Os atores e as redes: construindo espaços para inovação



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Transcrição:

Os atores e as redes: construindo espaços para inovação Flávia Charão Marques WORKSHOP SOBRE PROCESSOS DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE EM AGROECOSSISTEMAS FAMILIARES Pelotas, 31 de agosto de 2011 Av. João Pessoa, 31 Fone: 51-3308 3281 Porto Alegre/RS www.ufrgs.br/pgdr flavia.marques@ufrgs.br

Pressupostos na Agricultura Convencional Conhecimento real é domínio absoluto do pesquisador; O agricultor é passivo e maleável, é um receptor de informação; A iniciativa para disseminação de informação é exclusivamente do comunicador; O aumento de produção é o principal critério das melhoras na agricultura; A informação que agricultores precisam são resultantes da pesquisa técnica mais do que da gestão dos seus modos de vida. Fonte: Pretty & Chambers, 1994

Por outro lado... Há a constatação de que: o modelo da modernização da agricultura chegou ao seu limite; o conhecimento empírico (tradicional, local, popular, dos agricultores) é relevante; os avanços no conhecimento e na área tecnológica não são prerrogativas únicas da ciência; a insustentabilidade está enraizada nos padrões institucionais.

Mas... Também há situações recorrentes, como: isolamento das práticas inovadoras; insipiente engajamento institucional; análise restrita aos aspectos organizacionais; dificuldades em estabelecer processos de governança ou abrir o processo decisório; sustentabilidade vista apenas como meta; descompasso entre tecnologia e sociedade.

Um paradigma tecnológico tem um poderoso poder de exclusão, os esforços e a imaginação tecnológica dos experts e das organizações estão focados em direções precisas, todavia, estão cegos para outras possibilidades tecnológicas. Crenças dos experts = consenso sobre parâmetros e constrangimentos Crenças dos experts = demandas do mercado Fonte: Dosi, 1984

Abordagens Redirecionamento Arranjos, leis e regulamentos Participação dos agricultores Financiamento para desenvolvimento de tecnologias apropriadas Governança para permitir a deliberação pública sobre C&T Acesso ao mercado e informação Financiamento de educação superior Acesso a recursos naturais Construção de competências locais Geração de Ciência e Tecnologia Políticas e planejamento em C&T Acesso e trocas em C&T Capacidade de desenvolvimento Fonte: Kiers et al., 2008 Propriedade intelectual que apóie inovações dos agricultores Fóruns regionais e internacionais para direcionar C&T Regulação governamental do setor privado Novas informações e ferramentas de comunicação para comunidades rurais Instalações descentralizadas de pesquisa Cadeias de suprimento ruralurbanas Redes de pesquisa

Atores estão construindo respostas estratégica a problemas ambientais e sociais originados pelo modelo de produção dependente de insumos e de conhecimentos externos. Oposição ao regime sociotécnico dominante Dinâmicas transicionais Diversidades técnicoprodutivas Aprendizagem social

Ploeg- novidades como mais promissoras que inovações provenientes dos delineamentos construídos cientificamente, seguindo os regimes estabelecidos. Pretty - desenvolvimento de uma agricultura sustentável como uma promessa que vem surgindo a partir de uma renovada relação com a natureza, do conhecimento dos agricultores e da capacidade de ação coletiva. Roep e Wiskerke - re-particularização do fazer agrícola e re-fundação da inovação na diversidade e criação de novidades pelos agricultores pode ser uma solução promissora para o desenvolvimento sustentável da agricultura.

Brandenburg - reconstrução do ambiente rural pelos agricultores, ao combinarem distintos conhecimentos, construindo novas relações com a natureza, retomando processos de gestão de recursos naturais. Petersen et al. - construção do conhecimento agroecológico, como articulação sinérgica entre distintos saberes. restabelecendo a inovação local como dispositivo metodológico para a criação de ambientes de interação entre acadêmicos e agricultores. Marques et al. produção de novidades entre os agricultores com processo de aprendizagem com potencial em promover transições pela mudança de atitudes, construção de novas identidades e novos compromissos sociais.

A inovação ou a construção de novos regimes tecnológicos é substancialmente diferente para a agricultura, quando comparadas com a indústria ou outros setores. Distinguem diferença de loco e de foco. Fonte: Roep & Wiskerke, 2004.

Abordagem multi-nível para inovação Dinâmicas Sociotécnicas Paisagem Regime Nicho Infra-estrutura material, cultura política, coalizões, paradigmas, macroeconomia. Práticas dominantes, regras e pressuposições compartilhadas. Atores individuais, tecnologias e práticas locais.

Desenvolvimentos na paisagem Regime sociotécnico Desenvolvimentos na paisagem promovem pressões sobre o regime, abrindo múltiplas dimensões e criando janelas de oportunidades para novidades. Novo regime influencia a paisagem. Nicho tecnológico Regime é dinamicamente estável. Em diferentes dimensões, há processos em andamento. Novas configurações vão rompendo o regime, aproveitando vantagens das janelas de oportunidades. Ajustamentos ocorrem no regime. Elementos são gradualmente interligados e estabilizam novas configurações do regime, que não é (ainda) dominante. O momentum interno aumenta. A articulação de processos em múltiplas dimensões gera novidades. Via co-construção de diferentes elementos que se aproximam gradualmente. Tempo Dinâmica da Perspectiva Multinível no sistema de inovação. Fonte: adaptado de Geels (2002, p. 1263)

Proposta 1: entender estas relações pela compreensão de REGIME. Crítica à noção de rompimento de paradigma pelo acúmulo de conhecimento ou obsolência TRANSIÇÃO

Transição Definida como um processo gradual e contínuo de mudança estrutural dentro de uma sociedade ou cultura (Rotmans et al., 2001). Resultado de desenvolvimentos em diferentes domínios: mudanças conectadas em diferentes áreas, como a tecnologia, economia, instituições, comportamento, cultura, ecologia e sistema de crenças. CO-EVOLUÇÃO

Transições são complexas, incertas e envolvem inúmeros grupos sociais e processos cognitivos diversos e contínuos. Em essência, a transição, tanto quanto sustentabilidade, é um processo de aprendizagem, que inclui mudanças objetivas em práticas, habilidades e estruturações sócio-institucionais, mas compreende, também, mudanças profundas no modo de entender a re-união de sociedade e tecnologia, bem como, a sua governança.

Proposta 2: GESTÃO ESTRATÉGICA DE NICHO como uma forma de conduzir a transição Criação de espaços protegidos para desenvolvimento e uso de tecnologias promissoras. Foco = aprendizagem = diferente da velha perspectiva de technology-push. Objetivos: a) articular mudanças tecnológicas e institucionais; b) aprender sobre a viabilidade técnica e econômica das novas tecnologias; c) estimular o desenvolvimento dessas tecnologias, mas também habilidades e mudanças organizacionais; d) constituir articulações diversas.

Os nichos são considerados locus principal para a mudança de regime. ENTÃO, COMO CRIAR E FAZER A GESTÃO DE UM NICHO? QUAL TECNOLOGIA DEVERÁ SER EXPERIMENTADA? QUEM FARÁ A GESTÃO?

Atores, expectativas e alinhamentos O nicho tecnológico é formado contra a experiência acumulada do regime e paisagem existentes (Geels, 2001, p. 8). Maior vulnerabilidade para os nichos: estratégias indistintas e visões de uma nova configuração sociotécnica pouco claras; poucos espaços específicos que permitem a gestão de redes de atores que compartilham expectativas; domínio técnico-científico fragmentado.

Processos de constituição do NICHO: a)articulação de processos de aprendizagem; b)estabelecimento de redes sociais; c)desenvolvimento e alinhamento de estratégias e expectativas.

A emergência de um novo regime sociotécnico não depende unicamente do desenvolvimento do nicho, necessita um ambiente para inovação onde haja: 1) um processo de engajamento institucional; 2) o desenvolvimento de tecnologias complementares e infra-estruturas necessárias; 3) a ampliação de compartilhamento, credibilidade e expectativas; 4) a criação de condições para a ampliação de atores alinhados com a mudança de regime. Fonte: Moors et al., 2004

Construindo espaços protegidos... Depende de redes entre múltiplos atores, porém com ampliação de alinhamentos de expectativas ARENAS DE TRANSIÇÃO. Novos arranjos sociais e técnicos que incorporem dinâmicas co-evolucionárias ampliarão espaços para a emergência e estabilização de práticas inovadoras - GESTÃO ESTRATÉGICA. Aprofundar a questão da transição se trata menos de determinar modelos para o desenvolvimento tecnológico e mais de encontrar caminhos para uma melhor gestão das transformações em curso - GOVERNANÇA.