INTERVENÇÕES CLÍNICAS E EDUCACIONAIS VOLTADAS PARA AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: REVISÃO SISTEMATIZADA DA LITERATURA Marciéle Rejane Corrêa (PAIC/Fundação Araucária-UNICENTRO), Jáima Pinheiro de Oliveira (Orientadora), e-mail: (jaimafono@gmail.com) Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Setor de Ciências da Saúde, Departamento de Fonoaudiologia, Irati - Paraná. Palavras-chave: Aprendizagem escolar, Escrita, Leitura, Linguagem Escrita, Programas de Intervenção. Resumo: A atual pesquisa propõe a realização de uma revisão sistematizada da literatura acerca de intervenções voltadas para os casos de dificuldade de aprendizagem, com foco para o ambiente escolar. Introdução As dificuldades de aprendizagem são decorrentes das discrepâncias dos processos de aprendizagem, o qual diz respeito ao que a criança seja capaz de aprender potencialmente, em uma situação dada em sala de aula, e o que ela efetivamente realiza (ROLFSEN, MARTINEZ, 2008). Ressalta-se, portanto, que as mesmas envolvem, igualmente, as questões de ensino. A aprendizagem é um processo de construção do conhecimento que ocorre a partir da interação do indivíduo com sua família, escola e a sociedade. É através de novas experiências e incentivos oferecidos pelo ambiente, que a criança desenvolve novas habilidades. Do ponto de vista individual, intercorrências em um ou mais níveis desse desenvolvimento, podem acarretar, também, em dificuldades no processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Afinal, esse processo não começa na escola, mas sim a partir do contato dessa criança com aspectos ligados à linguagem escrita. Portanto, elementos importantes do desenvolvimento inicial da criança, como habilidades cognitivas, desenvolvimento auditivo e de linguagem, dentre outros, têm grande influência na aprendizagem e consequentemente do desempenho escolar da criança (ZORZI, 2003; DOCKRELL, McSHANE, 2000; FONSECA, 1998). As intervenções dentro do âmbito escolar devem ser cuidadosamente planejadas, pois estas têm por objetivo proporcionar aos escolares maior refinamento do processo de aprendizagem, promovendo o desenvolvimento das habilidades de leitura e de ecrita. Além disso, o envolvimento da família e dos educadores é de fundamental importância, haja vista a importância destes em todo o desenvolvimento da criança. A partir disso, o presente trabalho teve como objetivo geral realizar uma revisão empírica acerca de intervenções voltadas para as situações de dificuldades de aprendizagem, focando aspectos clínicos e educacionais.
Metodologia O presente estudo se deu através de uma revisão bibliográfica sistematizada, que abordou a temática de intervenção em linguagem escrita, com foco para os aspectos fonoaudiológicos. A revisão realizou-se em três etapas. Na primeira foi realizada uma busca sistematizada com critérios específicos, na base de dados Scielo, incluindo artigos publicados nos últimos dez anos. Nessa base é possível a busca por meio da combinação de palavras-chave. Na segunda etapa, foram buscados textos completos nos eventos anuais, organizados pela Associação Nacional de Pesquisadores em Educação (ANPED), também dos últimos dez anos (2000 a 2010). E, na última etapa foram buscadas teses de Doutorado, também dos últimos dez anos, nos programas de Pós-Graduação em Educação, avaliados pela Capes com nota mínima 5. Os principais termos ou descritores utilizados com diferentes combinações foram: Dificuldades de Aprendizagem, Linguagem, Linguagem escrita, Escrita, Leitura, Intervenção, Aprendizagem escolar. Foi dada prioridade aos termos do Thesaurus Brasileiro da Educação (www.inep.gov.br), em seguida aos descritores do DECS e, por fim, aos descritores do MESH. Seguimos também o critério de subtemas, ou seja, foi dada prioridade aos artigos que trataram de intervenções e, em então, àqueles com foco para diagnóstico ou aspectos do desenvolvimento da leitura e da escrita, porém mais voltados para a habilidade de escrever. Com os textos em mãos, realizou-se um resumo descritivo de cada estudo e, em seguida, os mesmos foram divididos em temas cujos focos seriam: programas de intervenção voltados para a linguagem escrita e condições que auxiliam a produção de textos de escolares com dificuldades de aprendizagem. A apresentação dos dados e suas discussões foram realizados de maneira descritiva, com a elaboração de tabelas que indicaram os subtemas e a possibilidade de aplicação do conhecimento sistematizado. Resultados e Discussão Através da pesquisa correspondente à primeira etapa da busca, foram encontrados 6905 artigos. Desse total, apenas 12 (5,74%) artigos estavam dentro dos critérios da pesquisa, ou seja, tratavam de intervenções clínicas ou educacionais (Tabela 1). Tabela 1 Artigos encontrados na base de dados Scielo, publicados nos últimos dez anos, selecionados segundo critérios da pesquisa Descritores Aprendizagem escolar Dificuldades de aprendizagem Frequência de trabalhos Encontrados Frequência de trabalhos Selecionados Correspondentes ao tema Intervenção 5 0 0 16 1 1
Escrita 722 21 3 Intervenção 2862 6 1 Leitura 1540 42 3 Linguagem 1746 8 2 Linguagem escrita 14 4 2 TOTAL 6905 82 12 Os artigos selecionados, de modo geral, objetivaram verificar a eficácia de programas de intervenção com escolares com e sem dificuldades de aprendizagem, dentro do ambiente escolar. Os estudos foram publicados nos periódicos ligados à Psicologia do Desenvolvimento e aos temas da área de Educação (Figura 1). Figura 1 - Distribuição de artigos por periódicos nacionais De modo geral, os estudos encontrados, obtiveram resultados positivos, ou seja, a partir da aplicação de programas de intervenção dentro do ambiente escolar, houve a apresentação de resultados significantes relacionados a melhora das habilidades de leitura e escrita dos escolares. Em um de seus estudos recentes relacionados a leitura, Cárnio et al (2011), observaram que após a aplicação de um Programa de Promoção de Narrativas Escritas em escolares matriculados na terceira série do Ensino Fundamental, houve melhora significante na escrita, principalmente para gênero discursivo, uso de título, papel do narrador, uso de dêiticos, tempo verbal, subjetividade e para valor total, além da tendência a significância do uso do parágrafo. Os autores enfatizaram que o programa foi efetivo uma vez que os escolares mostraram-se motivados, além do que, realizaram produções narrativas escritas mais coesas e coerentes, demonstrando evolução em todas as Competências Comunicativas. Santos e Maluf (2010), também verificaram os efeitos da aplicação de
um programa de intervenção em habilidades metafonológicas, em escolares que estavam na última série da Educação Infantil. As autoras perceberam, após a aplicação do programa, que este favoreceu as habilidades metafonológicas, bem como melhores resultados na aprendizagem da linguagem escrita dos participantes da pesquisa. Ressaltaram que o conhecimento do sistema alfabético de escrita pode ser facilitado através de atividades lúdicas, como músicas, poesias rimadas e jogos de palavras. Silva e Capellini (2010), também verificaram a eficácia terapêutica de um Programa de Remediação Fonológica e Leitura em escolares de 2º a 4º séries do Ensino Fundamental, com distúrbios de aprendizagem. A pesquisa obteve como resultados após o teste, melhora do desempenho dos escolares nas habilidades de leitura, escrita, consciência fonológica, processamento auditivo, processamento visual, velocidade de processamento, leitura e compreensão de texto. As autoras concluíram a aplicação desse programa dentro do ambiente escolar, proporcionou melhora na percepção, produção e manipulação dos sons e sílabas, o que interferiu diretamente na habilidade de leitura e compreensão de texto dos escolares com distúrbio de aprendizagem. Coelho e Corrêa (2009) examinaram o progresso da compreensão leitora através do desenvolvimento da habilidade de monitoramento a partir do emprego do paradigma de detecção de erros, de 62 adolescentes. Os resultados apontaram que os alunos que receberam intervenção obtiveram melhora significativa nas tarefas de leitura e de monitoramento, indicando os ganhos significativos na compreensão de textos de leitores menos habilidosos. A partir disso, nota-se a importância do uso de programas de intervenção dentro do âmbito escolar, os quais devem ter uma abordagem integrativa. Isto é, abordando questões dos alunos e dos professores. Para isso, é de suma importância a atuação em equipe para que essa equipe contribua de forma efetiva na promoção do desenvolvimento infantil e do processo ensino-aprendizagem. Conclusões Os resultados da presente pesquisa apontaram para a escassez de estudos sobre as intervenções clínicas e educacionais dentro do ambiente escolar. Além disso, há pouca ênfase dos trabalhos no processo ensinoaprendizagem. A maior atenção volta-se aos aspectos individuais dos escolares. Entretanto, as pesquisas existentes demonstram a eficácia da aplicação de programas de intervenção, os quais possibilitam o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita de escolares com e sem dificuldades de aprendizagem. Agradecimentos À Fundação Araucária pela concessão da bolsa. Referências CÁRNIO, M.S; PEREIRA, M.B.; ALVES, D.C.; ANDRADE, R.V. Letramento
escolar de estudantes de 1ª e 2ª séries do ensino fundamental de escola pública. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, 16, 1-8, 2011. COELHO, C.L.G.; CORREA, J. Desenvolvimento da compreensão leitora através do monitoramento de leitura. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23, 575-581, 2009. DOCKRELL, J; McSHANE, J. Crianças com dificuldade de aprendizagem: uma abordagem cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000. FONSECA, V. Aprender a aprender: a educabilidade cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 1998. ROLFSEN, A. B.; MARTINEZ, C. M. S. Programa de intervenção para pais de crianças com dificuldades de aprendizagem: um estudo preliminar. Paidéia, 18, 175-188, 2008. SANTOS, M.J.; MALUF, M.R. Consciência fonológica e linguagem escrita: efeitos de um programa de intervenção. Educar em Revista, 57-71, 2010. SILVA, C.; CAPELLINI, S.A. Eficácia do programa de remediação fonológica e leitura no distúrbio de aprendizagem. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, 22, 131-138, 2010. ZORZI, J. L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: questões clínicas e educacionais. Porto Alegre: Artmed, 2003.