MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE SOUSA

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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 8ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA Ref.: Nº /2013/PRM/SOUSA/PB/GAB/RPF Procedimento Preparatório n / O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República ao final subscrito, com base no Inquérito Civil em epígrafe, vem, com fulcro nos artigos 37, 4º, 127 e 129, incisos II e III, todos da Constituição Federal; artigo 6º, inciso XIV, alínea f, da Lei Complementar nº 75/93, e nos dispositivos da Lei nº 8.429/1992, ajuizar a presente em face de AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA LEONID SOUZA DE ABREU, brasileiro, ex-prefeito do Município de Cajazeiras/PB*, inscrito no CPF sob o n , filho de Antônio Vituriano de Abreu e Maria de Fátima Souza de Abreu residente e domiciliado no Sítio capoeiras Sul, Zona Rural, Cajazeiras/PB, também podendo ser encontrado em seu local de trabalho à Avenida Júlio Marques do Nascimento, n 771, sala 03, telefones : (083) , (083) pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. I- RESUMO DOS FATOS No dia , o Município de Cajazeiras/PB, por intermédio

2 da então prefeito LEONID SOUZA DE ABREU, firmou com o Ministério do Turismo o Convênio nº /2009 (fls. 89/107), com o objetivo de promover as festividades de São João 2009, da referida municipalidade. Os recursos previstos para a implementação do objeto conveniado foram orçados no valor total de R$ ,00 (Quinhentos e três mil e quatrocentos e setenta e um reais), sendo R$ ,00 (cinquenta e três mil e quatrocentos e setenta e um reais) custeados pela Convenente e R$ ,00 (quatrocentos e cinquenta mil reais) custeados pelo Concedente (fls. 96). Em sede de Prestação de Contas final, LEONID SOUZA DE ABREU, então Prefeito do Município de Cajazeiras/PB, encaminhou ao Órgão Concedente os documentos de fls. 15/29. Nos documentos de fls. 72/88, observa-se que houve a contratação direta da empresa W. F. ENTRETENIMENTO E PROMOÇÕES ARTÍSTICAS, mediante Procedimento de Inexigibilidade de Licitação n 009/2009, no valor de R$ ,00 (trezentos e oitenta e oito mil e duzentos reais), conforme documentos de fls. 73/74 dos autos. Nesse passo, foram contratados (fls. 14 e 83) os serviços das seguintes atrações musicais: Banda Solteirões do Forró, Banda Cascavel, Banda Encantus, Banda Collo de menina, Banda Desejo de Menina, Banda Ferro na Boneca, Banda mulher Chorona, Felipão e Banda, e Banda Aviões do Forró. Ocorre que tal procedimento está em desacordo com a Lei de Licitações, uma vez que não foi comprovada a relação de exclusividade entre o empresário e as bandas contratadas. Tal circunstância é necessária para autorizar a inexigibilidade de licitação (por impossibilidade de concorrência). Com efeito, de acordo com a Lei nº 8.666/93: "Art.25.É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial: (...) III-para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública." Como se vê, não há nos autos comprovação do contrato de exclusividade dos artistas com o empresário contratado. Pelo contrário. Restou demonstrado que a empresa W. F. ENTRETENIMENTO E PROMOÇÕES ARTÍSTICAS não comprovou ter relação de exclusividade com nenhuma das bandas incumbidas da apresentação musical, apresentando apenas carta de exclusividade para o dia específico da 2

3 apresentação de cada banda, conforme depoimento do empresário da referida empresa, colhido em audiência extrajudicial realizada na sede desta Procuradoria da República (fls. 247): " Que é sócio proprietário da empresa WF Entretenimentos e Promoções Artísticas LTDA e que possui uma casa de festa chamada "Pallacium"; que celebrou contrato com o Município de Cajazeiras/PB para a realização do evento relacionado com o São João de 2009; que apresentou carta de exclusividade das bandas que tocaram no evento; que a citada carta de exclusividade era apenas para o dia específico que cada banda iria tocar; que não é empresário de qualquer das bandas que se apresentaram no São João 2009; que nesse caso atuou apenas como intermediário entre as bandas e o município e que para tanto recebeu em média 10% do valor contratado com cada banda que tocou em cada evento; que confirma o recebimento dos valores contidos na nota fiscal de fls. 195 Vol. I dos autos; que com os valores recebidos pagou as bandas contratadas, a estrutura da festa (palco, som,etc.) e retirou o seu lucro de aproximadamnete 10%." Deve-se ressaltar, por oportuno, que o citado documento afronta o entendimento firmado no Acórdão n. 96/2008, TCU, que estabelece a obrigatoriedade da comprovação da exclusividade empresarial mediante cópia, devidamente registrada em Cartório, do contrato firmado entre os artistas e o empresário, obrigatoriedade esta também encartada no item ll, inciso II, da Cláusula Terceira do citado Convênio (fl. 95). Nessa linha de raciocínio, cumpre acentuar que a conduta do demandado causou inequívoco prejuízo aos cofres públicos federais, posto que, se fossem contratados os empresários exclusivos dos artistas, não haveria qualquer intermediário a ser remunerado na negociação. No entanto, do modo como foi realizada, a contratação acarretou, necessariamente, o pagamento pelos serviços supostamente prestados pela empresa W. F. ENTRETENIMENTO E PROMOÇÕES ARTÍSTICAS (10% dos valores, ou aproximadamente R$ ,00). A par disso, pode-se afirmar com absoluta certeza, que o Procedimento de Inexigibilidade n 009/2009 se deu fora das hipóteses previstas no art. 25 da Lei nº 8.666/93, haja vista que não foi demonstrado o vínculo de exclusividade entre a empresa e os artistas nem a consagração destes perante o público e a crítica especializada. II - DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA A Constituição Federal dispõe em seu artigo 37, 4., in verbis: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos 3

4 Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. A fim de dar concreção a essa norma constitucional, surgiu a Lei nº 8.429/92, que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos, no caso de improbidade no exercício do mandato, cargo, emprego ou função na administração direta, indireta ou fundacional, ou entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício de órgão público. Essas balizas trazidas pelo legislador ordinário têm direta aplicação no caso aqui abordado. Os documentos em anexo demonstram que o denunciado não agiu de acordo com a moral e com a probidade. Pelo contrário, há provas contundentes de que o requerido LEONID SOUZA DE ABREU contratou a empresa W. F. ENTRETENIMENTO E PROMOÇÕES ARTÍSTICAS LTDA, sem restar configurada qualquer das hipóteses previstas na Lei n 8.666/93, especialmente em seu artigo 25, inciso III. Ademais, a Administração Pública, ao contratar artistas através de empresário exclusivo, deve exigir o contrato de exclusividade artística. É através dele que a Administração Pública tomará conhecimento acerca da remuneração cobrada pelo empresário, se o mesmo é exclusivo do artista e se atua em seu âmbito territorial, bem como se o contrato é vigente. E o demandado tinha plena e inequívoca ciência dessa exigência. Com efeito, transcreva-se o inteiro teor do item ll, inciso II, da Cláusula Terceira do citado Convênio, do Convênio em questão (fls. 95): ll) apresentar na prestação de contas, quando da contratação de artistas, consagrados, enquadrados na hipótese de inexigibilidade prevista no inciso III do art. 25 da Lei n 8.666/93, atualizada, por meio de intermediários ou representantes, cópia do contrato de exclusividade dos artistas com o empresário contratado, registrado em cartório, sob, pena de glosa dos valores envolvidos. Ressalta-se que o contrato de exclusividade difere da autorização que confere exclusividade apenas para os dias correspondentes à apresentação dos artistas e que é restrita à localidade do evento, conforme dispõe o Acórdão n. 96/2008 Plenário do TCU. (fl. 95) A exigência acima é de clareza cristalina. Note-se que o demandado rubricou esta lauda do convênio, conforme se vê na parte inferior 4

5 das fls. 95 dos autos. Ele tinha a obrigação de cumprir a legislação, sob pena de glosa dos valores envolvidos. Corroborando o acima exposto, assim entende o Tribunal de Contas da União 1 : Quando da contratação de artistas consagrados, enquadrados na hipótese de inexigibilidade prevista no inciso III do art. 25 da Lei nº 8.666/1993, por meio de intermediários ou representantes, deve ser apresentada: cópia do contrato de exclusividade dos artistas com o empresário contratado, registrado em cartório. Deve ser ressaltado que o contrato de exclusividade difere da autorização que confere exclusividade apenas para os dias correspondentes à apresentação dos artistas e que é restrita à localidade do evento; o contrato deve ser publicado no Diário Oficial da União, no prazo de cinco dias, previsto no art. 26 da Lei de Licitações e Contratos Administrativos, sob pena de glosa dos valores envolvidos; os valores arrecadados com a cobrança de ingressos em shows e eventos ou com a venda de bens e serviços produzidos ou fornecidos em função dos projetos beneficiados com recursos dos convênios devem ser revertidos para a consecução do objeto conveniado ou recolhidos à conta do Tesouro Nacional. Adicionalmente, referidos valores devem integrar a prestação de contas. (TCU - Acórdão 96/2008 Plenário) Por conseguinte, resta evidente o caráter doloso da conduta praticada pelo demandado, que contratou os serviços de 09 (nove) bandas musicais em desacordo com o prescreve a Lei de Licitações, além de contratar com um empresário que não demostrou a exclusividade para com os artistas, não fornecendo a cópia do contrato de exclusividade devidamente registrado em cartório, conforme previsto no próprio Convênio pactuado. No mesmo passo, o requerido LEONID SOUZA DE ABREU contratou com a empresa W. F. ENTRETENIMENTO E PROMOÇÕES ARTÍSTICAS LTDA, a apresentação de bandas musicais que não possuem a mínima consagração crítica ou pública, o que denota a deliberada intenção do demandado em burlar as normas de conduta previstas na Lei nº 8.666/93, o que já seria suficiente para materializar ato de improbidade administrativa, pois o ex-prefeito sequer externou os motivos que levaram à contratação direta daqueles artistas. A esse respeito, o Prof. Jorge Ulisses Jacoby 2, teceu os seguintes comentários: O terceiro requisito apresentado pelo inciso III, do art. 25, em 1 Ata nº 2/2008 Plenário - Data da Sessão: 30/1/2008 Ordinária - Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC /08-P. 2 JACOBY, Jorge Ulisses. Contratação Direta sem Licitação. 2 ed. Editora Brasília Jurídica,

6 comento, diz respeito ao fato de que o pretenso contratado deve ser consagrado pela critica especializada ou pela opinião pública. Essa exigência corresponde à notória especialização do inciso anterior e, embora apresente certo limite de discricionário, não permite arbitrariedades. A justificativa da escolha deve apontar as razões do convencimento do agente público, registrando-se no processo de contratação os motivos que o levaram à contratação direta. É óbvio que não se pretende que o agente faça juntar centenas de recortes de jornal, por exemplo, sobre o artista, mas que indique sucintamente porque se convenceu do atendimento desse requisito para promover a contratação direta, como citar o número de discos gravados, obras de arte importantes, referência a dois ou três famosos eventos. Está devidamente caracterizado, dessa forma, o dano ao Erário Público Federal, nos termos do art. 10, VIII, da Lei nº 8.429/92, ocasionado pela atuação dolosa do ex-prefeito LEONID SOUZA DE ABREU. Sobre esse particular prejuízo ao poder público, cabe tecer algumas considerações. A licitação, como é sabido, é um procedimento administrativo voltado à obtenção da proposta mais vantajosa para a Administração Pública, de acordo com os critérios definidos em seu Edital. Regra geral, adota-se o critério do menor preço (global ou por item), de maneira que o licitante que se dispuser a vender um bem à Administração pelo menor preço sagra-se vencedor. O cerne, portanto, do procedimento licitatório é a competição, a concorrência entre os interessados, levando-os a oferecer preços cada vez mais baratos, a fim de conseguir superar os preços dos demais participantes da disputa. Nessa linha de raciocínio, pode-se concluir que dispensar ou inexigir licitação fora dos casos legais o exato caso dos autos, por si só, já tem o condão de caracterizar prejuízo ao Erário, uma vez que se impede que terceiros de boa-fé interessados possam oferecer propostas potencialmente mais vantajosas à Administração. Tem-se, na espécie, dano ao Erário comprovado de pelo menos 10% dos valores contratados (R$ ,00) com a W. F. ENTRETENIMENTO E PROMOÇÕES ARTÍSTICAS LTDA, sendo certo que, caso houvesse efetiva disputa entre licitantes de boa-fé, as propostas apresentadas poderiam ser mais interessante do que as condições adotadas dolosamente pelo réu. Em suma, priva-se a Administração Pública de receber uma proposta mais vantajosa, caracterizando-se, por consequência, o prejuízo ao Erário. Há, portanto, perfeito enquadramento do caso em análise no tipo 6

7 previsto no artigo 10, inciso VIII, da Lei nº 8.429/92. III CONCLUSÃO E REQUERIMENTOS FINAIS Em face do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer: a) a notificação do requerido para se manifestar por escrito, no prazo de 15 (quinze) dias, e que, após tal prazo, em juízo de admissibilidade, seja recebida a presente demanda, dando prosseguimento regular, nos termos dos 7º e 9º do art. 17 da Lei n /92; b) a citação do réu para que, querendo, conteste o feito, no prazo legal, sob pena de revelia (art. 319, do CPC); c) a notificação da União, por meio da Advocacia-Geral da União no Estado da Paraíba, localizada na Av. Maximiano Figueiredo, n. 404, Centro, João Pessoa/PB, CEP n , para que, querendo, ingresse no polo ativo da presente demanda, na condição de litisconsorte (art. 17, 3º, da Lei n 8.429/92 e art. 6º da Lei n 4.717/65); d) por fim, a condenação do réu nas sanções previstas no art. 12, inciso II, da Lei n 8.429/92, bem como nas despesas processuais. Protesta, ademais, pela produção de todas as provas admissíveis em Direito, notadamente a juntada de novos documentos, prova pericial, depoimento pessoal e oitiva de testemunhas. Dá-se à causa o valor de R$ ,00 (trezentos e oitenta e oito mil e duzentos reais), para todos os efeitos fiscais e de direito. Sousa/PB, 05 de novembro de RENAN PAES FELIX Procurador da República 7

8 *Todas as informações de caráter pessoal foram retiradas em obediência ao artigo 9º, inciso III, da Portaria PGR/MPF nº 918, de 18 de dezembro de 2013, que instituiu a Política Nacional de Comunicação Social do Ministério Público Federal. S:\ASCOM\2014\16-ACPIAs-2013\04-Sousa\11-Novembro\ 8