TÍTULO / TÍTULO: DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E DEFICIENTES VISUAIS EM MUSEUS. INSTITUIÇÃO / INSTITUCIÓN: Museu de Microbiologia Instituto Butantan
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1 TÍTULO / TÍTULO: DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E DEFICIENTES VISUAIS EM MUSEUS AUTOR / AUTOR: Bizerra, AF; Inglez, GC; Tino De Franco, M INSTITUIÇÃO / INSTITUCIÓN: Museu de Microbiologia Instituto Butantan CORREIO ELETRÔNICO / CORREO ELECTRÓNICO: alessandra@butantan.gov.br EIXO / EJE: Divulgação e Informação Científica PALAVRAS-CHAVE / PALABRAS CLAVE: divulgação científica, deficiência visual, museu RESUMO / RESUMEN Os processos de divulgação e educação em Ciências vêm tomando grande importância, principalmente a partir do último quarto do século passado. O Museu de Microbiologia enquanto espaço de educação não formal tem papel importante na ampliação e refinamento desses processos. Sendo um espaço aberto à população, deve ter propostas para as inclusões social, cultural e de informação de todo e qualquer cidadão. Para as pessoas cegas e de baixa visão, a comunicação está ligada ao acesso físico, por meio do tato, aos objetos e às informações sobre eles. Apenas tocar sem dispor de outras coordenadas mínimas não é suficiente para que essas pessoas possam decifrar conteúdos. Para que deficientes visuais tenham uma melhor percepção de seu entorno, é necessário que se beneficiem também da audição. Nesse sentido, o Museu desenvolveu materiais especialmente desenhados para atender esse público, que inclui maquetes externa e interna do Museu, modelos de microrganismos, arquivos em áudio e impressos em Braille. Com a maquete externa, propicia-se ao visitante explorar a arquitetura do Museu. A maquete interna é uma planta em relevo com texturas alusivas às partes internas para a compreensão geral da organização e estrutura espacial do edifício. Os modelos tridimensionais de microrganismos, confeccionados em materiais manipuláveis e de volume pequeno ficam ao alcance das mãos permitindo a compreensão do todo. Legendas em Braille e em macrocaracteres acompanham os objetos. O CD com áudios atua como suporte sonoro para ambientar e contextualizar explicações necessárias para um melhor entendimento dos microrganismos e do Museu, e os folhetos em Braille, funcionam como material de apoio. Todos esses recursos estão acondicionados em um carrinho que, quando aberto, se transforma em suporte para eles. O Museu de Microbiologia pretende com essa iniciativa a democratização da cultura, oferecendo oportunidades, acessibilidade e inclusão ampla.
2 Introdução A divulgação e a educação em ciências são instrumentos poderosos para combater a exclusão de pessoas, pois oferece inúmeras possibilidades de superação dos obstáculos que a vida lhes apresenta. É necessário possibilitar aos cidadãos o maior exercício de seus direitos e o enfrentamento das responsabilidades que a sociedade impõe, adquirindo condições de discernir entre os riscos e os benefícios que a Ciência e a Tecnologia propiciam. Ações educativas e comunicacionais são preocupações constantes e antigas nos museus e centros de ciências que, como espaços abertos à população, devem ter propostas para a inclusão social, cultural e de informação de todo e qualquer cidadão. Nenhuma deficiência pode restringir o direito do indivíduo a ter acesso à informação, à cultura, ao desenvolvimento científico e tecnológico, nem tampouco representar fator de exclusão social. O Poder Público, baseado na legislação vigente, deve assegurar às pessoas portadoras de necessidades especiais o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive o direito de acesso à cultura científica. Porém, os deficientes visuais ainda sofrem discriminação, o que motiva os museus a realizarem uma mudança na comunicação com esse público (RIBEIRO, 2007). A percepção da realidade pelas pessoas em geral depende do uso dos vários sentidos, cada um proporcionando uma informação específica de igual importância e relacionado-se com os demais (BALLESTEROS 1999). Essas diferentes sensações favorecem a adaptação ao meio e permitem, em casos de necessidade, que um sentido possa ser substituído por outro. Este, por sua vez, passa a responder de maneira eficaz às demandas do meio em que se vive, satisfazendo as necessidades do cidadão (MILLAR,1997). No caso do público portador de deficiência visual completa ou com visão subnormal, a comunicação dos conteúdos dos museus é realizada facilitando-se a acessibilidade física aos objetos por meio do tato. Fatores pessoais e características físicas do objeto podem facilitar ou dificultar a identificação tátil (MILLAR,1997). Apenas tocar sem dispor de outras coordenadas mínimas não é suficiente para que essas pessoas possam decifrar conteúdos. Para que deficientes visuais tenham a percepção da realidade, é necessário que se beneficiem de outras modalidades sensoriais, fundamentalmente a audição, que se tornam ótimos instrumentos minimizadores das carências de informação que se originam pela falta da visão (GONZÁLES FERNÁNDEZ, 1996; SIMON RUEDA,1994). A audição de falas presenciais ou gravações em áudio vem sendo utilizada pelas pessoas cegas e com baixa visão para acessar diferentes ambientes culturais que lhes seriam totalmente inoperantes sem esse recurso (CONSUEGRA CANO, 2002). Com o uso das palavras, uma pessoa visualmente incapacitada pode formar uma imagem mental principalmente se esse estímulo atingir também aspectos emocionais (HERNANDEZ SANZ,1993). Porém, a descrição verbal de um objeto só
3 terá eficiência se estiver acompanhada da percepção através do tato para que haja completo reconhecimento, associação e discriminação em posteriores experiências (MILLAR,1997). É importante que no processo de elaboração das ações voltadas para os deficientes visuais tenhamos sempre o acompanhamento e consultoria de profissionais especializados bem como a dos próprios deficientes visuais (FERRARI & CAMPOS, 2001). Para entender como se dá a interiorização dos conceitos de microrganismos por esse público, o Museu de Microbiologia propôs a realização de um projeto com o apoio da FAPESP/VITAE. Estabeleceu uma parceria com o Instituto Dorina Nowill através de seus setores educativos. Esteve presente em 2 workshops e em uma reunião com os deficientes visuais que mantêm relação com a instituição Dorina Nowill e que formam um grupo de apoio ao seu setor educativo. Uma avaliação preliminar foi realizada em forma de conversa com os participantes e todos concordaram que a acessibilidade no museu é fundamental para a compreensão de conceitos ligados à Microbiologia. Estes conceitos geralmente são abordados de maneira teórica para os deficientes visuais que não têm acesso às imagens presentes nos livros didáticos, dificultando seu aprendizado. Nesses encontros, foi exposta a necessidade da produção de recursos táteis (maquetes, kits e fôlderes em Braille) e sonoros (livro falado sobre o Museu e os objetos para toque) especificamente elaborados para deficientes visuais, em escalas reduzida e ampliada. Esses materiais seriam, então, de fundamental importância para a compreensão dos visitantes sobre a estrutura do Museu e os conteúdos por ele veiculados. Na elaboração destes materiais, estamos nos apoiando no Modelo Contextual de Aprendizagem, proposto por Falk e Dierking, em que diferentes fatores, relacionados aos contextos pessoal, sociocultural e físico, influenciam a aprendizagem nos museus. Entre os fatores relacionados ao contexto físico, citamos a arquitetura do Museu (daí a necessidade das maquetes), a orientação espacial (daí a necessidade do piso podotátil), o entendimento da mensagem conceitual da exposição (daí a necessidade do livro falado sobre o Museu e os objetos para toque) e o conteúdo das legendas (daí as legendas em Braille e em macrocaracteres). Pretendemos analisar a influência desses fatores, bem como dos contextos pessoal e sociocultural, na aprendizagem desenvolvida pelos portadores de necessidades visuais, com o uso de ferramentas estatísticas de análise multifatorial. Frente ao exposto acima, o Museu de Microbiologia desenvolveu e confeccionou um aparato móvel especialmente desenhado para os portadores de deficiência visual. Esse aparato contém: 1- Maquetes interna e externa do Museu: as pessoas cegas formam a imagem mental dos objetos que exploram com as mãos com precisão (CONSUEGRA CANO, 2002). Com a
4 maquete externa propiciamos ao visitante explorar a parte artística realizada na construção do Museu. Foi feito um plano em relevo da planta com legendas em Braille onde se faz alusão às suas partes mais importantes. Quanto à maquete interna foi feita uma planta em relevo com texturas diferenciando as partes internas do Museu. Legendas em Braille e em macrocaracteres acompanham as partes evidenciadas. O objetivo é a compreensão geral da organização e estrutura espacial do edifício facilitando o deslocamento dos deficientes. 2- Elaboração de objetos para o toque: para a percepção de qualquer objeto por parte dos deficientes visuais ou de pessoas com baixa visão, muitas são as variáveis que devem ser levadas em consideração como tamanho, luminosidade, contraste fundo-forma, cores contrastantes e um tempo adequado (ORGANIZACIÓN NACIONAL de CIEGOS ESPAÑOLES,1994). Nesse projeto, então, foram confeccionados modelos tridimensionais de microrganismos, de material manipulável, de volume suficiente para que esteja ao alcance das mãos permitindo a compreensão do todo. Há uma identificação e uma pequena descrição física e técnica em Braille e em macrocaracteres para os casos em que a visão é subnormal e não há domínio desta linguagem. 3- Confecção de CD: como suporte sonoro para ambientar e contextualizar de forma eficaz todas as explicações necessárias para o bom entendimento do Museu e seus objetivos. 4- Confecção de folhetos em Braille: Além de atuarem como material educativo, servirão para que essas pessoas tenham algo como lembrança, pois na avaliação preliminar que fizemos com os cegos da Fundação Dorina Nowill, este item foi bem evidenciado. Segundo Ferrari & Campos (2001), impressões, sugestões e críticas dos deficientes visuais em relação à exposição são informações importantes para sua avaliação e aprimoramento. 5- Treinamento dos monitores do Museu de Microbiologia: para dar uma atenção personalizada a esses visitantes. A visita, quando orientada por pessoas capacitadas, pode propiciar um melhor aproveitamento por parte de qualquer visitante e, em especial, do deficiente visual. 6- Sinalização especial (piso podotátil): para orientação e circulação do não vidente dentro da exposição no sentido da realização do itinerário mais adequado para atingir o objetivo. O horário de visitação para esse público será o mesmo dos demais visitantes, pois, muitas iniciativas mostram que a convivência de portadores de deficiência visual com adultos e crianças videntes desperta o respeito às diferenças.
5 Faz parte do projeto a realização de uma avaliação da implantação desses aparatos que tem como base o trabalho descrito por Cury (2005), cujo objetivo é a aferição de todas as etapas da construção e implantação das propostas expositivas deste projeto. São elas: Atividade 1: Encontros e/ou entrevistas com diferentes profissionais e públicos para elaboração conceitual da exposição (avaliação conceitual). Aqui foram determinados preferências, interesses, atitudes, conceitos e conhecimentos do público. Esta atividade auxiliou na finalização e/ou reformulação das propostas citadas acima. Atividade 2: Avaliação do esboço do projeto pela equipe executora para reformulação da proposta (avaliação formativa). Nesta fase realizamos a produção de protótipos que foram testados com os públicos de interesse, colaborando para o refinamento das propostas. Juntamente com os resultados da Atividade 1, esta análise encerrou a elaboração das propostas. Atividade 3: Entrevistas com diferentes públicos visitantes e equipe executora para avaliar a implementação das propostas (avaliação corretiva). Esta atividade permite a correção de aspectos não satisfatórios. Atividade 4: Pesquisa de recepção (avaliação somativa). Esta atividade auxilia no entendimento de como o público aprende e interage com as propostas, o que favorece o planejamento de outras exposições. O Museu de Microbiologia pretende, através dessas ações, levar a todo e qualquer cidadão, a democratização da cultura, oferecendo oportunidades, acessibilidade e inclusão ampla. REFERÊNCIAS - BALLESTEROS JIMENÉZ, S Evaluación de las habilidades hápticas. Integración, nº31, CONSUEGRA CANO, B El acceso al patrimonio historico de las personas ciegas y deficientes visuales. Madrid: ONCE - CURY, M. X Em: Exposição: concepção, montagem e avaliação. 1ª ed. Ed. Annablume, São Paulo, Brasil. - FERRARI, A. L. & CAMPOS, E De que cor é o vento: Subsídios para ações educativoculturais com deficientes visuais em museus. DEDALUS Acervo FE, Belo Horizonte.
6 - GONZÁLES FERNÁNDEZ, J. L La información auditiva: realidad y distancia. n: Actas del Congreso Estatal sobre Prestaciones de Servicios para Personas Ciegas y Deficientes Visuales. Area de Educación 1 (1994. Madrid), vol.3, pp HERNÁNDEZ SANZ, J Los museos y los sistemas audiovisuales. En: IX Jornadas Estatales DEAC-Museos La exposición, pp MILLAR, S La comprensión y la representación del espacio: teoría y evidencia a partir de estudios con niños ciegos y videntes. Madrid: ONCE; Sección de Educación. - ORGANIZACIÓN NACIONAL de CIEGOS ESPAÑOLES Accesibilidad. Accesibilidad en el medio físico para personas con ceguera o deficiencia visual. Madrid: (ONCE). - RIBEIRO,M.G. & FIGUEIREDO, B.G A célula ao alcance da mão: ensino dinâmico de Ciências também para deficientes visuais. Educação em Museus e Centros de Ciências, Rio de Janeiro. - SIMON RUEDA, C El desarrollo de los procesos básicos en la lectura braille. Madrid: ONCE.
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