PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante ESPÓLIO DE VITO STEFANO GIOVINAZZO (REPRES. P/ SUA INVENTARIANTE MARIA ANA DE LIMA), é apelado CONDOMÍNIO EDIFÍCIO BRASÍLIA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 36ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JAYME QUEIROZ LOPES (Presidente) e ARANTES THEODORO. São Paulo, 6 de setembro de Milton Carvalho Relator Assinatura Eletrônica

2 Voto n Apelação cível n Comarca: São Paulo. Apelante: Vito Stefano Giovinazzo (Espólio) Apelado: Condomínio Edifício Brasília. Juiz prolator da sentença: Laura Mota Lima de Oliveira Macedo. AÇÃO DEMOLITÓRIA. Prosseguimento do processo determinado por decisão irrecorrida. Preclusão. Julgamento extra petita não constatado. Inaplicabilidade do prazo decadencial de ano e dia do art do CC, por não se tratar de pretensão de desfazimento de janela, sacada, terraço ou goteira. Ampliação de loja, com construção banheiros na área comum do edifício. Demolição de rigor. Recurso desprovido. Trata-se de ação demolitória, julgada procedente pela respeitável sentença de fls. 420/423, cujo relatório se adota, para condenar o réu a demolir a obra especificada pelo perito, em 40 dias após a intimação para cumprimento, sob pena de multa diária de R$300,00 até o limite de R$20.000,00, sem prejuízo da conversão da obrigação de fazer em indenização de R$10.000,00, para que a obra possa ser feita por terceiro. Ao réu foram atribuídos os ônus de sucumbência, com honorários advocatícios arbitrados em 10% do valor da causa (R$10.000,00) atualizado. Inconformado apela o réu sustentando que se não prosperou a nunciação também não poderia ter prosperado nenhum pedido de demolição ; que a obra estava construída há mais de 30 anos, sendo que sua destruição importará grave prejuízo; que construção existente há mais de um ano e um dia não pode ser demolida; que não houve construção na área comum, mas mantido o que já era existente e que o pedido inicial se restringiu ao que foi feito na última reforma. Requer, assim, seja reformada a respeitável sentença, inclusive, em razão do julgamento extra petita (fls. 428/431). Apelação nº Voto nº

3 Houve resposta (fls. 433/439). É o breve relato. O recurso não merece acolhimento. Inicialmente, com relação ao descabimento da ação demolitória, observa-se que a matéria se encontra preclusa. Isso porque, ao sanear o feito, constatando que a obra já havia sido concluída, o douto Juízo a quo julgou extinta a ação de nunciação de obra nova, determinando o prosseguimento do processo no tocante ao pedido de demolição (fls. 263/264), decisão que foi proferida na vigência do Código de Processo Civil de Assim, na medida em que o réu não se insurgiu contra tal decisão na oportunidade, perdeu o direito de impugná-la agora, por força da preclusão. extra petita. De outra parte, não se vislumbra a ocorrência de julgamento O condomínio alega que o réu iniciou obra de ampliação da sua loja, invadindo a área comum do prédio. Assim, foi ajuizada a presente demanda visando a obstar a continuidade da obra e demolir a construção irregular. Na petição inicial, o autor pediu a demolição do que já foi construído às custas do demandado (fls. 07) e o douto Juízo a quo determinou fosse demolida a obra especificada pelo perito (grifo não original). Ao ser questionado sobre a invasão da área comum do condomínio, o expert respondeu com clareza que As obras que resultaram na ocupação da área de uso comum existente aos fundos do pavimento térreo do condomínio estão representadas pelo perímetro Q-N-O-K-M-J-I-L-P-R-Q e totalizam 22,64 m2 (fls. 369). Ou seja, ele apontou como irregular justamente o Apelação nº Voto nº

4 espaço que invadiu a área comum, nos termos da pretensão deduzida pelo autor. Assim, portanto, a respeitável sentença se limitou à análise do pedido constante da ação proposta. demolitório. Tampouco prospera a alegação de decadência do pedido O prazo decadencial de ano e dia de que trata o artigo do Código Civil se restringe ao pedido de desfazimento de janela, sacada, terraço ou goteira, inaplicável ao caso, em que se discute a invasão de terreno mediante construção irregular de banheiros. Ensina FRANCISCO EDUARDO LOUREIRO, em comentários ao artigo do CC, que: Disciplina o preceito algumas das medidas cabíveis ao proprietário prejudicado por obras de vizinhos que ofendam as regras dos arts (goteiras) e (janelas, eirados, terrações e varandas). (In Cezar Peluso (coord.), Código Civil comentado, 11ª ed., Barueri, Manole, 2017, p. 1239). No mesmo sentido: AÇÃO DEMOLITÓRIA. CONSTRUÇÃO DE MURO CONFINANTE COM O IMÓVEL DA DEMANDANTE. [...] PRAZO DECADENCIAL. INAPLICABILIDADE DO ART DO CC. [...] Tendo a presente ação o objetivo de compelir o demandado a demolir o muro irregularmente construído, não incide o prazo decadencial previsto no art do CC, o qual trata de construção irregular de janela, sacada, terraço ou goteira. Não age em regular exercício de seu direito a parte que constrói muro além dos limites de seu terreno, invade bem público e obstrui totalmente as aberturas de iluminação do imóvel vizinho. [...]. (TJSP, Apelação nº , 35ª Câmara de Direito Privado, Rel. Gilberto Leme, j. 26/06/2017) (grifo não original). Apelação nº Voto nº

5 AÇÃO COMINATÓRIA - CONDOMÍNIO - DEMOLIÇÃO DE CONSTRUÇÕES IRREGULARES - SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA - ALEGADA DECADÊNCIA - IMPERTINÊNCIA - NÃO APLICAÇÃO DO ART DO CC - APELO DO AUTOR NÃO PROVIDO E PROVIDO EM PARTE O DA RÉ. I- O prazo a que alude o art do CC não se acomoda à hipótese vertente, posto não se tratar de janela, sacada, terraço ou goteira, mas sim a construção de um banheiro no poço de ventilação do edifício. O prazo decadencial em questão é regido pelo art. 205 do CC, o que não ocorreu; II- Comprovado que a ré edificou banheiro em área comum do condomínio, pertinente a determinação de sua demolição [...]. (TJSP, Apelação nº , 31ª Câmara de Direito Privado, Rel. Paulo Ayrosa, j. 02/08/2011) (realce não original). Direito de vizinhança. Demolitória. Construção realizada com apoio em parede divisória sem autorização do confinante. Aplicação do prazo previsto no art do CCiv. Descabimento. Situação de fato que não se enquadra nas hipóteses arroladas por referido dispositivo, o qual estabelece disciplina especial e, portanto, deve ser interpretado estritamente. Decadência afastada. Capacidade da parede divisória de escorar a nova construção. Prova. Ausência. Oportunidade de produção. Inexistência. Cerceamento de defesa. Reconhecimento. Recurso provido. (TJSP, Apelação nº , 34ª Câmara de Direito Privado, Rel. Nestor Duarte, j. 14/12/2009) (grifo não original). Nesse contexto, portanto, não tem cabimento impedir o condomínio de recuperar a área comum de sua propriedade, sobre a qual o recorrente construiu de maneira indevida. Afinal, como bem concluiu o perito, o réu invadiu área pertencente ao autor: as obras executadas pelo espólio requerido consistiram, basicamente, em ampliações na área aos fundos da loja que, inicialmente Apelação nº Voto nº

6 concebida para ser livre, terminou por receber cobertura e, dessa forma, ampliar o espaço interno da loja nº 1. [...] Dessa forma, é fato que a área ocupada pela loja nº 1, do espólio requerido e onde se encontra o vestiário e sanitário feminino, bem como o vestiário masculino corresponde a área comum do prédio (fls. 362/363). No mais, é irrelevante para o deslinde do feito o tempo que perdura a construção ilícita. De qualquer forma, segundo indicado pelo perito, a área a ser demolida se refere à reforma de ampliação, sendo inverossímil a tese de sua existência há trinta anos. Destarte, porque deu adequada solução à lide, a respeitável sentença recorrida deve ser integralmente mantida. Por fim, nos termos do artigo 85, 11, do Código de Processo Civil, majoram-se os honorários advocatícios fixados para 12% do valor da causa atualizado. Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. MILTON PAULO DE CARVALHO FILHO relator Apelação nº Voto nº