INTEGRAÇÃO DE UMA CENTRAL DE COMPOSTAGEM DE LAMAS MISTAS NA ETAR DE COIMBRA
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- Eugénio di Azevedo Barateiro
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1 INTEGRAÇÃO DE UMA CENTRAL DE COMPOSTAGEM DE LAMAS MISTAS NA ETAR DE COIMBRA Érica G. Castanheira (1) ; Paula Fernandes (2) ; Célia M. D. Ferreira (3) (1) Bairro do Abrunhós Arganil, Portugal, erika@portugalmail.pt (2) Luságua, S.A. (3) Sector Ambiente, Escola Superior Agrária de Coimbra, Portugal SUMÁRIO Neste projecto apresenta-se uma solução para a valorização das lamas biológicas mistas produzidas na ETAR de Coimbra, utilizando para esse fim um aditivo derivado de restos de madeira. Com este processo pretende-se resolver a problemática associada ao destino a dar às lamas produzidas nas ETAR s e simultaneamente a obtenção de um produto, o composto, com elevado valor agronómico. O processo de compostagem a utilizar consiste num sistema de degradação biológica aeróbio controlada em 4 túneis, nos quais se deslocará um movimentador específico para aumentar a eficiência do processo. Desta forma, a ETAR de Coimbra ultrapassará a dificuldade de escoamento das lamas mistas e por outro lado irá contribuir para o desenvolvimento de um conceito fundamental nas políticas ambientais, a ecogestão. Neste sentido, surge também a oportunidade de integrar um projecto desta envergadura nos programas operacionais de apoio, concretamente no Plano Operacional do Ambiente, englobado no III Quadro Comunitário de Apoio, que apenas durará até Os custos de investimento (equipamento essencial) deste projecto rondam os 2 milhões de euros e os custos de funcionamento (mão-de-obra e aditivo) os 6200 euros/mês. Porém, estes custos poderão ser amortizados pois com a venda do composto a um valor de mercado, poderão facturar-se cerca de 52 mil euros mensalmente. Palavras-chave: Lamas mistas, compostagem, composto 1 INTRODUÇÃO Durante o tratamento de efluentes domésticos nas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR s) são produzidas lamas de depuração, que resultam da matéria orgânica extraída ao efluente e do crescimento de microorganismos (material biológico não estabilizado). O destino a dar a estas lamas é um problema real e é uma questão desde há muito discutida. Existem três destinos principais para as lamas na União Europeia: reciclagem (50%), incineração (18%) e depósito em aterro (25%) (EEA, 2001). Segundo a mesma fonte, em Portugal, aproximadamente 70% das lamas produzidas são encaminhadas para aterro enquanto que apenas 30% são aplicadas na agricultura (reutilização) o que é uma percentagem muito baixa quando comparado com países como a Dinamarca ( 60%) e o Luxemburgo ( 70%) (EEA, 2001). Qualquer uma das soluções adoptadas actualmente em Portugal começa a apresentar alguns impedimentos, pois a legislação tem-se tornado cada vez mais rígida. Por um lado, devem-se minimizar cada vez mais e sempre que possível a quantidade de resíduos a depositar em aterro e, por outro lado, quando se aplicam as lamas no solo é necessário garantir a protecção da saúde pública através do controlo dos organismos patogénicos (Metcalf & Eddy, 1991) e da quantidade de metais pesados adicionada aos solos agrícolas. Tendo em conta o panorama europeu e as restrições referidas anteriormente, torna-se imperativo adoptar uma melhor forma de gestão das lamas, promovendo a sua valorização através de um processo de reciclagem e, simultaneamente, evitar os riscos para a saúde pública. Existem muitas formas de destruir ou reduzir os patogénicos nas lamas: pasteurização; incineração; pirólise; tratamento de alto ph, adição de cloro, radiação, etc. (Metcalf & Eddy, 1991). No entanto, a compostagem é encarada como a alternativa financeira e ambientalmente mais viável (Metcalf & Eddy, 1991). Integração de uma Central de Compostagem de lamas mistas na ETAR de Coimbra 1
2 O processo de compostagem é explicado pormenorizadamente por inúmeros autores (ver por exemplo, Metcalf & Eddy, 1991; Liu e Lipták, 1997; Tchobanoglous et al, 1993). Porém, neste contexto, importa apenas salientar alguns pontos fundamentais para entender o processo. Assim, a compostagem pode ser entendida como um processo de transformação biológica da fracção orgânica da qual resulta um produto denominado de composto, muito idêntico ao húmus e constituído por matéria orgânica resistente, estabilizada e higienizada, ou seja, livre de patogénicos, rica em lenhina e nutrientes e que é de difícil conversão biológica (Dinis, 2001). A primeira etapa da compostagem considerada como a estabilização das lamas, tem a duração aproximada de 21 dias e ocorre em 3 estágios de actividade distintos, associados às temperaturas observadas: mesofílica, termofílica e cooling. Na fase mesofílica inicial a temperatura aumenta para aproximadamente 40ºC, acompanhada pelo aparecimento de fungos e ácidos bacterianos. Quando a temperatura aumenta até 40-70ºC, inicia-se o estágio termofílico em que os microrganismos referidos são substituídos por bactérias termofílicas, actinomicetas e fungos termofílicos (Metcalf & Eddy, 1991). O consumo máximo de O 2 ocorre nesta fase, quando a temperatura atinge os 55ºC, razão pela qual é necessário arejar a pilha de compostagem através de revolvimento ou ar forçado, satisfazendo assim as necessidades de CBO. A fase de cooling caracteriza-se por uma redução da actividade microbiana e a substituição dos microrganismos termofílicos por bactérias mesofílicas e fungos. Durante este período ocorre mais evaporação da água contida no composto, a estabilização do ph e a completa formação do ácido húmico (Metcalf & Eddy, 1991). A segunda etapa da compostagem é a fase de maturação do composto que consiste na decomposição lenta dos compostos mais difíceis de degradar (lenhina, hemicelulose e outros polímeros). Durante esta fase os nutrientes passam da forma orgânica para a forma mineral e após aproximadamente 30 dias já se pode dizer que o composto se encontra maduro e passível de ser aplicado no solo. Os objectivos da compostagem de lamas (eliminação de organismos patogénicos, estabilização das lamas, secagem de lamas e produção de um produto estável que pode ser manuseado e comercializado) podem ser atingidos desde que o processo seja bem concebido e controlado (Water Environment Federation, 1995). São inúmeras as vantagens que advêm de um processo de compostagem. Entre as mais importantes contam-se a estabilização da matéria orgânica com uma produção mínima de odores, a eliminação de microrganismos patogénicos e a produção de fertilizantes naturais. Apresenta ainda a vantagem de necessitar de pouca energia externa para funcionar, quando comparada com outros sistemas de tratamento. A realização deste estudo vem no seguimento do que foi referido e pretende avaliar a viabilidade de implantação de uma Central de Compostagem integrada na ETAR de Coimbra. Este estudo engloba o enquadramento legal de uma infra-estrutura deste tipo e o projecto propriamente dito, incluindo orçamento e formas de financiamento do projecto. 2 CASO DE ESTUDO: ETAR DE COIMBRA A ETAR de Coimbra encontra-se em laboração há aproximadamente 10 anos, tendo sido a sua construção da responsabilidade do Instituto da Água (INAG). Posteriormente esta obra foi entregue à Câmara Municipal de Coimbra, mais concretamente aos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMASC), aos quais compete juntamente com o Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente (MCOTA), a fiscalização das condições de funcionamento. Simultaneamente, desde o início da laboração da ETAR que a exploração e manutenção da obra se encontra a cargo da empresa Luságua S.A. No projecto elaborado inicialmente foi estabelecida a capacidade da instalação desta ETAR, como mostra a Tabela 1. Actualmente o caudal diário afluente à ETAR de Coimbra é de aproximadamente m 3 enquanto que a quantidade de lamas digeridas diariamente ronda os 88 m 3 /dia. Tabela 1 Capacidade da instalação (Fonte: Luságua, S.A.) População equivalente Caudal médio diário afluente Carga orgânica em CBO 5 Volume diário de lamas digeridas hab m 3 /dia Kg/dia 120 m 3 /dia Integração de uma Central de Compostagem de lamas mistas na ETAR de Coimbra 2
3 As águas residuais afluentes a esta ETAR são tratadas através da utilização de um sistema biológico aeróbio de biomassa fixa, os leitos percoladores (Figura 1). No processo de tratamento podem destacar-se três etapas distintas: - Tratamento da linha líquida, que inclui o tratamento preliminar (gradagem e desarenação/flotação), o tratamento primário (decantação primária) e o tratamento secundário (leitos percoladores e decantação secundária). - Tratamento da linha sólida, que compreende o espessamento, a digestão anaeróbia (termofílica) e a desidratação em leitos de secagem das lamas. - Aproveitamento do biogás, produzido na digestão anaeróbia das lamas, que é utilizado na produção de água quente (aquecimento de lamas) ou convertido em energia eléctrica. Figura 1 Esquema do tratamento utilizado na ETAR de Coimbra (Fonte: Luságua, S.A.) Focando a atenção essencialmente no tratamento da linha sólida e concretamente na fase de desidratação de lamas, verifica-se que os leitos de secagem se têm demonstrado insuficientes para a quantidade de lamas digeridas diariamente. No entanto, prevê-se que este facto seja alterado em breve pois já se deu início à instalação de uma centrífuga, com o objectivo de melhorar o processo de desidratação. Resolvido o problema que se prende com o grau de desidratação das lamas produzidas na ETAR de Coimbra, mantém-se o problema do seu escoamento e destino final. 3 ENQUADRAMENTO LEGAL Para a realização deste projecto foi necessário verificar qual o enquadramento legal no que respeita à instalação de um sistema de compostagem e, simultaneamente, no que respeita aos resíduos que aí serão tratados, ou seja, as lamas de depuração. Existem diversos instrumentos legais, tanto a nível nacional como a nível comunitário, sobre esta temática. No entanto, analisando apenas os diplomas nacionais, apresentados na Tabela 2, pode constatar-se que o processo de aplicação das lamas produzidas nas ETAR s é bastante complexo, pois para que este se desenrole dentro dos termos da lei é necessário que as lamas cumpram um conjunto de requisitos, dos quais se destacam dois muito importantes: devem possuir uma concentração de metais pesados que não ultrapasse os valores-limite admissíveis e devem encontrar-se devidamente tratadas, ou seja, livres de todos os microrganismos patogénicos que coloquem em risco a saúde pública. Para o caso da ETAR de Coimbra não se coloca o problema dos metais pesados. De facto, análises realizadas às lamas em 2002 mostram que a concentração dos metais pesados se situam abaixo dos valores limite impostos na Portaria Nº 176/96, conforme mostra a Tabela 3. No entanto, tendo em conta a eliminação dos microrganismos patogénicos torna-se necessário proceder à valorização adequada das Integração de uma Central de Compostagem de lamas mistas na ETAR de Coimbra 3
4 lamas produzidas para que estas possam ser aplicadas no solo. A Portaria 15/96 de 23 de Janeiro define a valorização como a operação mais adequada de gestão das lamas. Esta engloba a reciclagem e mais concretamente a compostagem das lamas. Tabela 2 Quadro-resumo referente aos instrumentos legais nacionais relacionados com o caso de estudo Instrumento legal Assunto Disposições gerais Decreto-lei n.º 446/91 de 22 de Novembro Portaria 15/96 de 23 de Janeiro Portaria 176/96 de 3 de Outubro Portaria 177/96 de 3 de Outubro Decreto-lei n.º 239/97 de 9 de Setembro Portaria 961/98 de 10 de Novembro Transpõe a Directiva 86/278/CEE Explicitação do art. 3º do Decreto-lei 239/97 Explicitação do art. 3º do Decreto-Lei 446/91 Explicitação do art. 6º do Decreto-Lei 446/91 Transpõe as Directivas 91/156 e 91/689 (relativa aos resíduos perigosos) Explicitação do art. 9º e 10º do Decreto-lei 239/97 - Tem por objectivo regulamentar a utilização das lamas de depuração na agricultura - Descrição das operações de eliminação dos resíduos (aterro, lagunagem, etc.) - Descrição das operações de valorização dos resíduos: reciclagem (compostagem), valorização energética, etc. Valores limite de concentrações de metais pesados nos solos e nas lamas destinadas à fertilização e agricultura - Análise das lamas e dos solos: frequência, parâmetros a analisar, métodos de análise - Regras a que fica sujeita a gestão dos resíduos, incluindo as operações de recolha, transporte, armazenagem, tratamento e valorização - Operações de gestão de resíduos: quais são as proibidas, necessidade de autorização prévia para tais operações, competências ao nível das autorizações e pareceres - Requisitos a que deve obedecer o processo de autorização prévia das operações de gestão de resíduos - Elementos a anexar ao requerimento de autorização prévia Tabela 3 Concentração de metais pesados nas lamas e valores limite (mg/kg matéria seca). Parâmetro Lamas desidratadas Valor-limite (Portaria nº 176/96) Cádmio 2,98 20 Cobre Níquel Chumbo Zinco Mercúrio <10 10 Crómio A Portaria 961/98 de 10 de Novembro específica os requisitos necessários para a obtenção da autorização prévia exigida nas operações de gestão de resíduos, as quais incluem a compostagem. O requerimento de autorização prévia deverá então ser acompanhado pelo projecto, o qual foi objecto de estudo neste trabalho e se apresenta em resumo no capítulo seguinte. Integração de uma Central de Compostagem de lamas mistas na ETAR de Coimbra 4
5 4 PROJECTO A concepção da Central de Compostagem teve por base o tipo de resíduo a tratar, a disponibilidade financeira e o espaço disponível. As características do resíduo a tratar são apresentadas na Tabela 4. Verifica-se que a razão C:N é muito inferior ao desejável, que segundo Liu e Lipták (1997) deve ser aproximadamente 35. Também o teor de humidade nas lamas é um parâmetro importante para o processo de compostagem, devendo ser ajustado de forma apresentar inicialmente um teor correspondente a 60% (Liu e Lipták, 1997). Tornou-se assim evidente a necessidade de seleccionar um agente bulking (aditivo) que permitisse corrigir estes dois parâmetros. Na tentativa de minimizar os custos de transporte foi contactada uma empresa de produção de paletes, instalada a cerca de 10km de distância da ETAR. Esta empresa produz dois tipos de resíduos que podem ser utilizados como aditivos: aparas de madeira e serrim, que diferem apenas em termos de densidade e granulometria. Estes dois tipos foram avaliados tendo-se seleccionado as aparas de madeira devido ao facto de apresentarem uma densidade mais baixa, e por isso provocarem um decréscimo no peso volúmico das lamas. Além disso, permitem melhorar a estrutura e a porosidade das lamas, e consequentemente a eficiência de arejamento. As principais características da mistura lamas-aditivo são apresentadas na Tabela 4. Tabela 4 Características referentes às lamas, às aparas de madeira e à mistura lamas-aparas (MS matéria seca) Características Lamas Fonte Aparas de madeira Fonte Mistura a compostar (lamas-aditivo) - Densidade (Kg/m 3 Empresa fornecedora ) do aditivo Carbono (Kg C/Kg MS) 0,66 ETAR de 0,75 0,73 Azoto(Kg N/Kg MS) 0,07 Coimbra 1,5x10-3 Water Environment 0,02 Razão C:N 9, Federation (1995) 35 Humidade (%) Tendo em conta as características da mistura a compostar e sabendo que a área disponível na ETAR para instalar a unidade de compostagem é de 123x99 m 2, propõe-se que esta seja dividida nas seguintes unidades funcionais: (A) recepção de material, (B) degradação biológica e (C) tratamento e Lamas Agente bulking (A) Recepção de material Mistura Revolvimento Arejamento forçado (B) Degradação Biológica Maturação Tremonha armazenamento do composto (Figura 2). Embalagem Distribuição (C) tratamento e armazenamento do composto Figura 2 Esquema relativo ao processo adaptado no tratamento das lamas através da compostagem Integração de uma Central de Compostagem de lamas mistas na ETAR de Coimbra 5
6 4.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA INSTALAÇÃO As unidades funcionais nomeadas anteriormente serão instaladas num edifício coberto (121x96 m 2 ) constituído por paredes de betão. Toda a área coberta será pavimentada com betuminoso e irá apresentar um declive suficiente para proporcionar a adequada drenagem de possíveis lixiviados, constituindo um sistema de impermeabilização eficaz. A Central de Compostagem irá possuir também um sistema de drenagem constituído por valas de drenagem que permitam recolher possíveis escorrências dos silos de estabilização ou das pilhas de armazenamento de lamas desidratadas, encaminhando-as para a Rede Municipal de Águas Residuais. Silos de estabilização das lamas Lamas desidratadas 1 3 Pilha de aditivo 2 Área de tratamento/ embalagem Zona de maturação do composto 4 5 Figura 3 Planta da Central de Compostagem, com indicação do percurso das lamas e aditivo (A) Recepção de material Na área de recepção de material são depositadas as lamas a compostar bem como o aditivo a utilizar no processo (ver figura 3). O material recepcionado será colocado directamente no pavimento, em pilha. Estabeleceu-se que o período máximo de permanência das lamas neste local seria de 5 dias, de forma a que as lamas não entrem em putrefacção, alterando as suas características e produzindo mau cheiro. Por outro lado, estabeleceu-se que o período máximo de permanência das aparas de madeira neste local seria de 30 dias, de forma a existir sempre aditivo de reserva para um mês, caso falhe algum aspecto no seu fornecimento. Por fim, considerou-se que a altura das pilhas de armazenamento tanto das lamas como das aparas de madeira não deveria ser superior a 3 metros, de forma a facilitar a operabilidade do equipamento. Desta forma, a zona destinada à recepção de lamas tem por área 30 m 2 (figura 3, número 1) e a zona destinada ao armazenamento do aditivo tem 256 m 2 (número 2 da figura 3) (B) Degradação biológica A fase de degradação biológica inclui a estabilização das lamas e a maturação do composto. Assim, neste projecto iremos encontrar uma área destinada a cada uma destas etapas. A estabilização é realizada em silos horizontais de betão armado, identificados na figura 3 (ponto 3). As lamas (18 m 3 /dia) e o aditivo (25,8 m 3 /dia) são transportados diariamente numa pá carregadora (capacidade de 3 m 3 ) desde a zona de armazenamento até à entrada de cada silo. As lamas e o aditivo são repartidos pelos 4 silos de estabilização e a mistura entre ambos é conseguida através do revolvimento regular efectuado por uma máquina volteadora. A volteadora desloca-se longitudinalmente sobre carris colocados nas paredes do silo. Para transferir a volteadora entre silos, é utilizado um carril transversal, colocado no topo do silo. O dimensionamento destes silos de estabilização é apresentado na Tabela 5. Integração de uma Central de Compostagem de lamas mistas na ETAR de Coimbra 6
7 Tabela 5 Dimensionamento dos silos de estabilização Tempo de estabilização (dias) 21 Volume de mistura a estabilizar em 21 dias (m 3 ) 920 Largura de cada silo (m) 6 Altura de cada silo (m) 1,1 Número de silos 4 Comprimento de cada silo (m) 38 Os valores admitidos para a altura e largura de cada silo resultam das características da revolvedora a utilizar, seleccionada com base nos orçamentos recebidos. Foram pedidos dois orçamentos a empresas da especialidade, uma portuguesa e a outra espanhola, tendo sido escolhida a volteadora fornecida pela empresa portuguesa por esta apresentar um orçamento mais favorável, menos 60 mil euros. É importante ainda referir que em cada silo serão colocados arejadores mecânicos (fornecidos pela mesma empresa) colocados ao longo do silo (na base), protegidos por gravilha (0,5 m de altura) e por uma tela têxtil. Após os 21 dias de estabilização, as lamas saem do lado oposto do silo onde foram colocadas, já sob a forma de composto não maturado ( 22 m 3 /dia) e são transpostadas pela mesma pá carregadora até à área onde ocorre a maturação (zona 4 da figura 3). Aí são depositadas em pilhas de 3 metros de altura e 13 de comprimento, durante 30 dias. Foi calculado que seriam necessárias 3 pilhas para esta operação, ocupando uma área total de 375 m 2, incluindo já o espaço entre as pilhas (5 m) (C) Tratamento e armazenamento do composto Na área correspondente a esta unidade funcional pretende-se preparar o composto para que este possa ser armazenado e posteriormente comercializado. Deste modo, o composto maturado será colocado numa tremonha, ensacado (sacos de 1 kg) e paletizado, sendo todo este processo de tratamento e embalagem do composto realizado por equipamento completamente automatizado, fornecido por uma empresa nacional certificada que apresentou o melhor orçamento. Todo este equipamento irá ocupar uma área de aproximadamente 256 m 2 (identificada na figura 3 com o número 5). Os sacos embalados e colocados nas paletes envolvidas por parafilme são colocados na área restante do edifício. 4.2 ORÇAMENTO Os custos de investimento relativos à implantação da Central de Compostagem integrada na ETAR de Coimbra são apresentados na Tabela 6, referindo-se apenas o essencial para o projecto, e não se pretendendo de forma alguma fazer uma análise financeira completa e rigorosa. Estes valores resultam de uma pesquisa de mercado em que foram contactadas pelo menos duas empresas para cada tipo de equipamento, tendo sido seleccionada a empresa que apresentou melhores condições (quer em termos de custo, quer em termos de assistência técnica). A parte referente à construção civil inclui o edifício, constituído por paredes de 4 metros de altura construída em blocos de cimento; o telhado metálico; os silos de estabilização construídos em betão armado e a drenagem de líquidos. No entanto, não estão incluídos nestes custos os valores referentes à instalação eléctrica (potência a instalar), a tela têxtil e a gravilha que protege os arejadores. Em relação aos custos de manutenção apenas são considerados os valores referentes à mão-de-obra e à aquisição das aparas de madeira necessárias para o processo. Não estão incluídos os custos com a electricidade, avarias, entre outros. Para definir os custos relacionados com a mão-de-obra considerou-se serem necessários dois empregados, um que trabalhe semanalmente (600 euros/mês) e outro que faça os fins-de-semana (300 euros/mês). No que respeita aos custos mensais na aquisição do aditivo, foi efectuada uma selecção de entre os vários orçamentos recebidos por empresas que produzem este tipo de resíduo. Essa selecção teve como base a facilidade de aquisição, a distância entre a ETAR e a empresa e o preço. Os custos operacionais são resumidos na Tabela 7. Integração de uma Central de Compostagem de lamas mistas na ETAR de Coimbra 7
8 Tabela 6 Custos de investimento para a implantação da Central de Compostagem na ETAR de Coimbra (sem IVA) Custos de investimento Preço unitário Preço Construção civil Pá carregadora Sistema de revolvimento nos silos de estabilização Sistema de insuflação de ar /pista Embalagem Total Tabela 7 - Custos operacionais da Central de Compostagem (sem IVA) Custos de manutenção Preço unitário Preço Mão-de-obra 900 /mês 900 /mês Aparas de madeira 6,90 /m /mês Total 6241 /mês Por fim, é necessário referir que tanto os custos de investimento como os custos de funcionamento serão amortizados através da comercialização do composto. Supondo que um saco de 10 litros será vendido por aproximadamente 0,80 (sem IVA), e sabendo que são produzidos 660 m 3 /mês de composto, então serão facturados mensalmente (caso se consiga escoar todo o produto). 4.3 FORMAS DE FINANCIAMENTO O Programa Operacional do Ambiente encontra-se integrado no 3.º Eixo prioritário do III Quadro Comunitário de Apoio e este, por sua vez, inclui três eixos prioritários: o Eixo prioritário 1, relativo à Gestão Sustentável dos Recursos Naturais (cujo objectivo é o apoio a intervenções de carácter eminentemente ambiental); o Eixo prioritário 2, relativo à Integração do Ambiente nas Actividades Económicas e Sociais (cujo objectivo se integra numa lógica de transversalidade do ambiente) e o Eixo prioritário 3, relativo à Assistência Técnica. Das medidas incluídas em cada eixo importa salientar a medida 2.2, referente ao Apoio à Sustentabilidade Ambiental das Actividades Económicas. Enquadram-se nesta medida acções ou majoração de acções, nomeadamente nos sectores da actividade económica, tais como a promoção da ecogestão e acções inovadoras e de demonstração que proporcionem melhorias no desempenho ambiental, como é o caso da integração da Central de Compostagem na ETAR de Coimbra. Esta Medida é co-financiada pelo FEDER e representa aproximadamente 13% do co-financiamento do FEDER, sendo o investimento global associado a esta medida de 70 milhões de euros e o respectivo apoio comunitário a ela associado de 43 milhões de euros. 5 CONCLUSÕES Após a análise do projecto sugerido para solucionar a problemática do escoamento das lamas na ETAR de Coimbra, verifica-se que este pode ser realmente considerado como uma solução a viabilizar. Este facto é justificado pois o processo de compostagem é uma forma de reciclagem cada vez mais utilizada na Europa e porque existem ainda em Portugal a possibilidade de obter financiamento para este tipo de projectos, no âmbito do III Quadro Comunitário. Os custos de investimento (equipamento essencial) deste projecto rondam os 2 milhões de euros e os custos de funcionamento (mão-de-obra e aditivo) os 6200 euros/mês. Porém, estes custos poderão ser Integração de uma Central de Compostagem de lamas mistas na ETAR de Coimbra 8
9 amortizados pois com a venda do composto a um valor de mercado, poderão facturar-se cerca de 53 mil euros mensalmente. O escoamento do composto pode ser aqui o factor crítico e o mais imprevisível, mas se o composto apresentar boas qualidades acabará eventualmente por ganhar aceitação no mercado. Daí a importância de um controlo das condições operacionais, nomeadamente na parte da degradação biológica, recomendando-se análises regulares ao produto obtido para verificar a sua conformidade e qualidade. Além disso, é imprescindível garantir também a disponibilidade do composto em períodos críticos, de maior procura. Pensa-se que a opção pela ensacagem automática e a atribuição de um espaço amplo para a armazenagem do produto final conseguem dar resposta a esta questão e justificam plenamente os custos com este equipamento (que representam cerca de 10% do total a investir). Um outro aspecto importante para o escoamento é o desenvolvimento de acções de marketing junto dos potenciais compradores e o estabelecimento de protocolos com entidades públicas para a utilização do composto produzido (por exemplo com a Câmara Municipal, para a manutenção de jardins públicos e outros espaços verdes municipais). Desta forma, conjugando todas as medidas, as eventuais dificuldades com o escoamento poderão ser evitadas ou minimizadas, conseguindo-se resolver a problemática associada ao destino a dar às lamas produzidas na ETAR e simultaneamente obter um produto, o composto, com elevado valor agronómico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - DINIS, João Apontamentos de Gestão de Resíduos Sólidos. Coimbra: Instituto Politécnico de Coimbra, Escola Superior Agrária, [s.d.]. - EUROPEAN ENVIRONMENTAL AGENCY Environmental Signals 2001 environmental assessment report. N.º 8. Luxemburgo, ISBN LIU, David H.F.; LIPTÁK, Béla G. Environmental Engineer s Handbook. 2.ª Edição. New York: Lewis Publishers, ISBN METCALF&EDDY Wastewater Engineering: treatment, disposal and reuse. 3ª Edição. Singapore: Mc-Graw- Hill International Editions, ISBN WATER ENVIRONMENT FEDERATION. Residuals Subcommittee. Task Force on Biosolids Composting - Biosolids Composting. Alexandria (USA): [s.n.], ISBN TCHOBANOGLOUS George., THEISEN Hillary, VIGIL Samuel A. - Integrated Solid Waste Management Engineering Principles and Management Issues. Mc-Graw Hill, ISBN Integração de uma Central de Compostagem de lamas mistas na ETAR de Coimbra 9
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