Palavras Chave: Formação humana; Autonomia; Heteronomia; Educação; Ética.

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1 EDUCAÇÃO E ÉTICA EM KANT: AUTONOMIA E HETERONOMIA NA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA E MORAL DO HOMEM Anderson Carvalho dos Santos UFG anderson_ai@hotmail.com Resumo O presente trabalho tem por objetivo expor uma visão geral sobre a concepção de Kant a respeito formação pedagógica e moral do homem, destacando, em particular, a importância dos conceitos autonomia e heteronomia na formação e educação do mesmo, mostra também a relação existente entre tais conceitos com outros dois pares de conceitos centrais da sua ética, a saber: de um lado, o princípio da felicidade e o princípio da moralidade e, de outro, o imperativo hipotético e o imperativo categórico, indicando assim a relação entre educação e ética existente no pensamento deste grande filósofo, aborda também a divisão que Kant faz do processo educativo do ser humano, a saber: educação física e educação prática ou moral. Acima de tudo, o trabalho tem por objetivo resolver a problemática de como articular os conceitos pedagógicos de constrangimento às leis e exercício da liberdade por referência aos conceitos éticos de autonomia e heteronomia, indicando ao final deste, que há possibilidade de se resolver esse problema de articulação através de uma parte do processo educativo do ser humano, chamada trabalho. Trata-se de um estudo baseado nas preleções Sobre a Pedagogia (1803), fruto de várias anotações feitas quando Immanuel Kant ministrou curso de Pedagogia na Universidade de Königsberg durante os anos 1776/77, 1783/84 e 1786/87 e publicados por um de seus discípulos, chamado Theodor Rink no ano de 1803 e também em alguns escritos éticos de Kant, tais como a Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), a Crítica da Razão Prática (1788) e a Resposta à pergunta: Que é esclarecimento (1784). Palavras Chave: Formação humana; Autonomia; Heteronomia; Educação; Ética. Abstract This work aims to expose an overview of the design of Kantian moral and pedagogical training of man, emphasizing in particular the importance of autonomy and heteronomy 1

2 concepts in the training and education of the same, also shows the relationship between such concepts with two other pairs of the central concepts of his ethics, namely: first, the principle of happiness and the principle of morality and on the other, the hypothetical imperative and the categorical imperative, thus indicating the relationship between education and ethics in existing thought of this great philosopher, also addresses the division that Kant makes the educational process of the human being, namely : moral education and physical education or practice. Above all, the work aims to solve the problem of how to articulate the pedagogical concepts of embarrassment to the laws and exercise of freedom by reference to the ethical concepts of autonomy and heteronomy, indicating the end of this, it is possible to resolve this problem joint through a part of the educational process of the human being, called work. This is a study based on lectures About Pedagogy ( 1803), the result of several notes made when Kant taught pedagogy course at the University of Königsberg during the years 1776/77, 1783 /84 and 1786/87 and published by one of his disciples, Theodor Rink in the year 1803 and also in some of Kant's ethical writings, such as Groundwork of the Metaphysics of Morals ( 1785 ), Critique of Practical Reason ( 1788 ) and answer the question: What is enlightenment ( 1784 ). Key Words: Human Formation; autonomy; heteronomy; education; Ethics. Introdução Immanuel Kant ( ) nasceu, estudou, lecionou e morreu na cidade de Königsberg, na Prússia Oriental. Jamais deixou a cidade. Manteve uma vida com rotina rigorosa, porém aceitável, a qual interrompeu raras vezes. O aspecto pessoal da vida de Immanuel Kant ficou marcado por ser ele muito disciplinado e por manter hábitos praticamente inquebráveis, suas qualidades de professor também foram muito estimadas. Sua vida tranquila foi dedicada à investigação do conhecimento. Tornou-se professor de Lógica e Metafísica na Universidade de Königsberg em Entre os anos de 1770 e 1780 não publicou nenhuma obra, tal década é conhecida como década silenciosa, porém em 1781, depois de dez anos de silêncio, Kant publica a Critica da Razão Pura a sua mais importante obra. 2

3 Suas obras abrangeram as diversas áreas do conhecimento filosófico, e até hoje contribuem para o pensamento filosófico. Por sua característica a-temporal a Filosofia sempre nos possibilita mostrar sua atualidade (PINHEIRO, 2007, p.9). Dentre as principais obras de Kant, se destacam a Critica da razão pura (1781), como já mencionado acima, Critica razão prática (1788) e a Critica da faculdade de julgar (1790). No campo da educação as preleções Sobre a pedagogia têm um papel de destaque, é um texto simples, fruto de várias anotações feitas quando Kant ministrou curso de Pedagogia na Universidade de Königsberg durante os anos 1776/77, 1783/84 e 1786/87. Esses escritos foram publicados por um de seus discípulos, chamado Theodor Rink no ano de A filosofia prática do Filósofo de Königsberg que é enunciada nesta obra é de extrema importância para a sociedade, sendo um verdadeiro arsenal de conhecimento para pesquisas que têm por objetivo discutir a educação, a ética e a formação humana. Este trabalho visa analisar e compreender as reflexões filosóficas de Kant sobre autonomia e heteronomia e a importância desses conceitos na formação do homem, tendo por base as preleções Sobre a pedagogia (1803). Tem-se a certeza que as idéias de Kant sobre estes dois conceitos não se limitam apenas a este texto, por isso foram utilizadas outras obras de sua autoria como complemento para este trabalho a fim de poder-se entender da forma mais clara possível tais conceitos. O trabalho tem por titulo: Educação e ética em Kant: Autonomia e Heteronomia na formação pedagógica e moral do homem, e através deste buscar-se-á de um modo geral articular os conceitos pedagógicos de constrangimento às leis e exercício da liberdade por referência aos conceitos éticos de autonomia e heteronomia. Além disso, o trabalho abordará também de forma direta os conceitos de autonomia e heteronomia para que se possa compreendê-los de forma clara, mostrando como é importante um processo educativo que vise à autonomia, fazendo por fim uma relação entre a educação e a ética em Kant. 3

4 AUTONOMIA E HETERONOMIA NA ÉTICA DE KANT Antes de tratar dos conceitos de heteronomia e autonomia presentes de forma implícita nas preleções Sobre a pedagogia (1803) e de uma forma bem mais clara na ética de Kant, levando em consideração aqui os livros Fundamentação da metafísica dos costumes (1785) e Critica da razão prática (1788), convém falar primeiro de alguns conceitos que são anteriores a estes dois. Tratar-se-á primeiro sobre a definição de princípios e imperativos logo em seguida os conceitos de heteronomia e autonomia serão abordados respectivamente. Princípios e imperativos. Princípios Princípios práticos ou proposições fundamentais práticas expressam uma determinação universal da vontade (CAYGILL, 2000, p. 261). Quando tais princípios valem somente para a vontade humana, são definidos por Kant como máximas subjetivas, quando válidas para todos os seres racionais são definidas como leis práticas. A faculdade da vontade no ser humano, faculdade esta que determina toda a ação, está baseada fundamentalmente em dois princípios básicos que resumem todos os princípios que determinam em geral à vontade. Kant irá chamar estes princípios de princípio da felicidade e princípio da moralidade. O primeiro princípio é empírico, material e provém dos sentidos, enquanto o segundo é puro, formal e provém unicamente da razão. Toda a ação humana baseada no primeiro princípio tem como ponto central inclinações que visam à felicidade própria, isto é, os fatores que influenciam a ação são exteriores ao próprio sujeito e tem, nesse sentido, o sentimento de prazer ou desprazer como base para toda a ação, colocando assim toda ação fora do alcance da moralidade. Como diz Kant, todos os princípios práticos materiais são, enquanto tais, no seu conjunto de uma e mesma espécie e incluem-se no princípio geral do amor de si ou da felicidade própria (CRPr, A 40). Segundo Kant, ligado a este princípio de felicidade encontra-se o conceito de faculdade de apetição inferior, a qual seria aqui a própria faculdade da vontade governada por princípios materiais, pois todas as ações são determinadas esperando um fim já determinado que tem por base a felicidade própria. Para Kant, ser feliz é 4

5 necessariamente a aspiração de todo ente racional, porém finito e, portanto, um inevitável fundamento determinante de sua faculdade de apetição (CRPr, A 45) faculdade esta denominada por ele de faculdade de apetição inferior. Em uma linha totalmente oposta ao principio da felicidade e da faculdade de apetição inferior está o principio da moralidade. As ações baseadas neste principio não levam em consideração o prazer ou o desprazer, não se baseiam no princípio da felicidade própria, estão fundamentadas única e exclusivamente no princípio da moralidade. Tal princípio faz com que o agir seja unicamente pela razão do sujeito. Para Kant, apenas sendo baseada neste segundo princípio é que a vontade pode ser considerada como tendo valor moral, ou seja, para ter valor moral a vontade tem que se abstrair de toda forma de inclinação. Assim como o principio da felicidade encontra-se ligado à faculdade de apetição inferior, encontra-se aqui, conforme Kant, o princípio da moralidade ligado ao conceito de faculdade de apetição superior. De acordo com Kant a razão na medida em que determina por si mesma a vontade (não está a serviço das inclinações), é uma verdadeira faculdade de apetição superior (CRPr,, A 45), confirmando assim sua relação com o princípio da moralidade, visto que este é determinado apenas pela própria razão. Imperativos Outro ponto importante para se entender os conceitos de heteronomia e autonomia é o conceito de imperativo. Para Kant, os imperativos valem objetivamente e diferem totalmente das máximas enquanto proposições fundamentais subjetivas (CRPr, A 36-7). Segundo Caygill (2000), os imperativos recomendam cursos de ação às vontades refratárias, impondo-as contra suas inclinações (p. 191). Na Critica da razão prática, encontra-se a seguinte definição para imperativo: uma regra que é caracterizada por um dever-ser, o qual expressa uma necessitação objetiva da ação (CRPr, A 36). Percebe-se aqui que os imperativos derivam do conceito de dever, expressando assim uma necessidade objetiva da ação, trata-se de uma proposição que exprime uma ordem condicional ou categórica, pois, todos os imperativos ordenam ou hipotética ou categoricamente (FMC, BA 39). 5

6 Kant distingue dois tipos de imperativos, a saber, o imperativo hipotético e o imperativo categórico. O imperativo hipotético trata-se de um princípio que representa a necessidade prática de uma ação possível, como meio de se alcançar qualquer coisa que se quer (ou que é possível que se queira) (FMC, BA 39). Tais imperativos ordenam uma ação visando que essa ação chegue a um fim determinado. Caygill (2000), afirma que distintamente dos imperativos categóricos, os hipotéticos estão interessados na matéria da ação e seu pretendido resultado (p. 170). Há aqui uma relação entre o conceito de imperativo hipotético e o princípio da felicidade já falado anteriormente, visto que tanto o imperativo hipotético quanto o princípio da felicidade, fixam a base para suas ações fora da própria razão, pois o imperativo que se relaciona com a escolha dos meios para alcançar a própria felicidade [...] continua a ser hipotético (FMC, BA 43). Quem age tendo alguma inclinação ou esperando algum fim, age tendo por base o princípio da felicidade que resume todas as inclinações do homem, e também age sendo determinado por um imperativo hipotético visto que sua vontade levou em consideração apenas um efeito. Enfim, como escreve Kant, os imperativos hipotéticos determinam as condições da causalidade do ente racional, enquanto causa operante, simplesmente com vistas ao efeito e ao que é suficiente para o mesmo (CRPr, A 37). Contrariando a isso, o imperativo categórico, seria aquele que nos representasse uma ação como objetivamente necessária por si mesma, sem relação com qualquer outra finalidade (FMC, BA 39), ele ordena uma ação que não seja pautada em nenhum interesse externo, deve-se agir sem esperar um efeito ou alcançar algum fim, a ação não pode ser determinada em nenhum outro objeto externo a própria razão. O imperativo categórico torna-se aqui o principio supremo da moralidade, de modo que, para Kant, este imperativo pode-se chamar o imperativo da moralidade (FMC, BA 43). Segundo Kant, o imperativo categórico Não se relaciona com a matéria da ação e com o que ela deve resultar, mas com a forma e o princípio que ela mesma deriva; e o 6

7 essencialmente bom na ação reside na disposição, seja qual for o resultado (FMC, BA 43). Os imperativos categóricos determinam somente a vontade, quer ela seja suficiente ou não para a vontade (CRPr, A 37), e é expresso fundamentalmente na seguinte fórmula: age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal (FMC, BA 52). Tal fórmula que define o imperativo categórico da FMC caracteriza também a lei fundamental da razão prática pura presente na CRPr que é expressa da seguinte forma: Age de tal modo que a máxima de tua vontade possa sempre valer ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal (A 54). Vêse aqui que tanto o imperativo categórico quanto a lei moral se caracterizam pela necessidade de valerem universalmente para todo ser racional. Assim como visto anteriormente, que o princípio da felicidade tem relação com o imperativo hipotético, pode-se fazer também uma relação entre imperativo categórico e princípio da moralidade (lei moral), na medida em que ambos possuem em sua essência uma determinação racional, são formais, não estão interessados em um fim particular, pois não possuem relação com a matéria da ação. Visam unicamente à formação de uma vontade boa ou pura no ser humano. Conceito de heteronomia. Etimologicamente a palavra heteronomia tem suas raízes em duas palavras: hetero (outro) e nomos (lei) e significa toda lei que procede de outro (é o oposto da autonomia, conceito que estudaremos um pouco mais a frente neste trabalho). Trata-se de submissão às leis que não tem sua origem na própria razão. Caygill (2000) diz que os princípios heterônomos podem ser empíricos e racionais; os primeiros aduzidos do principio de felicidade, estão baseados nos sentimento físico ou no moral, enquanto os segundos, aduzidos do principio de perfeição, baseiam-se no conceito racional de perfeição como efeito possível da nossa vontade ou então no conceito de uma perfeição independente (a vontade de Deus) como causa determinante da vontade (p.170). O sujeito que se deixa governar por leis que provém de qualquer outro lugar que não seja a razão pura, tem suas ações pautadas pela heteronomia. Em outras palavras, podese entender que quando a razão não dá a lei a si mesma e o sujeito não se torna 7

8 legislador de si mesmo com máximas morais que podem ser adotadas universalmente, nasce então a heteronomia. A vontade se deixa guiar pelas leis que se originaram entre ela e os objetos, deixando assim de ser ela mesma a legisladora. Assim sendo, qualquer ação resultante de uma motivação externa à razão nunca será um fim em si mesma, mas apenas um simples meio. Kant designa a heteronomia da seguinte forma: Quando a vontade busca a lei, que deve determiná-la em qualquer outro ponto que não seja a aptidão das suas máximas para a sua própria legislação universal, quando, portanto, passando além de si mesma, busca essa lei na natureza de qualquer dos seus objetos, o resultado é então sempre heteronomia (FMC, BA 88). Portanto, toda vontade baseada no princípio da heteronomia necessariamente segue uma lei dada por um objeto através da relação entre este e a vontade. Segundo Kant, esta relação quer assente na inclinação quer em representação da razão, só pode tornar possíveis imperativos hipotéticos (FMC, BA 88). Ou seja, a ação é baseada em uma vontade de receber outra coisa, é uma ação esperando um efeito ou fim. Consequentemente, se uma ação se determina procurando conseguir qualquer outra coisa, tal ação se desvinculará de qualquer imperativo moral ou categórico. Os conceitos de heteronomia e autonomia relacionam-se aqui com os conceitos de imperativo hipotético e imperativo categórico, estes também sempre presentes na ética de Kant e que já foram abordados neste trabalho. A heteronomia opõe-se totalmente ao conceito de imperativo categórico, sendo que na heteronomia toda ação é baseada no propósito de alcançar algo e o imperativo categórico diz que toda ação deve ser independente de qualquer objeto do desejo. Encontra-se também na Fundamentação da metafísica dos costumes que os ideais de felicidade e perfeição supõem em si mesmos o princípio da heteronomia da vontade, visto que tais ideais não são determinados por uma lei da própria razão e sim por um desejo a ser alcançado. A esse respeito, diz Kant: 8

9 Quer o objeto determine a vontade por meio da inclinação, como no caso do princípio da felicidade própria, quer a determine por meio da razão dirigida a objetos do nosso querer possível em geral, como no princípio da perfeição, a vontade nunca se determina imediatamente a si mesma pela representação da ação, mas somente pelo móbil resultante da influência que o efeito previsto da ação exerce sobre ela (FMC, BA 93-4). Outro texto que esclarece um pouco mais a respeito do conceito de heteronomia, apesar de não encontrarmos tal termo com uma definição exata, é o texto de Kant intitulado Resposta à pergunta: Que é esclarecimento (1784). Nesse texto pode-se perceber de forma implícita a questão da heteronomia sendo tratada como uma forma de menoridade. Afirma Kant: A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo (1784, p. 1). Para Kant, o próprio homem é o culpado dessa menoridade, visto que podendo exercer sua liberdade, não o faz por medo ou covardia, consequentemente quando não faz uso de sua racionalidade para regular suas ações, quando entrega a direção de suas ações a algo ou a alguém externo a si mesmo, suas ações são heterônomas. O homem não deve pensar por meio de formas ou regras já determinadas. Obrigando o homem a fazer isso, a heteronomia prevalecerá em suas ações, seus pensamentos e sua vida, tornando esse homem incapaz de ter um caráter bem formado. Todo o processo de Kant com referência a formação moral do homem é a busca por máximas totalmente autônomas opondo-se assim a toda forma de heteronomia, visto que a heteronomia da vontade para Kant é a fonte de todos os princípios ilegítimos da moralidade. Conceito de autonomia Semelhantemente à palavra heteronomia, autonomia tem suas raízes em duas palavras: autós (por si mesmo) e nomos (lei) e significa o poder de dar a si a própria lei. É a liberdade exercida em conformidade com uma lei que o sujeito dá a si mesmo. Diz respeito à vontade que se determina em virtude de sua própria lei, determinando assim um valor moral à ação. A vontade baseada na autonomia está em conformidade unicamente com o dever que a própria razão dita, excluindo assim qualquer interesse externo. 9

10 Acerca da autonomia Caygill (2000) afirma que o princípio de autonomia é enunciado como escolher sempre de tal maneira que, na mesma volição, as máximas da escolha estejam, ao mesmo tempo, presentes como uma lei universal (FMC p.440, p. 44) (p. 43). Em todo o estudo sobre o conceito de autonomia pode-se perceber que a mesma se funda mediante dois aspectos, a saber: a capacidade de dar a si mesma a própria lei, e ao mesmo tempo a capacidade de realizar e obedecer a essa lei dada. Segundo Ramos (2008), Tal princípio revela a capacidade auto-referencial da razão nas seguintes dimensões: ela é autoconsciente (a razão determina a si mesma como fonte autônoma da ação), autolética (tem a si mesma como fim da ação) e auto-representante (põe a si mesma como sujeito da ação) (p.2). Apesar de ter sido Kant quem definiu o conceito de autonomia na modernidade e fez dele um conceito central em sua teoria (ZATTI, 2007, p.10), os gregos já haviam desenvolvido certa noção a respeito da autonomia, só que com diferentes significados, às vezes restritos a certos aspectos da vida em sociedade dependendo sempre de qual heteronomia cada sujeito está se opondo. Como confirma ZATTI (2007), Na Grécia antiga, historiadores como Tucídides e Xenofonte citam povos que se rebelavam e buscavam sua independência (cf. BOURRICAUD, 1985, p. 52), o que mostra a presença da idéia de autodeterminação política das cidades. Mas a noção de autonomia dos historiadores gregos fica restringida à idéia de autodeterminação das unidades políticas, as cidades. Ela é distinta da noção de soberania, de autarquia, de poder absoluto. É aproximada do conceito de autarcia, suficiência, de não ter necessidade de ninguém (cf. idem) (p. 13). Quanto à concepção de Kant a respeito do termo autonomia que em seu pensamento ganha maior força e centralidade, Zatti (2007) afirma: Autonomia, para ele (Kant), designa a independência da vontade em relação a todo objeto de desejo (liberdade negativa) e sua capacidade de determinar-se em conformidade com sua própria lei, que é a da razão (liberdade positiva) (p.14-5). Toda ação praticada por um agente, sendo tal ação influenciada por objetos de desejo, ou por qualquer outro fator externo à própria razão humana é contrária ao princípio de autonomia, chamar-se-á heteronomia. Na autonomia, a ação deve ser moralmente impulsionada pela lei criada pelo próprio agente da ação. 10

11 Podem-se encontrar várias passagens em obras da filosofia prática de Kant que tratam sobre a autonomia, demonstrando assim a importância de tal conceito dentro do âmbito da ética de Kant. Na Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), obra de Kant posterior à primeira edição da Critica da razão pura (1781) e que aborda de forma profunda o problema do imperativo moral, podemos encontrar a seguinte afirmação: A autonomia é, pois o fundamento da dignidade da natureza humana e de toda natureza racional (FMC, BA 80). Percebe-se aqui que a dignidade humana está intimamente ligada a idéia de autonomia, não se restringindo a uma mera comparação entre sensibilidade e razão, a autonomia possibilita ao homem representar a lei para si mesmo. Como afirma Zatti, a vontade autônoma concebe para si a própria lei, por isso é distinta da vontade heterônoma cuja lei é dada pelo objeto. A vontade é autônoma na medida em que não é simplesmente submetida a leis, já que é também sua autora. O princípio da autonomia é o imperativo categórico (2007, p.16). Pode-se afirmar que a autonomia é o princípio pela qual todas as ações morais são guiadas e constitui-se uma regra pela qual se obedece às leis criadas por si mesmo, ou, mais precisamente, trata-se da capacidade que o homem tem de atuar conforme as leis da própria razão. Todas as ações que se relacionam com a autonomia da vontade nos levarão à moralidade, pois, como diz Kant, a vontade cujas máximas concordem com as leis da autonomia, é uma vontade santa, absolutamente boa (FMC, BA 86). Essa idéia de relação entre autonomia e moralidade é também reforçada por Kant na seguinte passagem: Pela simples análise dos conceitos da moralidade, pode-se, porém, mostrar muito bem que o citado princípio da autonomia é o único principio moral (FMC, BA 88). Dessa forma pode-se entender que Kant tem a autonomia da vontade como o princípio supremo da moralidade ou, mais precisamente, que tal autonomia resulta de tal princípio. Kant ainda relaciona na Fundamentação da metafísica dos costumes o conceito de liberdade como sendo a chave da explicação da autonomia da vontade. Diz ele: Ora à idéia da liberdade está inseparavelmente ligado ao conceito de autonomia, e a este principio universal da moralidade, o qual na idéia está na base de todas as ações de seres racionais como a lei natural está na base de todos os fenômenos (FMC, BA 109). 11

12 Na Critica da razão prática pode-se encontrar a seguinte afirmação: A autonomia da vontade é o único princípio de todas as leis morais e dos deveres conforme a elas (CRPr, A 58). Para Kant, a autonomia constitui o princípio pelo qual as ações serão guiadas, obedecendo elas mesmas as leis racionais, pois se assim não for, a razão terá que obedecer às leis que os fatores externos impõem. Para Kant, O único princípio da moralidade consiste na independência de toda a matéria da lei (a saber, de um objeto apetecido) e pois ao mesmo tempo na determinação do arbítrio pela simples forma legislativa universal da qual uma máxima tem que ser capaz. [...] Portanto a lei moral não expressa senão a autonomia da razão prática pura (CRPr, A 58-9). Observa-se até aqui que o conceito de autonomia é bastante discorrido na ética de Kant, sendo a autonomia da vontade estritamente ligada ao imperativo categórico. Conforme afirma HERRERO (2001), mas é claro que não se trata de um novo e ulterior pressuposto dos conceitos da filosofia moral [autonomia], mas de um outro nome para o imperativo categórico (p. 26). Vê-se, assim, que a autonomia da vontade, ou seja, submeter-se apenas à lei moral dada pelo próprio sujeito, constitui toda a base do agir moral para Kant. EDUCAÇÃO E ÉTICA Na obra Sobre a pedagogia (1803) pode-se encontrar alguns conceitos de Kant que se assemelham muito com conceitos de sua Ética e, levando em consideração que o fim supremo de todo o processo de educação do homem é a sua moralização, pode se fazer um paralelo entre alguns conceitos presentes na obra Sobre a Pedagogia com os conceitos da ética de Kant. Disciplina e heteronomia. O homem, segundo Kant, nasce num estado bruto e, para que chegue ao fim supremo da sua existência, ele necessita entrar em um processo chamado educação, por intermédio do qual será levado através de algumas fases a alcançar esse fim. Para que esse estado bruto possa desaparecer e dar lugar à humanidade, a educação fará esse trabalho através de alguns meios. 12

13 A educação para Kant é algo possível de ser construído no ser humano, trata-se de um processo que começa desde a mais tenra idade, visando formar um adulto com uma capacidade de criar e obedecer às próprias leis. Kant afirma que as crianças são mandadas cedo à escola, não para que aprendam alguma coisa, mas para que aí se acostumem a ficar sentadas tranquilamente e a obedecer pontualmente aquilo que lhes é mandado, afim de que no futuro elas não sigam de fato e imediatamente cada um de seus caprichos (1803, AK 442). Pode-se perceber na citação acima que para Kant é importante que haja uma educação que possa ser disciplinadora. A oportunidade para que a disciplina seja parte integrante desse processo é encontrada no primeiro momento da educação do ser humano. Kant divide a educação em dois momentos, a saber, educação física e educação prática e é no primeiro momento que há a possibilidade que a disciplina seja colocada como parte fundamental da educação. Assim afirma Kant a respeito da disciplina: A disciplina é o que impede ao homem de desviar-se do seu destino, de desviar-se da humanidade através de suas inclinações animais [...] a disciplina é puramente negativa porque é o tratamento através do qual se tira o homem de sua selvageria (1803, AK 442). Pode-se pensar e analisar de forma errônea a afirmação de Kant, levando a tirar conclusões que o caráter disciplinador da educação seja puramente negativo, pois, como afirma Pinheiro (2007), o caráter disciplinador da educação em Kant não detém apenas uma característica negativa e totalitária. Antes, a disciplina abrirá portas para a obediência de nossas próprias leis. (p.76). Essa tensão de como tornar um homem que aprendeu desde cedo a obedecer a ser um homem livre constitui a problemática deste trabalho e será discutida mais a frente. De acordo com Kant a disciplina submete o homem às leis a humanidade e começa a fazê-lo sentir a força das próprias leis. (AK 442). A disciplina é uma forma de manter o homem seguro contra si mesmo, com ela ele aprenderá a obedecer às leis que lhes são impostas, e seu caráter individual e social não será prejudicado. O primeiro momento da 13

14 vida do ser humano deve ser baseado na obediência e sujeição passiva, obedecendo sempre às leis que lhes são proposta. Há uma aqui uma relação intrínseca entre o conceito de disciplina utilizado por Kant e o conceito ético de heteronomia usado por Kant em sua ética (abordado na primeira parte deste estudo). A disciplina na Pedagogia de Kant trata-se de uma forma de heteronomia, na medida em que se considera o conceito de heteronomia como sendo toda lei que procede de outro. Quando os infantes estão sendo educados de forma a obedecer todas as leis que lhes são impostas, obedecer todas as ordens que lhes são mandadas, os mesmos estarão agindo de forma heterônoma. Pinheiro (2007) confirma esta ideia com a seguinte observação: O reino da razão é representado pela postulação de legislação universal a priori que num primeiro momento deve ser ensinado de modo heterônomo ao individuo, ainda criança mediante regras, máximas e prescrições a serem seguidas durante seu próprio desenvolvimento (p. 77). Não se trata aqui de formar indivíduos mecânicos que não possam pensar por si mesmos, indivíduos que permaneçam longe de chegar ao esclarecimento; pelo contrário, toda disciplina e ensinamentos de modo heterônomo têm por objetivo final chegar à totalidade da educação e ao seu fim supremo que é a moralidade, formando assim seres autônomos. Conforme nota Pinheiro (2007), Cabe à educação buscar, sobretudo pela disciplina, o meio para formar e possibilitar à criança a compreensão dessas regras, pois desse aprendizado surgirá a capacidade de o homem aceitar suas próprias leis autônomas (p. 77). Em resumo, a disciplina como parte integrante e fundamental do processo de educação humana não irá tornar as ações do homem em ações heterônomas para a vida toda. Precisa-se de heteronomia no primeiro momento da educação, é necessário constranger as crianças a obedecerem às leis que procedem do outro, só assim elas poderão alcançar a moralidade e fazer exercício de sua própria liberdade. Exercício da liberdade e autonomia. 14

15 Outro conceito importante que se pode encontrar na obra Sobre a pedagogia é o conceito de liberdade entendida aqui como a capacidade do homem de sair do seu estado selvagem e viver em sociedade com aptidão para criar suas próprias leis. A liberdade para Kant é a base para as ações morais, ou seja, o homem só pode agir moralmente se tem liberdade para decidir como serão suas ações, levando sempre em consideração o seu dever para consigo mesmo e para com as pessoas que o cercam. Na liberdade se encontram realizados não somente todos os fins incondicionados da humanidade, mas também a essência do homem (2007, p. 28). Como afirma Pinheiro (2007), Todo plano ou projeto de educação possui uma dupla vocação: a de formar o homem de maneira que ele possa responder às exigências da vida em sociedade; e a de torná-lo livre, consciente e responsável (p. 108). Percebe-se aqui que o objetivo de todo o processo de educação que começa com o cuidado, passa pela disciplina e instrução é que o homem se torne um ser livre. Não se deve entender aqui a liberdade como permissão para fazer o que quiser, toda ação dessa forma é baseada em uma liberdade natural que todos os animais possuem em comum, é uma espécie de liberdade selvagem, e não uma liberdade racional. De acordo com Pinheiro (2007), A conquista da maioridade, da capacidade de pensar por si, de achar o princípio da verdade em si, em sua própria razão, é a tarefa da educação [...]. Kant busca transformar a criança num homem [...] um homem que detém todo o conceito de humanidade e moralidade em si (p. 29). Sendo a tarefa da educação, transformar a criança em um homem, há a necessidade de uma construção de sua educação, visando que o fim dessa construção seja um homem realmente livre, realmente autônomo. Só com a liberdade é que se pode realmente pensar em um ser que detém a humanidade e a moralidade em si. Da mesma forma como o conceito de disciplina foi relacionado ao conceito de heteronomia anteriormente, o conceito de liberdade também pode ser relacionado ao conceito de autonomia, esta sendo entendida como o poder de dar a si as próprias leis. Apenas um indivíduo realmente livre pode dar a si mesmo uma lei que seja proveniente 15

16 apenas de sua razão. A autonomia é entendida como a liberdade que o sujeito possui e que é exercida em conformidade com a lei que esse sujeito dá a si mesmo. Segundo Caygill (2000), No caso da liberdade prática, é o fundamento motivador da vontade que tem de ser autônomo. Em vez de princípios heterônomos da vontade, sejam de procedência racional (perfeição) ou de procedência empírica (prazer, felicidade), Kant insiste numa liberdade inteligível baseada na autonomia da vontade. (p. 216) Essa liberdade faz com que as ações praticadas sejam morais, visto que o sujeito da ação não se deixa determinar por fatores externos a sua própria razão, tais como as necessidades ou a coação social. Tendo como pressuposto que o processo educacional tem por objetivo a formação de um ser autônomo, a liberdade torna-se um princípio fundamental requerido para que seja verdadeiramente possível uma educação moral, pois o homem só age moralmente quando possui liberdade para isso. Percebe-se aqui a semelhança dos dois conceitos utilizados por Kant, a liberdade na sua Pedagogia (1803) e a autonomia em sua Ética. A liberdade que é enunciada na questão educacional está intimamente ligada ao conceito de autonomia abordado por Kant na Fundamentação da metafísica dos costumes (1785) e na Critica da razão prática (1788). Kant mesmo confirma essa relação inseparável nas seguintes palavras que outra coisa pode ser, pois, a liberdade da vontade senão autonomia, isto é, a propriedade da vontade ser lei para si mesma? (FMC, BA 89). Na educação moral do ser humano a autonomia deve ter um papel fundamental, pois, todo processo educacional visa formar um ser autônomo capaz de dar a si mesmo as próprias leis e tornar-se um homem moralmente correto. Como o fim último de todo processo educacional é a moralização do homem e o princípio supremo da moralidade é a autonomia da vontade, o desenvolvimento moral e racional do ser humano exige o princípio da autonomia como base para uma verdadeira possibilidade de uma educação moral. Pode-se confirmar isso nas palavras de Pinheiro: A autonomia, caráter fundamental para o desenvolvimento da razão e da moralidade é requerido como princípio para a possibilidade da educação moral (2007, p. 106). 16

17 Ainda segundo Pinheiro, a tarefa de toda educação é fazer de todos os infantes sujeitos autônomos, cidadãos do mundo e para que essas crianças se tornem sujeitos autônomos é necessária uma educação moral, pois por meio da educação moral a criança atinge seu caráter de sujeito livre e autônomo, portanto livre da necessidade dos desejos (2007, p. 109). Pode-se pensar aqui que educação moral seja o ensino de regras e normas morais às crianças, porém, ao contrário, a educação moral é o próprio pensar por si mesmo, é a liberdade de criar suas próprias leis de maneira que tais leis sejam moralmente corretas e dignas de ser aplicada a todos. A autonomia, conclui o autor, representa a própria expressão da liberdade humana (2007, p. 107). Da disciplina à liberdade, da heteronomia a autonomia. Até este ponto mostrou-se que Kant divide a educação em educação física e moral, analisou-se também os conceitos éticos de heteronomia e autonomia presentes em algumas obras de Kant, por fim foi analisada a relação existente entre os conceitos pedagógicos de disciplina e liberdade relacionando-os, respectivamente, aos conceitos de heteronomia e autonomia. A partir daqui far-se-á uma análise de um problema que surgiu durante o estudo, formulado por Kant nas seguintes palavras: Um dos maiores problemas da educação é o de poder conciliar a submissão ao constrangimento das leis com o exercício da liberdade. Na verdade, o constrangimento é necessário! Mas, de que modo cultivar a liberdade? (AK 453). De acordo com Pinheiro, esse problema de como conciliar constrangimento às leis com o exercício da liberdade que se instaurou na obra Sobre a pedagogia é o mesmo que se instaura nas análises da Critica da razão prática, ou seja, como é possível passar da coação à liberdade? (2007, p. 115). Se na primeira parte do processo educativo o homem tem que ser educado com disciplina, sendo ensinado a obedecer às leis, deixando de agir conforme sua própria vontade, isto é, suas ações têm que ser controladas por uma lei exterior a si, como, depois, esse mesmo homem pode exercer a liberdade? Como poderá aprender a pensar por si só? Como poderá dar a si a própria lei? Como fazer o homem que durante grande parte de sua infância foi ensinado de forma heterônoma, com disciplina, sendo constrangido por leis que não procediam da sua própria razão a tornar-se um ser livre? 17

18 Como fazê-lo sair da menoridade e alcançar a maioridade? Como fazê-lo sair da heteronomia e chegar à autonomia? Segundo Kant é preciso saber a forma correta de ensinar o homem desde a infância, é preciso submetê-lo a certas regras de conduta que futuramente irão ajudá-lo a exercer de forma correta a liberdade que ele alcançará. Diz Kant: É preciso habituar o educando a suportar que a sua liberdade seja submetida ao constrangimento de outrem e que, ao mesmo tempo, dirija corretamente a sua liberdade. Sem esta condição, não haverá nele senão algo mecânico; e o homem terminada a sua educação, não saberá usar a sua liberdade (1803, AK 453). A liberdade já está presente no infante, mas é preciso que essa liberdade seja, de algum modo, controlada, para que o mesmo não possa fazer mal a si mesmo, ou que ao exercer a liberdade que possui impeça a liberdade de outra pessoa. Acerca da problemática levantada por Kant quanto à questão de uma articulação entre constrangimento e liberdade, pode-se entrever uma solução no sentido de que todo o constrangimento (heteronomia) tem por objetivo preparar o homem para o exercício de sua liberdade (autonomia). Essa solução pode ser confirmada pelo próprio Kant com as seguintes palavras: Pinheiro também confirma esta idéia: É preciso provar que o constrangimento, que lhe é imposto, tem por finalidade ensinar a usar bem de sua liberdade, que a educamos para que possa ser livre um dia, isto é, dispensar os cuidados de outrem (1803, AK 454). Disciplina e coação são colocadas como fundamentos necessários para a liberdade e a moral. A autonomia, princípio básico do bom uso da razão, depende desse primeiro momento da educação. Apenas por meio de uma educação baseada na disciplina e na coação será possível postularmos um individuo autônomo (2007, p.16). É um tanto complexo entender uma forma articular esses dois pares de conceitos aparentemente contraditórios, disciplina e liberdade, de um lado, heteronomia e autonomia, de outro. Porém como visto acima existe um meio de articulá-los em um mesmo processo. A disciplina, como já visto, não é puramente negativa ou totalitária, se assim fosse seria impossível a articulação entre os conceitos acima citados. 18

19 Pensada de forma positiva, a disciplina possibilitará e abrirá as portas para a obediência de nossas próprias leis, ou, em outras palavras, através da disciplina aprendemos a pensar por nós mesmos, de modo autônomo como requer a moralidade (PINHEIRO, 2007, p. 76). Para se passar da coação à liberdade é preciso construir uma ponte que torne essa passagem possível. Porém, que parte da educação fará com que da disciplina se chegue à liberdade? Onde, na educação se encontra essa ponte que possibilitará a transposição da heteronomia para a autonomia? Através dessa ponte iremos conseguir chegar à solução do problema formulado por Kant. Essa ponte será o ponto culminante do processo de educação que visa tornar o homem um ser autônomo. Pinheiro (2007), citando Philonenko (2000), ao abordar a problemática da passagem da coação à autonomia, afirma: Segundo Philonenko, uma pista para solucionar essa questão encontrase na idéia de trabalho. O trabalho se mostra segundo o autor, como via entre coação e autonomia. Numa passagem interessante, Philonenko expõe claramente sua intenção. Diz ele: A criança é habituada a trabalhar e pela coação, a disciplina da escola, ela é submetida a uma obediência passiva, absoluta como diz Kant. E a seguir, afirma que com isso a coação se interioriza. Pouco a pouco a criança cessa de obedecer aquilo que não é mais ela: ela obedece a si mesma e descobre sua liberdade A obediência torna-se então voluntária, isto é uma obediência à razão, obediência a si mesmo, ou, como diz Philonenko: autonomia (p. 115). Percebe-se aqui que a ponte que possibilita solucionar o problema levantado encontra-se na parte da educação chamada trabalho. Através do trabalho como visto acima, a criança é submetida a uma obediência, e essa obediência passiva aos poucos se torna algo voluntário, passando assim a sair da heteronomia e passar para a autonomia. Ainda citando Philonenko, Pinheiro afirma: Segundo Philonenko, o trabalho traduz o conceito sintético que une obediência e liberdade, coação e vontade, necessários para fundação da educação (2007, p. 89). Portanto, o trabalho possui um papel fundamental no processo de educação à medida que através dele o progresso da razão se torna possível, fazendo com que o ser humano passe a pensar autonomamente. Por meio do trabalho será possível sair de uma 19

20 situação de heteronomia e passar para autonomia, será possível, depois de ser constrangido pelas leis exteriores, criar suas próprias leis. Como afirma Pinheiro (2007), o trabalho impulsiona o desenvolvimento e o progresso da razão (p. 89). Referências KANT, Imannuel. Sobre a pedagogia. Piracicaba: UNIMEP, Crítica da razão pura. 2ªed. São Paulo: Ed. Abril Cultural, Col. Os Pensadores.. Crítica da razão prática. São Paulo: WMF Martins Fontes, Fundamentação da metafisica dos costumes. Lisboa: Edições 70, Resposta à pergunta: O que é esclarecimento? In: Textos seletos. Petrópolis, Vozes, 1985 CAYGILL, Howard. Dicionário de Kant/Howard Caygill; tradução, Alvaro Cabral. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, HERRERO, F. Javier, A ética de Kant. Síntese: Revista de Filosofia, Belo Horizonte, v. 28 n. 90, p , KALSING, Rejane S. Notas sobre filosofia da educação e filosofia da história em Kant. UNISUL, Revista Poiésis, v.1, n.2, p , Jul/Dez, OLIVEIRA, Mário N. de. Para inspirar confiança: considerações sobre a formação moral em Kant. Revista Trans/Form/Ação, São Paulo, 29 (1), p , Jun/ A educação na ética kantiana, Revista educação e pesquisa, São Paulo, v.30, nº 3, p , Set/Dez, PINHEIRO, Celso de Moraes. Kant e a educação: reflexões filosóficas. Caxias do Sul: Educs, RAMOS, César Augusto. Coação e autonomia em Kant: as duas faces da faculdade de volição. ETHIC@: Revista Internacional de Filosofia da Moral, v. 07, n. 1, p , ROANI, Alcione Roberto. A formação do caráter e da autonomia na filosofia da educação de Kant, Revista de Ciências Humanas, Frederico Whestphalen v. 8, nº 11, p , Dez/

21 SANTOS, Robinson dos. Educação moral e civilização cosmopolita: atualidade da filosofia prática de Kant, Revista Iberoamericana de educación, n º 41/4, p. 1-10, Fev/2007. SOUSA, Heloisa H.L.. Sobre Kant e a pedagogia. Revista Impulso, Piracicaba, 15(38), p , Dez/2004 VANDEWALLE, Bernard. Kant: éducation et critique. Paris: L Harmattan, ZATTI, Vicente. Autonomia e educação em Immanuel Kant e Paulo Freire. Porto Alegre: EDIPUCRS, Anexo LISTA DE ABREVIATURAS CRP - CRPt - FMC - Pedagogia - Critica da razão pura Crítica da razão prática Fundamentação da metafísica dos costumes Sobre a pedagogia AK - Akademie 1 1 Para as obras de Kant, as citações serão feitas de acordo com a paginação das edições originais de cada obra (A 1ª edição da CRPt, BA - 1ª edição da FMC, AK Paginação da Akademie), assim como o ano de publicação. 21

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