PERFORMANCE DA VIDA COTIDIANA
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- Dina Camelo
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1 1 PERFORMANCE DA VIDA COTIDIANA Erika Gomes Peixoto 1 A Performance é algo que exige certa preparação, ela se realiza comumente em lugares pouco convencionais, alternativos, e com muito espaço para improvisação. A característica fundamental da performance é romper com o convencional, com as formas estéticas formais. Ela se confronta com teatro, com a questão da representação. Enfim, muito se tem buscado e perguntado sobre a performance. Apesar de suas várias determinações, significações, a performance já nasce com uma ampla liberdade, com uma relação híbrida e de difícil compreensão para aqueles que precisam de definições mais simplistas. Em busca de um entendimento mais profundo sobre performance, descobri alguns artigos que me chamaram a atenção pelo debate e definições sobre esse termo tão debatido hoje. Remontando à história da performance podemos observar que seus estudos foram iniciados nesse século, na década de sessenta, e hoje ainda constituem algo bastante complexo, suas fronteiras cada vez mais diversas, mais múltiplas. Mas o que é performance? O que pode ser definido como um acontecimento performático? Quem é um performer? Esse texto não tem a pretensão de responder a todas essas perguntas, mas lançar mão de ideias desenvolvidas pelo professor da New York University, Richard Schechner, que coloca um debate muito diferente e interessante sobre a concepção de performance hoje, em meio às mídias, ao mundo contemporâneo e suas tecnologias. Antonio Herculano Lopes analisou a significação que este termo tem. Para ele, a palavra performance tem uma forte ideia de rompimento com a representação, como se ela pudesse saltar o canal entre arte e vida. Mas Richard Schechner, vai defini-la como qualquer atividade realizada por um indivíduo ou um grupo, para outros indivíduos ou grupos. Schechner, vai estabelecer a performance como relação entre os indivíduos. Para ele, no 1 Trabalho de conclusão da disciplina do curso conexões contemporâneas.
2 2 século XXI as pessoas tem vivido como nunca através da performance. Ele definiu este ato em relação a quatro coisas: Ser; Fazer; Mostrar-se fazendo; Explicar ações demonstradas; 2 Essa concepção apresentada por Schechner é muito ampla, na sua definição hoje quase tudo se encaixa na performance, pois ela é constituída de comportamentos duplamente exercidos, comportamentos restaurados, ou seja, ações que foram antes realizadas, ensaiadas, repetidas 3. Para Schechner, não somente a arte utiliza do treino, do ensaio, mas a própria vida cotidiana tem momentos de ensaios e treinos. Ele utiliza como exemplo a infância e adolescência, tida como um momento de ensaio para a vida adulta, para melhorar a nossa performance quando adultos. Enfim, ele afirma: Toda gama de experiências, compreendidas pelo desenvolvimento individual da pessoa humana, pode ser estudado como performance 4. Todas as ações além de estarem cercadas de elementos performáticos, constituem comportamentos duplamente exercidos. Para Schechner: Prestar atenção e ações simples, performadas no momento presente, é desenvolver uma consciência Zen em relação ao que é comum e honrar o que é ordinário. Honrar o que é ordinário é observar quão ritualístico é a vida diária, e o quanto esta é constituída de repetições. Não há nenhuma ação humana que possa ser classificada como um comportamento exercido uma única vez 5. Schechner assevera que nada se repete exatamente como da primeira vez, assim como afirmou o filósofo Heráclito, quando estabeleceu as primeiras leis do seu método dialético. Na verdade, ele afirma que a teoria do comportamento restaurado só não entra em contradição com a dialética por que é possível combinar infinitas vezes os comportamentos, assim eu renovo minhas ações. Além de existir essas possibilidades, as ações sempre geram reações e impactos diferentes nos outros, que nunca vão se repetir. Mesmo quando gravo um vídeo a repetição não acontece, pois Schechner reconhece o ato performático de acordo com a relação estabelecida com o outro, ou seja, quando o vídeo é mostrado a outras pessoas. A 2 SCHECHNER, Richard. O que é performance? Trad. Dandara. Rio de Janeiro, Revista de teatro: O Percevejo, UNIRIO, Ano 11, número 12, p SCHECHNER, Richard. O que é performance? p Ibidem, p Ibidem, p.27.
3 3 performance assim não pode ser definida como um sapato, um objeto qualquer, pois ela é algo essencialmente relacional, a performance interage com as pessoas, com o ambiente. Assim, ele afirma: Mesmo que uma obra de arte performática, quando filmada ou digitalizada, permaneça a mesma a cada exibição, o contexto de cada recepção diferencia as várias instancias. Embora a coisa permaneça a mesma, os eventos de que esta coisa participa são diferentes entre si. Em outras palavras, a particularidade de um dado evento está não apenas em sua materialidade, mas em sua interatividade 6. A performance, segundo Schechner, pode ocorrer em oito tipo de situações: 1) Na vida diária, cozinhando, socializando-se, apenas vivendo; 2) Nas artes; 3) Nos esportes e outros entretenimentos populares; 4) nos negócios; 5) na tecnologia; 6) No sexo; 7) Nos rituais sagrados e seculares; 8) Na brincadeira; 7 Assim, a performance alcança quase todas as atividades humanas, na verdade todas essas definições de Schechner caberiam no primeiro ponto: vida cotidiana. O intento de Schechner é justamente dar ênfase a amplitude que a performance tem em sua concepção. Entretanto, ele não coloca essa definição como absoluta ou como a verdade, mas como algo que vem se constituindo assim, historicamente, como um processo. Enfim, todas essas oito definições englobam a performance: o comportamento restaurado. Assim ele afirma: Comportamento restaurado é o processo chave de todo tipo de performance, no dia-a-dia, nas curas xamânicas, nas brincadeiras e nas arte. O comportamento restaurado existe no mundo real, como algo separado e independente de mim. Colocando isto em termos pessoais, o comportamento restaurado é eu me comportando como se fosse outra pessoa, ou eu me comportando como me mandaram ou eu me comportando como eu aprendi. 8 6 Ibidem, p SCHECHNER, Richard. O que é performance? pp Ibidem, pp
4 4 Dentro dessa definição sobre comportamento estabelecida por Schechner, o homem não cria nada, só copia, e o artista na verdade também não cria: ele só sintetiza, recombina, compila ou edita ações que já foram praticadas anteriormente. Nada se constitui como um comportamento único ou novo. Entretanto, isso não quer dizer que o trabalho realizado por um performer e de outro não tenha diferenças, que seja a mesma coisa, a repetição do mesmo. Pode parecer paradoxal, mas apesar de ser um comportamento restaurado, cada performer tem seu estilo, pois inclui seu trabalho formas, tradições diferentes, e, além disso, conta com a recepção sempre particular de quem assiste. Seu trabalho é diferente justamente pela capacidade de recombinar comportamentos restaurados. Essa definição de performance acaba sendo algo muito amplo que realmente chega a abarcar quase tudo que existe hoje como comportamento humano, que está em relação com outras pessoas. Mas as coisas não são tão simples como parecem. Schechner afirma que apesar de termos hoje essa definição, que depende totalmente do contexto histórico-social, das convenções e da tradição, nem sempre foi assim. Assim ele diz: Não há nada inerente a uma ação em si mesma, que a caracterize ou a desqualifique como sendo performance. 9 Esse conceito foi estabelecido historicamente, ou seja, em outras culturas e em outros períodos essa definição não é válida. Enfim, a definição de performance independe do evento, mas do modo como ele é recebido e localizado. Schechner, fala sobre a questão da encenação de dramas enquanto performance. Para os gregos a encenação tinha uma significação muito diferente daquela que nós damos hoje. As tragédias eram encenadas em festivais religiosos, com premiações para as melhores apresentações, segundo critérios estéticos, mas a finalidade do evento não era a natureza artística, mas o ritual. Somente com Aristóteles podemos ver uma mudança nessa definição, trazendo uma nova interpretação da tragédia grega como teatro, como performance incorporada 10. Na Idade Média também, o que se convencionou chamar de Commedia Dell arte foi repudiada pelo clero, que impedia a denominação teatral. 9 Ibidem, p SCHECHNER, Richard. O que é performance? p. 38.
5 5 A performance, narra Schechner, também foi repudiada, foi vitima de preconceito no seu nascimento, atacada como não sendo uma forma de arte. Mas desde 1970 podemos perceber uma mudança no pensamento, mesmo sendo a performance uma forma de resistência as categorias estabelecidas para arte nesse período. Assim, ele afirma: Hoje, dificilmente existe atividade humana que não seja uma performance para alguém, em algum lugar. De um modo geral, a tendência do século passado foi dissolver as fronteiras entre a performance e a não-performance, a arte e a não-arte. de um lado, desse espectro muito claro o que é uma performance, o que é uma obra de arte; do outro lado, essa clareza não existe 11. Por fim, Richard Schechner, traz uma concepção de performance ampla e significativa para o período que nós estamos vivendo, onde se perde o limite entre o que é um evento performático e o que não é. A tendência é a dissolução dessas fronteiras, pois a cada dia que se passa vemos a incorporação da internet, dos feitos da globalização, o que afeta a nossa vida cotidiana. Trás o que Schechner chama de uma presença da mídia em nossas vidas, e como consequência, todos criamos, e nos relacionamos através de performances conectadas. Assim, ele afirma: Este senso de que a performance está em todo lugar é enfatizado pelo ambiente cada vez mais midiatizado em que vivemos, onde nos comunicamos por fax, telefone e internet; onde uma quantidade ilimitada de informações e entretenimento vem pelo ar 12. Nesse período que a vida cotidiana foi midiatizada, através das webcams, do youtube, da virtualização da vida, não podemos dizer que a performance estar restritas aos atores e performers. Referencias Bibliográficas SCHECHNER, Richard. O que é performance? Trad. Dandara. Rio de Janeiro, Revista de teatro: O Percevejo, UNIRIO, Ano 11, número 12, Ibidem, p Ibidem, p. 49.
6 6 LOPES, Antonio Herculano. Performance e História. Rio de Janeiro, Revista de teatro: O Percevejo, UNIRIO, Ano 11, número 12, COHEN, Renato. A performance como linguagem. São Paulo: Perspectiva, COMENTÁRIO: Texto bem escrito e concebido a partir de referência dada no curso. Trata-se de uma exposição concisa do contido no artigo de Schechner, em que o autor demonstra entendimento e poder de síntese. Merece publicação, consideradas as alterações e correções propostas.
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