DIFICULDADES DA COMUNICAÇÃO NA EAD: DESAFIOS DA PEDAGOGIA DIALÓGICA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA

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1 IV Jornada de Didática III Seminário de Pesquisa do CEMAD 18, 19 e 20 de outubro de 2016 ISBN DIFICULDADES DA COMUNICAÇÃO NA EAD: DESAFIOS DA PEDAGOGIA DIALÓGICA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA Roger A. Bressianini de Almeida 1 Paulo Sérgio Negri 2 Resumo Analisar os desafios impostos pelos paradigmas estabelecidos no atual modelo de ensino a distância, as novas possibilidades, bem como os obstáculos incutidos pela intermediação das novas tecnologias da informação e da comunicação. A partir do conceito de paradigma proposto por Thomas Kuhn, e dos estudos sociológicos de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron sobre a comunicação pedagógica, o trabalho objetiva identificar as possibilidades e os limites da utilização pedagógica das tecnologias no ensino a distância. Em um ambiente amplamente dominado pelas políticas educacionais de orientação neoliberal, e dado o rápido crescimento das instituições privadas que oferecem cursos a distância, é necessário repensar o modelo a fim de garantir a qualidade de ensino e a consequente formação de indivíduos capacitados nos aspectos sociais, políticos e profissionais. Palavras-chave: Educação a distância; Comunicação pedagógica; Tecnologias; Ambiente Virtual de Aprendizagem. Introdução As recentes tecnologias de informação e comunicação principalmente após a difusão do acesso à internet, mesmo nas camadas sociais mais pobres utilizadas atualmente no modelo de educação a distância (EAD) no Brasil suscitam importantes questionamentos a respeito de suas possibilidades e limites. A transmissão do conhecimento e a construção de uma relação interativa e dialógica 1 Graduado em Comunicação Social Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) - PR. rogerbressianini88@gmail.com 2 Mestre em Ciências Sociais pela UEL, docente do do Curso de Especialização em Metodologia da Ação Docente-Cemad (UEL). setenegri@hotmail.com 1119

2 nos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) configuram um problema para os docentes e alunos, já culturalmente acostumados ao modelo de ensino presencial. Antes mesmo do final da década de 1960, o filósofo, teórico da comunicação e educador canadense Marshall McLuhann já alertava para a influência exercida pelos meios transmissão das mensagens sobre as próprias mensagens transmitidas. De acordo com o autor a mensagem de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio introduz nas coisas humanas. A estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na sociedade humana, mas acelerou e ampliou a escala das funções humanas anteriores, criando tipos de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos (MCLUHAN, 2007, p. 22). O advento da internet, e a consequente possibilidade até então revolucionária de compartilhamento de informações em rede, representa um importante marco para o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas voltadas para fins pedagógicos. Direcionando a discussão para o campo da educação superior, que demanda formação integral do indivíduo, contemplando questões sociais, políticas e humanísticas, além da preparação para a pesquisa e para a formação técnica e profissional, é possível observar a constituição de um cenário bastante modificado em relação ao período anterior à difusão da internet. Ainda nessa perspectiva, a introdução do investimento estrangeiro e da influência de organismos internacionais do capital como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), especialmente a partir da década de 1990, também ajudaram a transformar o cenário da educação superior no Brasil. Com as políticas educacionais de orientação neoliberal, o número de instituições privadas de ensino sofreram aumento expressivo, acarretando um inchaço no número de vagas oferecidas que, consequentemente, alterou sistematicamente o mercado de trabalho. Essas características resumidamente citadas, configuraram um terreno fértil para o surgimento e a expansão de um modelo de educação que estabeleceu seus próprios paradigmas. O próprio consenso ou paradigma do modelo tradicional de transmissão de mensagem já estudado por McLuhan, em que um emissor transfere uma informação a um receptor passivo diante do processo, já suscita uma série de questionamentos a respeito da eficiência do ato educacional. A construção dialógica do conhecimento e a interação fundamental para o 1120

3 desenvolvimento de relações pedagogicamente construtivas é, por vezes, prejudicada pelo intermédio de tecnologias inadequadas e/ou mal utilizadas. Os sociólogos Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron (Laurens, 2009, p.5 apud BOURDIEU; PASSERON, 1966), por exemplo, já na década de 1960, alertavam para os problemas existentes na comunicação entre professor e aluno no ensino presencial, e as consequências dessas falhas no processo comunicativo e de ensino e aprendizagem. Contrariando a ideia consensual sobre a ação do professor, os dois estudiosos propuseram que a comunicação pedagógica se dá com baixa eficiência, ou seja, existe um grande desperdício de tempo no processo de transmissão de informações. Ainda de acordo com Bourdieu e Passeron, o prestígio e o status do professor, aliados à teatralização da ação pedagógica, escondem esses defeitos no processo de ensino. É possível dizer, segundo os autores, que a situação pedagógica é, então, uma comunicação de baixo rendimento e legitimada por uma série de costumes e valores socioculturais. Metodologia Como propõem Doxsey e De Riz ( , p. 25), o objetivo geral da pesquisa esclarece o que se pretende alcançar com determinada investigação. Desse modo, a pesquisa será de caráter exploratório, de modo a abordar o fenômeno estudado pelo levantamento de informações. Já com relação ao tipo de abordagem, será qualitativa-quantitativa Na coleta de dados, será utilizado o método de entrevista com os docentes e questionário misto (questões abertas e fechadas) para os alunos da EAD. Segundo Gil (2008, p. 121), respeitando as premissas básicas da ética na pesquisa com seres humanos. Pode-se definir questionário como a técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoa com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento presente ou passado etc. Os sujeitos participantes da pesquisa serão os alunos do Curso de Pósgraduação em Tecnologia de Informática na Educação do Núcleo de Educação a Distância (NEAD) da UEL, além de docentes envolvidos na prática pedagógica do 1121

4 mesmo órgão. Os dados de entrevistas deverão ser coletados durante os meses de fevereiro e março de A análise de conteúdo, enquanto técnica de pesquisa, tem características metodológicas bastante definidas: a sistematização, além da objetividade e da inferência. Desse modo, pretende-se analisar os dados coletados por meio de entrevistas, questionário misto e levantamento bibliográfico, a fim de inferir as principais características do modelo atual de EAD, para que seja possível uma melhor compreensão das demandas dos alunos, bem como da ação e da prática docente nesse seguimento. Referencial Teórico Para tomar conhecimento das raízes do problema, além das modificações necessárias para romper as limitações do paradigma da comunicação tradicional na EAD, é importante investigar o que configura um paradigma e quais suas consequências sociais. A noção filosófica de paradigma, segundo Thomas Kuhn [...] de um lado indica toda a constelação de crenças, valores, técnicas, etc., partilhadas pelos membros de uma comunidade determinada. De outro, denota um tipo de elemento dessa constelação: as soluções concretas de quebra-cabeças que, empregadas como modelos ou exemplos, podem substituir regras explícitas como base para a solução dos restantes quebra-cabeças da ciência normal (KUHN, 1962, p. 218 apud MARCONDES, 2005, p. 15). Ainda segundo Kuhn (2000, p. 30), paradigmas são realizações que, assim como a Óptica de Newton e a Elétrica de Franklin, servem por algum tempo para definir implicitamente os problemas e métodos de um determinado campo de pesquisa científica. Essa obras citadas alcançaram o status de paradigma por basicamente dois motivos: eram suficientemente sem precedentes para atrair um grupo considerável e consistente de partidários, mas, ao mesmo tempo, abertas o bastante para deixarem uma vasta quantidade de problemas a serem resolvidos. Os paradigmas, portanto, podem ser vistos como elementos de função normativa, pois, na análise de Kuhn (2000, p. 35) na ausência de um paradigma, todos os fatos que possivelmente são pertinentes ao desenvolvimento de determinada ciência têm a probabilidade de parecerem relevantes. Ainda assim, os 1122

5 paradigmas não estão imunes às crises que podem acometê-los em determinados períodos, visto que são dotados de mecanismos de autocorreção, ou seja, são capazes de reorientar e reorganizar um novo sistema de pensamento a partir daquele já visto e ultrapassado. Por esses caminhos, torna-se viável a formação de um professor social e politicamente ativo, afastado da concepção positivista que vê nesse profissional uma função basicamente instrumental, voltada apenas para a aplicação de técnicas e teorias que solucionem problemas (GÓMEZ, 1997, p. 96). Com um profissional voltado para a formação construtiva do ser humano em todas as suas potencialidades, é possível resolver problemas inerentes ao processo educacional a distância. Entender as novas ferramentas tecnológicas e fazer o uso correto delas é somente o primeiro passo dado no sentido do desenvolvimento desse modelo de ensino. O estudioso da comunicação e da educação Marshall McLuhann propõe, por sua vez, que o impacto de um meio de transmissão de mensagens reside mais no que sua tecnologia induz do que propriamente naquilo que é veiculado por ele (McLUHAN apud LAURENS, p. 8, 2009). A ideia de que o meio é a mensagem implica reflexão cuidadosa sobre os tipos de ferramentas tecnológicas utilizadas em processos pedagógicos de formação acadêmica e profissional. Assim, os diversos recursos utilizados na EAD, como vídeo-aulas, videoconferências, fóruns e o próprio AVA como um todo precisam ser compreendidos a partir do entendimento de seus próprios usuários, levando em consideração a formação tradicionalmente presencial a que tiverem contato durante a vida. Nota-se também que o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) configura um espaço em que os alunos muitas vezes sentem dificuldade em dialogar com o docente, evitando a prática dialógica, o questionamento reflexivo e a participação ativa no processo de ensino. Isso constitui, em um primeiro momento, um obstáculo que deve ser compreendido e superado. Referências DOXSEY J. R.; DE RIZ, J. Metodologia da pesquisa científica. ESAB Escola Superior Aberta do Brasil, Apostila. 1123

6 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, GÓMEZ, Angel Pérez. O pensamento prático do professor: a formação do professor como profissional reflexivo. In: NÓVOA, António. Coord. Os professores e sua formação. Lisboa: Horizontes Pedagógicos, KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 5 a ed. São Paulo: Perspectiva, LAURENS, Jean-Paul. Comunicação e educação: algumas considerações sociológicas. Revista Famecos, Porto Alegre, 2009, v. 40 pp Dezembro MARCONDES, Danilo. A crise de paradigmas e o surgimento da modernidade. In: BRANDÃO, Zaia (org.). A crise dos paradigmas e a educação. 9 ed. São Paulo: Cortez, MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo, Cultrix,