COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS

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1 PARLAMENTO EUROPEU Comissão dos Assuntos Jurídicos COMUNICAÇÃO AOS MEMBROS (49/2011) Assunto: Parecer fundamentado do Senado da República Italiana sobre a proposta de Regulamento do Conselho relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria de regimes matrimoniais (COM(2011)0126 C7-0096/ /0059(CNS)) Nos termos do artigo 6.º do Protocolo n.º 2, relativo à aplicação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade, qualquer parlamento nacional pode, no prazo de oito semanas a contar da data de envio de um projecto de acto legislativo, dirigir aos Presidentes do Parlamento Europeu, do Conselho e da Comissão um parecer fundamentado em que exponha as razões pelas quais considera que o projecto em questão não obedece ao princípio da subsidiariedade. Segundo o Regimento do Parlamento Europeu, a comissão competente em matéria de observância do princípio da subsidiariedade é a Comissão dos Assuntos Jurídicos. Submete-se à atenção dos Senhores Deputados, em anexo, a título informativo, um parecer fundamentado do Senado italiano sobre a proposta em referência. CM\ doc PE v01-00 Unida na diversidade

2 ANEXO RESOLUÇÃO APROVADA PELA COMISSÃO RELATIVAMENTE AO ACTO COMUNITÁRIO (COM(2011) 126 final) (Doc. XVIII, n.º 96) A Comissão Justiça, após apreciação do acto comunitário (COM(2011) 126 final) sobre a proposta de Regulamento do Conselho relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria de regimes matrimoniais, acolhendo as observações anexas formuladas pela Comissão de Assuntos Europeus, emite um parecer não favorável. /assinatura/ PE v /6 CM\ doc

3 OBSERVAÇÕES E PROPOSTAS DA 14.ª COMISSÃO PERMANENTE Observações sobre o acto comunitário: (Assuntos Europeus) Nos termos do artigo 144.º, n.º1, do Regimento (Autor: FLERES) Roma, 25 de Maio de 2011 Proposta de regulamento do Conselho relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria de regimes matrimoniais (COM (2011) 126 final) final, A 14.ª Comissão Permanente, após apreciação do acto comunitário COM (2011) 126 Considerando que um dos objectivos da União Europeia é a criação de um espaço judiciário assente no princípio do reconhecimento mútuo das decisões; Tendo em conta que a livre circulação das decisões responde a uma exigência social suscitada pelo facto de um número crescente de pessoas se deslocar de um Estado-Membro para outro, dando origem a famílias compostas por pessoas de nacionalidades distintas ou residentes em Estados-Membros diferentes; Tendo em conta as dificuldades que os casais internacionais encontram, sobretudo, no momento da sua dissolução, por motivos de separação, divórcio ou morte do cônjuge, devido à diversidade dos ordenamentos jurídicos nacionais; Tendo em conta que a União Europeia, a fim de superar esses obstáculos, adoptou recentemente um regulamento no domínio da lei aplicável em matéria de divórcio e separação judicial e que está em fase de negociação um regulamento em matéria sucessões internacionais, mediante os quais são estabelecidos critérios objectivos para determinar qual a lei aplicável e os tribunais competentes em caso de separação, divórcio ou sucessão no caso de um casal internacional; Considerando que o acto em apreço visa completar o quadro jurídico supramencionado, uma vez que disciplina as questões que se prendem aos regimes matrimoniais, prevendo, em particular, disposições relativas: a) ao tribunal competente; b) à lei aplicável; c) à livre circulação das decisões; Considerando que a Comissão Europeia circunscreve a proposta ao "direito da família", relativamente ao qual o ordenamento da União Europeia não fornece definição legislativa clara, ainda que, "para os efeitos da presente directiva", o artigo 2.º da Directiva 2004/38/CE, relativa ao direito de livre circulação e residência dos cidadãos da União e dos membros das suas famílias no território dos Estados-Membros, qualifica como "membro da família", entre outros: a) o cônjuge...; Considerando que a noção de "casamento" difere de Estado para Estado e que na proposta se entende por "contrato de casamento", "qualquer acordo pelo qual os cônjuges estabelecem as relações patrimoniais entre si e em relação a terceiros". Trata-se, pois, de CM\ doc 3/6 PE v01-00

4 uma noção verdadeiramente patrimonial e que diz respeito aos aspectos do casamento entendido como "relação"; pelo contrário, parece ficar de fora desta noção o perfil de casamento entendido como "acto", remetido para o direito interno dos Estados-Membros, como o recorda o considerando (10) da proposta; Invocando o disposto no artigo 29.º, n.º 1, da Constituição italiana, que estipula que a República Italiana reconhece os direitos da família como sociedade natural fundada no casamento; Invocando, para além disso, a interpretação do Tribunal Constitucional italiano, que, com a sua sentença n.º 138, de 15 de Abril de 2010, estatuiu que a noção de casamento definida pelo Código Civil de 1942 "estabelecia (e continua a estabelecer) que os cônjuges deverão ser pessoas de sexo diferente". Nem a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, com a atribuição do mesmo valor jurídico dos Tratados à Carta dos Direitos Fundamentais, pode permitir uma incompatibilidade superveniente das normas do Código Civil que regem o instituto do casamento como união de pessoas de sexo diferente. É verdade que o artigo 9.º da Carta, ao reiterar "o direito de contrair casamento e o direito de constituir família", já consagrados no artigo 12.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH) "a partir da idade núbil, para o homem e a mulher", parece constituir um progresso rumo ao reconhecimento dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo; contudo, o mesmo artigo 9.º da Carta, à semelhança do artigo 12.º da CEDH, remete a disciplina do exercício desse direito para as "leis nacionais", reconduzindo, assim, esta matéria para a discricionariedade do Parlamento. E, como acrescenta o Tribunal Constitucional na referida sentença, ao artigo 9.º da Carta estão associadas "anotações" que, apesar de não possuírem estatuto de lei, representam um indubitável instrumento de interpretação. Essas "anotações" esclarecem, com referência ao artigo 9.º, que " Este artigo não proíbe nem impõe a concessão do estatuto de casamento a uniões entre pessoas do mesmo sexo"; Considerando, portanto, necessário que esta posição seja levada à atenção do legislador europeu, a fim de que a tenha em conta no processo de negociação subsequente, evitando que possam surgir contestações e dúvidas quanto ao âmbito das definições em causa, resultando numa situação de incerteza; Recordando, por último, que o Tribunal de Justiça, no seu Acórdão de 1 de Abril de 2008, no processo C-267/06, Tadao Maruko, refere que o "estado civil" e as prestações decorrentes são matéria da competência dos Estados-Membros e que o direito comunitário não prejudica essa competência. O Tribunal recorda, no entanto, que os Estados-Membros devem, no exercício dessa competência, em matéria de "estado civil", respeitar o direito comunitário, nomeadamente, as disposições relativas ao princípio da não discriminação, no caso em apreço, a Directiva 2000/78/CE que estabelece um quadro geral de igualdade de tratamento no emprego e na actividade profissional; Formula, em matéria de competência, parecer não favorável, salientando o seguinte: A base jurídica foi definida pela Comissão Europeia como sendo o artigo 81.º, n.º 3, primeiro parágrafo, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, que estabelece que as medidas relativas ao "direito da família" que tenham incidência transfronteiriça são estabelecidas pelo Conselho, que delibera de acordo com o processo legislativo especial, por unanimidade, após consulta ao Parlamento Europeu. Como supramencionado, o artigo 29.º da Constituição italiana qualifica a família como uma sociedade natural fundada no casamento e, PE v /6 CM\ doc

5 por conseguinte, não existem objecções quanto à escolha da base jurídica da proposta, que regulamenta alguns aspectos patrimoniais relacionados com a relação de casamento. Porém, a base jurídica proposta apresenta aspectos problemáticos no que se refere à equiparação de uniões entre pessoas do mesmo sexo à noção de família; A proposta suscita alguma perplexidade no que respeita ao princípio da subsidiariedade. É verdade que o objectivo de favorecer a livre circulação de pessoas na União Europeia, de permitir aos cônjuges organizar o seu regime matrimonial e de, potencialmente, aumentar a certeza jurídica só pode ser conseguido por meio de normas comuns a nível da União. E é igualmente verdade que a proposta não comporta uma harmonização das normas materiais relativas aos direitos de propriedade dos cônjuges, nem incide sobre a legislação fiscal nacional dos Estados-Membros. Contudo, as questões suscitadas relativamente à base jurídica tornam necessária uma maior reflexão quanto à conformidade da presente proposta com o princípio da subsidiariedade; Sem prejuízo do exposto, a proposta não se afasta do princípio da proporcionalidade, uma vez que não vai para além do necessário para a consecução dos objectivos e que, de acordo com previsões da Comissão Europeia constantes da avaliação de impacto, deverá comportar juntamente com a proposta constante do acto legislativo COM(2011) 127 final uma diminuição dos custos provocados pela situação actual na ordem dos 0,4 mil milhões de euros; Quanto ao fundo, observa-se que, a fim de evitar incertezas, deverá ser esclarecido o conceito de casamento. Tendo em conta, com efeito, a posição assumida pelo Tribunal Constitucional italiano através da sua sentença n.º 138, de 15 de Abril de 2010, cujo conteúdo se recorda acima, Itália teria dificuldade em considerar como "casamento" e, por conseguinte em reconhecer os direitos matrimoniais que a proposta de regulamento confere aos "cônjuges" uma união matrimonial entre pessoas do mesmo sexo. Esse "casamento" não estaria conforme com o artigo 29.º da Constituição italiana, inclusivamente de acordo com a leitura dada ao mesmo pelo Tribunal Constitucional em A fim de ultrapassar os problemas aqui expressos, propõe-se, inclusivamente com vista a manter a possibilidade de os casais formados por pessoas no mesmo sexo regulamentarem as suas relações matrimoniais, e em aplicação do artigo 21.º da Carta dos Direitos Fundamentais sobre o princípio da não discriminação, que se preveja que os "casamentos entre pessoas do mesmo sexo" possam ser abarcados pelo menos no que diz respeito a Itália pelo disposto na proposta relativa aos efeitos patrimoniais das parcerias registadas, COM (2011) 127 final, também ela objecto de análise. Em alternativa a essa possibilidade, dever-se-á estudar a oportunidade de prever: a) a inclusão, no artigo 5.º da presente proposta, de uma cláusula de teor análogo ao artigo 5.º, segundo parágrafo, da proposta sobre os regimes patrimoniais das parcerias registadas constante do acto COM(2011) 127 final, segundo a qual o tribunal competente para decidir das questões inerentes ao regime matrimonial dos cônjuges, com base em diversos critérios centrados na noção de "residência habitual", possa declinar a sua competência quando o seu direito nacional não contemple o instituto do casamento entre pessoas do mesmo sexo; b) a alteração do artigo 23.º, de modo a permitir aos Estados-Membros, que possuam problemas de ordem constitucional no que respeita ao reconhecimento de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, incluir esse impedimento no juízo de manifesta incompatibilidade com a ordem CM\ doc 5/6 PE v01-00

6 pública do foro; c) a alteração do artigo 27.º, a fim de permitir aos Estados-Membros que possuam problemas específicos de ordem constitucional no que respeita ao reconhecimento de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, prever um outro motivo para a recusa do reconhecimento de uma decisão. Salvatore Fleres /assinatura/ PE v /6 CM\ doc