HL396 Língua Portuguesa IV Segunda avaliação
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1 HL396 Língua Portuguesa I egunda avaliação prof. Luiz Arthur Pagani 27 de janeiro de (40 pontos) Recorrendo aos testes de constituência e de acarretamento, justique a classicação do verbo atirar, em, ou como verbo transitivo direto ou como verbo bitransitivo (direto e indireto). Apresente as três distribuições de constituintes para essa sentença. Resposta: A partir da sentença, através dos testes de constituência, podemos constatar que,, e são constituintes coesos, pois permitem clivagens como: Foi quem. Foi que. Foi que. Foi que. P observação da última sentença, constata-se principalmente que, em alguma distribuição sintática, é um constituinte coeso. Nesta distribuição, com formando um constituinte imediato, o verbo atirar precisa ser considerado um verbo transitivo direto, e não um verbo bitransitivo; caso contrário, ele teria um papel temático a oferecer para seu objeto direto, mas não haveria na presente conguração sintática nenhum P para agir como objeto indireto (já que o P faz parte do N que é objeto direto), como se vê na árvore abaixo. N N N P Aplicando os testes de acarretamento, a verdade da sentença, sob essa análise sintática, acarretaria a verdade de a pedra foi atirada por. Conrmando a constatação de que a pedra recebe o papel temático atribuído por atirar atribui a seu objeto direto. Nos concentrando agora nas duas sentenças do meio da lista das clivadas, quando e são constituintes independentes, não ca claro se é um complemento ou um 1
2 adjunto. No entanto, recorrendo ao teste de acarretamento observamos que a verdade da sentença pode nos obrigar à verdade de duas sentenças completamente diferentes: isso ( atirar a pedra) aconteceu ou (a pedra) atingiu o lago. Como as ações sempre precisam se realizar em algum lugar, considera-se isso uma característica que não é especicada pelo verbo já o fato da pedra ter ido terminar é considerado uma especicação lexical de atirar. (O contrário acontece com verbos com ir, que especicam lexicalmente um local de partida e outro de chegada; mas essa é outra questão.) Quando o verbo atirar especica um local como alvo do arremesso, o N que identica esse alvo vai receber o papel temático atribuído ao objeto indireto e terá seu caso atribuído p preposição (já que o acusativo do verbo já foi atribuído ao N na posição de objeto direto). Essa conguração sintática pode ser representada por alguma das duas árvores seguintes. N N P N ' P N Assim, agora o verbo atirar precisa ser classicado como verbo bitransitivo (transitivo direto e indireto). Finalmente, quando é responsável por determinar a localização espacial na qual ocorre a ação de atirar, esse constituinte não recebe seu papel temático do verbo, e portanto não pode ser seu objeto indireto. (ua única alternativa é receber da própria preposição não apenas o caso, mas também o seu papel temático; mas essa também já é uma outra questão.) Portanto, não pode ser considerado um complemento, e sim um adjunto, de forma que só lhe resta a classicação de adjunto adverbial, como se vê na árvore abaixo. Neste caso, o verbo atirar funciona novamente como um verbo transitivo direto (já que não tem objeto indireto, apenas direto). 2
3 P N N 2. (30 pontos) egundo José Carlos de Azeredo (Iniciação à intaxe do Português, Rio de Janeiro: Zahar, 1990, p. 36): as palavras do português se agrupam, primeiro, consoante um critério morfo-semântico, em quatro classes: nome, verbo, pronome e conectivo. As três primeiras classes são constituídas basicamente de palavras variáveis, a última de palavras invariáveis. O verbo distingue-se no grupo, nessa primeira divisão, pelo paradigma exional em que se enquadra (apresenta variação modo-temporal e número-pessoal). O nome e o pronome, por sua vez, são variáveis em gênero e número, exprimíveis numa e noutra classe pelo mesmo mecanismo exional. A distinção entre eles repousa, de um lado, na natureza da signicação, e de outro, em certas propriedades morfo-sintáticas exclusivas do pronome (formas distintas para diferentes pessoas e funções). emanticamente, o nome `nomeia' os seres, permitindo que o locutor e o ouvinte os designem sem o reforço da situação ou do contexto verbal ou situacional: quem diz `aqu roupa estava na minha gaveta', só está particularizando `roupa' e `gaveta' em função de uma situação. Do ponto de vista da autonomia da intaxe, como estudamos durante esse semestre, o que há de bom e de ruim nesses comentários? Use exemplos como estudar é importante para melhorar de vida, a ação intempestiva dos bandidos motivou a reação da polícia e se levantou rapidamente para conferir a acuidade dos comentários. Observe que o autor não menciona adjetivos, advérbios, preposições ou conjunções; s poderiam integrar alguma das classes propostas ou pertenceriam a outras além das apresentadas? Resposta: De acordo com o ponto de vista da autonomia da sintaxe, era de se esperar que as observações e as explicações sintáticas recorressem exclusivamente a critérios sintáticos. Isso evidentemente não ocorre na exposição de José Carlos de Azeredo quando, logo no início da citação, diz que o critério de classicação das palavras é morfo-semântico. Para a classicação sintática, informações morfológicas e semânticas não deveriam ser pertinentes. Mesmo quando a modicação morfológica é evidentemente pertinente para a sintaxe (como a exão do verbo em número e pessoa mas não em tempo, aspecto e modo e a exão nominal em número e pessoa), o que é relevante para a sintaxe não é a modicação morfológica em si, mas sim a condordância que duas ou mais expressões apresentam no encadeamento sintagmático. Assim, mais importante do que dizer que o verbo exiona em núnero e pessoa seria identicar que ele apresenta concordância com o sintagma nominal que ocupar a posição de sujeito. Dizer que o nome `nomeia' os seres é ainda mais grave, porque além de ser um tautologia nada informativa, não é suciente para distinguir nomes de pronomes: mesmo que substituíssemos todos os supostos pronomes da sentença aqu roupa estava na minha gaveta, como em a roupa estava na gaveta, as coisas designadas por a roupa e a gaveta ainda precisariam de um reforço da situação ou do contexto verbal. Ou seja, s ainda teriam as características atribuídas aos pronomes. Ela também não é suciente para reconhecer usos nominais dos verbos, como na sentença estudar é importante para melhorar de vida, na qual estudar é uma forma verbal ocupando a posição de sujeito da sentença, mas não nomeia nenhum ser, e sim uma atitude. 3
4 obre a omissão de classes como a dos adjetivos, dos advérbios, das preposições e das conjunções, é importante observar que em uma sentença como a ação intempestiva dos bandidos motivou a reação da polícia, a palavra intempestiva não pode ser classicada como verbo (já que não apresenta o paradigma exional dos verbos), nem como nome ou pronome (já que não nomeia nada, apesar de apresentar o paradigma de felxão nominal); conectivo também não é, porque não conecta nada. Na mesma sentença, por outro lado, as palavras dos e da poderiam ser inicialmente classicadas como conectivos, porque s interligam a ação intempestiva com bandidos e a reação como polícia, respectivamente; no entanto, s parecem claramente apresentar marcas de exão nominal (mais do que isso, no que concerne à sintaxe, concordância nominal): se ao invertéssemos de posição bandidos e polícia, a sentença precisaria ser a ação intempestiva da polícia motivou a reaçãoi dos bandidos; ou seja, dos e da concordam com o sintagma nominal que os complementam. Por sua vez, em estudar é importante para melhorar de vida, a classicação de para como conectivo (rcionando importante, um adjetivo, e melhorar de vida, um sintagma verbal ou sentença com sujeito elidido no innitivo) é interessante para captar a ambivalência sintática desta palavra, que também pode aparecer em outra função conectiva: na sentença deu um livro para Maria, para estaria conectando um sintagma nominal (Maria) a um verbo (deu). 3. (30 pontos) Em seu livro Análise intática (Teoria Geral e Descrição do Português) ão Paulo: Ática, 1989, ps Miriam Lemle defende que, em fala baixo e tem estudado estes problemas, baixo e estudado são advérbios; e não adjetivo e particípio passado, respectivamente. Isso ca claro na árvore que apresenta para a segunda sentença, reproduzida abaixo. N tem N estudado Det N estes problemas Aplicando a teoria aprendida neste curso, identique as motivações para se apontar esta estrutura como um problema e postular que aqus palavras sejam advérbios, e não construções adjetivais funcionando como adjunto adverbial. (Lembre-se que em caminhou lentamente e caminhou de forma lenta temos um advérbio e um sintagma preposicionado cumprindo a mesma função em rção a caminhou. Observe a agramaticalidade de * tem lentamente e * fala baixo estes problemas.) Resposta: Aplicando os teste de gramaticalidade nestas sentenças, podemos observar que baixo e estudado, apesar de compartilharem sua forma adjetvos, eles não apresentam uma característica típica dos adjetivos: a da concordância nominal. Percebemos isso trocando o gênero e o número dos sujeitos daqus sentenças: (1) ele falou baixo (2) s/eles falaram baixo (3) ele tem estudado estes problemas (4) s/eles têm estudado estes problemas 4
5 Assim, constata-se que baixo e estudado não sofrem concordância com o sujeito (nem este último com estes problemas). Na verdade, aplicando testes de constituência, observamos que baixo e estudado podem acompanhar falar e estudar na clivagem: (5) foi falar baixo aquilo que fez (6) foi falar aquilo que fez baixo (7) * foi baixo aquilo que falou (diferente de foi `baixo' aquilo que falou) (8) foi baixo como falou (9) é estudar estes problemas aquilo que tem feito (10) é estudar aquilo que tem feito com estes problemas (11) são estes problemas aquilo que tem tem estudado Além disso, a comparação com advérbios incontestáveis, como lentamente, em falou lentadamente, que apresentam a mesma distribuição, reforça essa idéia de que baixo e tem estudado se parecem com advérbios: (12) foi lentamente como falou No entanto, esta solução não é completamente satisfatória, porque se baixo e estudado fossem advérbios como lentamente, segundo a sugestão da autora, eles deveriam poder substituir ser substituídos uns pelos outros nas mesmas sentenças; mas não é o que ocorre, como se pode observar p agramaticalidade das sentenças mencionadas no enunciado da questão: (13) * tem lentamente (14) * fala baixo estes problemas (pelo menos na conguração em que baixo estes problemas teria que ser um constituinte único) N N tem lentamente fala baixo Det N N estes problemas (Uma alternativa para se contornar esse problema seria manter a idéia de que baixo e estudado continuam sendo adjetivos, constituindo sintagmas adjetivais; e nestes casos eles estariam ocupando uma posição sintática cuja função é a de adjunto adverbial. Como essa posição não está sujeita a concordância nominal, a escolha da forma não-marcada para um adjetivo não sujeito à concordância parece natural.) 5
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