Ampliação e aperfeiçoamento

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1 E entrevista Ampliação e aperfeiçoamento Os projetos de Geraldo Soares, novo presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) para o biênio 2006/07 POR JAIME MATOS AUMENTAR O QUADRO ASSOCIATIVO, DAR mais visibilidade à entidade e à função e trabalhar no sentido de aprimorar os conhecimentos dos profissionais da área, via educação continuada, formam o tripé no qual se apóia a plataforma de administração da nova diretoria do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri) para o biênio 2006/07. Na presidência está Geraldo Soares, sociólogo por formação e veterano do mercado de capitais, ele é superintendente de Relações com Investidores do Banco Itaú, um dos coordenadores do Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado (Codim) e membro do Conselho de Administração do Insti- tuto Nacional de Investidores (INI). Ardoroso defensor do aperfeiçoamento dos mecanismos que estreitem cada vez mais as relações entre as empresas e seus públicos, ele vê na figura do profissional de Relações com Investidores (RI) o eixo ideal para democratizar mais o mercado e tornar mais transparentes as informações, em duas mãos: assim como a empresa deve falar sobre si aos investidores, tem de aprender a ouvi-los... e atender suas aspirações. O Ibri, que reúne profissionais na condição de pessoas físicas, tem atualmente 300 associados, que prestam serviços às maiores empresas do Brasil. O mercado de capitais, área onde se foca o trabalho deles, dá a medida de quanto a atividade em conseqüência, o Ibri pode crescer: atualmente estão listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) 378 empresas, isto é, número superior ao dos sócios da entidade. Soares vê possibilidades de ampliar bastante esse quadro, na medida da adesão crescente de empresas à prática de manter departamentos de RI. Na entrevista que se segue, Soares fala sobre o papel do profissional de RI nas empresas, dos programas que o Ibri pretende desenvolver no sentido de manter esse profissional sempre atualizado e, naturalmente, mais interessado em integrar-se á entidade. 6 RAZÃO CONTÁBIL FEVEREIRO 2006

2 GERALDO SOARES Razão Contábil Seu mandato no Ibri começa com a edição de um novo código de ética para o profissional de RI. É muito diferente daquele que a entidade tinha? Geraldo Soares O mundo muda, as necessidades mudam. No ano passado começamos a rediscutir nosso código de ética, criamos uma comissão, coordenada pelo professor Lélio Lauretti (consultor e professor dos cursos de Governança Corporativa do IBGC) da qual participava, entre outros, o Cantidiano (Luiz Leonardo, advogado especializado em Direito Societário e de Mercado de Capitais, sócio do escritório Motta, Fernandes Rocha Advogados e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários CVM). Para essa discussão houve audiência restrita entre os associados. Essa nova versão tratou de expandir a anterior. Antigamente, nosso código contava o que se pode e o que não se pode fazer, isto é, orientava sobre os procedimentos; esse novo é um código de conduta, que esmiúça mais, mostra casos, permitindo que o profissional de Relações com o Investidor possa visualizar situações e que tenha nele um código de conduta. Razão Contábil Que situações são essas? Geraldo Soares O profissional de RI tem que se preocupar, em primeiro lugar, em ser o porta-voz da empresa no mercado de capitais e o porta-voz do mercado de capitais dentro da empresa. É ele quem institucionalmente leva ao mercado de capitais analistas, acionistas, investidores, fundos de pensão à mídia e atualmente até à academia as informações da empresa. E como tem muito contato externo, é o portador que traz as preocupações do mercado para a empresa. Ou seja, a função requer que o profissional seja um grande comunicador, que tenha profundo conhecimento de contabilidade, administração, gestão e, sobretudo, estar sintonizado com tudo o que está ocorrendo à volta do mercado. No bojo disso tudo, tem de cuidar para que não crie conflitos de interesse. Não pode transmitir informações confidenciais. Pode acontecer, e já aconteceu, de algum profissional soltar inadvertidamente uma informação dessas em público. Se uma delas vasa, tem que transmiti-la imediatamente a todo o mercado. Ou seja, o profissional de RI tem também essa função de, entre aspas, guardião da informação. O RI leva a empresa ao mercado e traz esse à empresa Razão Contábil O que o Ibri oferecerá para atrair mais associados? Geraldo Soares Começamos a fazer acordos com outras entidades de classe do mercado de capitais, visando a atingir públicos aos quais temos pouco acesso: empresas que recente- RAZÃO CONTÁBIL 7

3 entrevista Razão Contábil Está nos planos criar uma certificação para profissionais do setor? Geraldo Soares O assunto já esteve em discussão, é importante, mas acredito que há outras prioridades, muitas etapas a vencer antes que seja adotado. Nós somos uma instituição muito nova, com nove anos de existência. A própria atividade é nova: nos Estados Unidos existe há 40 anos; no Brasil só deslanchou para valer em 1996/97. Vamos primeiro melhorar a qualificação dos profissionais, expandir o Ibri. mente abriram capital e empresas que querem abrir o capital, por exemplo. Temos uma programação de ir até essas empresas apresentar o Ibri, mostrar no que podemos contribuir para melhorar a área de RI. Nesse sentido, também ampliaremos os cursos. Temos atualmente um MBA, em parceria com a Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas, Atuariais e Financeiras), que dura três semestres e já está na sexta turma. Faremos agora cursos segmentados, em módulos pequenos, para treinar as pessoas a desempenharem bem as funções de relações com investidores. Na minha visão, esses cursos serão ministrados em três níveis: um introdutório, para os iniciantes nas funções de RI; o segundo, de atualização trazendo o que há de novidades pelo mundo para aqueles que estão há cinco ou seis anos na área; o terceiro, para tops diretores ou superintendentes de RI no qual se farão discussões conceituais. Antes da certificação, há outras etapas a vencer Razão Contábil Quantas empresas mantêm departamentos de RI hoje no Brasil? Geraldo Soares Não temos esse número. O que posso dizer é que nossos 300 associados representam 95 empresas; essas, por sua vez, representam 70% do Ibovespa. Há oito anos, dentro das empresas a área de RI tinha uma pessoa, hoje, a pesquisa bienal que fazemos e que será refeita neste ano mostra a média de quatro pessoas. É uma profissão que está crescendo; as empresas que estão abrindo o capital estão colocando ao menos um profissional responsável pela área. Está se ampliando o mercado de trabalho. Por isso o planejamento do Ibri para este ano é bem grande. Razão Contábil Há resistências em empresas quanto à criação de um departamento de RI com a alegação de que fica muito caro manter uma estrutura dessas. Fica? Geraldo Soares Isso depende do que a empresa quer. Se quer ter valor de mercado, uma excelente imagem na sociedade de forma a atrair os investidores, tem de examinar primeiro o valor desses benefícios e só depois pensar nos custos. Uma vez, numa palestra que dei para grandes investidores estrangeiros em Nova York, um dos participantes, responsável por um fundo gigantesco, me disse que a primeira coisa que faz antes de investir em uma determinada empresa é verificar o site de RI dela na internet se é 8 RAZÃO CONTÁBIL FEVEREIRO 2006

4 GERALDO SOARES Governança foi logo assimilada no Brasil volveram a pergunta: Porque não? e criaram o programa. Razão Contábil No seu entender o conceito da Governança Corporativa, das boas práticas, está bem assimilado no Brasil? Geraldo Soares Está e isso se deu rapidamente. No final da década de 1980 começou a discussão sobre o conceito na Inglaterra, que depois chegou fraco e se não é didático, ao alcance do entendimento da pessoa física, ou seja, não dá atenção ao pequeno investidor, ele desiste. A existência de um profissional de RI na empresa já se tornou um paradigma. Todos os agentes do mercado, sejam analistas, sejam investidores, etc. querem ter um interlocutor que os atenda quando necessitem. Esse profissional está preparado tanto para discutir demonstrações contábeis alguém quer saber, por exemplo, sobre o ágio de uma incorporação quanto para responder a uma pergunta sobre a política sócio-ambiental da empresa. Atende um analista dos Estados Unidos, da mesa de operação de Londres, extremamente sofisticado e bem informado e fala também com aquele acionista do interior, que tem ações da empresa há 20 anos, cujas preocupações são mais básicas, mais simples. Em apresentações do Itaú, às vezes há perguntas até envolvendo a agência na qual a pessoa tem conta. O RI não é o sujeito que recomendará compre ações da minha empresa e sim alguém que vai suprir o mercado de todas as informações disponíveis sobre a empresa, e vice-versa. Um exemplo prático: o Itaú lançou um bem-sucedido programa de reinvestimento de dividendos porque ouviu o mercado. Em várias ocasiões ouvi acionistas dizendo que queriam reaplicar seus ganhos no próprio banco, mas não tinham tempo. Porque vocês não fazem isso para mim, perguntavam. Eu trouxe a reivindicação ao banco, onde os executivos deaos Estados Unidos. No Brasil, pela facilidade de adaptação que têm os profissionais brasileiros, esses novos conceitos foram logo entendidos. Algumas entidades têm de ser parabenizadas pelo trabalho que fizeram nesse sentido: além do Ibri, o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), a Bovespa pelo esplêndido trabalho de divulgação que tem feito a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) pelas medidas que tomou, com instruções, até com indicações. A maneira como a Bovespa utilizou-o para criar as áreas especiais de negociação é muito inteligente: é voluntário, indica o que o mercado está desejando. A sociedade civil brasileira, representada pelas entidades, sejam órgãos regulatórios ou não, está fazendo um trabalho excelente, promovendo uma discussão muito ampla, cuja evolução tem sido muito rápida. Razão Contábil A governança tornou-se um paradigma? Isto é, ao preparar-se para abrir o capital, a empresa automaticamente mira o Novo Mercado ou os Níveis 1 e 2 de Governança Corporativa? Geraldo Soares Concordo que seja um paradigma. E é bom que seja. Há dez anos, o investidor pessoa física era responsável por 10% do volume negociado na bolsa, hoje participa em 25%. Esse investidor não é um profissional do mercado, não acompanha o dia-a-dia, pois tem seus próprios afazeres. Apenas compra suas ações e quer saber o que está ocorrendo com elas mais esporadicamente. É muito importante para ele, então, saber que RAZÃO CONTÁBIL 9

5 entrevista tem uma garantia a mais, pois há um órgão regulador zelando por aqueles papéis, cobrando posturas das empresas que os emitiram. Razão Contábil Pode se afirmar que o mercado de capitais brasileiro chegou mesmo à maturidade? Geraldo Soares Ele está cada vez mais forte. Tanto que estou sentindo que muitas companhias abertas, que não tinham uma política de companhia aberta, estão se reestruturando: estão se apresentando mais, indo ao mercado, falando com as pessoas, contratando RIs. E empresas de médio porte também estão caminhando nesse sentido. Na outra ponta, do investidor individual, temos um crescente interesse, comprovado por exemplo, pela afluência de 14 mil pessoas à Expomoney (exposição anual, onde empresas, entidades e instituições financeiras orientam ou atualizam pessoas físicas em relação às diversas modalidades de investimentos). A cultura do investimento no mercado de capitais está se expandindo. A Apimec (Associação dos Profissionais do Mercado de Capitais) começa a fazer suas apresentações em todo o País, em cidades importantes que não são capitais de Estado. Numa reunião dessas, em Juiz de Fora, por exemplo, você encontra um auditório de 300 pessoas, que não têm, mas querem ter acesso ao mercado de capitais. Cabe às entidades difundir essa cultura. É um trabalho de formiga não resultará na criação de um milhão de novos investidores da noite para o dia mas vale a pena ser feito. Razão Contábil Este ano começou sem feriados. Logo na primeira semana a Bovespa quebrou recordes, empresas estão lançando papéis. Que perspectivas o senhor vê? Geraldo Soares Muito boas. A condução macroeconômica está indo bem, como comprovam os principais indicadores; o mercado internacional que tem liquidez e não tem muitas alternativas para as quais dirigir o dinheiro está muito otimista em relação ao Brasil. A questão das eleições presidenciais não assusta tanto quanto assustava em Pelos dados que se tem atualmente, não se vê, nos possíveis candidatos de situação ou oposição, nenhuma tendência de que venha a fazer uma profunda alteração na política econômica, que está correta. O que o investidor estrangeiro leva em conta é que o Brasil atingirá o grau de investimento possivelmente em Como não quer perder as oportunidades, tem que se posicionar hoje. Evidentemente que pode ocorrer alguma volatilidade no mercado, mas no atual cenário não é isso o que se visualiza. Razão Contábil Nenhuma ameaça vinda do exterior? Geraldo Soares Não há nenhuma indicação de problemas a médio prazo. O déficit norte-americano é algo que se deve olhar com mais atenção, mas o mercado internacional parece disposto a continuar financiando-o. O mercado aprendeu a se antecipar, com as enormes crises mundiais que tivemos nos últimos dez anos. Ou seja, crises podem acontecer, mas não da forma dramática das anteriores. COPA DO MUNDO: um dos motivos para o aquecimento das empresas voltadas ao mercado interno EDUARDO KNAPP/FOLHA IMAGEM Razão Contábil Setorialmente, o que há de mais promissor no Brasil neste ano? Geraldo Soares O mercado externo continuará crescendo, mas as empresas voltadas para o mercado interno têm muitas possibilidades: é ano de Copa do Mundo, de eleições, tudo isso ajuda a aquecer. 10 RAZÃO CONTÁBIL FEVEREIRO 2006