SOFRIMENTO PSÍQUICO E VIOLÊNCIA SEXUAL EM MENINOS E. Pinheiro de Brida. Juliana dos Santos Bombardi Mariana Mendes Bonato
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- Maria do Carmo Soares Domingues
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1 1 SOFRIMENTO PSÍQUICO E VIOLÊNCIA SEXUAL EM MENINOS E MENINAS Glaucia Valéria Pinheiro de Brida Nayara Maeda Juliana dos Santos Bombardi Mariana Mendes Bonato SOFRIMENTO PSÍQUICO E VIOLÊNCIA SEXUAL EM MENINOS E MENINAS Glaucia Valéria Pinheiro de Brida 1 Nayara Maeda 2 Juliana dos Santos Bombardi 3 Mariana Mendes Bonato 4 RESUMO EXPANDIDO Palavras-chave: Violência sexual, sofrimento psíquico, gênero, segredo e estigma social. Este artigo tem por objetivo abordar o sofrimento psíquico que a violência sexual causa em meninos e meninas. Segundo a Organização mundial da saúde, violência sexual se caracteriza por uma relação que envolve maus-tratos, e quando isso ocorre com crianças ou adolescentes, estes são vítimas de pessoas mais velhas que, por sua vez, tem o intuito de se satisfazerem sexualmente (Amendola, 2004). Tal violência acontece em todos os níveis sociais, dentro e fora do ambiente familiar, podendo causar repercussões em quem a sofre no âmbito psicológico, físico, sexual e sóciocomportamental. Dentre os tipos de violência sexual encontra-se o abuso sexual, que secaracteriza por um ato ou jogo sexual no qual um adulto envolve crianças ou adolescentes para gerar uma gratificação sexual baseada em uma relação de poder. E para tanto utilizam de manipulação, caricias, voyeurismo, exibicionismo, produção de fotos e o ato sexual com ou sem penetração, e ainda situações de exploração sexual 1 Psicóloga, Mestre em Psicologia Social PUC-SP, Doutoranda em Psicologia Clínica PUC-SP, Professora Assistente, UFMS. 2 Discente do curso de Psicologia, da UFMS. 3 Discente do curso de Psicologia, da UFMS. 4 Discente do curso de Psicologia, da UFMS.
2 2 visando obter lucros (Rodrigues, Bino e Willians, 2006; Inoue e Ristum, 2008; Paixão e Deslandes, 2010). Quando incestuoso, o abuso sexual é ainda mais difícil de ser revelado e enfrentado;quando ocorre fora das relações familiares, ou o abusador é uma pessoa estranha, a providência é imediata, sendo que na maioria das vezes esta consistem em na denuncia do agressor, dando confiabilidade ao relato da vítima. Essa conduta, porém, não ocorre quando o agressor é o pai biológico, padrasto, pai adotivo, tio,avô, irmão, onde na maioria dos casos o esforço da família concentra-se na manutenção de uma pretensa harmonia familiar que seria ameaçada pela revelação (Araujo, 2002). Não há estatística nacional sobre a violência sexual, o que se encontra são pesquisas realizadas em determinadas cidades, como a pesquisa realizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (2008) apontaque as maiores vítimas do abuso sexual são as crianças menores de 12 anos de idade. Elas representam 43% dos casos de violência sexual atendidos pelo Programa Bem-Me-Quer, do Hospital Pérola Byington.Foram notificados, nesse mesmo ano, 517 casos de abuso contra crianças de 12 a 17 anos e outros 563 com vítimas maiores de 18 anos. Seja qual for o número de abusos sexuais em crianças e adolescentes que se vê nas estatísticas, seja quantos milhares forem, devemos ter em mente que, de fato, esse número pode ser bem maior, a maioria desses casos não é reportada. Amendola (2004) afirma a partir de sua pesquisa que na maioria dos casos de abuso sexual infantil, o abusador era o pai da criança ou uma pessoa próxima e de confiança, sendo que dentre 50 abusadores, 71,5% eram pais biológicos e 11,1% eram padrastos, dificultado assim uma possível denuncia. O estudo mostra que as mães que tiveram seus filhos homens abusados, tem um temor de que eles se tornem homossexuais, e vêem isso como algo que deve ser curado, o que pode ser um fato que contribui para que um segredo familiar se mantenha, assim como o fato já citado anteriormente de a maioria dos abusadores serem os pais biológicos, os padrastos ou alguém de confiança. O fato da maioria dessas mães manter uma relação de dependência e passividade para com seu marido ou companheiroé um outro fator que contribui para que este segredo não seja revelado. Em muitos casos os adolescentes acabam por não denunciar o abuso por medo da família não acreditar, principalmente quando o abusador é alguém do seio familiar, e isso acaba influenciando ainda mais para a manutenção do segredo do abuso (Aded, 2006).
3 3 É a família quem tem a função de fazer com que os órgão públicos de proteção ao adolescente proteja as vítimas de violência sexual, porém em muitos casos o segredo fica guardado com a família e os adolescentesnãosão atendidos diante dos órgãos de proteção (Meyer, 2009). Mas este segredo que a família guarda sobre o abuso, pode fazer com que os abusadores sejam beneficiados, pois os órgãos de justiça entendem que quando o abuso realmente aconteceu ele é revelado logo. Porém o segredo existe porque fatores tanto externos, que são os aspectos abusivos, quanto os fatores internos, que são os psicológicos estão influenciando a vítima (Dobke, 2001). A partir de uma pesquisa realizada no ProgramaPró-jovem em um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) de uma cidade do estado de Mato Grosso do Sul, foi possível identificar,na fala dos jovens participantes, a vulnerabilidade que estes se encontram em relação a violência sexual e o sofrimento que esta acarreta. A pesquisa desenvolvida se configura em uma pesquisa ação ou pesquisa interventiva, que se realizou por meio de um grupo operativo. O grupo é centrado na tarefa e sua finalidade é aprender a pensar em termos de resoluções das dificuldades manifestadas no campo grupal (Osório, 1989, p. 111).Participaram deste grupo 23 jovens, com idades entre 15 a 17 anos, inscritos no programa Pró-jovem. Foram realizados oito encontros,com frequência semanal,entre os meses de Abril e Maio do ano de Tendo em vista que muitas vezes os participantes do Programa Pró-jovem se encontram em uma situação de vulnerabilidade social e pessoal ou convivem com outros adolescentes nesta situação, o objetivo do grupo era promover o debate sobre o protagonismo juvenil no enfrentamento da violência sexual. Repercusões psíquicas do abuso Em uma situação de violência sexual a criança ou o adolescente abusado é deposto do seu lugar de desejante e colocado como um objeto de um jogo perverso, que deixa marcas profundas no psiquismo desses sujeitos abusados. Tais marcas podem se tornar patogênicas, principalmente se o abuso for incestuoso, pois a criança vitima de abuso entra em uma ambivalência afetiva, que o ego pequeno e fragilizado pela situação da violência não pode suportar, na qual ela se encontra em uma fase em que desejam a ternura, mas o que lhe é imposto é mais amor ou um amor diferente do que é desejado. Podendo ainda tal incesto, curiosamente, ser usado pela criança como uma forma de se defender do conflito edípico. E mesmo quando o abuso não é caracterizado como
4 4 incestuoso, pode deixar marcas psíquicas profundas, além de uma imagem corporal dilacerada (Azevedo, 2001). Ainda segundo a mesma autora, quando o incesto ocorre por parte da mãe, é mais difícil de ser identificado, pois a mãe já estabelece naturalmente um contato mais intimo com o corpo da criança, e assim pode esconder esse contato incestuoso sob forma de cuidados maternos. Quando essa forma de incesto ocorre, dentre as marcas que podem ser deixadas, se tem o risco do desenvolvimento de uma psicose, já que há uma perda dos limites entre o que é o seu corpo e o corpo do outro, pois a mãe incestuosa com frequência não permite o nascimento da alteridade da criança, bloqueando seu processo de organização libidinal. No caso do abuso sexual contra adolescentes, o que ocorre é que a culpa a colocado nesse adolescente vitimado, inclusive por parte da própria família, colocandoo como quem provocou ou seduziu o outro para que o abuso ocorresse, e nos casos de abusos incestuosos, o adolescente ainda é colocado como o culpado pela desestruturação familiar causada pelo abuso, e o ego do adolescente não dá conta de suportar essa pressão e nem carga da violência que o abuso implica (Azevedo, 2001). Outras implicações do abuso sexual contra criança e adolescente, seja ele incestuoso ou não, conforme nos apresenta Azevedo (2001) é uma alteração da imagem corporal, reprodução do ato libidinoso com outros, formação de uma perversão, se não encontrada uma resposta por outra via para o abuso, de uma neurose grave ou até de uma psicose, como já foi descrito acima. Em nossa sociedade, foram se construindo representações sociais determinando a homens e mulheres lugares diferenciados, diferença marcada por relações de poder notadamente assimétricas. Esta assimetria é mantida muitas vezes, tendo a violência como instrumento e, mais especificadamente a violência sexual nas suas mais variadas manifestações (Schreiner, 2008). Durante a realização do grupo operativo alguns dos adolescentes participantes do Programa Pró-jovem relataram casos de abuso sexual contra meninos e meninas. Em um caso de abuso sexual de um menino por seu tio e, depois de um tempo, esse tio forçava esse menino a ter relações com outros homens para ganhar dinheiro. Neste caso o abuso incestuoso, parece ter sido a porta de entrada da exploração sexual do adolescente por parte da família.os jovens também relataram conhecer casos de meninas abusadas, mas parece haver, na fala dos jovens, uma diferença no modo como é visto e sofrido o abuso sexual masculino e o feminino.
5 5 Ao referir ao abuso sexual em meninos, estes são vistos como cúmplice do abusador: se o menino é abusado ele é bichinha, homens são mais fortes que meninas, foi ele que deixou o tio abusar. No caso do abuso sexual em meninos o agressor normalmente é um homem, o que faz com que os jovens relacionem essa suposta cumplicidade a um desejo homossexual. Já no caso das meninas, em que o abusador normalmente é do sexo oposto, há uma indignação e estas são vistas como vítimas: tem que matar um homem que abusa meninas, coitada. Essas diferenças parecem ter um papel importante no menor número de notificação nos casos de abuso sexual masculino, em relação ao número de notificações no caso de abuso sexual feminino. O estigma social associado ao abuso faz com que, muitas vezes, a criança ou adolescente abusada sexualmente sofra ao tornar público a violência que sofreu. Pesquisas realizadas apontam que há uma maior incidência as de violência sexual contra as meninas. De fato, parece que o abuso sexual cometido contra meninos é menos notificado do no caso das meninas, por outro lado as dificuldades que estes enfrentam na relevação podem fazer com aprevalência do abuso sexual no caso dos meninos seja tão grande quanto no caso das meninas. No caso da violência sexual contra meninos, o enfrentamento é prejudicado não apenas pelo pacto de silêncio da família, mas também por um pacto social perverso, em que o sofrimento da vítima é negado e, portanto, torna-se invisível. Referência Aded, N. L. O., Dalcin, B. L. G. S., Moraes, T. M. &Cavalcanti, M. T. (2006). Abuso Sexual em crianças e adolescentes: revisão de 100 anos de literatura. Revista Psiq. Clínica 33 (4), Amendola, M. F. (2004). Mães que choram. In: M. C. C. de A. Prado (Org.),O mosaico da violência: a perversão da vida cotidiana. São Paulo: Vetor. Araújo, M.F. (2002, julho/dez) Violência e Abuso Sexual na Família. Psicologia em Estudo, 7(2). Recuperado em 10 de março, 2012, dewww.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S &lng=pt&nrm=iso Azevedo, E. C de (2001). Atendimento psicanalítico a crianças e adolescentes vitimas de abuso sexual. Psicologia: ciência e profissão, 21(4), Brasília, dezembro.
6 6 Dobke, V. (2001). Abuso sexual: a inquirição das crianças - uma abordagem interdisciplinar. Porto Alegre: Ricardo Lenz. Governo do Estado de São Paulo.(2008). Recuperado em 15 de março, 2012, de Inoue, S. R. V. &Ristum, M. (2008). Violência sexual: caracterização e análise de casos revelados na escola, Revista Estudos de Psicologia, 25(1), Campinas, janeiro/março. Meyer, M.C. & Uziel, A. P. (2009) A criança, o sexo e a família: verdade e poder no abuso sexual infantil. In J. de A. M. Santos & L. F. Rios. (Orgs.), Violência sexual contra crianças e adolescentes - reflexões sobre condutas, posicionamentos e práticas de enfrentamento. Recife: Ed. Universiária da UFPE. Osório, L. C. (1989). Grupoterapia Hoje (2ª ed.). Porto Alegre: Artes medicas. Paixão, A. C. W. & Deslandes, S. F. (2010).Análise das políticas públicas de enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil, Revista Saúde e Sociedade, 19(1), São Paulo, janeiro e março. Rodrigues, J. L.; Brino, R. F. & Williams, L. C. (2006). Concepções de sexualidade entre adolescentes com e sem histórico de violência sexual, Revista Paidéia, 16(34), Ribeirão Preto, maio/agosto. Schreiner, M. T. (2008). O abuso sexual numa perspectiva de gênero: o processo de responsabilização da vítima. Fazendo Gênero 8 Corpo, Violência e Poder. (pp ).
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