Ivan De Freitas Vasconcelos Junior 2
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- Maria do Loreto Bastos
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1 IDENTIDADE E LUGARES DE MEMÓRIA: A IMPORTÂNCIA DOS MONTES GUARARAPES PARA O EXÉRCITO BRASILEIRO 1 IDENTITY AND MEMORY PLACES: THE IMPORTANCE OF THE MONTES GUARARAPES TO THE BRAZILIAN ARMY Ivan De Freitas Vasconcelos Junior 2 1 Ensaio teórico 2 Acadêmico do Curso de História do Centro Universitário Internacional. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e especialista em Metodologia no Ensino de Geografia e História pela Universidade Cândido Mendes - ivan_junior_neo@hotmail.com Resumo: Este estudo destina-se a mostrar a relação entre identidade e lugares de memória ressaltando a importância dos Montes Guararapes para a formação identitária do Exército Brasileiro. O artigo tem como objetivos: estabelecer a relação entre os lugares de memória e a formação da identidade, assim como, refletir sobre a relevância dos Montes Guararapes na formação da identidade do Exército. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica em acervos e na internet considerando as contribuições de autores como Le Goff (1990), Nora (1978; 1993), Halbwachs (1925), entre outros, procurando verificar a relação entre identidade e lugares de memória. Buscou-se também informações relacionadas aos Montes Guararapes nas páginas eletrônicas do IPHAN, Comando da 7ª Região Militar e FUNCEB. Concluiu-se que, a memória é um componente fundamental para a formação da identidade de um cidadão, grupo ou nação. No intuito de conhecerem suas identidades, os homens se debruçam sobre o passado em busca de referências e vestígios para possibilitar o suporte do ser no mundo, dessa forma, os lugares de memória conferem um sentido de pertencimento e completude ao indivíduo. Do mesmo modo constatou-se que os Montes Guararapes desempenham um papel importante na preservação da memória da Força Terrestre, pois materializa a formação da identidade da instituição no Brasil. Dada sua magnitude, a área dos Montes Guararapes foi registrada no Livro de Tombo Histórico como bem cultural em função do valor histórico para a formação da nacionalidade brasileira. Palavras-chave: Memória. Identidade. Patrimônio. Montes Guararapes. Exército Brasileiro. Abstract: This study is intended to show the relation between identity and places of memory emphasizing the importance of the Montes Guararapes for the identity formation of the Brazilian Army. The purpose of this article is to establish the relationship between memory places and identity formation, as well as to reflect on the relevance of the Montes Guararapes in the formation of the Army identity. A bibliographical research was carried out in collections and on the internet, considering the contributions of authors like Le Goff (1990), Nora (1978; 1993), Halbwachs (1925), among others, trying to verify the relation between identity and places of
2 memory. We also sought information related to the Montes Guararapes on the IPHAN website, the 7th Military Region Command and FUNCEB. It was concluded that memory is a fundamental component for the formation of the identity of a citizen, group or nation. In order to know their identities, men lean on the past in search of references and vestiges to enable the support of being in the world, in this way, places of memory impart a sense of belonging and completeness to the individual. In the same way, it was verified that the Montes Guararapes play an important role in preserving the memory of the Brazilian Army, since it materializes the formation of the institution's identity in Brazil. Given its magnitude, the area of the Montes Guararapes was recorded in the Historical Tombo Book as a cultural asset due to its historical value for the formation of Brazilian nationality. Keywords: Memory. Identity. Patrimony. Montes Guararapes. Brazilian Army. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como temática a relação entre identidade e lugares de memória ressaltando a importância dos Montes Guararapes para a formação identitária do Exército Brasileiro (EB). Nesta perspectiva, foram utilizados os seguintes questionamentos para balizar o trabalho: Quais as relações existentes entre lugares de memória e formação da identidade? Qual a importância dos Montes Guararapes na formação da identidade do EB? Antes de iniciar o trabalho, é preciso trazer o conceito de memória coletiva, definido pelo historiador francês Pierre Nora (1978, p. 398) como uma recordação ou o conjunto de recordações, conscientes ou não, de uma experiência vivida e/ou mitificada por uma comunidade viva de cuja identidade faz parte integrante o sentimento do passado. Essa definição também pode ser entendida como recordações que um grupo de pessoas passam sucessivamente de uma geração para outra ou pela memória compartilhada coletivamente pelas pessoas. Nesse sentido, o sociólogo francês Maurice Halbwachs trouxe contribuições importantes para a consolidação desse entendimento. Halbwachs (1925) explica que a memória histórica é transmitida ao indivíduo pela coletividade e que se refere às coisas e aos processos do passado que ele não vivenciou, passando a fazer parte da sua história. Ainda seguindo essa linha de raciocínio, na década de 1980, Pierre Nora cunhou a expressão lugares de memória ao refletir sobre as correlações entre história e memória. Seu intuito era chamar a atenção sobre a valorização da transitoriedade veloz do presente no lugar da preservação das tradições do passado (MARCHETTE, 2016, p. 45). Para Nora (1993), o propósito de um lugar de memória é impedir o esquecimento e materializar o
3 intangível a fim de prender o máximo de sentido no mínimo de sinais. Desse modo, são exemplos de espaços capazes de desempenhar essas funções: museus, coleções, arquivos, monumentos, cemitérios, santuários, etc. A memória serve para constituir a base da identidade do indivíduo, dos grupos sociais e da nação, em consequência, os lugares de memória conferem um sentido de pertencimento e completude ao grupo social já que as tradições e heranças identitárias são transmitidas e preservadas nesses lugares de memória. Neste contexto, o objetivo primordial deste estudo é estabelecer a relação entre os lugares de memória e a formação da identidade, assim como, refletir sobre a importância dos Montes Guararapes na formação identitária do Exército Brasileiro. METODOLOGIA Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se a pesquisa bibliográfica como recurso metodológico e arcabouço teórico. A revisão da literatura partiu da análise de materiais publicados e artigos científicos divulgados no meio eletrônico. Para tanto, buscou-se fundamentar a pesquisa nas ideias e concepções de autores como: Halbwachs (1925), Le Goff (1990), Marchette (2016), Nora (1978; 1993), Oliveira; Loures Oliveira (2008) e Pelegrini (2007). Além disso, buscouse informações disponíveis nas páginas eletrônicas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), do Comando da 7ª Região Militar (7ª RM) e da Fundação Cultural Exército Brasileiro (FUNCEB). RESULTADOS E DISCUSSÃO Antes de iniciar o estudo, faz-se necessário retomar as reflexões acerca da memória e dos lugares de memória. Nesse ínterim, Le Goff (1990) explica que a memória contribui para que o passado não seja esquecido totalmente, já que ela acaba capacitando o homem a atualizar informações e impressões anteriores. Pierre Nora (1993, p. 12) também traz outra contribuição com o tema ao afirmar que não existe mais memória, sendo esta revivida e ritualizada em uma tentativa de identificação por parte das pessoas, assim, os lugares de memória são, antes de tudo, restos. Como não existe mais memória espontânea, há a possibilidade de acesso de uma memória reconstituída que dê o sentido necessário de identidade, dessa maneira, os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, organizar celebrações, manter aniversários, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque estas operações não são naturais (NORA, 1993, p. 13).
4 No intuito de conhecerem suas identidades, os homens se debruçam sobre o passado buscando referências e vestígios temporais ou espaciais de modo a possibilitar o suporte do ser no mundo. Assim, as recordações encontram-se em múltiplos espaços constituindo-se em lugares de memória. Dentre os inúmeros lugares de memória situados em território brasileiro, destacam-se os Montes Guararapes (Figura 1), localizados em Jaboatão dos Guararapes/PE, região metropolitana do Recife. Nesse local, sangrentas lutas foram travadas entre luso-brasileiros e holandeses por ocasião da Insurreição Pernambucana, na primeira metade do século XVII. Figura 1 Vista aérea do Parque Histórico Nacional dos Guararapes Fonte: IPHAN (2005). Nos Montes Guararapes foram travadas duas batalhas (a primeira em 19 de abril de 1648 e a segunda em 19 de fevereiro de 1649), abrindo caminho para a rendição do invasor após assinatura da rendição em 26 de janeiro de 1654, na Campina do Taborda, pondo fim a 30 anos de guerra contra a Holanda. Os Montes Guararapes têm especial importância para o Exército Brasileiro, pois foi nesse local
5 que oficialmente deram início as atividades da Força Terrestre. Assim, o dia 19 de abril de 1648 foi reconhecido como a data simbólica da constituição do Exército em território brasileiro. Além da vitória militar, a Batalha dos Guararapes teve um valor social, pois, pela primeira vez, brasileiros, portugueses, índios e escravos lutaram lado a lado pela soberania brasileira. Nessa mescla de bravos guerreiros, destacam-se cinco importantes chefes militares que contribuíram decisivamente para expulsão dos holandeses (Figura 2), são eles: Felipe Camarão, André Vidal de Negreiros, Francisco Barreto de Menezes, João Fernandes Vieira e Henrique Dias. Esses personagens integram o Livro dos Heróis da Pátria (localizado no Panteão da Liberdade e da Democracia em Brasília/DF) que, de acordo com a Lei /07, destina-se ao registro perpétuo dos nomes dos brasileiros que tenham oferecido a vida à Pátria, para sua defesa e construção, com dedicação e heroísmo. Figura 2 Homenagem aos chefes militares que participaram da Batalha dos Guararapes (localizado no Parque Histórico Nacional dos Guararapes) Fonte: RUSLEY (2017). Com o aprimoramento das políticas de preservação do patrimônio, a área dos Montes Guararapes foi registrada no Livro de Tombo Histórico nº 334, de 30 de outubro de 1961, como Berço da
6 Nacionalidade Brasileira. De acordo com o IPHAN (2014), no Livro de Tombo Histórico são inscritos os bens culturais em função do seu valor histórico, formado pelo conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no Brasil e cuja conservação seja de interesse público por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil. Ao se falar em patrimônio, logo é feita a associação do termo aos conceitos de memória e identidade, uma vez que entendemos o patrimônio cultural como lócus privilegiado onde as memórias e as identidades adquirem materialidade (PELEGRINI, 2007, p. 1). Assim, os bens culturais tendem a serem preservados em função da associação que mantêm com as identidades culturais. O patrimônio possibilita estimular a memória dos indivíduos historicamente vinculados a ele, por isso, é alvo de políticas que visam a sua promoção e preservação. Nesse contexto, foi criado em 1971 o Parque Histórico Nacional dos Guararapes (PHNG) pelo Decreto nº , de 19 de abril daquele ano. De acordo com o Comando da 7ª Região Militar (2015), outras ações administrativas foram realizadas no ano de 1996, como: a emissão de uma Diretriz Ministerial que passou a regular as ações do Exército Brasileiro no processo de revitalização do Parque Histórico Nacional dos Guararapes e a elaboração do Plano Diretor do PHNG, realizada pela 7ª Região Militar junto a 5ª Coordenação Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A preservação do patrimônio é uma medida eficaz para garantir que a população tenha a oportunidade de conhecer sua história, por meio do patrimônio imaterial, material, arquitetônico ou edificado, religioso, arqueológico e artístico. É através da materialidade que o indivíduo consegue afirmar sua identidade cultural podendo reconstruir seu passado histórico (OLIVEIRA; LOURES OLIVEIRA, 2008). Seguindo os princípios de preservação do patrimônio defendido acima por Oliveira e Louras Oliveira, o Exército vem atuando na conservação do PHNG dentro de sua esfera administrativa. No ano de 2004, foi estabelecido o Plano de Revitalização do Parque Histórico Nacional dos Guararapes por meio da Fundação Cultural Exército Brasileiro em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Também foi elaborado o Projeto Cultural Parque Histórico Nacional dos Guararapes para aprovação do Ministério da Cultura. De acordo com a Fundação Cultural Exército Brasileiro, o projeto foi aprovado e conta com os benefícios fiscais concedidos pela Lei Rouanet a eventuais parceiros. O projeto está estruturado em três módulos, conforme pode ser verificado no site da instituição ( no entanto, somente o módulo 2 foi concluído. O referido módulo contou com patrocínio da empresa BASF S/A e possibilitou ao PHNG contar com uma sede para a sua administração, um novo mirante e um estacionamento. A FUNCEB ainda busca patrocínio para a construção dos módulos 1 e 3.
7 A temática acerca do patrimônio histórico-cultural envolve tanto o papel da memória quanto da consciência histórica. Isso resulta na apropriação pelo Estado no que se refere à conservação dos bens patrimoniais, estabelecendo, por consequência, qual a identidade (nacional, histórica ou cultural) que este patrimônio transmitirá como legado. De acordo com Pelegrini (2007, p. 3) o patrimônio é historicamente construído e conjuga o sentimento de pertencimento dos indivíduos a um ou mais grupos. Essa afirmação ganha maior significação ao entender patrimônio como uma forma de herança cultural na qual uma geração transmite para outra. Essa herança adquirida fornece informações significativas sobre a história de grupo ou a trajetória da sociedade. O papel do patrimônio, portanto, contribui na formação da identidade desse grupo, na formação da sociedade e no resgate à memória das demais categorias sociais. A preservação do patrimônio torna-se essencial ao desenvolvimento cultural de um povo, já que reflete em sua formação sociocultural. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que o estudo das relações entre identidade e lugares de memória abre um leque de possibilidades de conhecimentos acerca das questões relacionadas à herança cultural e ao patrimônio. Dessa maneira, verificou-se que a memória molda a personalidade do indivíduo por meio da acumulação de lembranças e de valores ao longo da existência do ser humano. A memória é um componente fundamental para a formação da identidade de um cidadão, grupo ou nação e essencial para a integração entre os membros de uma sociedade. Constatou-se também que, no intuito de conhecerem suas identidades, os homens se debruçam sobre o passado e buscam referências e vestígios em diversos locais, de modo a possibilitar o suporte do ser no mundo. Assim, a existência dos lugares de memória é primordial para consolidar a identidade de um grupo e evitar o esquecimento dos fatos passados. Verifica-se que, os Montes Guararapes, como um lugar de memória para o Exército Brasileiro, desempenham um papel importante na preservação à memória da instituição, pois materializam a formação da identidade da Força Terrestre no Brasil. Devido à relevância desse local, a área dos Montes Guararapes foi registrada no Livro de Tombo Histórico como bem cultural em função do seu valor para a formação da nacionalidade brasileira. Ao longo do trabalho, pôde-se averiguar a importância da memória patrimonial no desenvolvimento das heranças culturais do Exército. Essa memória patrimonial se expressa através da documentação, dos monumentos, dos prédios e dos lugares de memória em geral, formando uma significação histórica que passa a se constituir na herança cultural dos militares da Força Terrestre. O Parque Histórico Nacional dos Guararapes traz uma memória patrimonial e um legado, passado de geração a geração, centrado na formação da nacionalidade brasileira e na constituição de uma força armada terrestre capaz de defender o território brasileiro das ameaças
8 externas. Se hoje a integridade do território brasileiro encontra-se estabelecida, muito se deve aos militares do Exército que, desde meados do século XVII, contribuíram para garantia da soberania nacional. Por último, verificou-se que o poder público seguiu a tendência contemporânea de preservação do patrimônio histórico e dos lugares de memória. As entidades públicas estão desenvolvendo projetos de revitalização e conservação do PHNG, de modo a salvaguardar o legado históricocultural e permitir o acesso dessa herança cultural para as futuras gerações. REFERÊNCIAS COMANDO DA 7ª REGIÃO MILITAR. Parque Histórico Nacional dos Guararapes. Recife, 14. mai Disponível em: < Acesso em: 12 out FUNDAÇÃO CULTURAL EXÉRCITO BRASILEIRO. Projetos em reforma e restauro: Parque Histórico Nacional dos Guararapes. Disponível em: < Acesso em: 12 out HALBWACHS, Maurice. Les cadres sociaux de la mémoire. Paris: Presses Universitaires de France, IPHAN. Livro do Tombo Histórico. Brasília: IPHAN, Disponível em: < Acesso em: 12 out Plano de Preservação do Parque Histórico Nacional dos Guararapes: Jaboatão dos Guararapes. Brasília: IPHAN, LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, MARCHETTE, Tatiana Dantas. Educação patrimonial e políticas públicas de preservação no Brasil. 1 ed. Curitiba: Intersaberes, p. NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, v. 10, dez NORA, Pierre. Mémoire collective. In: LE GOFF, Jacques; CHARTIER, Roger; REVEL, Jacques. (Dir.). La nouvelle histoire. Paris: Retz, p OLIVEIRA, Luciane Monteiro; LOURES OLIVEIRA, Ana Paula de Paula. Problemáticas da Gestão do Patrimônio e Políticas Públicas: A educação na perspectiva de mudança paradigmática. Juiz de
9 Fora, PELEGRINI, Sandra C. A. O patrimônio cultural e a materialização das memórias individuais e coletivas. Patrimônio e Memória, UNESP/FCLAs/CEDAP, v.3, n.1, p , RUSLEY, Mari. Parque Histórico Nacional Monte dos Guararapes. Pernambucotem. 11 jun Disponível em: < Acesso em: 12 out
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