FACULDADE DE DIREITO DE CAMPOS
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- Vinícius Ribeiro Arantes
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1 PROJETO DE PESQUISA Responsável: Dr. Flávio Alves Martins Título: Proteção e Efeitos Jurídicos das Novas Tecnologias. 1) JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO DO TEMA O Projeto pretende inserir-se na linha de pesquisa relações privadas contemporâneas e tem por objetivo aprofundar a análise das relações jurídicas entre particulares à luz de um dos fatos mais relevantes deste início de século: o impacto da tecnologia na vida social e jurídica. Certamente, a reflexão acerca do tema, por meio da doutrina (nacional e estrangeira) e das recentes decisões de nossos Tribunais, contribuirá para a pesquisa e, assim, cumprirá a sua função social a partir da produção de textos doutrinários e, até mesmo, de propostas que possam ser elaboradas para colaborar na prevenção ou na resolução de conflitos. A sociedade contemporânea sofre uma revolução informacional, fomentada pelo próprio sistema econômico que busca o desenvolvimento por meio da aceleração da troca de informações, utilizando-se de artifícios cada vez mais velozes às relações jurídicas. Em função dessa busca por lucros trouxe, sob o ponto de vista tecnológico, um desenvolvimento maior nos últimos vinte anos do que nos últimos duzentos. Como resultado dessa busca por meios economicamente mais proveitosos, a utilização de tecnologia como, por exemplo, a rede mundial de computadores, foi tomando expressividade nas relações interpessoais. Nesta sociedade contemporânea, também denominada de sociedade da informação, verificam-se alguns importantes aspectos: é pluralista, marcada pela revolução da técnica, pela globalização da economia (também chamada de mundialização) e pela massificação
2 dos meios de comunicação e das relações contratuais. Esse fenômeno, entretanto, possui várias facetas. Dentre elas a tecnológica que difundiu as comunicações, os transportes e as áreas de informática e biotecnologia. 1 Para o desenvolvimento deste Projeto optamos apenas por esta faceta e, mais especificamente quanto às comunicações e à informática e o impacto disso no direito de e à informação, constitucionalmente garantidos, e à proteção da imagem e das informações prestadas. 2) ATUALIDADE E FUNCIONALIDADE DO TEMA A velocidade com que as pessoas pretendem conduzir suas relações, pois tempo é dinheiro, e a tecnologia cada vez mais acessível à sociedade, tornaram o homem contemporâneo acostumado a resolver seus problemas em um click. Pode ter acesso à informação do que está ocorrendo em todo mundo imediatamente, pode estabelecer suas relações com a administração pública (e-govern), pode informações acerca da vida de uma pessoa (programas de busca na Internet), pode pedir comida, remédios, serviços etc em sua casa (delivery). Pode, enfim, isolado em seu castelo medieval, longe da barbárie e da insegurança obter e prestar informações e realizar atos/negócios, sejam lícitos ou ilícitos. Observando essa tendência, as empresas passaram a disponibilizar seus serviços a seus clientes na Internet e, mais do que isso, algumas delas exercem suas atividades apenas na rede, não possuindo uma sede física em que possam ser procuradas pelo mercado. A preocupação latente é com a vulnerabilidade ante as falhas que permitem práticas abusivas por parte das empresas no meio eletrônico. Ao contratar, o particular inevitavelmente fornece informações pessoais ao fornecedor (do produto ou do serviço), que pode se tornar um verdadeiro aborrecimento. Isso porque a rede não é segura o suficiente para resguardar esses dados, sendo vulnerável à atuação de terceiros (hackers) e de um grande mercado de venda de informações. Os dados 1 Martins, Flávio Alves. Pós-modernidade, globalização e as perspectivas do Direito civil.
3 pessoais tornam-se, portanto, produtos, que são vendidos no meio eletrônico a fim de que eles sejam alvos de propagandas inusitadas e possam, por meio do spam, por exemplo, ser compelidos a comprar outros bens ou contratar outros serviços, além daqueles para os quais suas informações foram fornecidas. A conseqüência disso é que se o particular cadastra-se em um determinado sítio, fornecendo seus dados somente para aquele fim, pode acabar vítima de um mercado que desrespeita sua vontade e sua privacidade (direito da personalidade), uma vez que suas informações são transferidas para outros entes atuantes na Internet, podendo inclusive sofrer danos materiais e morais posteriormente (quando seu nome aparece num endereço eletrônico pornográfico, por exemplo). O desvio de informações sem autorização afeta a direitos fundamentais do indivíduo e, por isso, o Direito não pode se silenciar quanto a esse fenômeno. A necessidade de desenvolver meios de proteção é flagrante, uma vez que o que se vê hoje é a subordinação da privacidade individual à busca incessante pela facilitação de negócios e decisões. Além disso, o Direito, como ciência social, não pode deixar de discutir assunto tão relevante, com tantos contornos de atualidade e novidade. Embora a Constituição Federal assegure, no Art. 5, inc. X, o direito fundamental à privacidade e à intimidade, portanto invioláveis, bem como no inciso LXIX, do mesmo artigo, o habeas data, garantia fundamental que tem por base esse mesmo direito, é necessária uma discussão doutrinária ampla, para atualizar o meio jurídico, a fim de proteger o consumidor das mazelas trazidas por esse fenômeno informacional. O primeiro foco do estudo serão os termos dos contratos que vêm sendo firmados pela Internet, as chamadas políticas de privacidade. Nelas devem estar expressos os dados que serão coletados, de modo que não possam ser utilizados para quaisquer outras finalidades. Em geral, porém, os contratos celebrados pelo meio eletrônico ou aqueles que são celebrados pelo meio tradicional, mas oferecem serviços eletrônicos, como os contratos bancários, são uniformizados (de massa, de adesão). Por isso, há apenas duas opções: aceitar a política de privacidade ou não, o que acaba gerando inclusive o desinteresse do contratante pela leitura dos termos contratuais. Muitos sites acabam introduzindo,
4 aproveitando-se desse desleixo, cláusulas abusivas nas políticas de privacidade, permitindo, por exemplo, a transferência de dados, ou assumindo a participação da empresa contratada no mercado de dados pessoais. Essas cláusulas ferem a lógica contratual, uma vez que uma das partes fica em desvantagem em relação à outra, tendo seus direitos restringidos. É essencial, pois, o esforço dos juristas no sentido de dar subsídios à sociedade, a fim de que compreenda a importância das políticas de privacidade no momento da contratação de um serviço pela internet. Uma discussão ampla, não apenas no meio jurídico, é fundamental para evitar essa prática ilícita. A ausência desse foro de discussão reflete o atraso do Brasil, diante de outros países, em relação à proteção de dados, apesar do art. 43 da Lei 8.078/90 oferecer uma proteção às informações pessoais existentes em cadastros, fichas e registros. A União Européia, por exemplo, possui uma Diretiva (95/46/CE) que estabelece determinados princípios de proteção de dados que devem ser respeitados pelos responsáveis pelo tratamento de dados, a fim de proteger as pessoas em causa e estabelecer boas práticas comerciais. Essa Diretiva determina também a criação, nos Estados-membros, de autoridades de controle que supervisionam a aplicação das regras por ela estabelecidas. Para não comprometer o alto nível de proteção que esta diretiva fornece às informações pessoais, ela exige que quando dados pessoais forem transferidos para fora da UE, os seus receptores deverão possuir uma proteção adequada em relação a essas informações. Países como a Argentina, que são reconhecidos como seguros em nível de proteção de dados, podem ser receptores de base de dados de empresas ou órgãos públicos europeus sem a necessidade de outras garantias. E os países que ainda não são reconhecidos, como o Brasil, devem se submeter a modelos de cláusulas contratuais elaboradas pela Comissão Européia, quando a questão envolver a transferência de dados. Uma dessas cláusulas determina que a empresa ou organização receptora dos dados transferidos se comprometa obedecer aos princípios básicos da Diretiva. Neste aspecto o Brasil perde em concorrência para países como a Argentina, mais avançados quando se trata de proteção de dados pessoais.
5 Existem atualmente no Brasil Projetos de Lei como o n 4.906/2001 que determina, entre outras coisas, que o ofertante de produtos ou serviços que solicitar informações de caráter privado, deverá mantê-las em sigilo, só podendo divulgá-las ou cedê-las se autorizado pelo respectivo titular. Este projeto também prevê a criminalização da quebra de sigilo de informações, sujeitando os responsáveis à pena de reclusão de um a quatro anos, sem prejuízo da responsabilização por perdas e danos. Estas disposições são extremamente positivas, pois poderão inibir a constante violação de privacidade, constitucionalmente protegida. Felizmente, a legislação brasileira está avançada no que tange ao direito do consumidor. O Código Civil em seus artigos 186, 187 e 927 e seguintes, combinado com Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90) artigos 2º, 3º e 14, parágrafo 1º, prevêem sanções como a reparação dos danos causados. Devido à falta de meios eficazes para se averiguar de qual site as informações cedidas ensejaram no prejuízo do internauta, não se consegue apontar um responsável, pois os usuários costumam fazer muitos cadastros em diversos deles. Para evitar não só possíveis danos como aborrecimentos, o melhor meio de defesa é a prevenção. Deve-se, sempre, fazer a leitura das políticas de privacidades, pois nelas estão contidas informações preciosas como, por exemplo, quais os dados armazenados e como serão manipulados. Demonstrando, inclusive, a possibilidade de cruzamento com outros bancos de dados. Cabe ressaltar que alguns, por conterem uma política de privacidade mais comprometida com a segurança dos dados recebidos, recebem um certificado pelo Selo de Privacidade On Line da Fundação Vanzolini. Este programa foi criado com o objetivo de estabelecer princípios e regras de segurança e conduta que os provedores devem proceder a fim de manter a proteção da privacidade dos dados de seus usuários. Assim, nota-se a necessidade de elaboração de leis e criação de órgãos públicos capazes de conter o avanço da prática indiscriminada de transmissão de dados pela Internet.
6 3) OBJETIVOS. desenvolver uma reflexão crítica a partir de uma pesquisa bibliográfica por meio da doutrina (nacional e estrangeira) multidisciplinar: direito (civil, constitucional), filosofia, sociologia, psicologia, ciências da computação e engenharia, economia etc.. pesquisar as políticas de privacidade que são aplicadas atualmente.. estabelecer uma pesquisa jurisprudencial com coleta de dados acerca do tema para a produção de gráficos e tabelas que consolidem as informações para que sejam aplicadas como subsídios da reflexão. tema.. colaborar com mestrandos na orientação de suas dissertações que versem acerca do. produzir textos científicos (artigos, por exemplo), a fim de permitir o acesso da sociedade ao material que será produzido.. propor, se necessário, ante-projetos de lei para adequação do nosso ordenamento jurídico a questões contemporâneas e tão importantes. 4) METODOLOGIA As etapas do projeto serão desenvolvidas mediante pesquisas bibliográficas, realização de eventos multidisciplinares (seminários) e coletas de dados acerca da prática social e da atuação de nossos Tribunais nessas questões. 5) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, R.A. Contrato eletrônico. São Paulo: Manole, DRUMMOND, Victor. Internet, privacidade e dados pessoais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, CASIMIRO, Sofia de Vasconcelos. A Responsabilidade Civil pelo conteúdo da informação transmitida pela internet. Coimbra: Almedina, FACHIN, Luiz Edson. Teoria crítica do Direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
7 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, MARTINS, Flávio Alves, MACEDO, Humberto Paim. Internet e Direito do Consumidor. Rio de Janeiro: Lumen Juris, MARTINS, Flávio Alves. Pós-modernidade, globalização e as perspectivas do Direito civil. Curitiba: Juruá, Proteção de dados: MENKE, Fabiano. Assinatura eletrônica no Direito brasileiro. São Paulo: RT, MONTENEGRO, Antonio Lindberg. A Internet e suas relações contratuais e extracontratuais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, PEREIRA, Alexandre Libório Dias. Comércio electrónico na sociedade da informação: da segurança técnica à confiança jurídica. Coimbra: Almedina, PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, ROPPO, Enzo. O contrato. Coimbra: Almedina, REINALDO FILHO, Demócrito. A infecção do sistema DNS: a nova modalidade de phishing e a responsabilidade do provedor. Disponível em Argentina tem um sistema adequado de proteção a dados pessoais. Disponível em Comissão Européia aprova novos modelos de cláusulas contratuais para a transmissão de dados pessoais a países não membros da UE. Disponível em STOCO, Rui. Tratados de Responsabilidade civil. São Paulo: RT, Vanzolini, Fundação Carlos.Norma de Referência da Privacidade On Line - NRPOL. Disponível em
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