Turismo na Preservação dos Recursos Naturais: Vilão ou Solução? O caso do Parque Estadual de Itapuã - RS



Documentos relacionados
AÇÃO DE SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL REALIZADA NA PONTE DO RIO SÃO JORGE/PARQUE NACIONAL DOS CAMPOS GERAIS

Daniela Campioto Cyrilo Lima*, Emanuela Matos Granja*, Fabio Giordano **

Meio ambiente conforme o Dicionário Aurélio é aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas.

Aula 19 Conteúdo O homem e o meio ambiente. Principais problemas ambientais do mundo.

Sustentabilidade x Desperdício

ESTRATÉGIAS PARA O TURISMO SUSTENTÁVEL

O homem transforma o ambiente

Relatório de Sustentabilidade 2014

Meio Ambiente PROJETOS CULTURAIS. 4 0 a O - fu dame tal. Cuidar da vida também é coisa de criança. Justificativa

Amanda Aroucha de Carvalho. Reduzindo o seu resíduo

Convenção sobre Diversidade Biológica: O Plano de Ação de São Paulo 2011/2020. São Paulo, 06 de março de GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

P R E F E I T U R A M U N I C I P A L D E B A U R U E s t a d o d e S ã o P a u l o S E C R E T A R I A D A E D U C A Ç Ã O

A árvore das árvores

Planejamento Turístico para Promoção do Turismo de Base Comunitária: experiências no Amazonas e no Pará

ALVES 1,1, Paulo Roberto Rodrigues BATISTA 1,2, Jacinto de Luna SOUZA 1,3, Mileny dos Santos

Prova bimestral. história. 4 o Bimestre 3 o ano. 1. Leia o texto e responda.

PROJETO DE REDUÇÃO DOS RESÍDUOS INFECTANTES NAS UTI S DO HOSPITAL ESTADUAL DE DIADEMA

LANXESS AG. Rainier van Roessel Membro da Diretoria. Sustentabilidade em Borrachas: Hoje e Amanhã. Painel 1 Discurso de Abertura

DISCIPLINA A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL E A GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

ESTUDO DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇO PARA EMPREENDIMENTOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA. Palavras-Chave: Custos, Formação de Preço, Economia Solidária

ASSUNTO DO MATERIAL DIDÁTICO: SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E AS DECISÕES GERENCIAIS NA ERA DA INTERNET

GRUPO X 3 o BIMESTRE PROVA A

Dúvidas e Esclarecimentos sobre a Proposta de Criação da RDS do Mato Verdinho/MT

Bloco de Recuperação Paralela DISCIPLINA: Ciências

INFORMAÇÃO PARA A PREVENÇÃO

ENSINO DE QUÍMICA: VIVÊNCIA DOCENTE E ESTUDO DA RECICLAGEM COMO TEMA TRANSVERSAL

CUIDAR DA TERRA ALIMENTAR A SAÚDE CULTIVAR O FUTURO

Plano da Intervenção

QUALIFICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DE PROFESSORES DAS UNIDADES DE ENSINO NA ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS FORMAIS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

TURISMO NO SUL DE MINAS: UMA ANÁLISE SOBRE O MUNICÍPIO DE FAMA (MG)

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO

REQUERIMENTO (Do Sr. Vittorio Medioli)

Ecologia. 1) Níveis de organização da vida

PECUÁRIA SUSTENTÁVEL: NOVO OU ANTIGO PARADIGMA DA PRODUÇÃO ANIMAL? Entrevista a Rodrigo Paniago 1 por Paulo Hellmeister Filho 2

PUBLICO ESCOLAR QUE VISITA OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE MANAUS DURANTE A SEMANA DO MEIO AMBIENTE

ORÉADES NÚCLEO DE GEOPROCESSAMENTO RELATÓRIO DE ATIVIDADES

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

Você sabia. As garrafas de PET são 100% recicláveis. Associação Brasileira da Indústria do PET

SEGURANÇA ALIMENTAR, SUSTENTABILIDADE, EDUCAÇÃO AMBIENTAL: REFLEXÕES A CERCA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR.

AFETA A SAÚDE DAS PESSOAS

BANRIDICAS FINANCEIRAS. A sua cartilha sobre Educação Financeira

Hospedagem Sustentável: Gestão Ambiental em meios de hospedagem para o município de São Roque. Darlyne de Aquino Silva

Shopping Iguatemi Campinas Reciclagem

O papel do CRM no sucesso comercial

Termo de Referência nº Antecedentes

Conselho Gestor APA DA VÁRZEA RIO TIETÊ GTPM

Apartamentos, Casas e Terrenos.

ESPORTE NÃO É SÓ PARA ALGUNS, É PARA TODOS! Esporte seguro e inclusivo. Nós queremos! Nós podemos!

CAPACITAÇÃO SOBRE A AVALIAÇÃO EMPRESARIAL DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS (ESR) Parceria Empresarial pelos Serviços Ecossistêmicos (PESE)

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CUSTOS NA ELABORAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

Análise de dados da Pesquisa Espontânea sobre Aquecimento Global 1º semestre de 2010

Meio Ambiente PROJETOS CULTURAIS. 3 0 a O - fu dame tal. Cuidar da vida também é coisa de criança. Justificativa

PRODUTOR ORGÂNICO: PARCEIRO DA NATUREZA NA PROMOÇÃO DA VIDA

PLANO DE EXPANSÃO COMERCIAL DA ÁREA COMERCIAL EMPRESA XYZS

O Aquecimento Global se caracteriza pela modificação, intensificação do efeito estufa.

OS CUIDADOS COM A ÁGUA NA ESCOLA FUNDAMENTAL PROFESSOR ADAILTON COELHO COSTA

DESENVOLVER E GERIR COMPETÊNCIAS EM CONTEXTO DE MUDANÇA (Publicado na Revista Hotéis de Portugal Julho/Agosto 2004)

engenharia de embalagens UMA ABORDAGEM TÉCNICA DO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE EMBALAGEM Maria Aparecida Carvalho Novatec

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

Segurança, Meio Ambiente e Saúde QHSE

CAPÍTULO 15 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

COMO FAZER A TRANSIÇÃO

Amanda Oliveira. E-book prático AJUSTE SEU FOCO. Viabilize seus projetos de vida.

Turismo de (bons) negócios. 26 KPMG Business Magazine

CONSERVAÇÃO DOS PARQUES DA CIDADE DE CAMPINAS PEDRO HENRIQUE NALOTO & RAFAEL BRUNO MEIRELLES

Leonardo Cavalcante Daniel Santos Costa

A EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES -PROBLEMA NA INTRODUÇÃO DO ESTUDO DE FRAÇÕES. GT 01 - Educação Matemática nos Anos Iniciais e Ensino Fundamental

Projeto Pedagógico. por Anésia Gilio

FATEC Cruzeiro José da Silva. Ferramenta CRM como estratégia de negócios

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

CARTILHA EDUCAÇÃO FINANCEIRA

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

PROJETO DE LEI Nº DE 2007 ( Do Sr. Alexandre Silveira)

18/06/2009. Quando cuidar do meio-ambiente é um bom negócio. Blog:

Meio Ambiente,Turismo e Ordenamento Territorial

Conceitos trabalhados na disciplina, textos de apoio da biblioteca e elementos da disciplina.

Grupo de Ecologia Ambiental

ACCOR HOSPITALITY ODAIR ROQUE. 2º Congresso Brasileiro do PVC. Painel III O PVC e suas Potencialidades

PROJETO DE LEI N o 1.847, DE 2003

FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS

A Importância do CRM nas Grandes Organizações Brasileiras

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

Parcelamento do Solo. Projeto de Loteamentos

AFINAL, O QUE É ESSA TAL OUVIDORIA?

Rafael Vargas Presidente da SBEP.RO Gestor de Projetos Sociais do Instituto Ágora Secretário do Terceiro Setor da UGT.RO

COMPRE DO PEQUENO NEGÓCIO

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA APROPRIAÇÃO DE PROBLEMAS AMBIENTAIS LOCAIS COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM CAMPINA GRANDE-PB.

ESCOLA MUNICIPAL MARIA DO CARMO ORECHIO

Estratégias adotadas pelas empresas para motivar seus funcionários e suas conseqüências no ambiente produtivo

ASSOCIAÇÃO CULTURAL E EDUCACIONAL DE GARÇA FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE BACHARELADO EM TURISMO RA:

ANEXO CHAMADA III DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES PARA GESTÃO E AVALIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS

Especialistas em pequenos negócios / / sebrae.com.br

PROJETO DE HISTÓRIA: CAMINHOS DA HISTÓRIA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM UM AMBIENTE UNIVERSITÁRIO: ESTUDO DE CASO DO CESUMAR, MARINGÁ - PR

Água, fonte de vida. Aula 1 Água para todos. Rio 2016 Versão 1.0

Vamos fazer um mundo melhor?

Paisagens Socioambientais em Bacias Hidrográficas

Módulo 9 A Avaliação de Desempenho faz parte do subsistema de aplicação de recursos humanos.

"Água e os Desafios do. Setor Produtivo" EMPRESAS QUE DÃO ATENÇÃO AO VERDE DIFICILMENTE ENTRAM NO VERMELHO.

Transcrição:

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 1 Turismo na Preservação dos Recursos Naturais: Vilão ou Solução? O caso do Parque Estadual de Itapuã - RS Rita Lourdes Michelin 1 Universidade de Caxias do Sul UCS Resumo O presente trabalho buscará apresentar inquietações acerca da relação entre recursos naturais e Turismo. Para que isso seja possível iremos expor alguns impactos que podem ser gerados pelo fenômeno turístico e de que forma este interfere no meio ambiente natural, tanto de maneira positiva quanto negativa. Tomaremos como exemplo o Parque Estadual de Itapuã - RS para melhor analisarmos a relação intrínseca existente entre o meio natural e o fenômeno turístico em determinados locais e, assim, finalizaremos demonstrando se o Turismo pode contribuir na preservação dos recursos naturais. Palavras-chave Turismo; preservação; recursos naturais. Introdução Com o crescimento do fenômeno turístico, o nível dos impactos gerados por este vem aumentando. Sabemos que o Turismo quando realizado de forma não sustentável, agride o meio ambiente, afeta a cultura e a economia das populações receptoras, entre outros. Muitas vezes esses impactos são tão profundos que se tornam irreversíveis, principalmente quando ligados a natureza. Ao falarmos de Turismo Sustentável, estamos explicitando uma forma de Turismo viável economicamente, o qual baseia-se na não destruição dos meios dos quais dependerá no futuro para existir, como o meio ambiente natural e a cultura das comunidades locais. Entretanto nem sempre é assim que acontece. Na teoria tende a funcionar perfeitamente, já na prática, pode acontecer o contrário. Os impactos negativos, que geram custos muitas vezes superam os positivos que geram renda. Segundo Ruschmann (2000, p. 34), impactos [...] são a conseqüência de um processo complexo de interação entre os turistas, as comunidades e os meios receptores. Muitas vezes, tipos similares de Turismo provocam diferentes impactos, de acordo com a natureza das sociedades nas quais ocorrem. 1 Bacharel em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUC/RS e Mestranda em Turismo pela Universidade de Caxias do Sul UCS Endereço eletrônico: rita.michelin@gmail.com

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 2 Esses podem ser positivos ou negativos, sendo considerados como positivos os que trazem benefícios para a comunidade receptora e contribuem para a preservação do meio natural e, negativos os que causam degradação e estragos nesse meio, banalização e espetacularização da cultura, dentre outros. Esses podem ser reversíveis, quando detectados no seu início, ou antes, e irreversíveis, quando não lhes é dada a devida atenção e, algumas vezes, no momento que se percebe isso já é tarde demais para a sua reversão. Impactos são gerados porque [...] um ambiente estranho muitas vezes atua como um libertador sobre o turista, o qual demonstra um comportamento que, em seu país, no meio familiar ou no trabalho, seria qualificado de incomum e sofreria sanções (KRIPPENDORF, 2000, p. 55). Isso acontece devido ao fato de que os turistas se sentem como pessoas especiais que não devem seguir normas e regras comuns a toda sociedade e esquecem as boas maneiras. Esses visitantes querem apenas aproveitar tudo ao máximo, pois logo irão embora não se importando com os impactos e problemas gerados, ou seja, não tem consciência de como seu mau comportamento afeta negativamente os locais e as pessoas que dependem do Turismo, ou que simplesmente habitam o local visitado. As formas inferiores e mal concebidas de desenvolvimento do Turismo também destroem ambientes naturais insubstituíveis, cujos benefícios reais e a longo prazo podem não ter sido adequadamente avaliados (COOPER, 2001, p. 96). Porém, o fenômeno turístico não pode ser considerado como o responsável por todos os impactos negativos que ocorrem no meio ambiente natural. Por exemplo, o vazamento de óleo de um navio no mar, [...], provoca mais danos à flora e à fauna marinhas do que milhares de turistas na praia em um final de semana (RUSCHMANN, 2000, p. 56). Além disso, atividades como a agricultura e, a mineração e extração de pedras podem ser mais nocivas ao meio natural do que o Turismo. O Turismo e o meio ambiente estão intrinsecamente ligados e são interdependentes. Se o Turismo continuar a crescer, teremos que encontrar formas de melhorar a relação entre os dois e torná-lo mais sustentável (SWARBROOKE, 2000, p. 84). Segundo o autor o meio ambiente é composto pelo meio ambiente natural, vida

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 3 selvagem, meio ambiente rural, recursos naturais e meio ambiente construído, sendo que estes estão em constante transformação em relação a forma de como os percebemos. Uma variedade de recursos naturais pode ser utilizada pelo Turismo como atrativos para uma destinação. Águas terapêuticas, lagos, terras, clima e ar puro são alguns desses. O Turismo e o desenvolvimento econômico possuem conexões essenciais, devido a esse fato o fenômeno turístico é bem visto e desejado pelos governantes e empresários que buscam o crescimento econômico das localidades, através da utilização desses recursos. Então esse fenômeno pode contribuir economicamente para a preservação dos recursos naturais, mas também pode ser uma ameaça a sobrevivência dos mesmos, por serem utilizados intensamente sem planejamento. A cerca desse fato Swarbrooke afirma: [...] o Turismo pode ser benéfico ao meio ambiente natural quando oferece uma motivação para a sua conservação. Sem o incentivo financeiro para essa conservação, representado pelo Turismo, muitos órgãos do setor público provavelmente dariam menos atenção à proteção do meio ambiente natural (2000, p. 78). De certa forma a valorização dos recursos naturais pode ser creditada ao Turismo, através da observação de pássaros, baleias, tartarugas, entre outros e projetos de preservação e educação ambiental, entretanto, sabemos que ao mesmo tempo este fenômeno pode ser um inimigo desses recursos, pois junto com ele vem a caça predatória ou por esporte, poluição de águas, ar e sonora, resíduos, desmatamento, entre outros. Algumas vezes muitos desses impactos podem ser irreversíveis. Muitas vezes os esgotos são jogados na água sem o devido tratamento, o que resulta em inúmeros problemas de poluição, e quanto maior o número de pessoas / turistas maior a quantidade de esgoto que é igual a mais problemas. Ocorre também a poluição do ar através da emissão de gases poluentes vindos dos veículos e esses contribuem para a poluição sonora. È claro que por vezes esses problemas já ocorrem na localidade sem a presença de turista, mas cabe lembrar que na presença destes, sobretudo quando há um grande número, esse dilema é acentuado. Também no ambiente natural, percebemos problemas de erosão causados pelo desmatamento da mata ciliar nas margens de rios, pisoteio da vegetação, assim como a destruição da mesma devido a coletas realizadas pelos turistas. Esses provocam ruídos que assustam animais e provocam sua fuga de ninhos e refúgios [...]

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 4 (RUSCHMANN, 2000, p. 64), por vezes, alimentam os animais mais dóceis interferindo na alimentação natural provocando doenças e até a morte dos mesmos. Tanto turistas quanto alguns autóctones podem, por exemplo, coletar e quebrar corais no mar e estalactites e estalagmites em grutas e cavernas para serem utilizados como souvenirs. No meio rural o Turismo pode ser o responsável pela destruição de parte de plantações, uma vez que os turistas podem pisoteá-las, e também por incêndios nas florestas, que podem ser causados por tocos de cigarros ou até mesmo por fogueiras acesas nessas. Porém, o fenômeno turístico pode contribuir para a manutenção de fazendas através dos gastos dos turistas nas mesmas. A grande maioria dos turistas não tem consciência dos impactos que uma pequena atitude sua gera sobre o meio ambiente, esses jogam embalagens usadas, restos de comida, garrafas, diversos tipos de resíduos nas praias, montanhas, rios, trilhas, onde quer que estejam, sem pensar nas conseqüências destes atos. Certos materiais, como plásticos e alguns metais, levam anos para se degradarem, enquanto isso não acontece o acumulo de lixo é o responsável por cultivar bactérias, poluição, redução da qualidade ambiental, entre outros problemas, resultando na perda de atratividade do local e em problemas, como doenças, para os autóctones. indiretos. Os impactos associados com o desenvolvimento turístico, também podem ser Por exemplo, à medida que a atividade turística cresce, os hotéis aumentam suas aquisições da indústria da construção, e o dano ambiental criado por esse aumento na construção também deverá ser incluído. Isto também vale para os efeitos das pedreiras que abastecem os construtores e os sistemas de transporte que os torna possíveis! (COOPER, 2001, p. 187). Tanto na forma direta quanto indireta, estes impactos devem ser considerados. Os resorts, meios de hospedagem ligados ao lazer que entraram no mercado brasileiro por volta da década de 90, localizam-se, geralmente, junto a áreas naturais e normalmente são construídos em locais desconhecidos ou exóticos, com apelo ecológico, apresentando ênfase na natureza. Essa ocorre através dos esportes náuticos, localização em paisagens naturais (como praias, Mata Atlântica, áreas de proteção

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 5 ambiental), realização de trilhas e passeios ecológicos. A evidência da natureza também é visualizada por meio da utilização do ecológico como principal fator de atratividade de turistas tanto nas questões de lazer e aventura, quanto na de harmonia, paz e descanso. No entanto, este contato com a natureza ocorre estando mediado pela modernidade, conforto, segurança e individualismo. Percebemos, então, que há uma relação intrínseca entre o meio ambiente e a existência dos resorts. Essa realidade é conflitante, uma vez que, a maioria desses empreendimentos, prejudicam a natureza. Porém, a imagem vendida é de complementaridade, pois os resorts são comercializados como destinos que permitem o contato com áreas naturais ao mesmo tempo que são meios de hospedagem completos que dispõem de toda infra-estrutura necessária para o bem estar dos visitantes. Dessa forma, os resorts podem ser considerados responsáveis por vários impactos tanto diretos quanto indiretos. Para evitarmos, ou melhor, reduzirmos esses tipos de impactos é necessário, primeiramente, a sensibilização dos turistas para que não destruam plantas, não alimentem ou matem animais selvagens e, principalmente, não joguem lixos em locais indevidos. Para se evitar o desmatamento da mata ciliar, dentre tantos outros impactos negativos gerados nos recursos naturais, além da sensibilização, podemos contar com a AIA avaliação de impacto ambiental. A AIA examina o projeto de desenvolvimento proposto no que diz respeito aos seus possíveis impactos ambientais, incluindo os impactos socioculturais e econômicos, a fim de assegurar que nenhum impacto negativo sério resulte do desenvolvimento (OMT, 2003, p. 53). Essa deveria constar em todos os projetos ligados ao meio ambiente para que, após, não surjam impactos indesejados como os que foram citados anteriormente. Além disso, quando relacionados ao Turismo, os projetos deveriam ter um planejamento adequado visando não apenas a parte financeira, como geralmente acontece, mas também cuidando os aspectos naturais, sociais e culturais. Parque Estadual de Itapuã - RS, Turismo como auxílio na preservação Para melhor discorrer acerca desta idéia de preservação aos recursos naturais através do Turismo, apresentar-se-á o Parque Estadual de Itapuã como exemplo. Esse está localizado no município de Viamão, grande Porto Alegre - RS. Foi criado no ano de 1973 e fechado dezoito anos depois por causa dos impactos ambientais gerados pelo

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 6 ser humano como desmatamento, a caça, a extração do granito rosa e a ocupação urbana desordenada que levaram à redução de espécies animais e vegetais. O parque ficou fechado ao público por mais de dez anos para que a natureza pudesse se recuperar. 2 Após esse período, foi reaberto em 23 de Abril de 2002, com um número limitado de visitantes por dia em cada uma das praias capacidade de carga e a cobrança de uma taxa a qual consiste em ingressos para visitar o parque no valor de aproximadamente R$3,83 por pessoa. Três praias de água doce situadas na área do parque estão abertas ao público tendo como capacidade máxima 350 pessoas/dia as praias das Pombas e da Pedreira e de 200 pessoas/dia a Praia de Fora. Esta capacidade de carga fora estabelecida para que dessa forma, através do Turismo descontrolado, a natureza do parque não seja mais degradada e esse não seja fechado novamente para a recuperação. Nas praias, existem trilhas que podem ser acessadas somente na companhia de guias, os quais são condutores do parque que cobram cerca de R$ 2,00 por pessoa para participar da trilha orientada. Para a realização das trilhas, cada grupo pode ter no máximo 15 pessoas e a capacidade de cada uma é de 60 pessoas/dia. Durante o percurso os visitantes são orientados a não quebrarem galhos das arvores e a não estragarem flores, frutas, enfim a preservar a natureza ainda encontrada ali. Trata-se de uma forma de educação ambiental. Na chegada os visitantes recebem uma breve aula de educação ambiental e assistem a uma apresentação do parque no Centro de Recepção, assim como são informados da importância deste e as normas do mesmo como, por exemplo, que a pesca e a caça são proibidas, entrar nas trilhas somente acompanhados por um guia, entre outras. O Parque Estadual de Itapuã permite a população local e aos turistas a oportunidade de desfrutarem de um ambiente natural preservado e ao mesmo tempo aprenderem mais sobre biodiversidade e a importância da preservação e manutenção dos recursos naturais. Um parque estadual, segundo a Secretaria de Meio Ambiente (SEMA), é uma área [...] de domínio público com os objetivos básicos de preservação de ecossistemas 2 www.sema.rs.gov.br/sema/html/bioconh5.htm acesso em 13/03/2006.

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 7 naturais, realização de pesquisas científicas, de atividades de educação ambiental, de recreação, de contato com a natureza e de turismo ecológico, ou seja, o Parque Estadual de Itapuã é um exemplo de como o fenômeno turístico pode auxiliar na preservação dos recursos naturais, pois enquanto os turistas estão aproveitando seus momentos de lazer, fazendo uma trilha, estão recebendo instruções de educação ambiental e com isso podem estar mudando sua forma de pensar quase sem perceberem, e o que é aprendido no parque é levado para casa e passado adiante. Assim como o valor arrecadado através da venda de ingressos para os visitantes é revertido para a manutenção do parque e auxílio nas pesquisas lá realizadas. Também podemos observar nesse exemplo como os impactos negativos gerados pelo ser humano são prejudiciais ao meio ambiente natural, neste caso a reversão ainda foi possível, mas em outros casos o mesmo pode não ocorrer. Mesmo assim, percebemos o grande período de tempo que a natureza necessita para se recuperar, mas nunca voltando a ser totalmente o que era antes da degradação. A trajetória do parque reflete bem essa questão do Turismo como vilão e como solução na preservação dos recursos naturais. O Parque Estadual de Itapuã foi criado inicialmente com o objetivo de tornar-se um Complexo Turístico com balneários e diversas atividades, o que acabou não acontecendo. Até o ano de 1990 a administração do parque passou por vários órgãos estaduais, mas este continuava aberto a uma visitação desordenada e cada vez maior, chegando a serem criados loteamentos clandestinos com mais de mil casas. Através da união de várias ONGs e uma nova administração a primeira medida tomada foi a transformação de Complexo Turístico em Parque, Unidade de Conservação de Proteção Integral com objetivos de conservar os ambientes naturais e os ecossistemas, desenvolver pesquisas cientificas e possibilitar a visitação pública com educação ambiental 3. Percebemos que nesses mais de trinta anos o Turismo passou de vilão a solução na preservação do parque, pois no início era realizado sem planejamento e controle, o que acabou degradando terrivelmente aquele ambiente natural, e agora o fenômeno turístico contribui para a manutenção, pois é realizado com rigoroso controle e planejamento por parte da administração responsável e ainda contribuindo na 3 Informações obtidas em um folder promocional do Parque Nacional de Itapuã.

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 8 sensibilização dos turistas e da comunidade local da importância da preservação dos recursos naturais encontrados e mantidos no parque. A partir do conceito de Turismo Sustentável, já abordado, para que o fenômeno turístico não comprometa sua própria existência e garanta a proteção e o desenvolvimento propostos, é necessário que se considerem os impactos causados pela atividade com a finalidade de minimizar os negativos e maximizar os positivos através da busca da sustentabilidade na prática dessa atividade. Segundo o Vitae Civilis e o WWF Brasil A educação ambiental e a sensibilização dos visitantes também são fundamentais e devem se premissas de todas as iniciativas de turismo a serem implementadas. Por serem fundamentais para processos de mudança de comportamento, devem buscar o resgate do papel do ser humano em relação à natureza, a seus vínculos, à população com a sua cultura e ao meio em que se insere. Tanto os turistas que visitam as áreas naturais, quanto as populações que nelas vive, têm de ter ciência dos benefícios que essa atividade promove e as condições para que seu desenvolvimento ocorra de maneira equilibrada (2003, p. 28) Essa explanação apresenta muito bem o que pensamos sobre a educação ambiental e a sensibilização, pois acreditamos que essas são essenciais para que o fenômeno turístico venha a contribuir na preservação dos recursos naturais, como tem acontecido, atualmente, no Parque Estadual de Itapuã. Então, para que o fenômeno turístico não gere impactos negativos no meio ambiente natural devemos ter como princípios a sustentabilidade, ou seja, a utilização dos mesmos, mas sem lhes causar danos, mantendo-os para que todos possam utilizá-los no futuro da mesma maneira que no presente. Conforme uma passagem do Relatório Brundtland onde diz que a sustentabilidade deve, acima de tudo, não destruir [...] os recursos dos quais o Turismo no futuro dependerá, principalmente o meio ambiente físico e o tecido social da comunidade local (apud SWARBROOKE, 2000, p.19). Então a educação ambiental e a sensibilização acerca da sustentabilidade e da importância dos recursos naturais contribuem para que o fenômeno turístico auxilie na preservação desses recursos. Todavia para isso é fundamental um bom planejamento e a integração de todas as partes envolvidas. Sendo assim, como devemos trabalhar

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 9 sustentavelmente, também, devemos ter por principio básico a eqüidade, em outras palavras, a igualdade. Essa deve ser pensada no planejamento turístico sustentável tanto para o turista quanto para a comunidade. Para que a eqüidade ocorra é necessário um planejamento participativo, pois, somente, através desse a comunidade tem espaço e liberdade para expressar sua opinião, vontades e desejos, e dessa maneira ser parte ativa e fundamental para que o desenvolvimento turístico ocorra de forma eqüitativa, sustentavelmente. Assim, observamos que para a preservação dos recursos naturais através do Turismo o planejamento turístico sustentável é essencial. Esse tem como princípio básico o incremento do fenômeno turístico de forma harmoniosa, sendo liderado sempre por um profissional qualificado, com os devidos conhecimentos para a realização do mesmo, preferencialmente, um turismólogo, por ter a sustentabilidade como sua base teórica fundamental. Além disso, esse profissional tem o conhecimento de que a multidisciplinariedade 4 é essencial para que o Turismo aconteça de forma adequada através do planejamento, sendo assim uma possível solução na preservação dos recursos naturais. Considerações finais Este artigo procurou levantar uma série de questões a cerca dos impactos gerados pelo Turismo no meio ambiente natural, mas também buscando demonstrar que esse fenômeno pode contribuir na preservação dos recursos naturais. No entanto, acreditamos que para o Turismo ser a solução, ou contribuir para essa, é necessário que exista um planejado turístico sustentável. É através do planejamento que os impactos, tanto positivos, quanto negativos são avaliados, para que desta maneira tenha-se noção do que poderá acontecer no futuro com o desenvolvimento do fenômeno turístico em certo local e também a capacidade de carga é trabalhada e definida durante o planejamento. Essa é fundamental para que o Turismo não venha a se tornar o vilão degradando os recursos naturais pela saturação de turistas em um determinado local ao mesmo tempo. Segundo o Vitae Civilis e o WWF Brasil 4 Sendo entendido multidisciplinariedade, neste momento, o trabalho em conjunto de profissionais de diversas áreas tendo um objetivo em comum.

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 10 Em todas as fases de implementação e operação o turismo deve adotar práticas de mínimo impacto sobre o ambiente natural, de maneira a contribuir para a manutenção das dinâmicas e processos naturais em seus aspectos físicos e biológicos, considerando os contextos cultural e socioeconômico existentes (2003, p. 27). Dessa forma percebemos que não basta apenas existir uma preocupação durante o planejamento, mas também em todas as fases de implementação e operação, por esse motivo optamos por trabalhar com o planejamento turístico sustentável. Este é baseado na sustentabilidade e tem como objetivo o desenvolvimento do Turismo de forma harmônica, buscando sempre minimizar os impactos negativos e maximizar os positivos, trabalhando desde o inicio do planejamento e também em todas as outras fases de desenvolvimento, avaliando permanentemente esse para que, caso surjam problemas sejam verificados e solucionados. Desta maneira, percebemos que o planejamento turístico sustentável aliado a sensibilização e a educação ambiental contribuem para que o Turismo se torne solução a não degradação dos recursos naturais. Porém temos consciência que na teoria tende a funcionar perfeitamente, mas, infelizmente, na prática não acontece sempre dessa forma. O Parque Estadual de Itapuã é um exemplo de como, através de um bom planejamento, lições de educação ambiental e uma constante manutenção, o Turismo contribui para a preservação do meio ambiente natural. Assim como esse fenômeno pode ser também o vilão, como ocorreu quando o Parque foi criado, pois nessa época não houve um planejamento consistente preocupado com os impactos negativos que poderiam ser gerados sobre os recursos naturais do quais o Parque dispunha. Percebemos, então, que para o fenômeno turístico contribuir na preservação são necessário tempo e dedicação, ou seja, de um projeto a longo prazo que conte com profissionais qualificados para exercer um bom trabalho atingindo, assim, os resultados desejados. Este artigo buscou refletir sobre o fenômeno turístico e sua relação com os recursos naturais, procurando apresentar alguns dos impactos que podem ser gerados e também uma possível forma de evitar esses através do Turismo Sustentável. Isso porque

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 11 se percebe a importância dos recursos naturais para a existência do Turismo em determinados locais e que muitas vezes não recebem a devida atenção. Expomos, agora, uma passagem que, de certa forma, aborda o presente tema: A educação ambiental e a sensibilização dos visitantes também são conceitos e ações fundamentais e devem ser premissas de todas as iniciativas de Turismo a serem implementadas. Por serem fundamentais para processos de mudança de comportamento, devem buscar o resgate do papel do ser humano em relação à natureza, a seus vínculos, à população com a sua cultura e ao meio em que se insere. Tanto os turistas que visitam as áreas naturais, quanto as populações que nelas vivem, têm de ter ciência dos benefícios que essa atividade promove e as condições para que seu desenvolvimento ocorra de maneira equilibrada. (VITAE CIVILIS E WWF-BRASIL, 2003, p. 28). Entendemos que a sensibilização é parte essencial para que o Turismo contribua na preservação do meio ambiente natural, pois, a partir do momento em que os sujeitos compreendem a importância tanto do fenômeno turístico quando da manutenção dos recursos naturais e que ambos podem juntamente gerar benefícios para todos, o ser humano passar a ter outras atitudes e desejos em relação a esses recursos. Então, para que haja um Turismo que não degrade os recursos naturais, onde a responsabilidade, o respeito, a integração, o encontro e a sustentabilidade caminhem lado a lado gerando benefícios a todos, a sensibilização, a educação ambiental e o planejamento turístico sustentável se fazem indispensáveis. Com esses podemos chegar a um outro Turismo, um Turismo Sustentável, mas responsável inclusive com a responsabilidade de questionar a sua própria sustentabilidade. Referências bibliográficas COOPER, Chris. et al. Turismo, princípios e práticas. Traduzido por: Roberto Cataldo Costa. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. Tradução de: Tourism Principles and Practice. KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do turismo: para uma nova compreensão do lazer e das viagens. Traduzido por: Contexto Traduções. São Paulo: Aleph, 2000. OMT, Organização Mundial de Turismo. Guia de desenvolvimento do turismo sustentável. Traduzido por: Sandra Netz. Porto Alegre: Bookman, 2003. Tradução de: Guide for Local Authorities on Developing Sustainable Tourism. RUSCHMANN, Doris. Turismo e planejamento sustentável: A proteção do meio ambiente. 9.ed. Campinas: Papirus, 2000.

IV SeminTUR Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL 12 SWARBROOKE, John. Turismo sustentável: Conceitos e impacto ambiental. 3.ed. Traduzido por: Margarete Dias Pulido. São Paulo: Aleph, 2000. 1v. Tradução de: Sustainable Tourism Management. VITAE CIVILIS e WWF- BRASIL. Sociedade e ecoturismo: na trilha do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Peirópolis, 2003. Referências eletrônicas SEMA - Secretaria de Meio Ambiente. Unidades de Conservação. Disponível em <http://www.sema.rs.gov.br/sema/html/bio.htm> acesso em 13 de Março de 2006