O USO DAS PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS, PARA REFLEXÃO SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE EM SALA DE AULA.
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1 O USO DAS PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS, PARA REFLEXÃO SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE EM SALA DE AULA. Autor: Diego de Lima Santos Silva Coautor: Leandro R. de. S. Azevedo Coautor: Jaécio de Lima Alves Júnior Coautora: Caline Dantas da Silva RESUMO: Pretendemos com este artigo apresentar uma reflexão sobre a temática Diversidade, Gênero e Sexualidade com o intuito principal de analisar novas formas de difusão do conhecimento sob as perspectivas políticas pedagógicas, e como estas estão sendo aplicadas na educação e procuramos fazer abordagem do elo que pode ser construído através da conscientização e da mídia fazendo menção para as definições dos termos gênero e sexualidade, elencando as diferenças entre identidade de gênero e sexual, assim como discorrer sobre as regras de comportamento decorrentes desses valores. Palavras-chave: Gênero, Sexualidade, Mídia, Políticas Educacionais, Diversidade A escola se apresenta no cenário de busca por definições dos termos de gênero e de sexualidade, como ferramenta para possibilitar o pensamento crítico a partir da compreensão da multiplicidade, além das diferenças corporais e sexuais que se criou através da cultura na sociedade contemporânea. O espaço escolar possui um papel fundamental na desmistificação das diferenças existentes, além de ser o local propício para construção de valores e atitudes, que permitam um olhar humanista e reflexivo sobre as identidades de gênero e sexualidade. Sem dúvidas a escola deve incorporar o debate das questões de gênero, fazendo leituras críticas dos livros didáticos, refletindo sobre a prática escolar na perspectiva de gênero, desenvolvendo trabalhos que abordem a sexualidade e a homossexualidade ou ainda promovendo mesa redonda para análise de diversos textos sexistas e preconceituosos. Desde os primórdios os rótulos discriminatório sempre existiram, não somente para pessoas de relações homoafetivas entre homens, mas também para entre as mulheres. A comunidade LGBT também é alvo de agressões físicas e verbais. Pessoas desprovidas de 1
2 conhecimento associam a opção sexual a algo errado. Desta maneira, partindo de conceitos primitivos, que ressaltam os privilégios de um sexo sobre outro, ajudando na construção da identidade sexual, dita como correta definindo os termos homem e mulher, até as crianças, antes mesmo de frequentar o espaço escolar, são induzidas a possuir atitudes preconceituosas. O conceito de diversidade de gênero, que pretendemos enfatizar, está intrinsicamente ligado à história dos movimentos feminista e LGBT. Movimentos sociais que foram difundidos no início do século XIX, embora desde sempre houvesse a luta pela igualdade e pela mudança de valores, de atitudes e comportamentos humanos, visando o respeito às diversidades de gêneros. Considerando Nunes (2005), podemos entender que gênero e sexualidade caminham como sendo um conjunto de descobertas e a escola deve ser o caminho para o respeito à pluralidade que nos cerca, uma vez que a educação deve ser encarada como ferramenta propagação da igualdade: Em uma visão geral, sexualidade é definida como um conjunto de descobertas, crenças, práticas, escolhas, fantasias, e experiências relacionadas ao ato sexual construído ao longo da vida dos indivíduos. Este se encontra recoberto por valores morais, que são determinados por comportamentos e costumes sociais que dizem respeito ao coletivo (NUNES, 2005). Com o advento da mídia informativa, acentuam-se o debate entre as diferenças e igualdades entre homens e mulheres; assim, o movimento feminista e LGBT ganham características de práticas de ações políticas organizadas e sérias. Em quase todos os casos de preconceito, ele ocorre devido a conceitos mal formulados na mente dos indivíduos, estes se tornam robôs reprodutores de ideias homofóbicas e as provas dessa influência são, por exemplo, as piadas preconceituosas a respeito de mulheres e homossexuais, os quais são submetidos a inúmeros tipos de constrangimentos. A homofobia persiste porque os que não conhecem o conceito de sexualidade insistem em propagar ideias sem fundamentos científicos e/ou sociológicos, pois já foi provado que a homossexualidade não se trata de opção sexual, mas sim de orientação, ou seja, ninguém decide ser homossexual: 2
3 "As identidades flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas. Há uma grande probabilidade de desentendimento, e o resultado da negociação permanece eternamente pendente" (BAUMAN, 2005, p.19). Bauman discorre sobre o valor do pertencimento na sociedade atual. Existe uma necessidade de refletir que o indivíduo é único e, por si só, tem a capacidade de reconhecer o que há dentro de si. Portanto, embora não tenha a função de induzir a nenhuma opção no que diz respeito a escolha de gênero, a escola deve exercer a função de educar para o respeito. Bauman afirma ainda que o indivíduo é capaz de absorver as identidades que o cerca e desta maneira adequar-se àquela que lhe apraz, embora que ainda haja a distinção de homem e mulher imposta pela sociedade primitiva que busca a todo custo impor o conceito que lhe foi ensinado. Cabe à instituição de ensino trazer a tona esta reflexão mostrando que, mesmo sendo singulares, estamos inseridos em uma sociedade plural, cabendo a cada um respeitar as diferenças existentes. Faz-se necessário a escola acender o diálogo com os discentes, conscientizando-os para a construção de um mundo mais igualitário. Desta maneira, ao lermos Edições intitulada, Reflexões sobre Diversidade e Gênero (Brasil 2015), elaborado pela Câmara dos Deputados, temos uma ferramenta simples, porém coesa e concreta que pode servir de amparo para o diálogo em sala de aula, uma vez que a edição tem em sua formação uma leitura simples, entretanto muito rica de informações. Segundo Friedrich, compreender o conceito de gênero viabiliza ao indivíduo identificar atribuições definidas como tarefas de homem e tarefa de mulher. Essas definições interferem em regras de funcionamento das instituições, tais como escolas, empresas, hospitais. A análise destas questões possibilita fazermos uma autocrítica do como a sociedade está lutando frente a essa temática, possibilitando uma maior clareza dos processos a que estão submetidas às relações individuais e coletivas entre homens e mulheres. Vale ressaltar esta distinção de conceitos para que cada pessoa compreenda o outro e perceba que desejos e convicções diferentes dos demais vai além de fenômenos meramente 3
4 biológicos. Podemos constatar que ocorrem mudanças na definição do que é ser homem ou mulher. Na gramática, gênero designa o meio de classificar fenômenos, fazer diferenças entre masculino e feminino, contudo, numa perspectiva acadêmica, o termo abrange a importância dos grupos humanos e os simbolismos de cada época. Para uma melhor compreensão sobre as definições de identidade de gênero e identidade sexual, é importante apreendermos o que se pensa sobre identidade. Quando nos referimos à identidade, destacamos um conjunto de aspectos individuais que caracteriza o individuo, ou seja, este conceito está ligado a forma como o indivíduo se percebe, podendo este modificar-se ao longo da sua vida devido às suas transformações pessoais. Podemos citar o psicólogo John Money ( ), o qual nos diz que definição de gênero vai além do sexo como marca genital englobando o ser masculino e feminino. Para ele, a criança aprenderia a ser menino ou menina como aprendia a falar. A natureza faria apenas a criação e a sociedade estabeleceria as normas, ou seja, ele inverte o sinal sexual, e estampa no corpo de meninos a noção de que não se nasce homem (TORRES, 2010). A identidade sexual é construída com base na formação da identidade do indivíduo, visto que esta se organiza na percepção individual sobre o próprio sexo. Evidenciado o papel de gênero assumido nos atos sexuais, essa orientação erótica espontânea vem sendo desconstruída ao longo do tempo. Retomando a fala de Bauman, o ser começa a identificar-se com aquele que lhe atrai. Embora este seja o igual, a força que rege os desejos é psicológica e não pode ser interrompida. A construção das identidades deve ser apoiada e respeitada. É comum confundir sexo e gênero, e, por isso, é importante apresentar os dois conceitos. As diferenças de sexo são as distinções biológicas dos corpos de mulheres e homens, as diferenças físicas. O conceito de gênero está ligado à construção social de ser mulher ou homem, ao feminino e ao masculino. O sexo refere-se às diferenças biológicas, e o gênero, aos papéis sociais de mulheres e homens no dia a dia. Reflexões sobre Diversidade e Gênero (Brasil 2015, pag.18). Freire (1996, p.43) afirma que é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. Inovar as formas de divulgar o respeito é uma forma de estimular o pensamento crítico e, com a constante evolução dos inúmeros 4
5 meios midiáticos, de termos e de designações, foram formuladas novas formas de vidas; houve quebra de paradigmas e rompimento de estereótipos, Conforme Franco (2005, p. 35), a influência das mídias (dentre elas, podemos destacar o cinema/filme) na formação da personalidade de crianças e adolescentes ocupa, hoje, mais espaço escolar e exerce o papel de agente que interfere na sociedade ao ditar valores, costumes, linguagem e tantos outros elementos. Assim, as mídias podem ser instrumentos a serviço da educação, pois as mídias audiovisuais, sejam elas tradicionais ou interativas, têm um papel fundamental como veículos catalizadores para a construção de conhecimento (Idem). Assim sendo, as escolas que dispõem de recursos tecnológicos podem fazer destas ferramentas canais de informação e de conscientização deixando as aulas mais eficazes, levando conhecimento e aprendizado aliado a nova práticas pedagógicas. Segundo a cartilha Reflexões sobre diversidade e Gênero, é importante explicar as designações de cada termo, para que haja uma compreensão e consequentemente o preconceito vá diminuindo. Sabemos, porém, que muitas pessoas, por inúmeras questões, não se identificam com seu sexo biológico e quando estes (as) optam por cirurgia de redesignação sexual, tornam-se alvo de inúmeras críticas e enorme preconceito, mostrando assim que a sociedade ainda não está aberta a novos diálogos sobre a aceitação de seu corpo. O homem ou a mulher não são obrigados a conviver comum sexo dos quais não tenham apreço, caso estas pessoas sejam forçadas a conviver com órgãos sexuais distintos da forma de pensar em sua mente, teremos pessoas aprisionadas em si mesmo. Podemos citar as lutas feministas, quando atentamos para Simone Beauvoir (1980) onde a mesma afirma que não se nasce mulher, torna-se mulher na obra O segundo Sexo, publicada em Esta citação faz lembrar a criação cultural do masculino e do feminino, pois estes comportamentos são aprendidos no processo de socialização que dá a cada sexo uma atribuição de funções sociais diferentes e específicas. Desta forma, a mulher que colocar-se para executar tarefas denominadas masculinas, pode ser alvo de piadinhas e atitudes grosseiras. Faz-se necessário haver uma ampliação das informações. É preciso que haja uma difusão nas informações que visem o respeito e a igualdade. Podemos então usar as mídias 5
6 disponíveis para conscientizar os que têm apatia por pessoas que se submeteram ao procedimento cirúrgico. Deste modo, o filme A Garota Dinamarquesa (2015), do diretor Tom Hooper, serve como ferramenta para este feito. A produção cinematográfica aborda a história de Einar Wegener (Redmayne), um renomado pintor, casado, que reside Copenhagen na década de 1920, junto da sua cônjuge Gerda (Alicia Vikander). O Filme narra a história de Einar, que foi o primeiro homem a realizar a cirurgia de mudança de sexo, fato esse que o torna um ícone pioneiro para os transgêneros. As produções cinematográficas, como esta, podem auxiliar na quebra de tabus, na construção do respeito voltado para aceitação e valores. Sexualidade pode ser entendida como o sentido de condutas, baseia-se na formação da identidade, onde o indivíduo se adequa aos padrões que lhe fazem bem; além disso, a sexualidade é uma grande fonte de pesquisa da sociedade atual. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) a sexualidade é concebida como um componente natural, algo necessário e fonte de prazer na vida; uma necessidade básica; uma potencialidade erótica do corpo; além de ser impulso de desejo vivido no corpo. A formação integral do indivíduo proporciona uma reflexão crítica do cidadão quanto à construção de sua sexualidade, onde busca novas concepções sobre o ser homem e o ser mulher, de ser gay, ser lésbicas, ser travesti ser transexual, ser travesti etc. O espaço escolar é o caminho certo para a conscientização de que o ser humano é aquilo que ele deseja ser, sem necessidade de rótulos: Os PCN s são constituídos por um conjunto de propostas educativas, que visam [...] apontar as metas de qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres. (Maia 2004, p. 164 ). Os PCN s, são documentos com novas propostas curriculares para educação brasileira, neles estão contidos os temas que podem ser inseridos no cotidiano escolar, sendo alguns temas presentes na vida cotidiana, que visam informações necessárias sobre cidadania e sexualidade, por exemplo. Não atentar para essa crescente necessidade, de formação e conscientização dos educandos, é fazer com que a escola perca um de seus principais papeis que é promover a formação critica e humanista dos cidadãos: 6
7 O sexo pode ser entendido como [...] marca biológica, a caracterização genital e natural, constituída a partir da aquisição evolutiva da espécie humana como animal [...] (NUNES; SILVA 2000, p.74). Os PCN s levam a instituição educacional a refletir, sobre seu currículo pedagógico, e sobre as necessidades da escola fazer o diálogo com a comunidade escolar, buscando criar a consciência e o respeito mútuo pelas diferenças existentes. Além de propor a adequação de práticas pedagógicas, a essas temáticas amplia a visão dos educandos sobre assuntos ainda alvos de crítica e preconceito. Portanto as políticas públicas educacionais devem ter um olhar voltado para as relações de gênero e diversidade, visando contribuir com a prática docente para a desmistificação de diferenças e preconceitos em relação ao sexo. Analisamos que a mídia permite a facilidade de encontrar meios de levar os alunos a uma reflexão aprofundada sobre o respeito que devemos ter com o próximo. Assim, o Livro Reflexões sobre Diversidade e Gênero e a produção cinematográfica A Garota Dinamarquesa, podem ser fontes para esse pressuposto. Enquanto este retrata a história do primeiro caso de cirurgia de mudança de sexo, aquele faz uma reflexão sobre diversidade de gêneros, além de trazer uma linguagem simples ao discorrer sobre a temática. Assim sendo, a escola entra neste cenário como formadora de consciência, aliado ao livro e ao filme, pode trazer um debate enriquecedor sobre a difusão da conscientização do respeito às diferenças. Portanto, essas questões de Gênero, Identidades e Sexualidade devem sim fazer parte do conteúdos escolares, estes devem ser transmitidos de forma inovadora, para que assim haja uma maior e autêntica aceitação e compreensão dos temas propostos. É preciso ter um olhar pedagógico voltado para a importância desse debate, que, claro, nem sempre será bem aceito e em determinados momentos pode ser que haja críticas, porém é preciso uma atitude firme e corajosa. 7
8 REFERÊNCIAS ANDRADE, Sandra dos Santos. Mídia, corpo e educação: a ditadura do corpo perfeito. In: Meyer, Dagmar Estermann & Soares Rosangela de Fatima Rodrigues (org.). Corpo, gênero e sexualidade. Porto Alegre: Mediação, CASTRO, G, LETÍCIA. São Luís. Relações de Gênero e Sexualidade. 04 de Novembro de Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão UFMA FRANCO, M. Você sabe o que foi o I.N.C.E.? In: SETTON, M. da G. J. (org.) A Cultura da mídia na escola: ensaios sobre cinema e educação. São Paulo: Annablume: USP, NUNES, Cesar Aparecido. Desvendando a sexualidade. 7ª ed. Campinas/SP. Papirus, ; SILVA, Edna. A educação sexual da criança: polêmicas do nosso tempo. Campinas, SP: Autores associados, SCOTT, Joan W. Only Paradoxes to Offer: French Feminists and the Rights of Man. Cambridge, MA: Harvard University Press, [Versão em português: SCOTT, Joan W. A cidadã paradoxal: as feministas francesas e os direitos do homem. Trad. Élvio A. Funck. Florianópolis: Editora Mulheres, 2002.] 8
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