Tutorial de ensino de LIBRAS para crianças com elevado grau de perda auditiva
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- Fernanda Fátima César Gabeira
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1 Tutorial de ensino de LIBRAS para crianças com elevado grau de perda auditiva João Carlos de C. e Silva Ribeiro 1, Ana Cláudia Fagundes Antunes 2, Úrsula A. Lisboa Fernandes Ribeiro 1, Jiani Cordeiro Cardoso 1, Marcelo Pedroso da Roza 3 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Caixa Postal Uruguaiana RS Brasil jribeiro2@gmail.com,ursula@pucrs.br, jiani@pucrs.br, mroza@eafars.gov.br Abstract. The system for the Education of the Deaf - SAES - is software that was developed with the objective of assisting the teacher in the teaching of Brazilian sign language and its relationship with the Portuguese language in its written form. The deaf person, for not feeling the sound and, consequently, the meaning of words shows indifference by written text. The development of an educational software which propose a playful approach the issue may help to create a motivating environment for acquiring knowledge in LIBRAS and written Portuguese. Resumo. O sistema de auxílio à Educação de Surdos SAES é um software que foi desenvolvido com o objetivo de auxiliar o professor no ensino da Língua Brasileira de Sinais e sua relação com a Língua Portuguesa na sua forma escrita. O indivíduo surdo, por não perceber a sonoridade e, conseqüentemente, o significado das palavras demonstra indiferença pelo texto escrito. O desenvolvimento de um software educacional que proponha uma abordagem lúdica do tema pode auxiliar na criação de um ambiente motivador para a aquisição de conhecimento em LIBRAS e em português escrito. Conhecimento este, que oportuniza maior inclusão social da criança surda. 1. Introdução A história da educação de pessoas portadoras de deficiência auditiva e indivíduos surdos tem se revelado ineficaz ao longo dos tempos pelas barreiras lingüísticas que as distanciam do mundo ouvinte. Geralmente a língua falada em sala de aula não tem 1 Professores do curso de Sistemas de Informação da PUCRS Campus Uruguaiana. 2 Acadêmica do curso de Sistemas de Informação da PUCRS Campus Uruguaiana 3 Professor do curso de Informática do Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete
2 nenhum significado para a criança surda e faz com que ela fique alheia ao que acontece ao seu redor, ou, em contraponto, apresente problemas disciplinares, que a tornarão um elemento nefasto e perturbador em sala de aula. Os surdos, em sua grande maioria, não completam o ensino fundamental. Os poucos que avançam e terminam o ensino médio, carregam uma lacuna em sua educação pela falta de políticas públicas educacionais eficientes que, além de proporcionar o acesso, garanta qualidade a sua educação. A Lei n , decretada e sancionada em 24 de abril de 2002, dispõe, em seu artigo 4 : O sistema educacional federal e sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis, médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais LIBRAS, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs, conforme legislação vigente. [LIRA 2004] Hoje, com os novos Parâmetros Curriculares Nacionais, que garantem que toda a criança tem direito a ver respeitada as suas diferenças, espera-se que toda a criança surda possa ser educada em sua língua materna LIBRAS que servirá de instrumento comunicativo para a aquisição da segunda língua L2 no caso, o português. Por este motivo, foi desenvolvido um protótipo computacional que busca apresentar de forma lúdica o português escrito a partir da linguagem de sinais. O software associa o ensino do português escrito ao ensino da língua gesto-visual, possibilitando ao aprendiz, a partir da sua língua materna, apropriar-se do conhecimento existente nos livros e em todo o material escrito do mundo ouvinte. 2. Deficiência auditiva Segundo o documento Educação inclusiva: direito a diversidade, do Ministério da Educação e Cultura [MEC 2005], deficiência auditiva é definida como perda parcial ou total bilateral de 25 decibéis ou mais, resultante da média do audiograma, aferidas em diversas freqüências, variando de acordo com o nível ou acuidade auditiva da seguinte maneira: Surdez moderada: é caracterizada pela perda auditiva de 25 a 70 db. A pessoa, por meio de uso de Aparelho de Amplificação Sonora Individual, torna-se capaz de processar informações lingüísticas pela audição, sendo capaz então de desenvolver a linguagem oral; Surdez profunda: é caracteriza pela perda auditiva acima de 71 db. A pessoa terá dificuldades para desenvolver a linguagem oral. A pessoa com este grau de surdez, geralmente, utiliza a Língua de Sinais. A Língua Brasileira de Sinais LIBRAS é a língua materna das pessoas portadoras de deficiência auditiva e na qual deve se basear a sua educação, facilitando, através da comunicação gesto-visual, apreensão de conceitos no meio em que vive. LIBRAS possui todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática, semântica, pragmática, sintaxe entre outros elementos, preenchendo, assim, os requisitos científicos para ser considerada um instrumental lingüístico de poder e força. Esta língua possui todos os elementos classificatórios identificáveis de uma língua e demanda prática para
3 seu aprendizado, como qualquer outra língua. É uma língua viva e autônoma, reconhecida pela lingüística. [FENEIS 2004] 3. Desenvolvimento do Software O Sistema de Auxílio à Educação de Surdos foi idealizado a partir da constatação de que o computador pode ser um excelente instrumento de contribuição para a aprendizagem pelo fascínio que exerce sobre as crianças. Durante a fase de desenvolvimento do protótipo foram pesquisados alguns trabalhos relacionados, a saber: [GOEBEL 2004], [ROSSI 2004] e [SOUZA 2003]. Utilizaram-se palavras inerentes ao repertório do mundo infantil, seja no mundo real ou imaginário, que devem ser apresentadas, durante a execução do programa, de forma a aproveitar-se a capacidade visual do surdo. Ou seja, na forma sinalizada da linguagem gestual, identificadas por imagens e escritas na língua portuguesa. O sistema propõe aos alunos a possibilidade de escolha entre 6 opções de tarefas: Manual, Sinais, Alfabeto, Exercícios, Ajuda e Saída, onde o aluno poderá acessar cada um dos tópicos, em seqüência, ou aleatoriamente, dependendo da orientação do professor (Figura 1). Figura 1. Apresentação da interface inicial Na tarefa Manual, a criança tem acesso ao alfabeto de LIBRAS, com animações nos gestos que possuem movimento e o alfabeto correspondente na língua portuguesa (Figura 2). Para conhecer a seqüência da tarefa o aluno deve acionar a tecla avançar. Ao ter o comando deste processo, a criança terá autonomia no desenvolvimento das atividades, administrando, assim, o seu próprio rendimento, tendo liberdade para rever os aspectos que considerar interessante. Para algumas letras o usuário tem a disposição o botão VER, que permite ver a simbologia da letra de forma animada.
4 Figura 2. Manual A tarefa Sinais visa resgatar e ampliar o vocabulário existente, através de imagens e gestos que fazem parte do mundo infantil. Ao escolher, por exemplo, a opção Animais encontrar-se-á imagens animadas do animal correspondente e do sinal que corresponde ao animal na versão em LIBRAS. Atividades semelhantes serão adotadas para explorar as atividades relativas a cores, família, frutas, meses e semanas (Figura 3.a e Figura 3.b ). Figura 3.a. Opções Figura 3.b. Tela de Animais ovelha
5 A tarefa Alfabeto visa favorecer a identificação da letra e o seu emprego na palavra. O aluno, ao escolher uma letra, obtém a visualização seqüencial de uma tela contendo, no seu interior seis palavras iniciadas pela letra escolhida (que aparece de forma destacada) e o gesto sinalizador correspondente a letra em LIBRAS (Figura 4). Figura 4. Alfabeto A tarefa Exercícios tem por objetivo a identificação e associação das imagens e sinais adquiridos em LIBRAS com as palavras escritas em língua portuguesa. No exercício 1 relativo à Figura 5, o aluno surdo vê o desenho animado com palavra mostrada em LIBRAS. O aluno surdo identifica a frase correspondente ao desenho. Se a escolha for correta, a frase será destacada e aparecerá o filme com a pessoa fazendo o sinal correspondente à palavra. Caso a opção escolhida estiver incorreta surgirá a figura de uma carinha triste com um balão de texto, contendo a expressão Tente outra vez. Figura 5. Exercício 1 No exercício 2, Figura 6, o aluno descobre outras palavras em português, juntando as sílabas coloridas apresentadas em LIBRAS. Ao concluir a atividade, o aluno apertará o botão OK. Se o número de acertos for maior que os erros, aparecerá, na tela, uma carinha feliz. Caso contrário surgirá a figura de uma carinha triste com um
6 balão de texto, contendo a expressão Tente outra vez. A escolha das palavras será feita de forma aleatória, a cada opção clicada surgirão outras combinações de palavras. Figura 6. Exercício 2 No exercício 3, Figura 7, o aluno deve observar os desenhos presentes na interface e preencher os quadrinhos com os nomes correspondentes. Quando o exercício estiver completo o educando deve clicar no botão OK. Se a resposta estiver correta a cor da fonte será realçada em vermelho e o botão OK desaparecerá. Se a resposta estiver errada os quadrinhos referentes ao nome incorreto tornar-se-ão novamente disponíveis para preenchimento e o botão OK permanecerá visível até que o aluno realize a atividade com sucesso. Figura7. Exercício 3 O trabalho foi desenvolvido por uma aluna portadora de necessidades especiais (com elevado grau de perda auditiva) sob orientação pedagógica de uma especialista que atua como professora de português para indivíduos surdos e que possui pós-graduação em Déficit Cognitivo e Educação de Surdos na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
7 A ferramenta de autoria adotada para o desenvolvimento do sistema foi o Flash, que é um ambiente de autoria que permite elaborar tanto sites para Internet quanto apresentações multimídia mais sofisticadas, disponibilizando para isto uma linguagem de programação denominada ActionScript [DEHAAN 2004]. 4. Considerações Finais Pretende-se com este trabalho, estimular o aluno surdo a utilizar a comunicação escrita para expressar pensamento, sentimento e ações; procurando vencer as barreiras lingüísticas que o impedem de desvendar o mundo da informação, da literatura, do entretenimento. Possibilitar também o uso das tecnologias já existentes, como o celular, a Internet, as legendas de vídeo, etc., que necessitam de conhecimento do português escrito e que em muito contribuem para a conquista de uma vida mais autônoma. A apresentação das tarefas em LIBRAS e Português é um fator de prestígio para o indivíduo surdo, que percebe o respeito a sua realidade e aos interesses. Estimula, assim, uma predisposição em relação às tarefas apresentadas, facilitando a assimilação, associação e transferência dos conteúdos trabalhados. Vale salientar que a acadêmica que participou do projeto, implementação e codificação do sistema é portadora de surdez profunda, característica que a habilita como conhecedora do universo dos surdos e, consequentemente, torna-a uma colaboradora inestimável em projetos desta natureza. Neste caso a colaboração não ocorreu em um único sentido, pois enquanto o projeto recebia valorosas contribuições de uma acadêmica surda, que até então só comunicava-se pela escrita ou por leitura labial, ele impelia-a a aprender e praticar a Linguagem Brasileira de Sinais sedimentando, desta forma, conhecimentos valiosos para a sua própria inclusão social. Além da aluna e dos professores diretamente envolvidos no trabalho, o mesmo foi apresentado a outros profissionais, que contribuíram para uma melhoria do software. Entretanto, permanecia a necessidade de testar o SAES com as crianças para as quais ele foi desenvolvido e, assim, um experimento foi realizado com crianças portadoras de necessidades especiais no campo da audição das séries iniciais da Escola Estadual de Ensino Marechal Cândido Rondon, orientados pelas professoras Líria e Sara Elizeth D. Cardoso, diretora da Escola. Grande parte dos alunos, apenas com instruções mínimas necessárias para o uso do software, responderam muito bem à sua utilização, entendendo seu funcionamento e necessitando de explicações apenas em algumas tarefas. 5. Referências FENEIS (2004) LIBRAS. Língua Brasileira de Sinais. Setembro de LIRA, G. de A. (2004) O Impacto da Tecnologia na Educação e Inclusão Social da Pessoa Portadora de Deficiência Auditiva: Tlibras Tradutor Digital Português x Língua Brasileira de Sinais LIBRAS. Setembro de 2008.
8 MEC (2005) Educação Inclusiva: direito a diversidade. Documento Orientador. Brasília DF, Março de DEHAAN, Jen. (2004) Flash MX Guia autorizado macromedia. Ed. Campus, Rio de Janeiro, GOEBEL, M.; CORDENONSI, A. Z. (2004) Ferramenta para a Tradução da Sintaxe da Língua Portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais. Agosto de Disponível na Internet ROSSI, D.; SOUZA, V. C. de; PINTO, S. C. C. de S. (2004) Sign WebForum: um Fórum de Discussão que Utiliza a Troca de Mensagem em Libras na Web. Agosto de SOUZA, V. C. de; PINTO, S. C. C. (2003) de S. Sign WebMessage: uma ferramenta para comunicação via web através da Língua Brasileira de Sinais LIBRAS. Agosto de
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