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- Rosa Silva da Rocha
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1 Associação entre uso de drogas ilícitas na gestação e repercussões no recémnascido da coorte de nascimento de Ribeirão Preto-SP, 200: nascimento pré-termo e perímetro craniano Daniela Ricci Morandim, Laís Cássia Degani Ressol, Marina Goulart Rossi, Rayanne Alvarenga De Souza, Thomázia Vitória De Aquino Da Mota, Elaine Cristine Lemes Mateus de Vasconcelos 2,3, Viviane Cunha Cardoso 3 Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá; 2 Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá; 3 Docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. elainelemes@baraodemaua.br INTRODUÇÃO A gravidez é acompanhada por uma série de emoções e alterações orgânicas que compõem o ciclo gravídico natural, porém várias intervenções do meio social sobre a gestação levam a impactos muitas vezes negativos na saúde materno fetal (LOPES; ARRUDA, 200). Dentre essas intervenções, está o uso de drogas, um problema crescente na população mundial que torna-se ainda mais preocupante quando realizado pela gestante, pois este comportamento oferece alto risco para a saúde fetal. O perfil das mulheres usuárias, na maioria das vezes, é de baixo nível socioeconômico, não brancas, com idade média de 25 anos, polidrogadas e com antecedentes familiares e pessoais de uso de drogas, de encarceramento por roubos, prostituição e violência. Apresentam diminuição de religiosidade e sexualidade precoce (VALINETTI; SIMONETTI, 992). As drogas ilícitas (maconha, merla, cocaína e crack) usadas durante a gravidez atingem o organismo fetal atravessando a barreira placentária, podendo levar a alterações na formação de órgãos e no desenvolvimento fetal (CARMO; NITRINI, 2004). A alta prevalência do uso de drogas tem repercutido diretamente no aumento cada vez mais significativo de problemas perinatais, entre eles: nascimento pré-termo (PT), baixo peso ao nascer, perímetro craniano (PC) diminuído e malformações congênitas. O nascimento PT é o problema perinatal atual mais importante, pois está associado à morbidade e mortalidade significativas no início da vida (SAIGAL; DOYLE, 2008), bem como com o desenvolvimento de doenças crônicas em seu decorrer. Como o uso de drogas ilícitas durante a gestação é um dos fatores associados ao nascimento PT, é importante a realização de estudos que abordem essa temática na nossa população. Uma das repercussões mais relevantes que podem acometer o recém-nascido (RN) é o nascimento PT, o qual pode levar a alterações musculares, neurológicas e doenças múltiplas. A fisioterapia precoce em bebês prematuros durante a internação e após a alta hospitalar tem como objetivos preparar a musculatura respiratória dando condições suficientes para a respiração espontânea, prevenir complicações pulmonares, dessensibilizar para evitar aversão ao toque, posicionar corretamente e instituir ações que favorecerão o desenvolvimento motor e neurológico normal. Portanto, estudar o consumo de drogas ilícitas na gestação e suas repercussões no neonato constitui o ponto de partida para a promoção de ações de saúde pública que visem a conscientização da população quanto aos riscos inerentes a essa prática.
2 2 OBJETIVOS - Descrever o consumo de drogas durante a gestação em uma coorte de nascimentos de conveniência de 200 em Ribeirão Preto (RP)-SP; - Avaliar a associação entre o uso de drogas ilícitas na gestação e o nascimento PT; - Avaliar a associação entre o uso de drogas ilícitas na gestação e o PC. 3 MATERIAL E MÉTODOS Este estudo está inserido no projeto temático Fatores etiológicos do nascimento prétermo e consequências dos fatores perinatais na saúde da criança: coortes de nascimentos em duas cidades brasileiras (processo FAPESP n 08/ ). O presente estudo utilizou a avaliação realizada no pré-natal e no momento do nascimento nas maternidades da cidade de RP. Foram estudadas todas as mães e seus RNs entre o período de primeiro de janeiro e trinta e um de dezembro de 200, número equivalente a.400 mães. Destas, 30 não foram identificadas nas maternidades no momento do parto. Sendo assim, a amostra avaliada ficou constituída por.370 pares de mães e seus respectivos RNs. As informações foram obtidas por meio de questionário padronizado dirigido às puérperas e com dados dos RNs obtidos por prontuário médico. As variáveis dependentes foram PC (percentis < ou 0) e nascimento PT (< 37 semanas de idade gestacional), e a variável independente foi o consumo de drogas ilícitas previamente à gestação (um trimestre) e durante os dois primeiros trimestres gestacionais (informação obtida durante o período gestacional por questionário autoaplicado: sim, não). As outras variáveis incluídas no estudo foram: - Características sociodemográficas maternas: idade materna, cor da pele, situação conjugal, escolaridade materna e religião. - Características da história obstétrica: paridade, história prévia de parto PT, índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional e gestação planejada. - Características da gestação atual: consumo de bebida alcoólica, tabagismo, realização de pré-natal, hipertensão, diabetes, infecção urinária, tratamento odontológico, ameaça de parto PT e tipo de parto. - Características do RN (obtidas no prontuário médico): sexo, malformação congênita, peso e comprimento ao nascer. Para a análise das possíveis associações entre os desfechos nascimento PT e PC e as variáveis de interesse, foram ajustados 4 modelos log-binominais, classificados em: características sociodemográficas - modelo ; características da história obstétrica -modelo 2; características da gestação atual - modelo 3; e todas as características citadas acima - modelo 4. Foram obtidas medidas de risco relativo (RR) e seus intervalos de confiança 95% (IC95%). Para obtenção dos valores de percentil de PC, foi utilizado o Bulk Research Calculator (FENTON; KIM, 203). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, conforme processo n 57/ RESULTADOS Na Tabela é possível verificar que houve uma diminuição progressiva no uso de maconha, cocaína e outras drogas durante a gestação. No trimestre anterior à gestação, 3 (2,2%) mulheres consumiram maconha, seguidas de 6 (,%) que consumiram no º trimestre e 3 (0,9%) que consumiram no 2º trimestre gestacional. Em relação à cocaína,
3 observou-se que 22 (,6%) mulheres fizeram uso no trimestre anterior a gestação, 0 (0,7%) no º trimestre e 7 (0,5%) no 2º trimestre gestacional. Quanto às outras drogas, 6 (0,45) consumiram no trimestre anterior à gestação, 5 (0,4%) no º trimestre e 3 (0,3%) no 2º trimestre gestacional. Porém, isso não foi observado em relação à merla e ao crack. Tabela - Consumo de drogas ilícitas previamente à gestação e frequência do consumo por trimestre. Coorte de Ribeirão Preto, SP, no ano de 200. Drogas Período Gestacional Anterior à gestação º Trimestre 2º Trimestre Todos Maconha 3 (2,2) 6 (,) 3 (0,9) 9 (0,6) Merla (0,) 0 (0,0) (0,) 0 (0,0) Cocaína 22 (,6) 0 (0,7) 7 (0,5) 3 (0,2) Crack 0 (0,0) 0 (0,0) (0,) 0 (0,0) Outros 6 (0,4) 5 (0,4) 3 (0,2) 3 (0,2) Total 60 (4,3) 3 (2,2) 25 (,8) 5 (,) As variáveis que mostraram aumento do risco para nascimento PT foram: parto PT anterior cujo risco foi 4 vezes maior (RR 4,45; IC95% 2,34-8,47); ameaça de parto PT na gestação atual quase 4 vezes maior (RR 3,86; IC95% 2,07-7,20); e não ter realizado pré-natal como recomendado (RR 2,5; IC95%,8-5,34) (Tabela 2). Tabela 2 - Risco relativo ajustado (modelo final) com seus intervalos de confiança de 95% para nascimento pré-termo segundo o uso de drogas ilícitas. Coorte de Nascimentos de 200. Ribeirão Preto, SP, Brasil. Variáveis Parto pré-termo anterior Ameaça de parto pré-termo Realização de pré-natal Parto Pré-termo Risco Relativo Ajustado RR (IC 95%) 42 (3,58) 90 (47,37) 40 (3,43) 92 (45,54) 32 (96,42) 00 (52,63) 26 (96,57) 0 (54,46) 0 (8,) 44 (9,89) 24 (30,00) 56 (70,00) Ajustado por características sociodemográficas materna, história obstétrica e gestação atual. 4,45 (2,34-8,47) 3,86 (2,07-7,20) 2,5 (,8-5,34) As mulheres que tiveram quatro filhos ou mais (RR 0,38; IC95% 0,5-0,99) e as que realizaram parto do tipo cesárea (RR 0,43; IC95% 0,23-0,80) apresentaram fator protetor para PC P<0 do RN. Porém, mães tabagistas mantiveram-se associadas com risco duas vezes maior (RR 2,27; IC95%,23-4,9) para o RN apresentar o PC com P<0 (Tabela 3).
4 Tabela 3 - Risco relativo ajustado (modelo final) com seus intervalos de confiança de 95% para medida de perímetro craniano segundo o uso de drogas ilícitas. Coorte de Nascimentos de 200. Ribeirão Preto, SP, Brasil. Variáveis Paridade filho 2 ou 3 filhos 4 ou mais filhos Tabagismo materno Tipo de parto Vaginal Cesárea Perímetro Craniano Risco Relativo Ajustado RR (IC 95%) 03 (7,55) 69 (3,2) 6 (6,67) 43 (3,57) 35 (23,49) 484 (82,45) 457 (86,88) 84 (93,33) 9 (86,43) 4 (76,5) 44 (20,03) 575 (79,97) 34 (7,02) 450 (92,9) Ajustado por características sociodemográficas materna, história obstétrica e gestação atual. * 0,38 (0,5-0,99) 2,27 (,23-4,9) 0,43 (0,23-0,80) 5 DISCUSSÃO No Brasil existem poucos dados nacionais referentes a gestantes usuárias de drogas ilícitas (YAMAGUCHI et al., 2008). Devido à restrição do número de trabalhos que abordam este tema, foi realizado este estudo de coorte na cidade de RP, que é considerada uma das cidades mais desenvolvidas do país. Este estudo contemplou.400 entrevistadas, das quais 60 relataram ser usuárias de drogas ilícitas, sendo a maconha a mais consumida previamente à gestação e durante os º e 2º trimestres gestacionais. Lopes e Arruda (200) e Renner et al. (202) observaram associação entre uso de drogas ilícitas e RN com PC diminuído, cujo desfecho contrapõe aos obtidos no presente estudo. O nascimento PT também não apresentou associação com o uso de drogas ilícitas durante a gestação, corroborando com Lopes e Arruda (200). As repercussões observadas nos RN evidenciaram que mães com histórico de parto PT anterior, ameaça de parto PT e que não realizaram assistência pré-natal de maneira adequada tiveram risco elevado de ter filhos antes das 37 semanas gestacionais. Corradini (996) também verificou que mães com histórico de parto PT têm maior risco de apresentar novos episódios em futuras gestações. Mães tabagistas apresentaram risco duas vezes maior de terem filhos com P<0 de PC, assim como encontrado no estudo de Shankaran et al. (2004), no qual o PC foi afetado pelo consumo de cocaína e tabaco. Porém, neste trabalho, as multíparas com quatro ou mais filhos e as que tiveram parto do tipo cesárea apresentaram fator protetor para a mesma característica. 6 CONCLUSÃO houve associação entre o uso de drogas ilícitas durante a gestação com nascimento PT ou PC com P<0. Porém, foi encontrada associação de risco entre mães com histórico de parto PT anterior, ameaça de parto PT, que não realizaram assistência pré-natal de maneira adequada e nascimento PT. Foi observada associação de risco entre PC com P<0 e tabagismo materno. No entanto, aquelas que realizaram parto do tipo cesárea e as multíparas apresentaram fator protetor para esta característica.
5 Palavras-chave: drogas ilícitas, parto pré-termo, perímetro craniano, maconha, cocaína, crack. REFERÊNCIAS CARMO, T. A.; NITRINI, S. M. O. O. Prescrições de medicamentos para gestantes: um estudo farmacoepidemiológico. Cad Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 4, p , CORRADINI, H. B. Cocaína: efeitos na gestante e nas crianças. Pediatria, São Paulo, v. 8, n. 2, p , 996. FENTON, R. T.; KIM, H. J. A systematic review and meta-analysis to revise the Fenton growth chart for preterm infants. BMC Pediatr, v. 3, n. 59, p 59-72, 203. LOPES, T. D; ARRUDA, P. P. As repercussões do uso abusivo de drogas no período gravídico/puerperal. Revista Saúde e Pesquisa, Maringá, v. 3, n., p , 200. RENNER, F.W. et al. Repercussões neonatais do uso materno de crack. Bol Cient Pediatr, Porto Alegre, v., n. 2, p , 202. SAIGAL, S; DOYLE, L. W. An overview of mortality and sequelae of preterm birth from infancy to adulthood. Lancet, v. 37, p , SHANKARAN, S. et al. Association between patterns of maternal substance use and infant birth weight, length, and head circumference. Pediatrics, v. 4, n. 2, p. e , VALINETTI, E. A.; SIMONETTI, M. P. B. Cocaína, gravidez e anestesia. Rev Bras Anestesiol, Rio de Janeiro, v. 42, n. 5, p , 992. YAMAGUCHI, E.T. et al. Drogas de abuso e gravidez. Rev Psiq Clín, São Paulo, v. 35, supl., p , 2008.
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