COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS

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1 PARLAMENTO EUROPEU Comissão dos Assuntos Jurídicos COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS (50/2011) Assunto: Parecer fundamentado do Senado da República Italiana sobre a Proposta de Regulamento do Conselho relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria de efeitos patrimoniais das parcerias registadas (COM(2011)0127 C7-0094/ /0060(CNS)) Nos termos do artigo 6.º do Protocolo n.º 2, relativo à aplicação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade, qualquer parlamento nacional pode, no prazo de oito semanas a contar da data de envio de um projecto de acto legislativo, dirigir aos presidentes do Parlamento Europeu, do Conselho e da Comissão um parecer fundamentado em que exponha as razões pelas quais considera que o projecto em questão não obedece ao princípio da subsidiariedade. Segundo o Regimento do Parlamento Europeu, a comissão competente em matéria de observância do princípio da subsidiariedade é a Comissão dos Assuntos Jurídicos. Submete-se à atenção dos Senhores Deputados, em anexo, a título informativo, um parecer fundamentado do Senado da República Italiana sobre a proposta em referência. CM\ doc PE v01-00 Unida na diversidade

2 ANEXO RESOLUÇÃO APROVADA PELA COMISSÃO SOBRE O ACTO COMUNITÁRIO (COM(2011) 127 final) (Doc. XVIII, n.º 97) A Comissão Justiça, após apreciação do acto comunitário (COM(2011) 127 final), sobre a Proposta de Regulamento do Conselho relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria de efeitos patrimoniais das parcerias registadas, e aceitando os argumentos em anexo apresentados pela Comissão de Assuntos Europeus, emite um parecer não favorável. /assinatura/ PE v /6 CM\ doc

3 OIBSERVAÇÕES E PROPOSTAS DA 14 a COMISSÃO PERMANENTE Observações sobre o acto comunitário: (Assuntos Europeus) Nos termos do primeiro parágrafo do artigo 144.º, do Regimento (Relator: FLERES) Roma, 25 de Maio de 2011 Proposta de Regulamento do Conselho relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria de efeitos patrimoniais das parcerias registadas (COM(2011) 127 final) A 14. a Comissão permanente, após apreciação do acto COM(2011) 127 final, Considerando que um dos objectivos da União Europeia é criar um espaço judiciário baseado no princípio do reconhecimento mútuo das decisões; Tendo em conta que a livre circulação de decisões responde a uma exigência social determinada pelo facto de um número crescente de cidadãos se deslocar de um Estado para outro, dando origem a famílias compostas por pessoas com nacionalidades distintas ou residentes em Estados diferentes; Considerando que 14 Estados-Membros, entre os quais não figura Itália, introduziram no seu ordenamento jurídico as parcerias registadas; Tendo em conta as dificuldades com que os casais internacionais se deparam, sobretudo no momento da dissolução, por separação ou morte do parceiro, em razão da diversidade dos ordenamentos jurídicos nacionais; Tendo em conta que a União Europeia, a fim de superar esses obstáculos, aprovou recentemente um regulamento que aplica uma cooperação reforçada no domínio da lei aplicável em matéria de divórcio e separação judicial e que está em fase de negociação um regulamento em matéria de sucessões, mediante os quais são estabelecidos os critérios objectivos para determinar a lei aplicável e os tribunais competentes em caso de separação, divórcio ou sucessão no seio de casais internacionais; Considerando que o acto em apreço visa complementar o quadro jurídico acima mencionado, dado que regula as questões relativas às relações patrimoniais dos casais prevendo, nomeadamente, disposições sobre: a) tribunal competente; b) lei aplicável; c) livre circulação de decisões; Considerando que a Comissão Europeia reconduz a proposta para o "direito da família", relativamente ao qual a União Europeia não oferece uma definição legislativa clara, embora "para efeitos da presente directiva", o artigo 2.º da Directiva 2004/38/CE relativa ao direito de livre circulação e residência dos cidadãos da União e dos membros das suas famílias no território dos Estados-Membros, classifique como "membro da família", entre CM\ doc 3/6 PE v01-00

4 outros:... b) o parceiro com quem um cidadão da União contraiu uma parceria registada com base na legislação de um Estado-Membro, se a legislação do Estado-Membro de acolhimento considerar as parcerias registadas como equiparadas ao casamento, e nas condições estabelecidas na legislação aplicável do Estado-Membro de acolhimento; Considerando a necessidade de assegurar a protecção dos direitos fundamentais e a proibição de qualquer forma de discriminação; Recordando, por fim, que o Tribunal de Justiça, através do seu Acórdão de 10 de Maio de 2011 relativo ao processo C-147/08 - Acórdão Römer - afirmou que "no estado actual do direito da União, a legislação sobre o estado civil das pessoas se insere na competência dos Estados-Membros". Todavia, ao efectuar essa avaliação, o Tribunal de Justiça declarou que, se no ordenamento do Estado-Membro em questão (no caso vertente, a Alemanha), o casamento estiver reservado a pessoas de sexo diferente e coexistir com legislação relativa a uniões de facto registadas, reservadas a pessoas do mesmo sexo, existe uma discriminação directa em razão da orientação sexual (de acordo com a Directiva 2000/78/CE) no caso de o parceiro numa união de facto registada se encontrar numa situação jurídica e factual comparável à de uma pessoa casada e que, no entanto, recebe uma pensão complementar de reforma de montante inferior; Formula, no que respeita à competência, observações contrárias, salientando o seguinte: A base jurídica escolhida pela Comissão Europeia é o n.º 3 do artigo 81.º, que afirma que as medidas relativas ao direito da família que tenham incidência transfronteiriça são estabelecidas pelo Conselho, deliberando de acordo com um processo legislativo especial, por unanimidade, após consulta ao Parlamento Europeu. No que se refere ao enquadramento das uniões registadas no "direito da família", formula-se uma reserva expressa, sendo necessário a apresentação de um motivo razoável que justifique a escolha da base jurídica; Com base no exposto, a proposta suscita perplexidade no que respeita ao princípio da subsidiariedade. É verdade que o objectivo de promover a livre circulação de pessoas dentro da União Europeia, de permitir que os casais internacionais organizem o seu regime patrimonial e, tendencialmente, de aumentar a segurança jurídica, só pode ser alcançado mediante normas comuns a nível da União. No entanto, a problemática encontrada em torno da base jurídica impõe uma reflexão adicional sobre a conformidade da proposta com o princípio da subsidiariedade; Sem prejuízo do exposto, a proposta não se afasta do princípio da proporcionalidade, visto que não excede o necessário para atingir os objectivos e, de acordo com as estimativas da Comissão Europeia contidas na avaliação de impacto, deverá implicar em conjunto com a proposta constante do COM(2011) 126 final - um corte de custos decorrentes da situação actual na ordem de 0,4 mil milhões de euros; Quanto ao fundo, a aplicação do regulamento no ordenamento jurídico italiano suscita fortes dúvidas. Este, como é sabido, não reconhece a instituição das parcerias registadas, mas prevê algumas figuras de direito civil que, por via da jurisprudência ou por lei, se aplicam também aos elementos das uniões de facto, como, por exemplo, o disposto no artigo 6.º da lei n.º 392 de 1978, relativa à sucessão do parceiro que vive em união de facto no contrato de arrendamento. Trata-se, no entanto, de situações singulares. PE v /6 CM\ doc

5 Além disso, segundo as conclusões do advogado geral do Tribunal de Justiça, de 15 de Julho de 2010, no processo Römer acima mencionado, "a competência deixada aos Estados- Membros no domínio do estado civil significa que a regulamentação do casamento ou de qualquer outra forma de união juridicamente reconhecida entre pessoas tanto do mesmo sexo como de sexos opostos, bem como o estatuto jurídico dos filhos e dos outros membros da família em sentido amplo, está reservada aos Estados-Membros. São apenas estes últimos que devem decidir se a sua ordem jurídica nacional admite ou não alguma forma de vínculo jurídico que seja acessível aos pares homossexuais, ou ainda se a instituição do casamento está ou não reservada unicamente a pares de sexos opostos" (pontos 75 e 76). Na ausência de um regulamento interno, a questão principal diz respeito à dificuldade de determinar os direitos e obrigações do ponto de vista jurídico relativos a quem, no ordenamento italiano, não tenha optado por contrair matrimónio. À semelhança da distinção feita no COM (2011)126 entre a regulamentação do casamento - uma questão da competência dos Estados-Membros - e a regulamentação das relações patrimoniais entre os cônjuges, objecto de regulamentação europeia, pode ser considerada legítima a proposta acima referida inclusive no ordenamento jurídico italiano se se excluir do seu âmbito o reconhecimento das parcerias registadas. De facto, nada impede duas pessoas, não casadas e que façam parte de uma parceria registada, de regulamentar, num plano puramente privado e com efeitos exclusivamente inter partes, as relações patrimoniais decorrentes da cessação da união de facto ou da coabitação. A liberdade de autodeterminação dos casais de facto - que são um tertium genus relativamente aos "cônjuges" e às "uniões de facto registadas" poderá efectivamente ser mais bem assegurada a partir de um acordo convencionado entre os próprios elementos do casal sobre as relações patrimoniais, em vez de lhes ser imposta ex lege. Neste caso, não só a circulação em sede europeia de acordos convencionados entre as partes sobre essas relações patrimoniais não assumirá a forma de um reconhecimento implícito das parcerias registadas, como também evidenciará, com base nas circunstâncias, os factores que permitem uma melhor definição dos problemas colocados pela cessação do vínculo (de facto) entre duas pessoas. A base jurídica do n.º 3 do artigo 81.º, que incide sobre o direito da família, perderá então o seu significado eliminando assim algumas das críticas contidas nas presentes observações, podendo a regulamentação voltar a situar-se no âmbito da cooperação judiciária em matéria civil em geral, prevista nos n.ºs 1 e 2 do artigo 81.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. Passaria assim a ser possível para Itália adoptar, no futuro, disposições legislativas específicas que introduzam, a par da família legítima, formas regulamentadas de coabitação. De facto, compete exclusivamente ao Parlamento - como observado pelo Tribunal Constitucional, na sua decisão n.º 138 de 15 de Abril de identificar "as formas de garantia e de reconhecimento relativas às referidas uniões" (neste caso, tratava-se de uniões do mesmo sexo). O Tribunal Constitucional continua no entanto a dispor da "possibilidade de intervir com vista à protecção de situações específicas", através do controlo com base na razoabilidade, quando "identificada a necessidade de um tratamento homogéneo entre a condição dos cônjuges e a do casal homossexual". No entanto, para além destas considerações, deverá verificar-se com grande atenção o disposto no artigo 24.º da proposta de regulamento, que exclui a possibilidade de ser recusado CM\ doc 5/6 PE v01-00

6 o reconhecimento e a execução de uma decisão relativa aos efeitos patrimoniais de uma união registada pelo simples motivo de a lei do Estado-Membro requerido (como Itália) não reconhecer a parceria registada ou não lhe atribuir os mesmos efeitos patrimoniais. Entre outros aspectos, a possibilidade de os tribunais dos Estados que não prevêem parcerias registadas declinarem a competência que lhes é atribuída para decidirem sobre questões inerentes aos efeitos patrimoniais das parcerias registadas, nos termos do previsto no artigo 5.º da proposta, introduz um elemento de total incoerência no que se refere ao artigo 24.º, que deve, pois, ser ajustado. Por último, deverá ser incluída neste instrumento legislativo em vez de o ser no COM(2011) 126 final a regulamentação das relações patrimoniais entre cônjuges do mesmo sexo. Salvatore Fleres /assinatura/ PE v /6 CM\ doc