Interdisciplinaridade e Turismo: um Estudo sobre a Experiência da Disciplina de Trabalho de Análise Interdisciplinar
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- Anderson Carneiro Estrada
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1 Interdisciplinaridade e Turismo: um Estudo sobre a Experiência da Disciplina de Trabalho de Análise Interdisciplinar Gheysa Lemes Gonçalves Gama 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET) do Sudeste de Minas Gerais, Campus de Juiz de Fora Marcelo Augusto Mascarenhas 2 Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ) UnED. Nova Friburgo Núcleo de Pesquisas e Estudos Avançados em Turismo (NUPETUR/UFOP) Grupo de Estudos em Gestão Empresarial, Turismo e Desenvolvimento Sustentável (GETDS/UNIRIO) Núcleo de Estudos sobre Inovação e Tecnologia para o Turismo (NEITT/CEFET-RJ) Bianca de França Tempone Felga de Moraes 3 Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ) UnED. Nova Friburgo Núcleo de Estudos sobre Inovação e Tecnologia para o Turismo (NEITT/CEFET-RJ) Resumo: O presente estudo desenvolve uma reflexão sobre a prática interdisciplinar a ser desenvolvida no processo de formação dos profissionais de turismo. Dentro desta linha de estudos, foi realizada uma pesquisa junto ao curso de graduação tecnológica em gestão de turismo do CEFET/RJ, na UnED de Nova Friburgo, para avaliar qual a percepção dos alunos sobre a disciplina de Trabalho de Análise Interdisciplinar (TAI). Nesta pesquisa buscou-se avaliar como o aluno percebe esta didática que tenta inserir ou fortalecer a interdisciplinaridade por meio de uma disciplina específica. Como parte dos resultados obtidos neste estudo, podemos dizer que não existem indícios desta ser uma prática favorável ou desfavorável à tentativa de consolidar a interdisciplinaridade na formação dos discentes. Os resultados mostram que, para o caso estudado, não existem ganhos representativos diante da prática interdisciplinar diluída apenas no 1 Bacharel em turismo, especialista em planejamento e gestão social e mestre em ciências sociais, todos pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), docente concursada do IFET Campus Juiz de Fora onde leciona nos cursos técnicos de Turismo e Eventos. gheysagama@yahoo.com.br 2 Bacharel em turismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em Estudos Populacionais e Pesquisa Social pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE). s: marcelo.a.mascarenhas@gmail.com ou mmascarenhas@cefet-rj.br 3 Bacharel em turismo pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), especialista em docência do ensino superior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em sistemas de gestão pela Universidade Federal Fluminense (UFF). biancatempone@gmail.com
2 desenvolvimento das disciplinas que tradicionalmente estruturam um curso profissional na área de turismo. Palavras-chave: interdisciplinar; turismo; disciplina; TAI; avaliação.
3 Introdução Pela complexidade das relações estabelecidas, o tema turismo sempre esteve arraigado a várias disciplinas. Assim disciplinas como: economia, administração, política, geografia, psicologia, ecologia, antropologia, dentre outras procuram compreender o fenômeno do turismo. Entretanto estas abordagens são, em grande parte, multidisciplinares, onde cada disciplina procura associar-se ao turismo e dar conta de uma parte razoavelmente pequena do objeto do estudo, o que inevitavelmente torna este tipo de visão como uma ótica bastante fragmentária. Deste modo, a perspectiva que procura dar sentido às complexidades do turismo, com suas diferentes nuances, é a interdisciplinar. A interdisciplinaridade é um conceito conhecido e divulgado no meio acadêmico do turismo, porém não são conhecidas muitas práticas de vivência da interdisciplinaridade nos cursos de turismo. Eis o que este trabalho procura contemplar. O presente artigo pretende apresentar algumas considerações sobre a importância da interdisciplinaridade na educação em turismo ilustrando com um caso em especial: a disciplina de Trabalho de Análise Interdisciplinar (TAI), ministrada no CEFET/RJ, nas Unidades de Ensino Descentralizadas (UnEDs) de Petrópolis e Nova Friburgo. Para a confecção deste trabalho, vamos apresentar os resultados de uma pesquisa feita somente com os alunos da segunda UnED citada. A referida disciplina, que foi introduzida na matriz curricular dos cursos superiores de tecnologia em gestão de turismo do CEFET/RJ, possui como finalidade principal o desenvolvimento da prática interdisciplinar. Mais informações sobre a construção deste estudo e detalhes acerca desta matéria, veja respectivamente as seções de metodologia e de análise dos resultados, apresentadas adiante. A disposição deste trabalho se estrutura pelo seguinte percurso: uma discussão sobre a multi e interdisciplinaridade no turismo, uma breve reflexão sobre o campo de turismo e a educação para este setor, uma pequena apresentação sobre a disciplina de Tai e seu contexto no CEFET/RJ, uma rápida explicação acerca da metodologia que auxiliou a construção deste estudo, a apresentação de algumas informações sobre os dados coletados em uma pesquisa quantitativa com alunos de turismo da UnED de Nova Friburgo do CEFET/RJ, seguida pelas considerações finais e da lista de referências bibliográficas utilizadas neste artigo. Turismo e as Perspectivas Multi e Interdisciplinares
4 O conhecimento sobre o Turismo, em sua maioria, é construído a partir de aspectos de outras disciplinas, como a Sociologia, Antropologia, Ciência Política, Recursos Humanos, Marketing, Ecologia, História e Psicologia apenas para ficar em alguns exemplos. Assim, Dencker (1998) vai concluir que o turismo configura-se mais como um campo científico do que como uma ciência independente por empregar métodos e conceitos de outras áreas de conhecimento, constituindo-se como uma subárea de conhecimento. A perspectiva que visualiza a construção do conhecimento do turismo a partir de outras disciplinas pode ser categorizada de duas formas, ou seja, multidisciplinar ou interdisciplinar, sendo que ao considerarmos o saber turístico como um elemento construído a partir de paradigmas pertencentes a outras áreas do saber, necessariamente desconsidera-se a idéia do turismo como ciência. Outras duas perspectivas podem ser encontradas em Panosso (2005) onde há a existência de um grupo de pesquisadores que consideram, pela produção científica existente, o turismo como ciência já constituída e outro grupo que observa o conhecimento no campo do turismo uma frente de saber que encaminha-se para se tornar ciência, à medida que as pesquisas na área estão em crescimento no sentido de traçar um objeto e método de pesquisa específicos ao turismo. Para reflexões mais profundas sobre este debate que trata da cientificidade do conhecimento turístico, ver Castillo Nechar e Panosso Netto (2010). Dencker (1998) observa o fato do turismo ser estudado e compreendido a partir de outras disciplinas, como é o caso de grande parte dos cursos de educação em turismo, desenvolvendo a abordagem multidisciplinar ou interdisciplinar, e considera que [...] isso dificulta a formação de teorias explicativas específicas que sejam suficientes para dar conta do fenômeno turístico (DENCKER, 1998, p. 36). Centeno (2003) também observa este processo fragmentado no desenvolvimento de uma educação para o turismo, ao dizer que, a formação de pessoal especializado de níveis médio-superior e superior, licenciatura e pós-graduação, se consegue por várias disciplinas, por isso se pode dizer que a formação do estudante é multidisciplinar com fins tecnológicos (CENTENO, 2003, P.76). A própria Organização Mundial do Turismo categoriza algumas disciplinas cujos referenciais teóricos são utilizados na construção do conhecimento turístico, como podemos ver a seguir (DENCKER, 1998):
5 Antropologia: análise das condições culturais que levam um grupo a viajar, e análise dos possíveis conflitos existentes na interação cultural entre os turistas e a população autóctone; Sociologia: compreende o turismo como um fenômeno social total e o estuda a partir das características sociais dos grupos viajantes, como religião, gênero, nível educacional, classe, dentre outros; Administração: estuda o turismo como um produto a ser comercializado, suas estratégias de marketing para o destino e a gestão estratégica e empreendedora do mesmo; Geografia: analisa o turismo existente dentro de um espaço que é construído a partir de pessoas inseridas num meio ambiente. Também estuda as redes de transporte. Ecologia: compreende os impactos do turismo ao meio ambiente natural e as propostas de educação para o turismo nas respectivas áreas. Apesar da explanação apresentada logo acima, a própria OMT conclui que a multidisciplinaridade limita o desenvolvimento do saber no turismo, pois esse processo, de construção do conhecimento a partir de outras disciplinas, pode transformar o saber turístico em um elemento altamente fragmentado e excludente, no sentido que um pesquisador que optar por uma área correlacionada ao turismo e se estabeleça nela, pesquise a partir de seus paradigmas, pode os considerar como um único ou verdadeiro olhar sobre o turismo em detrimento dos outros. Desse modo, cada pesquisador de uma disciplina defenderá seus estudos e métodos como os mais importantes, relegando ao esquecimento ou à insignificância toda a complementaridade que deveria existir e prevalecer entre estas diferentes abordagens sobre as questões que pairam sobre o campo de estudos do turismo. Panosso Netto (2005) reforça este temor ao dizer que cada um partirá dos pressupostos e paradigmas de sua ciência de formação, e assim os estudiosos não se entenderão, pois não estarão falando a mesma língua. Em outras palavras: serão abordagens diferentes para problemas iguais. [...] Se os problemas enfrentados pelos estudiosos do turismo são os mesmos, mas suas abordagens são diferenciadas, então por que não desenvolver um estudo transdisciplinar do fenômeno? Para desenvolver esse estudo, não basta ter conhecimento de várias disciplinas e aplicar seus métodos de investigação ao turismo. Faz-se necessário utilizar um método específico de investigação que propicie a compreensão do que de fato seja esse problema e o que de fato se entende por turismo (PANOSSO, 2005, p. 44).
6 Em vista deste cenário, existe um esforço dos educadores em turismo e pesquisadores da área em contemplar o processo da interdisciplinaridade ao invés da multidisciplinaridade. Enquanto na multidisciplinaridade cada disciplina contribui com seu corpo teórico ao turismo estabelecendo correlações entre seus métodos e objeto de estudo com o turismo, traçando paralelos de maneira fragmentada, na interdisciplinaridade há um esforço de interrelação dos conceitos expostos pelas diferentes disciplinas até construir um novo corpo teórico a partir das contribuições de cada campo de estudos em particular. O conhecimento não é paralelo e aplicável a partir de outras realidades, mas construído a partir da interação e do pensar sobre novas realidades. Como afirma Dencker (1998) em uma realidade que só pode ser entendida de forma interdisciplinar e que não pode ser submetida a modelos universais de interpretação, torna-se muito importante a criatividade para gerar respostas que atendam a problemas específicos. Isso torna especialmente pertinente o foco em uma educação para o turismo que contemple de forma efetiva a abordagem interdisciplinar como elemento estratégico fundamental para a superação da fragmentação no setor de turismo (DENCKER, 1998, p. 42). Os esforços da interdisciplinaridade a fim de superar as fragmentações podem ser encontrados nas publicações especializadas em turismo que reúnem especialistas de diversas áreas, seja em revistas ou congressos onde há troca de experiências entre pesquisadores e também na busca da educação no turismo a partir de uma perspectiva interdisciplinar. Neste sentido, o CEFET/RJ, através do curso superior de tecnologia em gestão de turismo, que é ofertado nas UnEDs de Petrópolis e Nova Friburgo desde agosto de 2008, constrói um projeto de curso diferencial em relação a maioria dos cursos superiores do país, pois apresenta em sua grade uma disciplina semestral cujo nome já indica sua intenção: Trabalho de Análise Interdisciplinar (TAI). Ainda que esta não seja a primeira iniciativa deste molde em uma escola de turismo no Brasil, podemos dizer que se trata de um projeto bastante ousado tanto pela representatividade da cargahorário atribuída a esta disciplina tão específica, quanto pelo confronto ao paradigma vigente de que o trabalho interdisciplinar deve ser estruturado apenas de forma diluída ao longo das principais, ou do total de disciplinas ofertadas em um curso profissional de turismo, seja ele de nível técnico ou superior. Turismo e Educação:
7 Após pensarmos sobre a importância do ensino interdisciplinar, ressaltando suas características em detrimento do ensino multidisciplinar para o turismo, cabe agora tecer algumas considerações sobre esta modalidade de ensino. Como é possível colocar em prática esta interdisciplinaridade retirando-as apenas do campo das idéias? O ponto inicial está na postura do docente em sala de aula, como um orientador que provoca os alunos a construírem seus pensamentos críticos a partir da interatividade e da prática, conforme crítica de Santos (2007): O que vem ocorrendo tende a fortalecer-se no tradicionalmente estabelecido, o que, discursivamente, por sua vez, poderia ser assim explicitado: O que é dito é um saber; aprender o que é dito é aprender um saber. É importante aprender esse saber; LOGO, é importante aprender o que é dito (SANTOS, 2007, p. 11). Deste modo há maneiras de ensinar a partir dois processos básicos: acesso ao conhecimento produzido enquanto um fim em si mesmo forma ainda predominante e acesso ao conhecimento produzido, enquanto parte do processo de produzir conhecimento (SANTOS, 2007, p. 7). A importância do professor está em não ser mero transmissor de conhecimentos sistematizados que ele possui ao aprendiz (prática mais presente), mas um orientador do aluno a fim de proporcionar-lhe condições de construir suas próprias sistematizações, análises e opiniões a partir de situações problemas. A partir desta ótica, e pensando na multidisciplinaridade praticada em cursos de turismo, onde professores de outras áreas ministraram disciplinas no curso (como História, Geografia e Administração) preocupados em construir um conhecimento fragmentado a partir de seus próprios paradigmas, podemos relacionar esta prática de educação multidisciplinar ao processo de ensino no qual o professor é um transmissor de conhecimentos sistematizados ao aluno, enquanto que o processo de educação interdisciplinar, na qual o conhecimento é construído a partir da interação e reflexão sobre diferentes áreas, está preocupada em orientar o aprendiz a fim de construir seu próprio conhecimento. No entanto este processo não é algo simples de praticar na docência de turismo, pensando que a grande maioria dos professores turismólogos não possuem licenciatura e aprenderam a prática docente a partir de experiências vividas (com outros professores que poderiam ter a transmissão do conhecimento como prática docente) e que outros professores, de outras formações, muitas vezes não possuem a clareza da importância da
8 formação interdisciplinar para o profissional de turismo. Uma tentativa de praticar e estimular a interdisciplinaridade será discutida a seguir. Informações sobre a disciplina de Trabalho de Análise Interdisciplinar (TAI) A disciplina de Trabalho de Análise Interdisciplinar está inserida na matriz curricular do CEFET/RJ, nos cursos superiores de tecnologia em gestão de turismo das UnEDs de Nova Friburgo e Petrópolis, ofertados desde agosto de Sua carga horária semestral é de 18 horas aula, o que equivale a um tempo de aula por semana. A inserção desta disciplina no curso de tecnologia ocorre ao longo dos cinco primeiros semestres de formação, não sendo ofertada apenas no sexto e último período de curso, que é dedicado aos trabalhos de construção da monografia final de graduação e estágio. Ainda que sem uma avaliação formal desta disciplina, durante um processo de reflexão realizado no ano de 2009 sobre algumas mudanças da matriz curricular para o enxugamento curso (que atualmente conta com uma carga horária total de 2304 horas aula mais 300 horas de estágio obrigatório), foi debatida a importância e a necessidade, ou não, da permanência desta disciplina na formação dos alunos graduados em gestão de turismo pelo CEFET/RJ. Sem avançar neste artigo acerca das justificativas para tal decisão, foi assinalado que a disciplina de TAI devesse permanecer inalterada na matriz curricular do curso em questão. Ainda falando sobre o debate citado acima, é interessante destacar a dificuldade citada pelos docentes (alguns destes foram parte do grupo que idealizou o curso superior em questão) tanto da UnED Nova Friburgo quanto da UnED Petrópolis em desenvolver um trabalho que realmente valorizasse a prática interdisciplinar de todas, ou da maioria das disciplinas ofertadas em cada período letivo. Mesmo que as disciplinas de TAI citadas pelo projeto pedagógico do curso apresentem uma ementa básica do conteúdo a ser trabalho em cada período, vemos que não existe uma prática interdisciplinar muito clara dentro de suas propostas, uma vez que as ementas para a organização das matérias quase sempre se limitam a sugerir um trabalho em cima de uma disciplina chave para cada período. Por exemplo, no primeiro período, a ementa de TAI I no projeto pedagógico sugere que o docente desenvolva um trabalho integrado de cunho interdisciplinar, inter-relacionando as diferentes disciplinas trabalhadas no período acerca do tema: estudo do espaço turístico regional. (CEFET/RJ, 2008, p. 22). Vale dizer que no primeiro período deste curso os alunos devem cursar as seguintes disciplinas: teoria geral do turismo; introdução à administração; história regional; estudo do espaço turístico; história da arte I; expressão
9 oral e escrita em língua portuguesa; língua espanhola I; língua inglesa I e TAI I. Já a sugestão de ementa para a disciplina TAI V, também observada no projeto pedagógico do curso, orienta o docente na seguinte linha de atuação: Desenvolvimento de um trabalho integrado de cunho interdisciplinar, inter-relacionando as diferentes disciplinas trabalhadas no período acerca do tema: Inventário de Oferta e Demanda turística. (CEFET/RJ, 2008, p. 64). A titulo de conhecimento, podemos afirmar que no quinto período o aluno deve cursar as seguintes disciplinas: planejamento e organização do turismo II; administração financeira em projetos; métodos estatísticos; agenciamento II; alimentos e bebidas; projeto de TCC; língua inglesa V; língua espanhola V; disciplina eletiva III e TAI V. Por mais que este conteúdo deva ser reformulado para uma evolução do projeto pedagógico apresentado inicialmente, tais informações não deixam de ser um indício bastante significativo quanto à incerteza que paira frente a consolidação de uma disciplina específica com foco apenas no desenvolvimento de um prática interdisciplinar a ser trabalhada em cada período de um curso superior. Mudando um pouco o foco de nosso estudo, mas ainda falando das disciplinas de TAI oferecidas nos cursos superiores de tecnologia em turismo do CEFET/RJ, é interessante destacar que estas disciplinas não são lecionadas exclusivamente por professores formas ou atuantes na área de turismo. A razão fundamental para este fato é uma melhor distribuição da carga horária entre os docentes que trabalham neste curso, uma vez que existem dois grupos de professores com volume de trabalho razoavelmente distintos, quer dizer, os professores específicos da área de turismo ou gestão (que tendem a trabalhar entre 15 e 20 tempos semanais quando a graduação atingir seis turmas em exercício pleno, isso sem assumirem todas as disciplinas de TAI), e os professores de áreas correlatas ao turismo, como História, História da Arte e Geografia (que tendem a trabalhar entre 10 e 14 tempos semanais quando a graduação tiver seis períodos em atividade, isso contando que estes professores assumam algumas disciplinas eletivas do curso assim como algumas das disciplinas de TAI oferecidas ao longo do curso). É válido destacar que as duas classes de professores citadas trabalham em regime de 40 horas e dedicação exclusiva, sendo esta uma das principais razões para a busca da isonomia de carga horária entre os dois grupos de docentes. Certamente a concentração das disciplinas de TAI apenas nas mãos dos docentes ligados mais diretamente ao turismo faria com que estes dessem algo próximo ou superior a vinte tempo de aula semanais (em oposição a uma carga bem menor do outro grupo de docentes), o que afetaria certamente a motivação deste professores assim como o seu
10 rendimento em sala de aula e a oportunidade destes professores de se dedicarem a outras atividade como os campos de pesquisa e extensão. Para evitar qualquer tipo de interpretação pejorativa, vale ressaltar que as questões apresentadas acima não se colocam de forma alguma enquanto críticas ou como demérito do projeto original de curso que citamos neste artigo. Muito pelo contrário, as colocações expostas até então se posicionam tão somente enquanto observações frente à dificuldade do trabalho interdisciplinar, existente em todos ou na grande maioria dos cursos de formação profissional em turismo, independente do nível de formação que façamos referência. Pelas evidências levantadas até o momento, pode-se dizer que a postura diferenciada dos cursos superiores de tecnologia em gestão de turismo do CEFET/RJ não se apresenta nem como um ponto fraco ou mesmo como um diferencial positivo da formação ofertada por esta escola. Trata-se apenas de uma metodologia razoavelmente singular de tentar introduzir a prática interdisciplinar no desenvolvimento de seus alunos. Na seção sobre a análise dos resultados, vamos averiguar com mais clareza quais são as informações que nos permitem adotar este tipo de consideração frente ao modelo de currículo exibido pela instituição citada. Na etapa seguinte deste estudo, sobre metodologia, vamos esclarecer brevemente de que maneira foi construída a pesquisa que deu origem a este artigo. Metodologia Para a realização da pesquisa que buscou avaliar da disciplina de Trabalho de Análise Interdisciplinar, fora construído um questionário semi-estruturado com pequenas diferenças para os alunos de dois períodos letivos em exercício no curso de graduação tecnológica em gestão de turismo do CEFET/RJ. Como esta pesquisa não tem o propósito de ser validada estatisticamente e buscar a inferência de seus resultados, tratando-se apenas de uma visão preliminar e qualitativa (o que não impede a apresentação de alguns poucos resultados quantitativos) sobre esta diferente matéria ofertada pelos cursos superiores de turismo da instituição citada, optamos por trabalhar apenas com os alunos da UnED de Nova Friburgo. Pela motivação e o propósito destacados acima, não consideramos ser necessário o uso de critérios probabilísticos para a seleção de uma amostra de alunos. O trabalho de coleta das informações foi realizado ao longo de uma semana letiva, com os alunos que se fizeram presentes neste período. É importante dizer que o questionário de avaliação da disciplina visava não identificar os alunos, o que mesmo assim não impediu a entrega de folhas em branco ou
11 preenchidas de forma incorreta, na intenção de anular este tipo de averiguação. Este último tipo de questionário não foi validado e consecutivamente não entrou na contabilidade dos resultados finais desta pesquisa. Na tabela 1 mais abaixo, pode-se ver de forma mais clara como ficou o resultado final dos questionários que foram validados ou não validados. Tabela 1 - Resultado sobre a validação/não validação dos questionários aplicados 2o periodo 11 Questionários válidos 3o período 12 Brancos 2 Questionários não válidos Incorretos 3 Total de questionários aplicados 28 Fonte: Pesquisa realizada pelos autores. Acerca do resultado apresentado acima, é interessante dizer que mais de 50% dos alunos do segundo e terceiro período tiveram seus questionários validados, o que já é um percentual bastante representativo para os propósitos deste trabalho. A opção por trabalhar apenas com dois períodos letivos se justifica, entre muitas razões, pela existência de apenas quatro turmas em formação. No processo de avaliação da disciplina, optamos por não incluir a opinião dos alunos que se encontram no primeiro período letivo, uma vez que estes iniciaram o curso a um período relativamente curto em função dos atrasos provocados pelo novo método de seleção das instituições públicas federais. Já os alunos do quarto período foram excluídos deste primeiro momento da avaliação por terem contato direto, no semestre corrente, em uma disciplina de TAI com um dos organizadores desta pesquisa, o que certamente poderia introduzir algum tipo de viés na opinião destes alunos, como já foi observado em momentos anteriores. Na seção seguinte, vamos apresentar os principais resultados obtidos com esta investigação sobre a disciplina de Trabalho de Análise Interdisciplinar. Análise dos resultados A primeira pergunta do questionário se apresentava dividida em duas partes. A primeira delas perguntava se o aluno sabia o significado de interdisciplinaridade, tendo sim ou não como opções de resposta e, caso assinalasse sim nesta primeira pergunta, um
12 segundo questionamento pedia que o aluno explicasse com suas próprias palavras o que o mesmo entendia por interdisciplinaridade. Dos 23 questionários validados, 22 apresentaram resposta sim para a primeira pergunta, e um deles exibia a questão em branco. Como estes dois grupos de alunos já tinham visto pelo menos a disciplina de TAI I, este tipo de resposta já era esperado entre os idealizadores desta pesquisa. A surpresa desta questão veio na resposta dos discentes ao tentar explicar com suas próprias palavras o que seria interdisciplinaridade. Cerca de metade dos alunos explicou de forma bastante razoável o que seria interdisciplinaridade, indo plenamente de encontro com a resposta esperada pelos docentes, contudo, a outra metade dos alunos apresentou um desvio muito característico ao dizer que interdisciplinaridade se trata de uma disciplina responsável ou capaz de agrupar o conteúdo de várias matérias lecionadas em um curso. Pode-se até dizer que em parte a essência da idéia interdisciplinar foi percebida por esta segunda metade de alunos citados, sendo o problema apenas a identificação deste elemento com uma disciplina em especial, o que de fato não é uma verdade. Do grupo de alunos que explicou de forma incorreta ou não explicou o que seria interdisciplinaridade, tivemos apenas um caso de resposta bastante incorreta e um caso de resposta em branco. Com relação à pergunta número dois, esta foi desmembrada em até três partes (duas perguntas para os alunos de segundo período e três perguntas para os alunos do terceiro). Nesta interrogação foi perguntado aos discentes o quanto eles consideravam que a disciplina de TAI I, II e III foi importante para compreender a relação entre as disciplinas do primeiro, segundo e terceiro períodos respectivamente. Para responder a esta questão foi apresentada aos alunos uma escala de importância com cinco pontos de avaliação (extremamente importante; muito importante, de alguma importância, pouco importante ou totalmente sem importância) para o atributo citado. Com relação à disciplina de TAI I, é interessante notar que todos consideraram a disciplina como uma matéria de alguma, pouca ou nenhuma importância. Praticamente metade dos 23 questionários válidos considerou a disciplina de TAI I como sendo uma matéria de pouca importância. A grande maioria da outra metade de respondentes considerou a matéria citada como de nenhuma importância e apenas quatro alunos consideraram esta disciplina com sendo um trabalho de alguma importância. No que diz respeito à diferenciação nas respostas entre os alunos de segundo e terceiro períodos, podemos dizer que foi observado um padrão de resposta muito similar entre as duas turmas.
13 Sobre a avaliação da disciplina de TAI II, é interessante notar uma significativa mudança no padrão de resposta entre as duas turmas. Enquanto nas respostas dos alunos de segundo período já foi possível observar algumas considerações que citavam a matéria como extremamente importe ou mesmo muito importante (reflexo da diminuição do número de discente que consideraram a disciplina anterior com um esforço de nenhuma importância), as respostas dos alunos de terceiro período seguiram um padrão bastante similar ao observados para a investigação de TAI I, ou seja, as marcações dos alunos consideraram a disciplina com sendo um trabalho de alguma, pouca ou nenhuma importância. Agora falando especificamente da turma de terceiro período e sua avaliação sobre TAI III, que se encontra em curso neste semestre, vemos que a forma de avaliação da turma para com a disciplina teve um ligeira melhora, onde foi observada uma pequena diminuição dos alunos que consideram este tipo de disciplina sem importância alguma e um pequeno aumento dos estudantes que passaram a considerar este trabalho com sendo um esforço e algum importância. Acerca destas respostas apresentada para a questão dois como um todo, é interessante citar que não eram esperadas respostas muito positivas dos alunos, uma vez que estes ainda não apresentam razoável maturidade acadêmica para compreender a importância deste tipo de trabalho. Entretanto, as respostas pouco valorosas a questão citada anteriormente certamente contribuirão para um debate e uma reflexão entre os professores acerca da disciplina de TAI em si e as diferentes maneiras de se trabalhar este tipo de abordagem ao longo do curso. Ao analisarmos o item de número três, encontrou-se um resultado bastante interessante. Nesta questão foi perguntado aos alunos sobre a observação, ou não, de uma relação interdisciplinar presente em outras disciplinas além de TAI e, caso isso fosse observado, em quais disciplinas isso ocorreu. Dos 23 questionários validados, em 8 deles foi encontrada resposta sim para a observação da interdisciplinaridade no desenvolvimento de outras disciplinas além de TAI. As relações mais citadas entre as disciplinas foram entre as matérias de história e história da arte, e teoria geral do turismo com estudo do espaço turístico. Na quarta e última questão, perguntou-se quais os professores que lecionaram as disciplinas de TAI até o presente momento. Ao compararmos as repostas desta pergunta com o resultado obtido na questão dois, é interessante ressaltar que as melhores avaliações dos alunos para o trabalho desenvolvido na disciplina de TAI não apresenta
14 necessariamente o profissional de turismo como o professor que mais agradou os discentes nesta disciplina. É pertinente destacar que este fato vai contra uma visão que o profissional de turismo é sempre o melhor docente para trabalhar a questão interdisciplinar em um curso profissional deste setor. Este tipo de constatação abre portas para a atuação dos docentes de outras áreas como professores tão habilitandos quanto um profissional de turismo para trabalhar com este tipo de conteúdo ou disciplina. Considerações finais Certamente o desenvolvimento de práticas interdisciplinares na formação de um profissional de turismo não é uma das tarefas mais fáceis para os docentes e gestores das instituições de ensino que trabalham com o setor em questão. Por mais que este tipo proposta já esteja inserida de maneira teórica nos diferentes cursos de formação profissional em turismo, não há dúvidas de que a percepção prática deste tipo de atividade ainda não é muito clara para aqueles que são objeto final deste trabalho, ou seja, os alunos, e até mesmo para o docentes que necessitam desenvolver este tipo de abordagem ao longo de seu trabalho. Ao contrário da prática desenvolvida na maioria das instituições de ensino superior que ofertam cursos superiores de turismo, o CEFET/RJ optou por adotar uma didática razoavelmente inovadora ao inserir na matriz curricular dos cursos superiores de tecnologia em gestão de turismo as disciplinas de Trabalho de Análise Interdisciplinar, do primeiro ao quinto período do curso (que possui apenas seis semestres no total de sua estrutura). Na avaliação realizada junto aos alunos do segundo e terceiro período da UnED Nova Friburgo, percebeu-se que o isolamento ou o fortalecimento da prática interdisciplinar através de uma disciplina não exerceu sobre os discente uma percepção muito clara do trabalho de junção do conteúdo ofertado pelas diferentes matérias apresentadas em cada período. Para o caso estudado neste trabalho, também notou-se a plena capacidade de docentes não formados na área de turismo lecionarem uma disciplina como a de TAI tão bem ou até melhor do que um profissional formado na área de turismo. Este tipo de constatação nos permite refletir e validar a importância de outros docentes além do campo de turismo para fortalecer a prática interdisciplinar em um trabalho de formação para o turismo. Antes de encerrarmos este estudo, vale ressaltas que este é um trabalho aberto à contribuições apresentadas por outros estudiosos do assunto. Da mesma forma, também
15 afirmamos que o estudo aqui desenvolvido não pretende de forma alguma esgotar o assunto explorado aqui. Referências bibliográficas CASTILLO NECHAR, M.; PANOSSO NETTO, A. (orgs). Epistemología del turismo: estudios críticos. México: Trillas, CENTENO, R. R. Metodologia da pesquisa aplicada ao turismo. São Paulo: Roca, DENCKER, A. F. M. Pesquisa em turismo: planejamento, métodos e técnicas. São Paulo: Futura, Pesquisa e interdisciplinaridade no ensino superior: uma experiência no curso de turismo. São Paulo, Aleph, PANOSSO NETTO, A. Filosofia do turismo: teoria e epistemologia. São Paulo: Aleph, RAMÍREZ, C. U. Reflexiones sobre epistemología del turismo. In: CASTILLO NECHAR, M.; PANOSSO NETTO, A. (orgs). Epistemología del turismo: estudios críticos. México: Trillas, REJOWSKI, M. Turismo e pesquisa científica: pensamento internacional X situação brasileira. Campinas, SP: Papirus, Enseñanza e investigación en turismo: revelación inicial de estúdios sobre La producion científica em Brasil. In: CASTILLO NECHAR, M.; PANOSSO NETTO, A. (orgs). Epistemología del turismo: estudios críticos. México: Trillas, SANTOS, M. M. C. Prática docente na formação do turismólogo. RBTUR, Vol 1, nº 1, Disponível em: < Acesso em 10 mar SCHLÜTER, R. G. Metodologia da pesquisa em turismo e hotelaria. São Paulo: Aleph, 2003.
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