Avaliação da Usabilidade no Desenvolvimento do Produto: estudo de caso na concepção de um aparelho para monitoramento de velocidade



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Transcrição:

Avaliação da Usabilidade no Desenvolvimento do Produto: estudo de caso na concepção de um aparelho para monitoramento de velocidade Usability Evaluation in Product Design: a case study in the design of a speed monitoring device Barbosa, Samuel Borges; Mestrando; Universidade Federal de Santa Catarina samuelibia@yahoo.com.br Gomes Ferreira, Marcelo Gitirana; Doutor; Universidade Federal de Santa Catarina marcelo.gitirana@gmail.com Resumo O trabalho apresentado neste artigo se refere a um estudo realizado como parte do processo de desenvolvimento de um aparelho de monitoramento de velocidade. A pesquisa realizada compreende a fase de Projeto Informacional do desenvolvimento do produto. Partindo de informações obtidas no mercado foram realizados estudos de usabilidade in loco com alternativas para o produto. Ao final da pesquisa são obtidas informações que serão utilizadas no desenvolvimento final do equipamento, compreendido como a fase de Projeto Conceitual no processo de desenvolvimento do produto. Palavras Chave: Design de Produto; Ergonomia; Usabilidade. Abstract The work presented in this paper refers to a study conducted as part of the development process of designing a speed monitoring device. The research comprises the design phase called Informational Project. Based on information obtained from market studies the research was conducted applying usability tests on some product alternatives. At the end of the study some information were obtained, which is supposed to be used in the development of the next phase of the design process, which is called Conceptual Project. Keywords: Product Design; Ergonomics; Usability.

Introdução Estudos sobre a atividade de criação de novos produtos, desenvolvida pelas áreas de engenharia, design e marketing, têm demonstrado grande evolução deste o final do século XX. Vários autores propõem métodos que possam ser utilizados para guiar a concepção e criação de produtos para o mercado consumidor. A criação de métodos estruturados para auxiliar no desenvolvimento de produtos tem evoluído cada vez mais, havendo uma explosão de pesquisas realizadas no final da década de 1990 e início da década de 2000. Estes métodos, criados usualmente de forma linear e fechada, podendo também se apresentar de forma cíclica e aberta, dividem o desenvolvimento do produto em fases. Dentro destas fases algumas se apresentam mais tradicionalmente do que outras neste processo. Uma destas fases tradicionais é denominada usualmente pelos autores como Projeto Informacional. Esta fase se refere ao início do projeto de produto, onde os designers, engenheiros, estudiosos de marketing e outros responsáveis pelo projeto devem levantar as informações referentes ao produto e seus usuários. Várias ferramentas podem ser utilizadas no levantamento de informações para o Projeto Informacional, sendo estas estabelecidas como etapas. O detalhamento do ciclo de vida do produto, a identificação dos requisitos dos clientes, a definição dos requisitos do produto e o monitoramento da viabilidade econômico-financeira do produto são apenas algumas das etapas que são desenvolvidas durante a fase de Projeto Informacional. No estudo apresentado neste artigo são demonstradas ferramentas utilizadas durante a fase de Projeto Informacional, referentes especificamente aos testes de usabilidade e interação entre produto e usuário. A pesquisa apresentada aqui faz parte de um estudo mais amplo, que é parte de um projeto completo de desenvolvimento de um aparelho de monitoramento de velocidade para automóveis. Devido às limitações de espaço e conteúdo, impostas para a apresentação do artigo, foi feito um recorte específico na fase de Projeto Informacional, apresentando as ferramentas aplicadas durante esta fase no projeto. Espera-se que com os conhecimentos apresentados neste trabalho possa ser criada uma fonte de informações e conhecimentos que auxiliem designers, engenheiros e pessoas envolvidas com a criação e desenvolvimento de produtos, especificamente para a área de equipamentos e periféricos eletrônicos para o setor automotivo. Metodologia Para o desenvolvimento de produtos é necessário a aplicação de várias ferramentas para se obter um resultado final que possua altos padrões de qualidade, sejam estes relacionados aos aspectos estéticos, simbólicos ou tecnológicos do produto. A pesquisa de informações do produto, abordada por alguns autores como a fase de Projeto Informacional, é uma etapa essencial para obtenção de informações que possibilitem aos projetistas ter uma visão mais familiar com o produto que está sendo desenvolvido (Rozenfeld et al., 2006). O estudo sobre aspectos de interação entre homem-objeto é uma área bem estabelecida no ramo de conhecimento referente ao desenvolvimento de produtos. Estes estudos, relativos aos conhecimentos específicos de Ergonomia e Usabilidade, podem ser aplicados durante a fase de Projeto Informacional, sendo essenciais para entender como ocorrem as interações entre o usuário e o produto. O uso de ferramentas como análise da tarefa e observações in loco do uso do produto devem auxiliar o desenvolvimento deste nas fases iniciais da sua

concepção, evitando grandes adaptações nas últimas fases do processo de desenvolvimento do produto. Neste trabalho a metodologia aplicada se refere ao estudo da interação entre o usuário e o produto a ser desenvolvido, sendo este especificamente um aparelho de monitoramento de velocidade para automóveis, tomado neste estudo como um periférico automotivo. Foram utilizados métodos de análise ergonômica e de usabilidade, aplicados in loco para validação das hipóteses e suposições desenvolvidas pelos responsáveis pela concepção do produto. É esperado que com a aplicação destes estudos possam ser obtidas informações que auxiliem o desenvolvimento das próximas etapas do processo de desenvolvimento do produto. O Processo de Desenvolvimento de Produto O Processo de Desenvolvimento de Produto (PDP) surgiu inicialmente na área de engenharia mecânica, sendo estabelecido inicialmente como um método de desenvolvimento de máquinas e equipamentos. Posteriormente, com a necessidade de mercado, estes métodos migraram para diversas áreas de desenvolvimento de produtos, como a área de bens duráveis, de eletrodomésticos, automotiva e de bens de consumo. Nesse contexto emerge o design e principalmente a figura do designer, que se estabelece como o profissional criativo que deve pensar em soluções para o desenvolvimento de novos produtos, incorporando conhecimentos das áreas de marketing, engenharia mecânica, ergonomia, dentre outras. Quando tratamos de metodologias de desenvolvimento de produtos estruturadas, vários autores surgem com propostas de estabelecer um método claro e estruturado quando à concepção de produtos. Um desses métodos é o proposto por Rozenfeld et al. (2006), o qual, segundo os autores, define o PDP como um processo de negócio que envolve um conjunto de atividades realizadas à partir de informações obtidas sobre necessidades do mercado e possibilidades e restrições tecnológicas. Ao considerar as estratégias competitivas e de produto da empresa, o PDP tem como objetivo estabelecer especificações para o projeto do produto e os processos de produção envolvidos na sua fabricação, viabilizando assim sua manufatura. O Modelo Unificado de Referência (MUR) de Rozenfeld et al. (2006) apresenta um método linear de desenvolvimento de produtos, o qual é estruturado e se propõe a desmembrar o desenvolvimento de produtos em seis fases distintas: Planejamento do Projeto, Projeto Informacional, Projeto Conceitual, Projeto Detalhado, Preparação para Produção e Lançamento do Produto. Outros autores também propõem métodos estruturados baseados em algumas destas fases. Baxter (1995), em sua metodologia de projeto, estrutura o desenvolvimento de produto abordando o Planejamento do Produto, o Projeto Conceitual e o Projeto Detalhado, tendo estas como fases indispensáveis para a criação de novos produtos. Já dos Santos (2006) estabelece um método estruturado aberto, sendo este executado de forma cíclica, de maneira que as fases de projeto são desenvolvidas várias vezes durante um mesmo processo de desenvolvimento, se estabelecendo assim o conceito de melhoria contínua para o PDP. Contudo, analisando os vários métodos de desenvolvimento de produtos é claro a necessidade de uma fase inicial do projeto, onde são levantadas informações sobre o produto que será concebido. Esta fase inicial é compreendida na maioria dos métodos como a fase de Projeto Informacional.

O Projeto Informacional A fase de Projeto Informacional, descrita no MUR de Rozenfeld et al. (2006), é constituída pelo levantamento de informações sobre o produto. Esta fase tem como principal objetivo desenvolver um conjunto de informações chamado de especificações meta do produto. Várias etapas constituem a fase de Projeto Informacional, sendo algumas delas apresentadas abaixo: Detalhamento do Ciclo de Vida do Produto; Identificação dos Requisitos dos Clientes do Produto; Definição dos Requisitos do Produto; Definição das Especificações Metas do Produto; Monitoramento da Viabilidade Econômico-Financeira do Produto; Dentro de cada uma destas etapas várias ferramentas podem ser aplicadas, buscando levantar e estabelecer informações para formar a especificação meta do produto. As etapas de Identificação dos Requisitos dos Clientes e Definição dos Requisitos do Produto compreendem as etapas onde são feitas análises para se definir quais os requisitos estéticos, simbólicos e tecnológicos o produto deve satisfazer. Ferramentas como: entrevista com consumidores, análise da tarefa, estruturação de painéis de estilo do produto, estruturação de painéis de estilo de vida do usuário, levantamento do histórico do produto, dentre outras; são aplicadas com o objetivo de levantar informações importantes para o início da atividade de criação do produto (Projeto Conceitual). Abordando especificamente a fase de Projeto Informacional, o presente artigo apresenta o desenvolvimento desta fase para a concepção de um aparelho de monitoramento de velocidade para automóveis. Neste projeto serão abordadas algumas ferramentas específicas utilizadas na fase de Projeto Informacional, sendo estas: Análise da Tarefa, Definição do Dimensionamento do Produto, Definição da Configuração Tecnológica do Produto, além da aplicação de um estudo de Usabilidade do produto. Projeto Informacional: estudo de caso no desenvolvimento de um aparelho de monitoramento de velocidade O aparelho desenvolvido neste trabalho se refere a um equipamento eletrônico. A função deste é monitorar a velocidade do automóvel, servindo de alerta para o motorista quanto à velocidade que o veículo está atingindo no momento. Este aparelho deve servir como um alerta para o motorista, para que este seja informado (por meio de aviso luminoso ou sonoro) quando o veículo atingir determinada velocidade, estabelecida pelo usuário. O projeto foi desenvolvido por um dos autores do artigo, em parceria com uma empresa especializada em desenvolvimento de produtos eletrônicos. A concepção do equipamento foi solicitada por uma empresa cliente, que comercializa equipamentos de monitoramento de velocidade para veículos. O projeto foi desenvolvido em Brasília, no Distrito Federal. Como orientador do projeto, a empresa cliente, a qual solicitou o projeto, passou aos executores algumas informações iniciais quanto ao equipamento. Estas informações foram obtidas por meio da experiência da empresa com seus clientes e com o mercado em geral.

Comercializando equipamentos similares no mercado a mais de cinco anos, a empresa possui amplo know-how na área, tanto quanto ao comércio como ao desenvolvimento dos seus produtos. Inicialmente a empresa demandante do projeto solicitou que este possuísse dois módulos, sendo o primeiro módulo denominado módulo Controlador, e o segundo o módulo de Interface. O primeiro módulo seria responsável pelo controle do equipamento, não possuindo interação/interface com o motorista (usuário). O segundo módulo (Interface) deveria possuir um sistema de alerta sonoro e um sistema de alerta luminoso, os quais seriam utilizados para informar ao motorista quando a velocidade estabelecida tivesse sido atingida pelo veículo. Outro componente do módulo de Interface seria um botão, responsável pela entrada de informação no equipamento (programação), que deveria ser feita pelo usuário. Além disso, a empresa estabeleceu também que o aparelho deveria ser disposto no pára brisas do automóvel, facilitando a visualização do alerta luminoso pelo motorista no momento que este estivesse dirigindo. Sendo assim, tendo como escopo do desenvolvimento do produto a fase de Projeto Informacional, aplicada ao módulo de Interface, foram desenvolvidas inicialmente duas alternativas para o produto (figura 1). Figura 1: Configurações propostas para o equipamento posicionamento no pára brisas alternativa 1 (esq.) e alternativa 2 (dir.). Na primeira alternativa (figura 1 à esquerda) é possível visualizar a distribuição dos componentes na seguinte ordem: LED (alerta luminoso), áudio e botão. Já na segunda alternativa a ordem estabelecida é: LED, botão e áudio; como é possível observar na figura 1. Para validação da disposição destes componentes foi realizado um experimento in loco, no qual foram observadas as dificuldades de acesso e uso do botão na posição relativa à primeira disposição (alternativa 1 LED, áudio, botão). O experimento in loco se refere a um teste de usabilidade, realizado em um modelo de automóvel Volkswagen Gol. No teste realizado, a disposição na qual o botão se encontrava na parte inferior do equipamento (alternativa 1), obriga o usuário a realizar um movimento longo com a mão, sendo este fora do ângulo natural de movimento. Desta forma, foi apresentada uma segunda proposta (alternativa 2), onde a posição do áudio e do botão foram trocados com o intuito de melhorar o acesso ao botão pelo usuário. Foi observado que este posicionamento da saída de áudio não prejudicaria o uso do produto, pois não é necessário que o áudio esteja direcionado diretamente para o motorista. Porém, o alerta luminoso (LED) e o botão devem estar o mais direcionado possível para o usuário, facilitando sua interação visual e tátil com o equipamento.

Utilizando o mesmo teste de usabilidade, que pode ser considerado como um teste de análise de tarefa, foi realizada a validação do posicionamento e do dimensionamento do produto. Esta validação possui o intuito de avaliar a interação do produto com o usuário em seu local de uso. Para realizar a validação do posicionamento e do dimensionamento foram utilizados dois modelos volumétricos (mock ups) das alternativas (figura 2 alternativa A e alternativa B). As duas alternativas possuem dimensionamentos diferentes (ver figura 3). Figura 2: Teste in loco - posicionamento das alternativas A e B no pára brisas. Figura 3: Dimensionamento das duas alternativas em milímetros. A análise foi feita através da comparação do posicionamento das duas alternativas dentro de um ambiente de uso: um automóvel Volkswagen Gol. Através do uso de imagens captadas dentro dos veículos durante o manuseio do aparelho é possível a comparação das duas alternativas (ver figura 4 e figura 5).

Figura 4: Posicionamento das alternativas A e B no pára brisas do automóvel. Figura 5: Interação do usuário com as duas alternativas. Na figura 5 pode ser observado que o usuário interage com o aparelho através do botão. As duas alternativas possuem boa funcionalidade com relação ao posicionamento do botão, porém, a alternativa B possui maior espaço de área útil para sua interação com o usuário, devido ao seu maior dimensionamento (ver figura 3). Com o uso de um botão de dimensionamento maior (alternativa B) o usuário possui uma maior área de contato, evitando que o este possa demorar muito tempo para apertá-lo ou até mesmo não encontrá-lo durante o uso. É necessário esclarecer aqui que este botão, que é um dos três componentes de interação do produto, serve para que o usuário programe o aparelho e para que o alarme sonoro possa ser desligado. Assim, usualmente o motorista terá que apertá-lo enquanto estiver dirigindo o veículo. Eis aí a necessidade de que a interação entre motorista e botão seja rápida, evitando distração enquanto o motorista estiver guiando o carro e acionando o botão.

Figura 6: Posicionamento e visualização das duas alternativas. Outro problema analisado no teste de usabilidade foi a visualização do LED (alerta luminoso) pelo condutor. Na figura 6, que representa o campo visual do motorista, a posição do LED faz com que este seja visto com eficiência pelo motorista. Alguns problemas podem causar baixa visibilidade da sua luz, como ofuscamento provocado pela luz ambiente e luz proveniente de faróis de veículos que venham em direção contrária. Porém, este problema pode ser solucionado por meio do uso de um LED com luz de alta intensidade (grande potência). Conclusões do estudo realizado De acordo com as informações obtidas com as avaliações e validações realizadas durante a fase de Projeto Informacional é possível tomar as seguintes conclusões: A escolha da ordem dos elementos do módulo de Interface foi feita pela seguinte alternativa: LED, botão e áudio respectivamente (figura 1 à direita). Isso se deve pelo fato de que a ordem entre saída de som e botão interfere diretamente na usabilidade do equipamento, devido a aspectos de uso. Com isso, a seleção da ordem estabelecida (LED, botão e áudio respectivamente) se faz necessária para atender aos requisitos de uso do produto; Conforme observado no teste in loco, feito num automóvel Volkswagen Gol, o posicionamento sugerido no projeto para o LED atende às especificações para a visualização de elementos visuais (120 na horizontal e 60 na vertical) de forma cônica. Desta forma, neste modelo de automóvel foi possível posicionar o equipamento nas radiais do campo visual do usuário. Vale lembrar que outros fatores podem interferir na visualização do componente em outros modelos de automóveis, tais como: angulação do pára brisas, distância entre o pára brisas e os olhos do motorista, instalação, altura do motorista, luminosidade ambiente e potência do LED;

Por meio dos testes é possível afirmar que o produto está desenvolvido dentro dos padrões que atendem aos requisitos de visualização e posicionamento dentro do habitáculo; As diferenças dimensionais são requisitos que foram demonstrados como forma complementar ao projeto, possibilitando na alternativa B (ver figura 3) uma área maior para possíveis rebaixos e alterações do tamanho do botão. Considerações Finais Estudos sobre a interação do produto com o usuário são essenciais para se obter um produto de boa qualidade, evitando problemas de ajuste posteriores ao projeto. Pensar sobre questões de usabilidade e ergonomia nas fases iniciais do projeto, compreendida aqui como a fase de Projeto Informacional, pode evitar problemas de uso e identificar soluções úteis, as quais devem prever as ações do usuário durante o uso do produto. Este trabalho apresenta propostas de modificações do conceito inicial do produto, obtidas por meio de aplicação de ferramentas na fase de Projeto Informacional. As ferramentas aplicadas possibilitaram entender de uma maneira mais clara como se dá a interação do usuário com o equipamento projetado. A mudança de posicionamento dos sistemas luminoso (LED), de áudio, e do botão, possibilitou uma melhoria de usabilidade para o produto, proporcionando uma melhor adequação deste ao usuário durante o uso. O posicionamento do botão mais próximo à mão e à vista do usuário (figura 1, à direita), possibilita que este possa interagir com o equipamento mais rapidamente, evitando erros. O uso de um dimensionamento maior para o produto (figura 3) possibilita uma melhor visualização do aparelho pelo motorista. O uso de um aparelho de dimensões maiores também possibilita o uso de um sistema luminoso de alerta (LED) maior, facilitando também a sua visualização pelo motorista. Após todo este desenvolvimento apresentado é possível concluir que os testes de usabilidade e ergonomia aplicados deverão melhorar a interação do aparelho com seus usuários, evitando ajustes no produto após sua fabricação. Este tipo de ação, realizada nas fases iniciais do projeto (Projeto Informacional), reduzem seus riscos, evitando alterações na fase de pós produção. Ao final do trabalho espera-se que as informações e o conhecimento gerado possam auxiliar as próximas etapas do desenvolvimento do produto, obtendo um conhecimento mais amplo sobre a interação entre produto e usuário. É possível considerar que os resultados obtidos foram satisfatórios e devem colaborar para outras pesquisas da área. Este projeto fica aberto para estudos e complementações por outros pesquisadores que se interessem pelo tema abordado. Referências BAXTER, Mike. Projeto de Produto Guia Prático para o Design de Novos Produtos. 2ª Edição. Editora Edigard Blücher Ltda. São Paulo 1998. Traduzido por Itiro Iida do original em inglês Product Design: a pratical guide to systematic methods of new product development. Reino Unido. Chapman & Hall 1995.

DOS SANTOS, Flavio Anthero Nunes Vianna. Método Aberto de Projeto para uso no Ensino de Design Industrial. Design em Foco, v.3, n.1, p.33-49, 2006 ROZENFELD, H. et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência para a melhoria do processo. v.1, 1.ed. São Paulo: Saraiva, 2006, 542 p.