GEOGRAFIA ESCOLAR E MEIO AMBIENTE NOS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

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1 GEOGRAFIA ESCOLAR E MEIO AMBIENTE NOS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL Pesquisa integrante do Projeto: Universidade-Escola: uma rede de formação mútua Autores: Daniel Luiz Ignacio Pires (Graduando; danielpires@ufrj.br); Gabriel Brasil de Carvalho Pedro (Graduando; gabriel_brasil_88@yahoo.com.br); Mestre Leticia Ribeiro Parente (leticiapr@uol.com.br); Doutor Rafael Winter (rafaelwinter@yahoo.com.br); Doutora Ana Maria Lima Daou (anadaou@ufrj.br) Resumo: O meio ambiente é posto em voga de forma crescente em nossas vidas e o ensino de geografia física acaba por ser um dos principais pontos de menção à essa temática. O trabalho é justificado pela relevante relação entre a temática ambiental e a geografia física dos livros didáticos. O objetivo da pesquis-a é trazer o ensino de Geografia física para o âmbito acadêmico, fazendo uma análise dos livros didáticos e sua abordagem acerca da temática ambiental. A Metodologia utilizada foi a análise das coleções de livros que constam no Plano Nacional do Livro didático referentes ao segundo ciclo do Ensino Fundamental. O trabalho se deu através da identificação de algumas categorias previamente selecionadas que foram: a abordagem predominante dada ao meio ambiente, a escala de análise utilizada, os exemplos utilizados, os suportes empregados e as atividades sugeridas. Tais categorias deveriam ser identificadas em cada conteúdo que fizesse menção ao tema. Através dessa análise cuidadosa foram encontrados até o presente momento da pesquisa algumas conclusões que mostram uma dificuldade na identificação da abordagem dada ao meio ambiente. Por muitas vezes pudemos identificar o tratamento da temática por um olhar antropocêntrico e logo em seguida, no mesmo tema, por uma visão utilitarista. Ainda neste sentido deve ser destacada a insistência dos livros na identificação da temática ambiental aos impactos e questões negativas de degradação do meio ambiente, tendo uma visão reducionista do caso. Pode ser destacada também a utilização dos suportes, como fotografias, textos complementares, ou imagens, para a exemplificação do tema trabalhado. Foram identificados também alguns temas que mais aparecem no tratamento do meio ambiente pela geografia física e a identificação de algumas incoerências corriqueiras. Introdução As questões levantadas pelo presente trabalho fazem referência à discussão do tema meio ambiente nos livros didáticos de Geografia. Seguimos, a partir desta questão central, tendo como objetivos principais traçar um perfil inicial da maneira pela qual o meio ambiente é abordado pelos livros didáticos. Como objetivos secundários, temos a identificação de quais conteúdos, geralmente, aparecem mais atrelados ao tema, e quais as especificidades destes conteúdos no tocante a questão ambiental, o que acaba trazendo o ensino de Geografia física para o centro da discussão. O trabalho é justificado pela necessidade da intensificação do diálogo entre universidade e escola e a compreensão, por parte dos graduandos de Geografia, de como 1

2 a disciplina é tratada nos materiais produzidos com fins ao ensino escolar. Esta relação, onde as duas partes serão enriquecidas nos seus específicos objetivos, deve aproximar os dois lados, cada um ensinando e aprendendo com o outro, em um intercâmbio de experiências de Geografia escolar com Geografia acadêmica, buscando o rompimento das barreiras existentes entre as duas dimensões. O meio ambiente, enquanto um tema fortemente comentado nos últimos anos, e definido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais como transversal, foi escolhido como o centro de nossa pesquisa pela necessidade de se entender melhor a maneira pela qual o tema é tratado e a freqüência com que este é trabalhado nos livros didáticos. Além disso, é preciso que seja destacado que a Geografia, ao lado de Ciências, foi, e é certamente uma das disciplinas que mais conseguiu absorver a temática ambiental em seu conteúdo e trabalhá-la junto aos alunos, principalmente no ensino de Geografia Física. Sendo então, de suma importância, uma análise cuidadosa de como essa absorção e trabalho se dão no material didático. Material e métodos No intento de alcançar os objetivos traçados previamente, partimos então para uma revisão bibliográfica que iniciou-se no primeiro semestre do presente ano (junto a disciplina Projeto de Extensão III, oferecida no Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) com a seleção de alguns textos relevantes para o tema e a confecção, por parte dos alunos, de resenhas sobre tais obras, o que forneceu material inicial, entorno do qual se estabeleceram discussões entre os bolsistas, junto aos orientadores. As discussões se aprofundaram no segundo semestre, dando-nos suporte para a seleção dos conceitos/ categorias centrais que seriam utilizadas para a confecção de nosso instrumento de análise dos livros didáticos. Para a compreensão da temática ambiental nas coleções de livros selecionadas os conceitos/ categorias mais relevantes aos nossos objetivos foram: a escala de análise utilizada pelos autores, os principais exemplos a ilustrar a abordagem, a própria linha de abordagem predominante, o tipo de suporte empregado para o trabalho, e as possíveis atividades sugeridas pelo livro a serem realizadas junto aos alunos. Uma tabela de análise foi então elaborada como nosso principal instrumento de pesquisa. Dessa maneira, a tabela deveria ser preenchida com a identificação da coleção a ser analisada, seguida da série e do capítulo em questão. Após este rápido recorte 2

3 passava-se então a descriminação do conteúdo específico dentro do dado capítulo e sua abordagem predominante no que tange a temática ambiental. Para a identificação das escalas utilizadas nas abordagens, definimos como categorias principais: global, regional e o local. Definidos estes primeiros passos, segue-se então à descrição dos exemplos utilizados pelo autor, dos suportes empregados e das possíveis atividades, tudo isso, evidentemente, se dadas categorias estivessem diretamente correspondentes à idéia de meio ambiente. Toda esta análise foi realizada exclusivamente nas coleções de livros didáticos do segundo ciclo do Ensino em nível Fundamental, ou seja, o 6, 7, 8 e 9 anos que é onde a Geografia passa a ser uma disciplina propriamente dita, não mais vinculada a História, por exemplo, como ocorre no primeiro ciclo, onde é denominada de Estudos Sociais. Tais coleções, que devem constar no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), totalizando dezenove, são previamente selecionadas pelo governo federal e enviadas às escolas de todo o Brasil para que possam escolher uma delas para o uso dos professores junto aos alunos. Para esse trabalho de pesquisa preliminar, cinco das dezenove coleções previstas pelo PNLD foram analisadas: Projeto Araribá, Geografia (autora: Sônia Castellar, Ed. Moderna), Construindo o Espaço, Geografia do Mundo, e Construindo a Geografia. Nossa principal fonte de pesquisa foi, desta maneira, os próprios livros didáticos, da qual iremos extrair os dados necessários aos nossos objetivos. Portanto, neste sentido, a tabela a ser preenchida, enquanto instrumento de nossa análise, foi elaborada para tal fonte. Esta escolha, do livro didático enquanto fonte de pesquisa se deu pelo fato de, ao menos teoricamente, ser ele um dos principais instrumentos utilizados pelo professor em seu planejamento de aulas, assim como no seu dia-a-dia perante os alunos em sala de aula e, até mesmo dos próprios alunos como fonte de estudos. Após a finalização do preenchimento das tabelas foi confeccionado um banco de dados com as informações levantadas, com vistas à quantificação da freqüência com que determinadas descrições aparecem na mesma categoria e a possível correlação entre descrições de categorias diferentes. 3

4 Resultados e discussões Através de uma análise de freqüência dos assuntos relacionados à temática ambiental nos livros didáticos, constatou-se o aparecimento de certos conteúdos preferenciais (Gráfico 1). Listando tais conteúdos, pode-se perceber temas como Hidrografia e Paisagem como os mais recorrentes, enquanto que temas como Transporte e Energia aparentemente negligenciados na abordagem dos livros didáticos. Essa discrepância é relevante, na medida em que Transporte e Energia se apresentam como algumas das facetas mais impactantes da atividades humanas sobre a Natureza, e são presentes em grande parte dos debates atuais sobre o tema. Recorrência da temática ambiental nos livros didático, por assunto Gráfico Hidrosfera (8) Paisagem (6) Clima e Vegetação (4) Biosfera (4) Atmosfera (3) Industria (3) Transporte (3) Energia (2) Urbano (2) A presença da questão ambiental nas coleções analisadas, se separadas por série (Gráfico 2) demonstra uma predominância da temática ambiental n0 6º e 7º ano, em detrimento dos outros dois, sendo o 8º ano particularmente pouco contemplado. Da maneira como o conteúdo é normalmente dividido nos livros didáticos, a série em que o Meio Ambiente é menos mencionado é, justamente, naquele em que a descrição do território e das questões do Brasil são trabalhadas. Essa discrepância configura uma negligência às questões ambientais do nosso próprio país, projetando a questão ambiental para um plano global, e removendo-a do plano nacional, ou seja, de onde o aluno poderia fazer correlações com o seu dia-a-dia, e assim facilitar o processo de ensino-aprendizagem. 4

5 Presença da questão ambiental nas coleções analisadas, por série Gráfico Nº de capítulos º ano 7º ano 8º ano 9º ano Uma análise de recorrência de determinadas escalas (global, regional e local Gráfico 3) não revelou significativa preferência dada à nenhuma delas na abordagem da temática ambiental nos livros didáticos, sendo a escala local a mais utilizada, seguida da regional, e a global como a menos utilizada. Apesar do aparente equilíbrio entre o uso das três escalas selecionadas, no geral a abordagem do conteúdo é feita através da escala global, tendo as escalas regionais e locais papel de suporte para exemplificação. A exceção a essa observação ocorre nos livros em que o escopo da análise é delimitado às regiões brasileiras, onde ocorre o predomínio das escalas regionais e locais não mais apenas para os exemplos, mas sim para a própria abordagem do conteúdo. Recorrência de determinadas escalas na abordagem ao Meio Ambiente Global Regional 25 Local Gráfico 3 5

6 Referências bibliográficas: SEVCENKO, N. Meio Ambiente, corpos e comunidades. In:. A Corrida para o Século XXI: no Loop da Montanha-Russa. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, cap. 3, p VINCENT, Andrew. Ecologismo. In:. Ideologias Políticas Modernas. Ed. Rio de Janeiro: Zahar, cap. 8, BAYLISS-SMITH, Tim; OWENS, Susan. O desafio ambiental. In: GREGORY, D.; MARTIN, R.; SMITH, G (org). Geografia Humana Sociedade, Espaço e Ciência social. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, cap. 4, p