Folheto Informativo, Vol. 4, n.º 21. idos pais Associação
promoção do desenvolvimento, tratamento e prevenção da saúde mental Associação Edição online gratuita i dos pais. Folheto Informativo. Vol. 4, n.º 21. Série 2 - As coisas em que os Pais pensam mais tarde ou mais cedo. Autores: Bruno Raposo Ferreira, Alexandra Pinto, Carolina Alzate, Inês Lamares. Todos os direitos reservados à Associação Chão d andar. http://www.chaodandar.pt e-mail: chaodandar@gmail.com Endereço da Sede: Rua de Angola, nº 6, 1º Esq., 1170-022, Lisboa.
As Colónias de férias A preparação para a separação A adaptação, os desafios e os benefícios.
Chega uma altura na vida da grande maioria de crianças e pais em que as colónias de férias se apresentam como uma das soluções possíveis para conciliar a responsabilidade laboral dos pais e o exercício dos cuidados parentais no tempo de férias das crianças. Se é verdade que as motivações que levam os pais a ponderar as colónias de férias podem ser muitas, não é menos verdade que as idades em que se ensaia esta solução também são diversificadas, e o mesmo se pode dizer dos contextos e processos pelos quais a colónias de férias se tornam uma realidade, por vezes, desafiante, na vida das famílias. Para algumas famílias, as colónias de férias são uma solução apresentada pelas instituições que as crianças frequentam o resto do ano, e por isso estão em continuidade com o que é conhecido e decorrem com pessoas de confiança. De certa forma o ambiente não é completamente novo, e o desafio pode ser sentido como menos intenso. Para outras famílias, a instituição que promove as colónias de férias são uma completa novidade e o desafio pode comportar inseguranças para todos. Também para algumas crianças as colónias de férias começam a ser uma realidade ainda antes de iniciarem o primeiro ciclo, para outras, são uma novidade da idade escolar, para outras ainda, uma realidade que se apresenta pela primeira vez, na pré-adolescência. O facto de ser a primeira vez é coisa bem diferente da repetição, e ser uma criança mais velha e experiente permite que se desempenhe papeis diferentes nas actividades e no grupo de amigos, quando comparado com idades mais precoces. 3
Existem famílias para quem a razão fundamental que as leva a ponderar as colónias de férias é não terem com quem deixar os filhos na sua rede social de suporte próxima e de confiança (avós, amigos, etc.), quando os pais cumprem as suas responsabilidades laborais. Há ainda pais que vêem nas colónias de férias, uma oportunidade estimulante para o crescimento e maturação, um conjunto de experiências e aprendizagens que favorecem a autonomia e a socialização. De facto têm razão, quando tudo corre bem. Neste sentido, parece-nos importante que antes de tomar uma decisão possa levar em consideração alguns aspectos. Falar das colónias de férias, exige o reconhecimento que estas são experiências muito diferentes para cada um de nós, consoantes as circunstancias que as caracterizam, as nossas próprias características e experiências anteriores. Alguns pais, quando equacionam pela primeira vez as colónias de férias como uma possibilidade, têm uma visão ou expectativa romântica sobre o que vai ser, por vezes, fundada na experiência passada dos próprios pais ou de outras crianças próximas à família. Outros pais, tem uma visão ou expetativa ambígua, revestida de receios e incertezas: se a criança consegue suportar a separação prolongada, se a criança se irá inserir no grupo da outras crianças, se a criança será alvo dos cuidados necessários e se as actividades serão seguras, etc.. Estes receios por parte das crianças e dos pais são normais. A forma como lidamos com as nossas fantasias, esperanças ou expectativas prévias, nem sempre contempla alguns aspectos a ter em conta, que nos permitem antecipar e preparar, e que podem determinar a forma como os nossos filhos podem lidar com o desafio das colónias de férias. Não obstante esta diversidade há, pelo menos, um aspecto que é comum a todas as colónias de férias. Todas sem excepção acarretam uma separação. Uma separação dos pais, ou daqueles que cumprem esse papel. Quando é a primeira vez que uma criança passa tanto tempo afastada dos pais, ainda que em boa companhia e com muitas diversões, existe naturalmente o receio que com o andar dos dias o afastamento se torne naturalmente insuportável. Esta é uma separação que, por ser mais alargada no tempo que as situações de separação habituais do dia-a-dia, se coloca como um desafio afectivo e psicológico para os membros da família e a maioria das crianças. 4
Durante o verão, nas colónias de férias, muitas crianças poderão confrontar-se com sentimentos de receio e ansiedade normais, decorrentes dessa separação. Trata-se de incertezas que o separar-se daqueles que são fonte de segurança, conforto e carinho sempre levanta, e que defrontar-se com uma nova situação sempre comporta. Por isso é normal que antes de partir, misturado com o desejo de ir e da aventura, surjam sentimentos de incerteza, evitamento e recusa. Já no decorrer das colónias de férias, é também natural que as crianças mostrem sentimentos de tristeza e saudades de casa, a necessidade de contar as aventuras, partilhar alegrias e conquistas, ou tristezas e falhanços. Falar dos dói-dóis, dos acontecimentos e amizades. Estas são formas de nos reassegurarmos que os nossos pais estão ainda ali, atentos para o que der e vier, e que os nossos sentimentos, comportamentos, não os desiludem ou põem em causa a sua disponibilidade e amor. Os pais podem desempenhar um papel fundamental na gestão destas emoções, ajudando as crianças a compreender que sentir saudades e estar nostálgico ou triste face ao estar longe de casa é natural, e que os pais estarão sempre acessíveis, apesar da distância, para ajudar no que for necessário. Quanto mais pequena for a criança maior poderá ser o desafio: já que crianças mais novas não têm tanta experiência de estar longe de casa, não tendo por isto tantas estratégias disponíveis para a gestão das suas emoções. O mesmo se pode dizer de crianças para quem o estar longe de casa seja uma novidade. Aqui e ali, o tempo de separação e a tolerância da criança à experiência de afastamento dos pais, é também dois aspectos a ter em atenção, e que geralmente actuam conjuntamente, influenciando o resultado final. Preparar e antecipar é muito importante. 5
Algumas crianças que passam a maior parte do verão longe de casa podem experimentar sentimentos de tristeza de níveis variados (mais ou menos profundos consoante a criança), e ver frustradas as suas expectativas de estar mais tempo com os pais no período de férias. Neste sentido, é importante os pais falarem antecipadamente sobre o plano de férias e negociarem com os filhos momento e actividades conjuntas que sejam possíveis de realizar, sem criar expectativas desajustadas. Os pais podem, ainda ser uma importante fonte de suporte e de motivação, ainda que à distancia, para as crianças não se sentirem sobrecarregadas de actividades e sozinhas, permanecendo disponíveis para falar com elas, combinando momentos adequados para este propósito, etc.. A companhia e o suporte dos monitores, as actividades físicas, e os amigos podem ser outra fonte de segurança afectiva que poderão ajudar as crianças a lidar com os sentimentos de tristeza e ansiedade, quer face a novos desafios, quer face à separação familiar. Paralelamente, poderá ser importante ajudar a criança a compreender quais os aspectos durante a separação que podem controlar (escrever cartas, telefonar, participar em actividades, fazer novos amigos) e os que não são passíveis de ser controlados (a duração da separação e as rotinas do novo ambiente). 6
Antes das colónias iniciarem poderá ser importante ter em atenção os seguintes aspectos Introduzir a criança ao ambiente da colónia Decidir com antecedência o que irão fazer. Poderá ser importante que, antes das colónias de férias iniciarem, os pais, conheçam e apresentem a criança aos monitores, falem com as pessoas responsáveis pelas colónias, identifiquem e apresentem uma pessoa de referencia para a criança a quem esta poderá recorrer quando necessário, visitem se for possível o local onde decorrerá a colónia de férias. Isto poderá fornecer um sentimento de confiança e incentivar a criança a não desistir perante dificuldades que possam ser encontradas. Se a sua criança nunca passou uma noite fora de casa ou se o fez somente com familiares muito chegados (por exemplo: avós, tios, etc.) poderá ser importante que antes de se iniciar a colónia de férias ele(a) possa ter essa experiência numa situação de separação semelhante (por exemplo: ir dormir a casa de um amigo da escola e vice-versa.) de férias. Preparar e familiarizar a criança como que irá acontecer, permitindo que ela tenha uma expectativa adequada e sinta mais confiança e controlo. Poderá apresentar a criança ao ambiente da colónia, por exemplo, através do site, ver o programa de actividades, conversar e imaginar com ela sobre o que poderá viver ou sentir (por exemplo: aprender coisas novas, estabelecer novas relações, gerir novos desafios, disputas, rivalidades, etc). Para algumas crianças, este pode ser simplesmente um desafio para o qual não estão preparadas. A segurança e confiança das crianças para suportar separações prolongadas dos pais, depende, em geral, da maturidade psico-afectiva da criança, das suas experiências anteriores de separação, da forma como a criança foi preparada para o desafio, mas também do estado de saúde fisico e bem-estar psicológico. 7
8 para conhecer os nossos serviços clínicos, projectos e actividades consulte o nosso site www.chaodandar.pt As colónias de férias são para a grande maioria das crianças, fonte de alegria e diversão, aprendizagens e novas experiências, promovem a autonomia e a socialização. No entanto, existem alguns aspectos a ter em conta, a idade da criança, a sua maturidade, as suas experiências anteriores de separação dos pais, a forma como se preparou a ida da criança. Poderá ser importante ter em consideração que algumas crianças poderão desenvolver sintomas mais intensos, como o choro incessante, o isolamento, a apatia, problemas de alimentação e de sono durante vários dias seguidos. Nestes casos, é importante que os pais possam estar preparados para intervir e que compreendam que aquilo que deveria ter sido uma colónia de férias deixou de o ser, e é agora fonte de stress e angústia. dos pais Associação