PROJETO DE EXTENSÃO EM AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DAS ALTERAÇÕES DO PROCESSAMENTO AUDITIVO : UMA PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SERVIÇO NA CLÍNICA-ESCOLA
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- Carlos Eduardo de Vieira Penha
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1 PROJETO DE EXTENSÃO EM AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DAS ALTERAÇÕES DO PROCESSAMENTO AUDITIVO : UMA PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SERVIÇO NA CLÍNICA-ESCOLA Área Temática: Saúde Maria Isabel Ramos do Amaral (Coordenadora da Ação de Extensão) Maria Isabel Ramos do Amaral 1 Amanda Blum Besten 2 Talita Rodrigues Lima 2 Sayonara Müller 2 Thiare Sperger 2 Palavras-chave: audição, comunicação, reabilitação auditiva, aprendizagem Resumo: O Distúrbio do Processamento Auditivo (DPA) caracteriza-se por uma inabilidade do sistema nervoso central em processar a informação sonora. Tal condição acarreta implicações negativas quanto ao desenvolvimento auditivo, cognitivo e social de indivíduos tanto adulto/idosos quanto crianças, especialmente no âmbito escolar. O presente projeto teve como objetivo a implementação de um serviço efetivo de avaliação e reabilitação do distúrbio do processamento auditivo na Clínica-escola de Fonoaudiologia da Unicentro (CEFONO), bem como a caracterização do perfil da população encaminhada para tal avaliação. As avaliações tiveram início em fevereiro de 2013, sendo que até o momento foram atendidos 24 pacientes, residentes das cidades de Irati e região. Os pacientes foram encaminhados pela escola, fonoterapeuta, otorrinolaringologista, neurologista e demanda própria. A principal queixa e motivo do encaminhamento foi a desatenção. A partir das ações do projeto, foi possível organizar a lista de espera da CEFONO, bem como reduzir o tempo de espera para um mês. Este trabalho concluiu que havia uma demanda iminente para tal avaliação, sendo que os dados levantados favoreceram um maior conhecimento das demandas da comunidade e profissionais que realizam os encaminhamentos. Além disso, os dados da avaliação fornecem informações importantes para melhor compreensão do diagnóstico fonoaudiológico e planejamento terapêutico do paciente. Introdução A comunicação em todas as suas modalidades de expressão tem sido objeto de estudo da Fonoaudiologia, bem como o sujeito comunicante e suas dificuldades. 1 Mestre. Docente do Departamento de Fonoaudiologia da UNICENTRO, campus de Irati. isabel.amaral@gmail.com 2 Acadêmica do Curso de Fonoaudiologia da UNICENTRO, campus de Irati.
2 Para que a aquisição da linguagem oral ocorra, processos auditivos periféricos como a detecção, reconhecimento e transmissão da onda sonora e processos auditivos centrais como a análise e compreensão da mensagem são necessários. Dessa forma, Processamento Auditivo (Central) PA(C) é o termo utilizado para descrever as operações/processos mentais que o indivíduo realiza ao lidar com informações recebidas via sentido da audição. E dentre os distúrbios que afetam a comunicação humana está o Distúrbio do Processamento Auditivo (DPA) (ASHA 2005). O DPA consiste em um distúrbio da audição em que há impedimento dessas habilidades relacionadas com a análise e/ou interpretação dos padrões sonoros. O indivíduo com alteração em uma ou mais habilidades do PA(C) pode apresentar dificuldades em ouvir na presença de ruído, em seguir instruções orais, além de percepção e compreensão comprometidas com relação aos aspectos temporais da fala em presença de audição periférica normal. Tais prejuízos afetam a comunicação e aprendizagem de indivíduos tanto adulto quanto crianças, sendo que as crianças podem ter prejuízos mais evidentes que afetam diretamente o processo de aprendizagem e desempenho escolar. (JERGER e MUSIEK, 2000). Na grade curricular do curso de Fonoaudiologia da Unicentro os aspectos referentes à avaliação e reabilitação do PA(C) são contemplados apenas de maneira teórica, sendo que os estágios na área de Audiologia na Clínica Escola (CEFONO) não preveem em suas ementas a prática clínica da avaliação e intervenção nos casos de distúrbio do processamento auditivo. Devido a isso, nos últimos anos, a CEFONO possuía uma lista de espera de pacientes encaminhados para tal avaliação que contava com aproximadamente 150 pacientes aguardando o atendimento há mais de 4 anos. Ressalta-se ainda que em Irati e região esta avaliação não é realizada no Sistema Público de Saúde, somente em clínicas particulares. Sendo assim, fez-se necessária a implementação de um serviço efetivo à comunidade, visando o atendimento a sujeitos com queixas relacionadas ao processamento da informação acústica, bem como o delineamento de ações terapêuticas que visem à reabilitação das habilidades avaliadas e orientações específicas aos pacientes, familiares, médicos, terapeutas e, no caso de crianças, escola. O projeto visou ainda à caracterização do perfil dos pacientes atendidos e principais queixas e dos profissionais que realizam tal encaminhamento. Metodologia O projeto tem sido ofertado desde 2013 e tem como público alvo crianças, adultos e idosos com faixa etária a partir de 7 anos encaminhados à CEFONO com indicação para Avaliação do Processamento Auditivo (Central). Esses encaminhamentos são decorrentes da demanda de pacientes atendidos pela CEFONO durante os Estágios de Terapia Fonoaudiológica I e II e Estágio em Audiologia Clínica e demais sujeitos da cidade de Irati e Região encaminhados para a avaliação a pedido de fonoterapeutas, pediatras, médicos e demais profissionais da área da saúde, além da escola/ou por demanda espontânea do sujeito ou família. A atividade extensionista foi desenvolvida a partir da seguinte metodologia:
3 1- Aprovação do projeto e convocação de 4 discentes por semestre. 2- Discussões de caso junto aos discentes e supervisões quanto a aplicação da bateria de avaliação, interpretação dos resultados, elaboração de relatórios e delineamento de ações. 3- Levantamento, organização e atualização da lista de espera existente na CEFONO, bem como início dos atendimentos, sendo convocados 2 por semana. 4- Após a avaliação do paciente, cada caso é discutido em supervisão para análise e interpretação dos resultados, elaboração do relatório incluindo sugestões terapêuticas e orientações a pais e professores, se necessário, para posterior devolutiva aos pacientes. 5- Concomitantes às avaliações são elaborados materiais informativos entregues ao paciente, pais, escola e/ou responsáveis e demais profissionais que estejam envolvidos no atendimento clínico do paciente a respeito do que é o processamento auditivo, principais queixas, sinais e sintomas, e sugestão de estratégias terapêuticas e compensatórias que possam minimizar as dificuldades encontradas na avaliação e relatadas pelo paciente, no intuito de contribuir no planejamento terapêutico e reduzir dificuldades de comunicação no ambiente familiar, escolar e/ou social. 6- Os pacientes que apresentam demanda para terapia fonoaudiológica são orientados e encaminhados à CEFONO para os estágios de Terapia Fonoaudiológica I e II, que fazem parte da grade curricular da graduação. Resultados e discussão Ao longo desses 18 meses de atividade do projeto de extensão foram avaliados 25 pacientes que se encontravam na lista de espera da CEFONO. A idade dos pacientes atendidos variou de 7 a 22 anos (média de idade de 13,5 ± 1,7 anos), sendo que 66,7% eram do sexo masculino. Este dado é condizente com a literatura especializada, que refere um predomínio das alterações do PA(C) na população do sexo masculino (PINHEIRO et al 2006). Os pacientes avaliados eram residentes das cidades de Irati e região, sendo 15 (60%) de Irati, 2 (8%) de Rebouças, 2 (8%) de Rio Azul, 2 (8%) de Colônia de São Lourenço, 1 (4%) de Fernandes Pinheiro, 1 (4%) de Guamirim, 1 (4%) de Mallet, e 1 (4%) de São Mateus do Sul. A CEFONO tem sido referência em diversos atendimentos na região, por oferecê-los gratuitamente. Nos últimos anos, temos observado o aumento do conhecimento de diversos profissionais a respeito do PA(C), e um maior número de pessoas são encaminhadas à avaliação. Devido à grande demanda, os pacientes encontravam-se em lista de espera há muito tempo e foi possível observar registros de 48 meses de espera. Umas das principais ações do projeto visou organizar essa demanda por meio de contato com os pacientes e familiares, a fim de levantar a demanda atual para tal avaliação e iniciar a oferta do atendimento à comunidade. Muitos pacientes haviam realizado o procedimento em cidades maiores da região, tais como Ponta Grossa ou Curitiba, outros iniciaram
4 terapia fonoaudiológica e já haviam recebido alta. Após esse levantamento, os pacientes passarem a ser convocados e, até o presente momento, foram atendidos 25 no total, sendo que 3 (12%) tiveram tempo de espera na lista de mais de 24 meses, 2 (8%) esperaram de 20 a 24 meses pelo atendimento, 8 (32%) 12 meses, 4 (16%) 6 meses e 8 (32%) aguardaram 1 mês. Portanto, o início dos atendimentos oferecidos pelo projeto possibilitou a redução no tempo de espera para um mês. A fim de conhecer a demanda da comunidade e abrangência do projeto, levantou-se quais são os profissionais responsáveis pelo encaminhamento dos pacientes. Observou-se que a maioria (7 28%) haviam sido encaminhados pela escola, 6 (24%) pelo fonoterapeuta, 4 (16%) por demanda própria, 4 (16%) pelo otorrinolaringologista, 2 (8%) pelo neurologista, 1 (4%) por demanda dos pais, 1 (4%) pela psicopedagoga. O grande número de pacientes encaminhados pela escola teve relação com o dado de que 41,7% dos pacientes avaliados possuíam histórico de dificuldade de aprendizagem e retenção escolar. A literatura especializada apresenta evidências científicas que correlacionam o baixo desempenho escolar e dificuldades de aprendizagem com desempenho alterado nos testes e imaturidade das habilidades auditivas (NEVES E SCHOCHAT 2005, ENGELMANN E COSTA- FERREIRA 2009). O principal motivo de encaminhamento para avaliação foi relatado na entrevista inicial como sendo a desatenção (68%). A literatura frequentemente apresenta estudos que relacionam o DPAC associado ou em comorbidade com quadros Déficit de Atenção, sendo essencial que a avaliação seja realizada de forma criteriosa e sob uma perspectiva multidisciplinar, a fim que de que os mecanismos auditivos e atencionais sejam avaliados corretamente (ABDO et al 2010). Dentre as queixas escolares relatadas pelos pais e/ou indivíduos avaliados, destaca-se a dificuldade para ouvir e compreender a fala em ambientes ruidosos (18/72%) e trocas de letras na escrita (28%). Considerações finais O projeto de extensão permitiu, até o presente momento, organizar a demanda de pacientes da comunidade de Irati e região e implementar um serviço efetivo de avaliação e diagnóstico em processamento auditivo. Os dados levantados permitiram caracterizar o perfil dos indivíduos que são encaminhados para avaliação, favorecendo um maior conhecimento das demandas da comunidade, para melhor compreensão do diagnóstico fonoaudiológico e planejamento terapêutico visando à reabilitação auditiva. Além disso, conhecer a procedência dos encaminhamentos é essencial para maior interdisciplinaridade entre os profissionais envolvidos e o estabelecimento de um diálogo entre educadores, psicólogos, neurologistas e demais profissionais envolvidos. Referências ABDO, A.G.R.; MURPHY, C.F.B.; SCHOCHAT, E. Habilidades auditivas em crianças com dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Pró-Fono Revista de Atualização Científica.Jan-Mar, 22(1):25-30, 2010
5 AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION- ASHA. (Central) auditory processing disorders. Technical Report, Available at ENGELMANN, L.; COSTA-FERREIRA, M.I.D.; Avaliação do processamento auditivo em crianças com dificuldades de aprendizagem. Revista Soc Brasileira de Fonoaudiologia. 2009;14(1):69-74 JERGER, J; MUSIEK, F. Report of the consensus conference on the diagnosis of the auditory processing disorders in school-aged children. J Am Acad Audiol 2000; 11(9): PINHEIRO, M. M. C.; WEILAND, C. M. V.; POLLI, L. S. Perfil dos pacientes com transtorno do processamento auditivo atendidos na clínica de fonoaudiologia da Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Faculdade Estácio de Sá, Santa Catarina, 2006 NEVES, I.F.; SCHOCHAT,E. maturação do processamento auditivo em crianças com e sem dificuldades escolares. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. Setdez, 17(3): , 2005
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