Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2541

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1 Utilização de adubação verde com Flor-de-seda em alface produzida no Sertão do Pajeú Falkner Michael de Sousa Santana 1 ; Bruno Novaes Menezes Martins 1 ; Edson Fabio da Silva 1 ; Manoel Galdino dos Santos 1 ; Rosilene de Lima Santos 1 ; Aurélio Paes Barros Júnior 1 ; Lindomar Maria da Silveira 2 1 UFRPE-UAST Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Serra Talhada. Fazenda Saco, s/n, Serra Talhada PE, falkner.agro@hotmail.com, aureliojr02@yahoo.com.br. 2 UFERSA - Universidade Federal Rural do Semiárido, Departamento de Ciências Vegetais. BR 110, Km 47, Mossoró RN. RESUMO A constante busca por alimentos saudáveis proporcionou mudanças nos sistemas de produção de hortaliças, das conhecidas convencionais para aquelas de produção orgânica e similares, objetivando a redução e o não uso de produtos químicos, principalmente defensivos agrícolas, que tem levado à contaminação de produtores, de consumidores e do meio ambiente, causando consideráveis danos sociais e econômicos ao país. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da utilização da adubação verde com Flor-de-seda na cultura da alface no Sertão do Pajeú. O experimento foi conduzido no período de setembro a novembro de 2011, na Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UAST, da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, localizado no município de Serra Talhada - PE, o delineamento experimental usado foi o de blocos completos casualizados, com os tratamentos arranjados em esquema fatorial 4 x com 3 repetições, sendo o primeiro fator constituído por diferentes quantidades de adubo verde incorporadas ao solo (5,4; 8,8; 12,2 e 15,6 t.ha -1 em base seca), e o segundo fator, por diferentes tempos de decomposição (0, 10, 20, e 30 dias) mais dois tratamentos adicionais, um pela ausência de adubação e o outro pela utilização de 80 t.ha -1 de esterco bovino. As características avaliadas na alface foram: rendimento de massa verde e massa seca da parte aérea de alface. Observou-se que a quantidade 15,6 t.ha -1 no tempo de 10 dias de incorporação do adubo verde Flor-de-seda foi a que proporcionou o maior incremento no rendimento de massa verde de alface. PALAVRAS-CHAVE: Lactuca sativa, Calatropis procera, agricultura orgânica. ABSTRACT Use of green manure with Flor-de-seda in lettuce produced in the backwoods of Pajeu The constant quest for healthy food provided changes in production systems for vegetables, the familiar "conventional" for those of organic production and the like, aimed at reducing and non-use of chemicals, especially pesticides, has led to contamination of producers, consumers and the environment, causing severe social and economic damage to the country. The objective of this study was to evaluate the effect of green manure to update the Flor-de-seda (Calatropis procera) on lettuce in the Hinterland of Pajeu, the experiment was conducted during January-February 2011 in the nursery of Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UAST, Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, located in the municipality of Serra Talhada - PE, the experimental design was a randomized complete block with treatments arranged in a 4 x 4 factorial with three replications + 2, the first factor consisting of different amounts of Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2541

2 green manure incorporated into the soil (5.4, 8.8, 12.2 and 15.6 t.ha -1 on a dry basis), and the second factor, for different incorporation times (0, 10, 20, and 30 days) plus two additional treatments, by an absence of fertilization and the other by the use of 80 t.ha -1 of cattle manure. The characteristics evaluated in lettuce were: yield of green mass and dry mass of shoots of lettuce. It was observed that the amount 15.6 t.ha- 1 at a time of 10 days of green manure incorporation of Flor-de-seda it was the one that it provided greatest increase in the yield of green mass of lettuce. Keywords: Lactuca sativa, Calatropis procera, organic agriculture. A busca por sistemas agrícolas auto-suficientes e diversificados, de baixa utilização de insumos e com utilização eficiente de energia, tem sido motivo de preocupação para pesquisadores, agricultores e políticos em todo o mundo (Altieri, 2002). Segundo Pereira, (2001) a carência de informações com bases científicas tem sido um dos maiores entraves que impossibilitam o aumento da experiência, da visão e da compreensão do funcionamento dos sistemas orgânicos. A alface (Lactuca sativa L.) é uma hortaliça folhosa tradicionalmente cultivada por pequenos produtores. Pelas características fundiárias dos pólos de produção, aliada à alta demanda de mão-de-obra (22% do custo de produção) em seu cultivo (Fontanétti et al., 2006) torna-se importante no contexto da sustentabilidade da agricultora familiar. A constante busca por alimentos saudáveis proporcionou mudanças nos sistemas de produção de hortaliças, das conhecidas convencionais para aquelas de produção orgânica e similares, objetivando a redução e o não uso de produtos químicos, principalmente defensivos agrícolas, que tem levado à contaminação de produtores, de consumidores e do meio ambiente, causando consideráveis danos sociais e econômicos ao país. Atualmente, o uso da adubação verde em hortaliças vem crescendo como uma alternativa para baixar esses custos de produção decorrentes dos adubos minerais ou estercos, além da preocupação com o meio ambiente e o seu equilíbrio na produtividade das culturas. Segundo (Calegari et al., 2000), a adubação verde é a prática de se incorporar ao solo massa vegetal não decomposta de plantas cultivadas no local ou importadas, com a finalidade de preservar e/ou restaurar fertilidade dos solos e, consequentemente, a produtividade das terras agricultáveis. A incorporação ao solo de plantas com elevada produção de biomassa, rica em nutrientes, pode melhorá-lo, física, química e biologicamente, proporcionando, dessa forma uma disponibilidade maior de nutrientes para a planta (Batista, 2008). Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2542

3 As leguminosas são as espécies mais utilizadas na adubação verde. No entanto, podemse utilizar outras espécies com a mesma finalidade. No bioma caatinga, diversas espécies apresentam-se como potencial a ser utilizado na adubação verde, como a Jitirana, Mata-pasto e Flor-de-seda, contribuindo, dessa forma, como fonte alternativa para ser utilizada na produção de hortaliças. A espécie Calotropis procera, popularmente conhecida no Brasil por flor-de-seda, pertence à família Asclepiadaceae e é originária da África tropical e Índia. A espécie encontra-se disseminada em todo o semi-árido sempre se destacando na paisagem seca dos sertões, por permanecer verde mesmo nos períodos mais críticos (Lima et al., 2004). Esta espécie é utilizada desde alimentação animal a adubação verde, pois é uma planta que se desenvolve bem em áreas degradas, com baixa fertilidade e pouca pluviosidade. Atualmente encontra-se naturalizada, inclusive na caatinga do sertão nordestino. Neste trabalho, objetivou-se avaliar o efeito da utilização da adubação verde com Florde-seda na cultura da alface no Sertão do Pajeú. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no período de setembro a novembro de 2011, na Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UAST, da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, localizado no município de Serra Talhada, no semiárido de Pernambuco, mesorregião do Sertão do Alto Pajeú. Foi coletada uma amostra de solo em 20 cm, cujo resultado da análise foi: ph = 7,2; P = 14,0 mg.dm -3 ; K = 0,55 cmolc.dm -3 ; Al 3+ = 0,0; Ca 2+ = 3,90 cmolc.dm -3 ; Mg = 1,20 cmolc.dm -3 ; porosidade total 47,58%; densidade 1,29 g cm -1 ; argila 11,60% e areia 78,36% e teores de matéria orgânica de 12,8 g.dm -3. O delineamento experimental usado foi o de blocos completos casualizados, com os tratamentos arranjados em esquema fatorial 4 x com 3 repetições, sendo o primeiro fator constituído por diferentes quantidades de adubo verde incorporadas ao solo (5,4; 8,8; 12,2 e 15,6 t.ha -1 em base seca), e o segundo fator, por diferentes tempos de decomposição deste adubo no solo (0, 10, 20, e 30 dias) mais dois tratamentos adicionais, um pela ausência de adubação e o outro pela utilização de 80 t.ha -1 de esterco bovino (tratamento tradicional no cultivo destas hortaliças) Em campo, foram feitos três blocos (canteiros), em cada bloco tinha um total de dezoito parcelas experimentais, arranjados aleatoriamente, a área total de cada parcela foi de Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2543

4 1,44 m 2 e a área útil 0,65 m². A cultivar utilizada foi alface cv. Babá de Verão, recomendada para as condições semiáridas do Nordeste brasileiro, com espaçamento de 0,20 m x 0,20 m. A alface foi semeada em bandejas de isopor de 128 células no dia 20/09/11, onde foi utilizado substrato comercial Plantmax HT, após oito dias (28/09/11) foi realizado um desbaste, para deixar apenas uma plântula por célula, para garantir melhor desenvolvimento da mesma. O adubo verde flor-de-seda foi coletado da vegetação nativa, triturado em pedaços de 2 cm de diâmetro, secos a sombra, até atingir o ponto de feno (10% de umidade), quantificado e incorporado na camada de 0 20 cm do solo nas parcelas experimentais, de acordo com a dosagem e o tempo de decomposição. Foram feitas análises químicas do adubo verde, cujos resultados foram: N = 23,8; P = 9,0 e K = 26,8 g kg -1. Após a ultima incorporação do adubo verde, foi realizado no dia 16/10/11 o transplante da alface. Durante o experimento foi realizado o controle de plantas daninhas, através de capina manual. A irrigação foi por meio de microaspersores e realizada duas vezes ao dia, no período da manhã e à tarde. A colheita da alface foi realizada no dia 18/11/2011. As características avaliadas na alface foram: rendimento de massa verde (t.ha -1 ) e massa seca da parte aérea (t.ha -1 ) da alface. Análises de variância para as características avaliadas foram realizadas através do aplicativo software SISVAR 3.01 (Ferreira, 2000). O procedimento de ajustamento de curva de resposta foi realizado através do software Table curve (Jandel Scientific, 1991). RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve interação significativa entre as quantidades e os tempos de incorporação ao solo do adubo verde para a característica rendimento de massa verde (Figuras 1 e 2). No entanto, não foi observado interação para a característica rendimento de massa seca, ocorrendo efeito significativo dos fatores isolados (Figura 3). Também não ocorreu diferença significativa entre a média do fatorial e as testemunhas. Ocorreu diferença entre as testemunhas, onde a testemunha com esterco sobressaiu da testemunha sem adubação. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2544

5 Desdobrando a interação dos tempos de incorporação em função de cada quantidade de adubo verde Flor-de-seda, registrou-se incremento para a característica de rendimento de massa verde (Figura 1) com o aumento inicial do tempo de incorporação, alcançando rendimento máximo nesta característica no tempo de aproximadamente 10,09 dias na quantidade aplicada de 15,6 t.ha -1 com um rendimento de 39,21 t.ha -1 de massa verde de alface (Figura 1). Resultados semelhantes foram encontrados por Bezerra Neto et. al. (2009), em que avaliaram o desempenho produtivo de rúcula sob diferentes tipos e quantidades de adubos verdes incorporadas ao solo, e constataram que a Flor-de-seda na quantidade incorporada 15,6 t/ha de base seca foi o adubo verde que proporcionou o melhor desempenho produtivo. Por outro lado, desdobrando a interação das quantidades em função de cada tempo de incorporação (Figura 2), observou-se comportamento semelhante ao outro desdobramento, observou-se que a quantidade de 15,6 t.ha no tempo de 10 dias houve uma produtividade de 38,99 t.ha (Figura 2). Com relação ao tempo de incorporação encontrado no presente trabalho (10 dias), foi inferior ao encontrado por Bezerra Neto et al. (2011), onde estudaram o desempenho agronômico da alface em diferentes quantidades e tempos de decomposição de Jitirana, verificaram que o melhor desempenho agronômico foi obtido com a incorporação de 6,11 t ha -1 de jitirana verde ao solo no tempo de 20 dias antes do transplantio da alface. O menor tempo observado de 10 dias pode ser explicado possivelmente pelo tempo de mineralização mais rápido do adubo verde Flor-de-seda, quando comparado com a Jitirana trabalhada por Bezerra Neto et al. (2011). Já para a massa seca de alface, avaliando as diferentes quantidades de adubo verde, constatou-se que o maior valor de massa seca (1,70 t.ha -1 ) foi obtido na dose de 8,96 t.ha -1 do adubo verde Flor-de-seda (Figura 3A). Com relação ao tempo de incorporação a maior massa seca de alface (1,69 t.ha -1 ), foi observado com 12,18 dias de incorporação da Flor-de-seda (Figura 3B ). De maneira geral, observou-se que a quantidade 15,6 t.ha -1 no tempo de 10 dias de incorporação do adubo verde Flor-de-seda foi a que proporcionou o maior incremento no rendimento de massa verde de alface. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa de Pernambuco (FACEPE), pelo financiamento do projeto de pesquisa, ao CNPq pela bolsa de Iniciação Cientifica. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2545

6 REFERÊNCIAS ALTIERI M Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária. 592p. BATISTA CMF. Adubação verde no sub-médio São Francisco. Disponível em Acessado em 25 de abril de BEZERRA NETO F; BARROS JÚNIOR AP; SILVEIRA LM; LINHARES PCF; LIMA JSS; MOREIRA JN; SILVA ML; PACHECO IWL; OLIVEIRA MKT; CALEGARI A Coberturas verdes em sistemas intensivos de produção. Sistemas intensivos de produção agropecuária. Anais... Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste; Embrapa Agrobiologia. p BEZERRA NETO F; GÓES SB; SÁ JR; LINHARES PCF; GÓES GB; MOREIRA JN Desempenho agronômico da alface em diferentes quantidades e tempos de decomposição de jitirana verde. Revista Brasileira de Ciências Agrárias 2: FERREIRA DF Sistema SISVAR para análises estatísticas: manual de orientação. Lavras: UFLA. 37p. FONTANÉTTI A; CARVALHO GJ; GOMES LAA; ALMEIDA K; TEIXEIRA CM Adubação verde na produção orgânica de alface americana e repolho. Horticultura Brasileira 24: JANDEL SCIENTIFIC Tablecurve: curve fitting software. Corte madeira, CA: Jandel Scientific LIMA GFC; MACIEL FC; GUEDES FX; TORRES JF; SILVA JGM; SOUZA NA; AGUIAR EM; LIMA CAC; PEREIRA GF; MEDEIROS HR; GARCIA LRUC Armazenamento de Forragens para Agricultura familiar. Natal: Secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca. 39p. PEREIRA W Relatório. In: WORKSHOP DE OLERICULTURA ORGÂNICA NA REGIÃO AGROECONÔMICA DO DISTRITO FEDERAL, 1. Anais... Brasília: Embrapa Hortaliças. p Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2546

7 FIGURA 1: Rendimento de massa verde de alface do desdobramento da interação dos tempos de incorporação em função de cada quantidade do adubo verde Flor-de-seda (Yield of green mass the lettuce from the unfolding of the interaction of time of incorporation as a function of each quantity of green manure Flor-de-seda). Serra Talhada-PE, UFRPE/UAST, FIGURA 2: Rendimento de massa verde de alface do desdobramento da interação das quantidades em função dos diferentes tempos de incorporação do adubo verde Flor-deseda (Yield of green mass the lettuce from the unfolding of the interaction of different amounts depending on the time of green manure incorporation Flor-de-seda). Serra Talhada-PE, UFRPE/UAST, Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2547

8 SILVEIRA LM Utilização de adubação verde com Flor-de-seda em alface produzida no Sertão do Pajeú. Horticultura Brasileira 30: S2541-S2548. A B FIGURA 3. Massa seca de alface em função das quantidades (A) e tempos de incorporação (B) do adubo verde Flor-de-seda (Dry mass of lettuce in function the quantities (A) and time of incorporation (B) green manure Flor-de-seda). Serra Talhada-PE, UFRPE/UAST, Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2548