Políticas territoriais e desenvolvimento econômico local
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1 Políticas territoriais e desenvolvimento econômico local José Carlos Vaz Instituto Pólis 19 de maio de 2004 A partir de resultados da pesquisa Aspectos Econômicos das Experiências de Desenvolvimento Local Fundação Friedrich Ebert (ILDES) Cássio L. De França Instituto Pólis José Carlos Vaz e Eduardo L. Caldas 1
2 Questão central Como as políticas territoriais devem ser articuladas ao Desenvolvimento Econômico Local e servir a uma estratégia de combate à pobreza, inclusão social e redução das desigualdades? 2
3 1 A disputa de significados para o desenvolvimento local o desenvolvimento local é a reprodução numa escala menor de um projeto de desenvolvimento mais amplo ou é uma outra categoria, um outro tipo de desenvolvimento, com peculiaridades, com valorização do território sobre o qual se pretende atuar? 3
4 Aproximações do Local Local como espaço de experimentação - a realidade não se reduz ao que existe, mas está relacionada ao campo das possibilidades (Boaventura S. Santos). Local como espaço de articulação e conflito de interesses desenvolvimento local é fruto das disputas na sociedade. Local como espaço de democratização das políticas públicas (direitos políticos precedem direitos sociais). 4
5 Elementos para definição de local Local espaço geográfico e instituições reconhecidas como comuns pelos atores sociais e agentes econômicos. Sentimento de pertencimento. Relação a outras instâncias (diversos níveis). 5
6 O desenvolvimento local ocorre em um território Desigualdade territorial é um fenômeno econômico: não pode ser reduzida apenas a desigualdades de qualidade de vida. Desenvolvimento exógeno como expressão da reorganização do capital no espaço (crítica às grandes intervenções). Formas de sociabilidade geradas pela configuração territorial influenciam a estrutura econômica. Desenvolvimento econômico local como aprofundamento da segregação. 6
7 Experiências de desenvolvimento local 7
8 Pesquisa Aspectos Econômicos das Experiências de Desenvolvimento Local Objetivo: Contribuir para o entendimento sobre os impactos econômicos de iniciativas de desenvolvimento local. Estudo das experiências a partir de um olhar sobre o território de maneira sistemática. A pesquisa: Prospecção (2001,2002 e 2003) de cerca de 350 experiências, fichamento de 50 experiências, estudos de 16 casos (visitas de campo), 05 seminários realizados e 02 publicações. 8
9 Por que emergem as chamadas experiências de desenvolvimento local? Porque a pobreza deixa de ser somente uma preocupação institucional federal, para se tornar uma preocupação das esferas locais de governo. Porque passa-se a valorizar os atores locais, os que vivem o cotidiano local seja como sujeitos das políticas implementadas, seja como partícipes da elaboração dessas políticas. Porque o modelo de desenvolvimento descolado do território tem sua capacidade de gerar crescimento esgotado, e passa a ter como dinâmica de referência os mercados globais. 9
10 Cenário para as experiências de inclusão social e desenvolvimento local: o território passa a ser o locus privilegiado de discussão e implementação de políticas públicas de combate à pobreza mas, ironicamente, proliferam: Experimentalismo difuso. Desvalorização do fator econômico na solução do problema. Desvinculação crescente do desenvolvimento local à geração de empregos formais. Concepção dominante é a de reprodução dos padrões de desenvolvimento vigentes. Falta de clareza na distinção entre desenvolvimento local, políticas compensatórias e política social. 10
11 Resultados obtidos pelas experiências Avanços sociais significativos: conquistas de políticas públicas de enfrentamento da pobreza e da indigência, renda mínima, cursos de formação profissionalizante para excluídos, política habitacional de valorização das áreas de vulnerabilidade social etc. Avanços econômicos aquém do esperado. Em termos de Desenvolvimento Local, por vezes, defendemos mais as idéias que os resultados. 11
12 A que essas experiências se propõem? a resistir e/ou atenuar os efeitos da pobreza experiências limitadas em sua origem, não se constituíram para ir além dos programas de redução da pobreza. agregar a dimensão da inclusão social experiências que também valorizam a articulação dos atores locais, entretanto, sem um eixo de desenvolvimento econômico pré-estabelecido. reduzir as desigualdades locais de forma sustentável experiências que valorizam as estratégias de combate à pobreza com inclusão social, a partir de um eixo de desenvolvimento econômico pré-definido. 12
13 Formas de intervenção Indução governamental: A) Uso do poder de compra B) Intervenção territorial C) Articulação regional e consórcios Fomento popular ao desenvolvimento. Experiências de resistência. Intervenção sobre cadeias produtivas (para democratizar ou concentrar?). 13
14 Quem são os agentes dessas ações? Organizações populares (cooperativas, associações etc) e de trabalhadores (centrais sindicais e sindicatos) ONG s e instituições de cooperação nacional e internacional Academia (conjunto de universidades; suporte técnico incubadoras) Organizações públicas não estatais (agências de desenvolvimento) Governos estaduais e municipais (políticas públicas de acesso ao crédito, geração de renda, reinserção profissional etc). Entidades empresariais. 14
15 Dificuldades enfrentadas pelos atores locais Compreender as articulações entre o desenho do território e seu desenho econômico. Articular atores (mediante um novo ethos, não predador) e produzir alterações na economia local (duplo desafio); Manter a governabilidade sobre os processos (tendo em vista o calendário eleitoral e as negociações com outros agentes: por ex., legislativo, judiciário, elites locais e outros); Elaborar um programa de desenvolvimento local endógeno; Promover a gestão de políticas integradas (sem uma definição a priori de um eixo de desenvolvimento endógeno); Democratizar as instâncias públicas de decisão; Promover, de fato, o acesso a mercados (escala, controle de qualidade, logística etc). 15
16 Limites do Desenvolvimento Local Desenvolver a localidade em um ambiente macroeconômico adverso; Promover o acesso a serviços públicos, sem total governabilidade sobre tarifas; Dependência da intervenção de atores externos governamentais ou não; Baixa capacidade de intervenção do nível local; Subordinação à dinâmica econômica mais ampla; Ajustar-se às políticas sociais desenvolvidas em outros níveis de governos; Contextualizar o local e relacioná-lo com outras instâncias, a regional, a nacional e a internacional. Do contrário, cai-se na armadilha de um certo localismo ingênuo e pouco efetivo. 16
17 3 - Potencialidades e desafios Para a incidência das políticas territoriais no desenvolvimento local: 17
18 a) Articulação e novas institucionalidades Papel dos governos locais deve ser de liderança dos processos. Desenho de uma estratégia econômica pré-definida para a cadeia produtiva que caracteriza o território econômico da localidade; Governo, setor privado e sociedade civil formulam uma agenda conjunta de atuação (pacto de cooperação); Não se pode reduzir a participação da sociedade civil aos setores mais diretamente ligados à atividade econômica (empresários, sindicatos de trabalhadores); Articulação de agências de desenvolvimento ou fóruns mesorregionais, fundos de fomento; 18
19 b) O papel da regulação do território sobre o desenvolvimento local A ingenuidade do planejamento territorial que não se vê como econômico. Necessidade de explicitar os argumentos econômicos nas discussões e disputas em torno das políticas territoriais. Entendimento amplo da sustentabilidade das intervenções por meio de políticas territoriais: sustentabilidade ambiental, cultural, econômica, política e social. 19
20 c) Tecnologia e desenvolvimento Superação das desigualdades e promoção do desenvolvimento passa pela rediscussão da apropriação da tecnologia. Estímulo à produção e circulação de tecnologia no nível local. A distribuição da tecnologia no território impacta no desenvolvimento econômico (infra-estrutura pública, acesso a informação, inclusão digital). A escravização pelos dos royalties como entrave ao desenvolvimento (transgênicos, software livre). 20
21 d) Papel indutor da ação governamental Poder de compra do Estado. Mapeamento dos impactos da intervenção territorial. Definição de territórios no espaço municipal gera impactos no desenvolvimento local (segregações, estigmas). 21
22 4 - A necessidade de políticas nacionais de fomento a iniciativas de desenvolvimento local Criação de condições e infra-estruturas políticas: Novas institucionalidades para atuação no território local subnacional. Eliminação de constrangimentos jurídicos. Participação dos níveis locais nas decisões federais: Articulação dos investimentos federais às iniciativas locais. Promoção do crédito como direito. Ação federal para a minimização de carências de infra-estrutura. Conhecimento e tecnologia: Apoio à formação e capacitação adequada ao conhecimento local. Incentivo à tecnologia local. Democratização do saber (Embrapa, Sistema S, universidades públicas etc). Uso do poder de compra do Estado. Mapeamento e coordenação indutora das políticas públicas sobre o desenvolvimento local (ex. aposentadorias e bolsas). 22
23 Instituto Pólis José Carlos Vaz 23
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