ROBÓTICA COMO POSTURA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR NA ESCOLA
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- Linda Vasques de Mendonça
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1 ROBÓTICA COMO POSTURA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR NA ESCOLA Deise Aparecida Peralta Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS) Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) José Pacheco de Almeida Prado pete Educação com Tecnologia- São Carlos Harryson Júnio Lessa Gonçalves Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS) Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) RESUMO A presente investigação está inserida dentro do questionamento acerca da possibilidade de proposição da robótica como constituinte de uma postura pedagógica interdisciplinar alternativa ao ensino tradicional de conteúdos curriculares de Matemática e Ciências da Natureza, admitindo que a robótica tem o potencial de tornar o aluno produtor e não apenas consumidor de tecnologia digital, como tem acontecido com o uso da maioria de recursos tecnológicos na educação, e o professor protagonista em processos de (re) construção da própria prática. Considerando que a robótica nunca esteve tão presente quanto agora na vida de todos, deseja-se avaliar o uso da mesma, não só como um recurso utilizado com pouca frequência e em áreas especificas, mas como prática que facilite ao professor ter maior interação com os alunos e com os outros professores, bem como promover a integração entre as áreas disciplinares componentes do Currículo do Ensino Médio regular. Neste sentido, os professores da escola participante avaliaram a possibilidade da robótica na escola se apresentar, não como mais uma ação estratégica de instrumentação, mas como uma oportunidade de interação com a tecnologia numa relação de construção e reconstrução de práticas interdisciplinares. Palavras-chaves: Robótica, Interdisciplinaridade, Práticas de Ensino. 1. Justificativa e Objetivos da Pesquisa O termo robótica, aqui usado, refere-se à prática voltada a desenvolver projetos envolvendo a atividade de construção e manipulação de robôs, mas no sentido de proporcionar em escolas um ambiente de aprendizagem, onde os alunos possam desenvolver raciocínio, criatividade, conhecimento em diferentes áreas. Como afirma Seymour Papert, em seu livro A Máquina das Crianças, a robótica na escola servirá de plataforma para fazer conexões entre as áreas intelectuais, como a Biologia, a Psicologia, a Economia, a História e a Filosofia, numa estrita relação com o conceito de interdisciplinaridade (FAZENDA, 1994). Por isto, Papert se dedicou a investigar 04245
2 sobre recursos que ajudassem alunos a pensar, ou objetos para pensar com, ou seja, objetos concretos que estimulassem a criança a pensar sobre o pensar e, dessa forma, testar hipóteses através da exteriorização das mesmas. O pesquisador dedicou-se, então, a criar uma linguagem de programação na qual crianças ensinavam os computadores. Resnick et al (1996) trabalhando em grupo de pesquisas do MIT e aprimorou a ideia de Papert, criando uma programação adaptada para movimentar pequenos blocos. Unindo blocos plásticos, sensores e a programação, a ideia era possibilitar a construção de objetos para pensar com. As pesquisas encontradas, em relação à robótica nas escolas, são em sua maioria de aplicação e desenvolvimento de aparatos de robótica (PINTO, 2011). Parece pertinente e necessário investigar se a robótica na escola pode se pautar no ideal de que o professor é capaz de criar condições para recontextualizar sua prática e assumir uma postura interdisciplinar que possibilite refletir sobre o próprio ato de ensinar, não se adaptando a uma realidade tecnológica e sim mudando concepções que o permita atuar como parte integrante dessa realidade. E ainda mais pertinente investigar se a Robótica pode potencializar entre os professores das diversas disciplinas uma atitude de abertura, não preconceituosa, onde todo o conhecimento é igualmente importante, promovendo construções coletivas onde o conhecimento individual anula-se frente ao saber universal. Além de promover atitudes coerentes, que supõem uma postura de diálogo frente aos fatos, onde o diálogo se constitui única condição de possibilidade da interdisciplinaridade. Assim sendo, pressupõe uma atitude engajada, um comprometimento pessoal. (FAZENDA, 1994). Diante do exposto, esta pesquisa se propôs a avaliar se 1) Na visão dos professores, a robótica na escola oferece possibilidades para condução de aulas de forma interdisciplinar, promovendo uma postura de diálogo entre os professores; 2)A robótica poderia ser avaliada pelos professores como prática de motivação e interação entre e com os alunos. 2. Participantes Participaram deste estudo os professores das disciplinas que integram o Currículo do Ensino Médio de uma escola pública de tempo integral da rede estadual paulista, incluindo o responsável pela disciplina eletiva Robótica. 3. Resultados 04246
3 Como a proposta é a discussão da constituição de práticas interdisciplinares o delineamento metodológico contou com a interação, por meio de reuniões entre professores, entendendo que a interdisciplinaridade se constitui na contato, na ação comunicativa, na postura de compartilhamentos, na construção coletiva e no respeito e aceitação do saber das diversas áreas dos agentes que pretendem não romper, mas ir além da disciplinaridade. Etapa 01/ Fase 01- Discussão e elaboração do delineamento da proposta com professores: Durante 04 reuniões na escola, com 1 hora de duração cada, os professores discutiram e elegeram alguns pontos, a serem considerados como, essenciais. Os professores reconheceram que a robótica pode ser um eixo articulador de interdisciplinaridade, pois possibilita: a) Resgate histórico da História e Filosofia da Ciência. Se pesquisarmos toda a evolução tecnológica que nos trouxe ao uso de robôs, estudaremos por consequência todas as práticas científicas e sociais que possibilitaram tal evolução. Todo o conhecimento em Exatas, Humanas e Sociais e como ele se desenvolveu através dos tempos. (PROFESSOR DE FISICA) b) Desenvolvimento de aplicações práticas da robótica para resolver/discutir questões de cunho científico e social e atender demandas dos alunos. Seria bem bacana mostrar que conhecimento é uma forma autêntica de operar sobre o mundo das coisas. (PROFESSOR DE FILOSOFIA) c) Interação entre Robótica e as diversas linguagens das Ciências e da Arte. Um projeto de robótica pode introduzir o problema da modelagem de comportamento; lembrando que artista cria não apenas forma; mas comportamento, e torna possível situações interativas sem precedentes em espaços físicos ou telemáticos. (PROFESSOR DE ARTE) d) Efetiva e constante comunicação entre os professores. O projeto será coletivo. O professor da disciplina de robótica dará suporte aos meninos no que se refere ao aparato para montagem de robôs, programação essas coisas, mas todos nós em suas aulas tentaremos estabelecer comunicação entre a área predominante de conhecimento de nossas disciplinas e as demais. Só assim os meninos conseguirão desenvolver um projeto, entendendo que conhecimento não se racha, pois terão os conteúdos necessários. E para isso teremos que ter como essência do nosso relacionamento profissional o diálogo. (PROFESSOR DE QUÍMICA) Etapa 02- Discussão de um modelo de ensino e de avaliação da aprendizagem: Foram realizados 05 Encontros de 1 h cada para discutirem que material (aparato para montagem de robôs), e a forma de uso, seria interessante para o desenvolvimento do projeto na escola. Para tanto, usaram como referência um artigo de pesquisadores da 04247
4 UNCAMP que analisa alguns kits disponíveis no mercado, que eles chamam de robótica pedagógica, com o objetivo de avaliar e comparar suas facilidades e dificuldades de uso (MORELATO et all, 2010). Foram usados também textos extraídos do livro Aprendizagem: Linguagem, Comportamento e Cognição, de Charles Catania com tradução da Profª Dra. Deisy das Graças de Souza (UFSCAR), do livro Alfabetização Cientifica: Questões e Desafios para a Educação, de Attico Chassot e do clássico A máquina das crianças de Seymor Papert. Foi feita opção pelo uso de um kit de robótica educacional analisado pelos pesquisadores da UNICAMP como o que apresentava peças de montagem resistentes, um ambiente de programação simples com interface de fácil interação. Acho que este é o ideal para gente, pois a exigência de um nível de conceitos básicos é considerada média o que facilita seu uso para alunos do Ensino Médio, a não exigência da necessidade de acompanhamento de orientador para implementação de projetos, facilita a autonomia de alunos e professores. Afinal ninguém aqui é técnico em informática. (PROFESSOR DE MATEMÁTICA) Os professores elegeram o ensino por investigação como propício para que os estudantes sejam estimulados e encorajados a levantarem e testarem suas hipóteses, indagações e curiosidades, fazendo uso de sua criatividade. A prática da investigação pode transformar a experiência com os kits de robótica em um recurso de potencial desenvolvimento de cultura científica (PROFESSOR DE FÍSICA) Os professores fizeram um levantamento com os alunos sobre questões relevantes para a sociedade que poderiam ser tratadas em um projeto e o tema Poluição foi o escolhido. Etapa 03 - Implementação de uma prática subsidiada pelas potencialidades da robótica de acordo com as concepções adotadas pelos professores nas fases anteriores. Nessa etapa os professores se reuniram para planejarem suas ações futuras. O projeto é da escola, mas cada turma montou e programou seus robôs investigando alguma dimensão da temática Poluição, tendo como ferramenta os conteúdos disciplinares previstos no Currículo para aquela série. Por exemplo, no 3º A os alunos fizeram a opção por investigar o Efeito Estufa. Construíram um microambiente análogo ao planeta Terra, um sistema de retenção de calor/energia solar, simulando o efeito estufa montando e programando dispositivos robóticos equipados com sensores(contato, luz, temperatura, cor, infravermelho, ruído 04248
5 e detector de faixas). Os professores relataram um grande envolvimento dos alunos nas aulas. Desenvolver o conteúdo programado para a turma tendo a robótica como aliada representou um bom avanço nos resultados esperados, pois notei uma grande participação dos alunos, bem como um bom posicionamento frente a problemas científico (PROFESSOR DE QUÍMICA). Considerações A fase final da pesquisa, na qual os professores avaliam de forma geral todo o processo de constituição de um projeto de robótica na escola como prática de ensino interdisciplinar, ainda está em andamento. Porém, a partir de relatos dos professores durante o processo de desenvolvimento do projeto é possível afirmar que a robótica, por excelência, exige que as áreas curriculares dialoguem dentro da escola para que um projeto possa ser desenvolvido. Os professores das diversas disciplinas precisam trocar conhecimentos e experiências para que um projeto de venha a ter sucesso, pois os alunos envolvidos precisam mobilizar os conhecimentos adquiridos com as diversas Ciências para adotar a postura exigida por um projeto de robótica compatível com um conceito de fazer Ciência. Os alunos por sua vez, na avaliação dos professores, foram os grandes beneficiados, pois a prática pedagógica subsidiada pela robótica lhes possibilitou uma melhor interação entre eles, com os professores e os conteúdos do Currículo, superando a fragmentação dos fenômenos científicos, que levam a interpretações parciais, partindo rumo ao pensar de múltiplas formas para a solução de problemas, requisitando criatividade, curiosidade, trabalho em equipe, aceite de ideias divergentes e diferentes e compreender que se fazer mister investigar as questões do meio onde se vive e que os conteúdos disciplinares articulados entre sim são ferramentas para intervir nesse meio. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FAZENDA Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 4.ed. Campinas: Papirus, RESNICK, Mitchel., MARTIN, Fred., SARGENT, Randy., and SILVERMAN, Brian., Programmable Bricks: Toys to Think With, IBM Systems Journal, 35, p , PINTO, Marcos Castro. Aplicação de arquitetura pedagógica em curso de robótica educacional. com hardware livre. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Dissertação (mestrado). Rio de Janeiro: UFRJ, 158 p,
6 MORELATO, Leandro de Almeida; NASCIMENTO, Ramiz Augusto de Oliveira; ABREU, João d ; BORGES; Marcos Augusto Francisco. Avaliando diferentes possibilidades de uso da robótica na educação. REnCiMa, v. 1, n. 2, p , jul/dez,
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