DA INTEGRAÇÃO DOS CUIDADOS À INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA: O PAPEL DO HOSPITAL NA COMUNIDADE NA VERTENTE PSIQUIÁTRICA
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1 DA INTEGRAÇÃO DOS CUIDADOS À INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA: O PAPEL DO HOSPITAL NA COMUNIDADE NA VERTENTE PSIQUIÁTRICA 4º Congresso Internacional dos Hospitais
2 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO Durante séculos a doença mental foi ostracizada em termos sociais e culturais: Possessão demoníaca Encarceramento Degenerescência Álvaro de Carvalho 2
3 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO O estigma e o empirismo terapêutico: manicómios/ asilos/ hospitais psiquiátricos hereditariedade e vícios a instituição total Baixa exigência escolar e técnica Terapias convulsivantes 1933/1937 1º neurolético (cloropromazina) º antidepressivos Álvaro de Carvalho 3
4 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO 1963 Portugal publica uma lei de saúde mental moderna (n.º 2118) 6 Hospitais Psiquiátricos públicos (Lx/C/P) Centros de Saúde Mental (CSM) em 1974: 18 para adultos, com particularidades constrangedoras. 3 infanto-juvenis IAP: estrutura de gestão centralizada Álvaro de Carvalho 4
5 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO Em Portugal, a influência humanista do pós guerra, motivou alguns profissionais a defenderem a saída do ambulatório dos muros hospitalares para as comunidades residenciais ( o setor Psiquiatria Social) Nos EUA: os centros de saúde mental comunitários (Mental Health Act/ Voando sobre um ninho de cucos ) Álvaro de Carvalho 5
6 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO Nos anos 70, a OMS assume a denúncia do desrespeito dos direitos humanos na assistência psiquiátrica e, em 1978, com a Conferência de Alma-Ata, o movimento dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e A saúde para todos ; Em 1984 o IAP é extinto com a criação da DGCSP, que integra uma Direção de Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental; As tentativas de reforma (1986/89) foram goradas, mas a epidemiologia consubstanciou o seu racional. Álvaro de Carvalho 6
7 DISTRIBUIÇÃO PERTURBAÇÕES MENTAIS NO SISTEMA DE SAÚDE (Goldberg & Huxley, 1980) Doentes Internados 0,5% Serviços de saúde mental (doentes externos e internados) 4% Admissão 4º filtro 3º filtro Doentes cuidados de saúde primários (reconhecidos) 10% Doentes em cuidados de saúde primários (reconhecidos e não reconhecidos) 22% Comunidade 25-35% Encaminhamento 2º filtro Reconhecimento 1º filtro Consciencialização Álvaro de Carvalho 7
8 A NOVA LEI DE A Lei 36/98 estabelece no artigo 3º os princípios gerais de política de saúde mental: 1 Sem prejuízo do disposto na Lei de Bases da Saúde: a) A prestação de cuidados de saúde mental é promovida prioritariamente a nível da comunidade b) Os cuidados de saúde mental são prestados no meio menos restritivo possível c) O tratamento de doentes mentais em regime de internamento ocorre, tendencialmente, em hospitais gerais d) A doentes que fundamentalmente careçam de reabilitação psicossocial, a prestação de cuidados é assegurada, em estruturas residenciais, centros de dia e unidades de treino e reinserção profissional, inseridos na comunidade Álvaro de Carvalho 8
9 Decreto-Lei nº 35/99 (304/2009) Republicado pelo DL 304/2009, regulamenta a Lei 36/98: Artigo 2º 2 Na execução da política de saúde mental devem ser envolvidos todos os serviços e organismos públicos ( ) 3 Deve ser assegurada a participação da comunidade e dos cidadãos ( ) Artigo 6º 2 Os serviços locais ( ) devem funcionar de forma integrada e em estreita articulação com os cuidados de saúde primários, demais serviços e estabelecimentos de saúde ( ) Álvaro de Carvalho 9
10 Decreto-Lei nº 35/99 (304/2009) Artigo 10º Serviços locais de saúde mental 1 ( ) assegurar a prestação de cuidados globais essenciais de saúde mental; 2 A rede de serviços locais de saúde mental integra: a) Cuidados ambulatórios e outras intervenções na comunidade b) Internamento completo de doentes agudos; c) Hospitalização parcial d) Atendimento permanente das situações de urgência psiquiátrica, em serviços de urgência de hospitais gerais ou ( ) estruturas de intervenção na crise e) Prestação de cuidados especializados a doentes internados em ligação com outras especialidades Álvaro de Carvalho 10
11 Decreto-Lei nº 35/99 (304/2009) 3 Os cuidados ambulatórios ( )desenvolvem -se através de estruturas próprias, em articulação com os cuidados de saúde primários e respetivos profissionais, ( )os estabelecimentos de ensino pré-escolar, básico e secundário 4 A prestação de cuidados de saúde mental é indissociável das atividades de reabilitação psicossocial Álvaro de Carvalho 11
12 Decreto-Lei nº 35/99 (304/2009) Artigo 11º Forma de organização 1 Os serviços locais de saúde mental organizam-se sob a forma de departamento ou de serviço de hospital geral ( ) devendo constituir centros de responsabilidade; 3 Os cuidados de saúde mental da criança e do adolescente são assegurados através de equipas multiprofissionais específicas. Álvaro de Carvalho 12
13 Decreto-Lei nº 35/99 (304/2009) Artigo 12.º Coordenação dos serviços locais 1 - A coordenação dos serviços locais de saúde mental compete ao diretor do departamento ou do serviço; 4 - O coordenador dos serviços locais de saúde mental deve ser coadjuvado por um enfermeiro com a especialidade de saúde mental e psiquiátrica e por um administrador hospitalar. Álvaro de Carvalho 13
14 Decreto-Lei nº 35/99 (304/2009) Artigo 16.º - ATRIBUIÇÕES DOS HOSPITAIS E CENTROS HOSPITALARES PSIQUIÁTRICOS 1 ( )incumbe: a) Continuar a assegurar os cuidados de nível local b) Disponibilizar respostas de âmbito regional c) Assegurar os cuidados exigidos pelos doentes de evolução prolongada 2 Para efeitos ( ) cada equipa ( ) é dotada de um plano de atividades e de um orçamento privativos. Álvaro de Carvalho 14
15 DOENÇA MENTAL GRAVE A doença mental grave tem uma característica genética: ausência de consciência do patológico, que pode legitimar internamento e tratamento compulsivos. Tendencialmente tem evolução crónica e psicosocialmente incapacitante: ou são monitorizadas e apoiadas com cuidados descentralizados/de proximidade e adequados ou tornam os afetados dependentes/marginalizados, apresentando-se a institucionalização como mal menor. Álvaro de Carvalho 15
16 ORIENTAÇÕES E COMPROMISSOS INTERNACIONAIS 1. Reestruturação da organização assistencial da SM do modelo hospitalar para o comunitário com integração orgânica e funcional no sistema geral de saúde, em particular nos CSP 2ª Conferência de Ministros da Saúde do Conselho da Europa (Estocolmo,1985) 2. Os problemas de SM constituem uma prioridade de saúde pública Conferência Europeia da Promoção da Saúde Mental e Inclusão Social (Helsínquia,1999) Álvaro de Carvalho
17 ORIENTAÇÕES E COMPROMISSOS INTERNACIONAIS 3. Compromisso dos Ministros da Saúde da Europa em desenvolver serviços baseados na comunidade que substituam os cuidados prestados em grandes instituições a pessoas com doença mental grave Declaração Europeia de Saúde Mental (Helsínquia, 2005). Álvaro Carvalho 17
18 DADOS E COMPROMISSOS INTERNACIONAIS 4. Livro Verde da UE: Melhorar a saúde mental da população. Rumo a uma estratégia de saúde mental para a União Europeia (2008) 5. Pacto Europeu para a Saúde Mental, aprovado em sequência, cujo contexto de referência é a política global da UE em saúde mental e bem-estar, que surgiu através de iniciativas em todas as políticas Comunitárias. Álvaro Carvalho 18
19 DADOS DA EVIDÊNCIA CIENTÍFICA Na aplicação do The Global Burden of Disease (1996) à Europa verificou-se que: as perturbações psiquiátricas eram responsáveis por 40% dos anos vividos com incapacidade; há 4 entre as 10 principais causas gerais de incapacidade depressão, alcoolismo, esquizofrenia e doença bipolar. Álvaro Carvalho 19
20 DADOS DA EVIDÊNCIA CIENTÍFICA De acordo com a última revisão (2010), as perturbações depressivas: foram a 3ª causa de carga global de doença (1ª nos países desenvolvidos); está previsto que passem a ser a 1ª causa a nível mundial em 2030, com agravamento das taxas correlatas de suicídio e para-suicídio. Álvaro Carvalho 20
21 21
22 DADOS DA EVIDÊNCIA CIENTÍFICA A questão do acesso aos cuidados tem sido uma das áreas mais aprofundada nos últimos anos, estando já identificados vários dos seus determinantes: estigma e desconhecimento face à doença mental escassez de recursos humanos e estruturais baixa prioridade em termos de opção política orçamento desproporcionadamente baixo para a carga das doenças implicadas organização deficiente dos serviços de psiquiatria, com concentração em grandes instituições; centralizadas e pouco articuladas com os cuidados de saúde primários Álvaro Carvalho 22
23 MODELO DE ORGANIZAÇÃO PROPOSTO Com base: neste conjunto de evidências na avaliação das reformas de saúde mental em diversos países nos dados de vasta investigação já disponível sobre a efetividade e os custos dos vários tipos de serviços Álvaro Carvalho 23
24 MODELO DE ORGANIZAÇÃO PROPOSTO A OMS, a União Europeia e outras organizações internacionais defendem que os serviços de SM devem organizar-se de acordo com os seguintes princípios: 1. Garantia de acessibilidade a todas as pessoas com problemas de SM; 2. Responsabilidade por um setor geodemográfico; 3. Disponibilização de um conjunto diversificado de unidades e programas, incluindo internamento em hospital geral. Álvaro Carvalho 24
25 MODELO ORGANIZAÇÃO PROPOSTO 4. Coordenação comum 5. Participação de utentes, familiares e diferentes entidades da comunidade 6. Articulação estreita com os cuidados primários de saúde; 7. Colaboração com o setor social e ONGs na reabilitação e prestação de cuidados continuados a doentes mentais graves; 8. Monitorização e prestação de contas. Álvaro Carvalho 25
26 Hospital Psiquiátrico Internamento Consultas Depósito asilar Hospital Geral Equipas de Saúde Mental Comunitária Cuidados Continuados Saúde Mental CSP 26
27 REFLEXÕES FINAIS Hospital como uma entidade em si, com impacto específico na comunidade Centralizadores da atividade e emprego das comunidades (HUC) Resistência das comunidades/autarquias ao encerramento: comunidades organizadas à sua volta (Lorvão/Friern) Processo dialético entre o que deve ser feito de acordo com as boas práticas de organização de serviços e a reação das comunidades e poderes instalados, que muitas vezes são contraditórias. Álvaro Carvalho 27
28 REFLEXÕES FINAIS Contribuição da psiquiatria na integração do hospital na comunidade, através do pioneirismo da articulação comunitária A integração da Psiquiatria no Hospital Geral, tendo como modelo de referência do seu funcionamento o da saúde mental comunitária, exige um modelo de financiamento diferenciado do das outras especialidades. Álvaro Carvalho 28
29 EXEMPLOS DE ESTRUTURAS COMUNITÁRIAS DE UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO UNIDADE JÚLIO DE MATOS/CENTRO HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO DE LISBOA Álvaro de Carvalho 29
30 Ano de criação: 2007 APOIO DOMICILIÁRIO N.º de viaturas adstrito: 4 (2 em exclusivo) N.º e qualidade de profissionais adstritos: 1 Médico; 2 Psicólogos; 3 Tec. Serviço Social; 4 Enfermeiros N.º visitas/ano (2011): N.º de utentes abrangidos: 494 N.º de visitas/utente(média 2011): 4,7 Projetos Pretrarca e ProActus (Projetos específicos no âmbito da atividade domiciliária financiados pelo PISM)
31 UNIDADE COMUNITÁRIA DE CUIDADOS PSIQUIÁTRICOS DE ODIVELAS Localização: Odivelas Área: 910 m2 Ano de criação: 1991 Capacidade média de utentes: 24 (12 em Hospital de Dia e 12 em área de dia Dia) Profissionais adstritos : 2 Médicos; 3 Internos; 3 Psicólogos; 2 Tec. Serviço Social (1 afeto ao ProActus; 2 Terapeutas Ocupacionais ; 1 Monitor; 1 Psicodancista (t. parcial) ; 5 Enfermeiros (1,5 afeto ao ProActus); 2 Assistentes Técnicos; 2 Operacionais
32 UNIDADE COMUNITÁRIA DE CUIDADOS PSIQUIÁTRICOS DE ODIVELAS Produção anual (2011) Consultas Médicas Não médicas H.Dia / Área de Dia Sessões Utentes 23 Visitas Domiciliárias Visitas 648 Utentes
33 CINTRA Centro Integrado de Tratamento e Reabilitação em Ambulatório Localização: Sintra Área: 659,7 m2 Ano criação: 1999 N.º e qualidade de profissionais adstritos: 5 Médicos; 3 Internos; 3 Psicólogos; 1 Tec. Serviço Social; 4 Terapeutas Ocupacionais /Psicopedagogos; 1 Psicodancista (t. parcial) ; 3 Enfermeiros; 1 Assistente Técnico; 2 Assistentes Operacionais
34 CINTRA Centro Integrado de Tratamento e Reabilitação em Ambulatório Produção anual (2011): Consultas Médicas Não médicas Visitas Domiciliárias Visitas 203 Utentes
35 UNIDADE DE REABILITAÇÃO CINTRA Localização: Sintra Área 180 m2 Produção anual (2011): H.Dia / Área de Dia Sessões Utentes
36 ESPAÇO TERAPÊUTICO COMUNITÁRIO DE VILA FRANCA DE XIRA Localização: Vila Franca de Xira Área: 215 m2 Ano criação: Abril 2011 N.º e qualidade de profissionais adstritos: 1 Médico; 1 Interno; 1 Psicólogo; 1 Tec. Serviço Social; 1 Terapeuta Ocupacional ; 1 Enfermeiro
37 ESPAÇO TERAPÊUTICO COMUNITÁRIO DE VILA FRANCA DE XIRA Produção anual (2011): Consultas Médicas 636 Não médicas 363 Área de Dia Sessões Utentes 165 Visitas Domiciliárias Visitas 11 Utentes
38 NÚCLEO DE INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA DE DOS OLIVAIS Área: 81,77 m2 Ano de criação: 2000 Capacidade média de utentes: 12 utentes Profissionais adstritos: 1 Médico; 1 Psicólogo; 1 Tec. Serviço Social; 1 Terapeuta Ocupacional ; 1 Enfermeiro
39 NÚCLEO DE INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA DE DOS OLIVAIS Consultas Produção anual (2011): Médicas Não médicas
40 UNIDADE RESIDENCIAL COMUNITÁRIA Ano criação: Unidades Casa de Alvalade I 2007 Casa de Alvalade II 2008 Casa de Marvila 2009 N.º e qualidade de profissionais adstritos: 1 Médico 1 Psicólogo 1 Tec. Serviço Social 1 Enfermeiro (todos os profissionais em tempo parcial)
41 UNIDADE RESIDENCIAL COMUNITÁRIA Produção anual (2011): Unidades Doentes Tratados Dias Internamento Casa de Alvalade I Casa de Alvalade II Casa de Marvila
42 UNIDADE REENCONTROS Unidade sócio-ocupacional (reabilitação de doentes mentais graves) Área: 129,5 m2 Ano de criação: 2008 Capacidade: 20 utentes/dia Pessoal adstrito: 2 Terapeutas Ocupacionais; 1 Assistente Operacional
43 UNIDADE REENCONTROS Produção anual (2011): Área de Dia Sessões Utentes
44 UNIDADE COMUNITÁRIA DE PSIQUIATRIA E DE TORRES VEDRAS Localização: Torres Vedras Área: 106 m2 Área 215 m2 Ano criação:2009 N.º e qualidade de profissionais adstritos: 1,5 Médicos; 1 interno; 1 Psicólogo; 1 Tec. Serviço Social; 1 Enfermeiro
45 UNIDADE COMUNITÁRIA DE PSIQUIATRIA E DE TORRES VEDRAS Produção anual (2011): Consultas Médicas Não médicas 983 Visitas Domiciliárias Visitas 199 Utentes
46 RESIDÊNCIA COMUNITÁRIA DO RESTELO Localização: Lisboa (Bairro do Restelo)) Área: 1568 m2 Capacidade: 24 utentes Apoio de Equipa de Gestão de Altas: 1 médico, 1 Enfermeiro 1 Assistente Social. Gerida por IPSS, integra os últimos residentes no H. Miguel Bombarda; perpetivada para as experiências piloto dos CCISM
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