PARECER FUNDAMENTADO DE UM PARLAMENTO NACIONAL SOBRE A SUBSIDIARIEDADE

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1 Parlamento Europeu Comissão dos Assuntos Jurídicos PARECER FUNDAMENTADO DE UM PARLAMENTO NACIONAL SOBRE A SUBSIDIARIEDADE Assunto: Parecer fundamentado do Senado da República Checa sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que estabelece os critérios e mecanismos de determinação do Estado-Membro responsável pela análise de um pedido de proteção internacional apresentado num dos Estados-Membros por um nacional de um país terceiro ou um apátrida (reformulação) (COM(2016)0270 C8-0173/ /0133(COD)) Nos termos do artigo 6.º do Protocolo n.º 2 relativo à aplicação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade, qualquer Parlamento nacional pode, no prazo de oito semanas a contar da data de envio de um projeto de ato legislativo, dirigir aos presidentes do Parlamento Europeu, do Conselho e da Comissão um parecer fundamentado em que exponha as razões pelas quais considera que o projeto em questão não obedece ao princípio da subsidiariedade. O Senado do Parlamento da República Checa procedeu ao envio do parecer fundamentado em anexo sobre a proposta de regulamento em epígrafe. Segundo o Regimento do Parlamento Europeu, a comissão competente em matéria de observância do princípio da subsidiariedade é a Comissão dos Assuntos Jurídicos. NP\ docx PE v01-00 Unida na diversidade

2 ANEXO SENADO PARLAMENTO DA REPÚBLICA CHECA 10.ª LEGISLATURA 546.ª RESOLUÇÃO DO SENADO adotada na sua 28.ª Sessão realizada em 19 de outubro de 2016, sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que estabelece os critérios e mecanismos de determinação do Estado-Membro responsável pela análise de um pedido de proteção internacional apresentado num dos Estados-Membros por um nacional de um país terceiro ou um apátrida (reformulação) /Comunicado de imprensa do Senado n.º N 89/10/ O Senado I. 1. Tomou conhecimento da proposta de regulamento e saúda os esforços da Comissão para melhorar o funcionamento do sistema de Dublim; 2. Não encontrou, no entanto, qualquer motivo para alterar a sua anterior posição negativa sobre a introdução de mecanismos de recolocação permanente para os Estados-Membros e para as pessoas afetadas; 3. Concorda com a posição assumida pelo Governo e exorta o Governo a opor-se à adoção do regulamento no Conselho e no Conselho Europeu se o documento contiver o mecanismo corretivo da repartição proposto e a chamada «contribuição de solidariedade»; 4. Insta ainda o Governo a continuar fortemente envolvido na prestação de assistência financeira, material, técnica e de pessoal aos sistemas de asilo dos Estados-Membros expostos a fortes pressões migratórias e a promover e apoiar a adoção e execução de medidas que possam dar um verdadeiro contributo para a resolução da crise, em particular através do reforço dos controlos nas fronteiras externas da UE, da gestão dos centros de acolhimento (centros de registo), de uma cooperação mais estreita com os países terceiros e da prestação de ajuda humanitária em regiões problemáticas; 5. Conclui que a proposta de regulamento tendo em conta a criação do mecanismo corretivo da repartição e da chamada «contribuição de solidariedade» não é coerente com o princípio da subsidiariedade consagrado no artigo 5.º, n.º 3, do Tratado da União Europeia pelas razões explicadas na parte II, n. os 1 a 4; 6. Por conseguinte, em conformidade com o artigo 6.º do Protocolo relativo à aplicação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade anexo aos Tratados, elaborou o presente parecer fundamentado relativo à incompatibilidade da proposta de diretiva em questão com o princípio da subsidiariedade; II. 1. Considera que a criação do mecanismo corretivo da repartição não tem quaisquer vantagens reais em comparação com as capacidades de negociação existentes dos Estados-Membros, PE v /5 NP\ docx

3 nem leva à realização dos objetivos declarados, pelo que não é cumprido o requisito de a União atuar apenas se os objetivos da ação proposta não puderem ser alcançados de forma suficiente pelos Estados-Membros mas puderem ser melhor alcançados a nível da União, pelos seguintes motivos: a UE já dispõe de instrumentos que lhe permitem superar uma pressão desproporcionada sobre um ou mais Estados-Membros, em particular o artigo 78.º, n.º 3 do TFUE segundo o qual, no caso de um ou mais Estados-Membros serem confrontados com uma situação de emergência, caracterizada por um súbito fluxo de nacionais de países terceiros, o Conselho pode adotar medidas provisórias a favor desse ou desses Estados-Membros e o artigo 78.º, n.º 2, alínea c), do TFUE que prevê a adoção um sistema comum que vise, em caso de afluxo maciço, a proteção temporária das pessoas deslocadas (Diretiva 2001/55/CE relativa à proteção temporária); os instrumentos acima referidos permitem dar uma resposta flexível a situações de crise; no entanto, até ao momento, a Comissão tem utilizado esses instrumentos apenas no âmbito de propostas para os Estados-Membros e para as pessoas afetadas de recolocação obrigatória de requerentes de proteção internacional; pelo contrário, o mecanismo corretivo automático proposto torna impossível ter em consideração a situação imediata e as capacidades de cada um dos Estados-Membros em matéria de infraestruturas; dados os seus parâmetros, a proposta não resolve o problema da pressão desproporcionada, conduzindo antes a uma redistribuição permanente de requerentes de proteção internacional entre os Estados-Membros, sem critérios claros para determinar qual o Estado-Membro onde um requerente de proteção internacional deve ser recolocado e sem ter em consideração a vontade desses requerentes; 2. Considera que a proposta é contrária ao artigo 5.º do Protocolo relativo à aplicação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade e não contém uma declaração pormenorizada que permita avaliar a conformidade com os princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade, nomeadamente no que diz respeito à chamada «contribuição de solidariedade», cujo montante não é justificado, de nenhuma forma, na proposta e não tem uma finalidade específica definida; 3. Continua convencido de que, em conformidade com o princípio da subsidiariedade, é imperativo que a recolocação dos requerentes de proteção internacional seja objeto de uma decisão política de cada Estado-Membro, dado que é este último que será responsável pela continuação da permanência dessas pessoas no respetivo território, tanto no que respeita à prestação de assistência médica ou outra, como no que respeita à sua integração social, económica e cultural, e também em termos de manutenção da segurança pública; é imperativo que as autoridades de um Estado-Membro também assumam a responsabilidade política pelo eventual fracasso nesta tarefa e que os cidadãos de um Estado-Membro possam conseguir uma alteração da política governamental, o que seria impossível no caso de ser criado um mecanismo automático de recolocação; 4. Considera que as pessoas que tenham sido involuntariamente recolocadas não estarão motivadas para a integração nas sociedades do país para onde foram transferidas e tentarão seguir para os Estados-Membros para onde teriam ido por sua vontade e nos quais não podem ser impedidos de entrar durante muito tempo; esta situação faz aumentar substancialmente os riscos de segurança associados à residência destas pessoas; NP\ docx 3/5 PE v01-00

4 5. Por conseguinte, seria favorável a um exame mais aprofundado sobre um conjunto mais amplo de alternativas ao atual sistema de Dublim; 6. Concorda, além disso, com o Governo quanto ao imperativo de assegurar a interligação da proposta com outros atos legislativos da UE no domínio da política de asilo, pelo que examinará cuidadosamente as propostas apresentadas pela Comissão em julho; 7. Apoia os elementos da proposta que visam o estabelecimento de regras claras para os requerentes de proteção internacional, tais como: a obrigação de permanecer no Estado-Membro responsável pelo tratamento do pedido; o reforço dos direitos dos menores não acompanhados; a prioridade ao regresso automático das pessoas que entraram em território da UE provenientes dos primeiros países de asilo, de países terceiros seguros ou de países de origem seguros; a criação de um sistema de registo de pedidos de asilo, uma vez que existe a necessidade de reunir e partilhar informações fiáveis no domínio da política de asilo; a abolição das chamadas «disposições relativas à cessação» que tornam possível efetuar alterações adicionais no que respeita ao país responsável pelo tratamento do pedido de asilo; o desenvolvimento de esforços no sentido de evitar que os requerentes de asilo façam viagens secundárias na União Europeia, nomeadamente criando a obrigação de voltar a aceitar as pessoas caso lhes tenha sido concedida proteção internacional e sempre que estejam ilegalmente presentes noutro Estado-Membro; 8. Tem dúvidas, contudo, relativamente a outros elementos da proposta: a redução dos prazos estabelecidos no regulamento poderia acelerar o processo de tomada de decisão mas também pode pôr em causa os limites de capacidade dos Estados-Membros; ao mesmo tempo, a proposta não se debruça sobre as consequências do termo dos prazos; é inadequado restringir o direito de um país de assumir a responsabilidade pelo tratamento de um pedido de asilo por razões humanitárias, já que, na sua essência, este é um elemento de solidariedade voluntária; certas restrições dos direitos dos requerentes de proteção internacional podem colidir com as obrigações constitucionais e internacionais dos Estados-Membros: por exemplo, a proibição de prestar qualquer assistência material, exceto cuidados de saúde indispensáveis, aos requerentes de proteção internacional localizados fora do Estado-Membro onde os seus pedidos estão a ser tratados poderia ser problemática se essa pessoa não fosse acolhida de imediato pelas autoridades do Estado-Membro competente; as sanções contra os requerentes de proteção internacional não cooperantes que consistem numa maior probabilidade de recusa dos seus pedidos de asilo pelo Estado em questão poderiam ser contraproducentes, uma vez que poderiam levar à PE v /5 NP\ docx

5 concentração nos Estados-Membros de pessoas que ainda não tenham obtido proteção internacional mas também não podem ser repatriadas para nenhum outro lugar; III. 1. Pede ao Governo que informe o Senado sobre o modo como esta posição foi tida em conta e sobre a futura evolução das negociações; 2. Autoriza o Presidente do Senado a transmitir o presente parecer fundamentado aos presidentes da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu e do Conselho. (assinatura) Milan Štěch, Presidente do Senado (assinatura) Zdeněk Papoušek, Verificador do Senado NP\ docx 5/5 PE v01-00