando os planejadores a rever os conceitos antigos, segundo Culell, executivo do Grupo Mercurio, do Chile:

9 Se pensarmos no leitor de notícias, certamente este não entende nada. Nosso público é o que usa Facebook, Twitter e YouTube. Todos os rios vão para o mar, mas agora são uma realidade na qual o mar flui para os rios. Um mar de informações, dados, expressões em um rio muito estreito e com uma velocidade muito rápida. Aqueles que usam as redes estão mais rígidos com o tempo e a auto-censura, pois vemos um fluxo no qual o que importa é o momento. Eu não estou interessado em meus tweets a partir de ontem, os meus posts ou página do Facebook há dois dias. Posso incluí-lo nas últimas três horas, o resto me escapa. O público tem essa formação, porque está gerando ao mesmo tempo. Tem a capacidade de compreender uma oferta em que a velocidade muito mais do que o leitor de papel. Estamos a dar-lhes forma para nós e não nós deles. (CULELL, ) 9 Considerações finais A história do jornalismo brasileiro vivencia importantes momentos, uma fase não somente de transição entre as antigas tecnologias analógicas e a as novas tecnologias digitais, mas principalmente, de discussão e recuperação da finalidade da imprensa que é a capacidade de informar com rapidez, qualidade e responsabilidade social. Neste sentido, as temáticas aqui abordadas, muitas ainda em nível de suposições face a velocidade com que essas inovações acontecem, levam em consideração o papel do jornalismo para a sociedade moderna. Seja com antigas ou novas tecnologias, enquanto houver sociedade sempre haverá um leitor, mas ainda assim, uma razoável vantagem da multimídia são as possibilidades inesgotáveis de um espaço em construção permanente. Segundo Pierre Lévy: Não se trata apenas de racionalizar em termos de impacto qual o impacto das infovias na vida política, econômica e cultural, mas também em termos de projeto (com que objetivo queremos desenvolver as redes digitais de comunicação interativa? (LÉVY, ). Referências 1- DINES, Alberto. In 2- PIMENTEL, Paulo. In wwwparanaonline.com.br/2011/02/ 3- SEVERO, Ana K.; NETO, Antonio F. Revista Anagrama, ano 3 edição 2, dez PIMENTEL, Paulo. In wwwparanaonline.com.br/2011/02/ 5- JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Editora Aleph, SP, ONU, Organização das Nações Unidas. In 7- TAVARES, Rafael. In 8- MEDINA, Cremilda. Notícia Um produto à venda. Ed. Summus, SP, 2007

10 9- JOHNSON, Steven. In PAVLIK, John V. O futuro do jornalismo online. Columbia Journalism Review, NY, julho/agosto LÉVY, Pierre. Cybercultura. São Paulo, Editora 34, ONU, Organização das Nações Unidas. In MEYER, Philip. Vanishing Newspaper Saving Journalism in the. Missouri University, CROSBIE, Vin. Transforming American Newspapers. In BALLMER, Steve. Failed Yahoo Talks Leave Google on Top. In www. washingtonpost.com/2008/ 16- SULZBERGER, Arthur. In ROSENSTIEL, Tom ABRIL. In info.abril.com.br/tecnologia/.../dados 19- MACMAZINE. In ANJ, Associação Nacional de Jornais. In WAN, Associação Internacional de Jornais. In ANJ, Associação Nacional de Jornais. In ROSENTAL, Calmon A. Revista Mídia Paraná, p. 17, ANJ, Associação Nacional de Jornais. In JOHNSON, Steven. In CULELL, Guillermo LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo, Loyola, 1998, p

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