III SEMINÁRIO POLÍTICAS SOCIAIS E CIDADANIA. Trabalho globalizado nas décadas de 1980, 1990 e 2000: o caso da Bahia

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Transcrição:

III SEMINÁRIO POLÍTICAS SOCIAIS E CIDADANIA AUTOR DO TEXTO: Roberto Mesquita Santos Trabalho globalizado nas décadas de 1980, 1990 e 2000: o caso da Bahia RESUMO: Apresenta o cenário do trabalho na Bahia que com o alvorecer da década de 1980, ingressa num período de precarização e desemprego motivado pela reprodução de fatores globais perante a economia global. Aponta como acontecimento relevante deste período o Neoliberalismo e a Reestruturação Produtiva como principais atores de desmantelamento do trabalho. O texto enfatiza mudanças críticas a partir da década de 1990, quando a globalização intensifica seus efeitos propiciados principalmente pela ação dos protagonistas da década anterior. Nos oitos primeiros anos de 2000, o quadro tornase mais complexo na medida em que a economia se fortalece, recuperando postos de trabalho, mas a qualidade desses são menos decentes dos que os gerados anteriormente a 1980. Enfim o quadro que se apresenta possui avanços, mas inspira mais preocupações do que festejos, o que não vem ocorrendo. Palavras-chave: Precarização do trabalho. Globalização. Reestruturação produtiva. Neoliberalismo. 1 Introdução A década de 1980 inaugura no Brasil um período de endividamento externo que levou o país a reorganização na esfera do trabalho assentados sob os pilares do neoliberalismo, reestruturação produtiva e globalização. A situação se agudiza na Bahia na medida em que forma uma nova aliança com traços regionais como baixo nível de escolaridade, retração do emprego industrial em detrimento de outros menos estáveis e com menor longevidade, configurando a precarização do trabalho. Tal situação torna-se mais complexa na década de 2000, quando o emprego formal ressurge com uma feição mais flexível que outrora a qual não é digna de proporcionar ao trabalhador projetos futuros no âmbito profissional. Assim acredita-se ser plausível refletir sobre as estratégias globais que se reproduzem e aprofundam as locais. Filgueiras (2006) analisa de forma estrutural o Neoliberalismo, enfatizando a função de restabelecer as finanças das nações hegemônicas, Inglaterra e Estados Unidos tal ressurgimento foi propiciado pela imposição das normas do Consenso de Washington 1 a países periféricos como o Brasil. A Reestruturação Produtiva é o termo que engloba o grande processo de mudanças ocorridas nas empresas por meio de introdução de inovações tanto nos equipamentos e máquinas, agora automatizados, como organizacionais e de gestão, buscando alcançar uma organização do trabalho integrada e flexível. A reestruturação é caracterizada por: Inovação tecnológica: Microeletrônica (Chips), computador, máquinas de controle numérico computadorizado, robôs e Inovação industrial: terceirização, qualidade total, etc. 1 Consenso de Washington termo criado por Jonh Williamson representa a proposta da comunidade financeira internacional (FMI, BIRD) para ajustar as economias dos países periféricos ao processo de reestruturação produtiva. Seus objetivos principais são promover a estabilização da economia (corte no déficit público, combate à inflação), implementar reformas estruturais com redução do Estado (privatizações, reformas tributária, previdenciária e trabalhista, desregulação dos mercados, liberalização financeira e comercial) e abertura da economia para atrair investimentos internacionais.

Nesse horizonte marcado pela abertura ao capital transnacional, aliado ao desenvolvimento tecnológico o qual proporciona a intensificação de fluxos de diversas ordens, a globalização adquire uma nova dimensão. Esse processo interliga quase instantaneamente nações, promovendo um nível de interatividade jamais visto em todos os setores, principalmente na economia. Esses fenômenos são absorvidos pelos países subdesenvolvidos, como o Brasil, sob o fetichismo 2 de modernidade e integração mundial, todavia essa não se observou efetivamente melhoria no padrão de vida das nações periféricas as quais aderem tal processo, No que se refere à precarização do trabalho, a globalização se expressa de duas maneiras; A primeira está relacionada com a organização da produção no mundo. Enquanto a segundo se associa a ampliação das possibilidades de investimentos financeiros permitidos por tal fenômeno: As manifestações da globalização incluem a organização espacial da produção, a interpenetração das indústrias através das fronteiras, a expansão dos mercados financeiros. (HARVEY, 2000). A Globalização no trabalho age como uma força centrípeta internacional a qual determina a produção local, bem como os procedimentos de produção e a exploração do trabalho humano. Já a financeira, que combina o desenvolvimento de inovações financeiras com informatização dos mercados, potencializa o volume de transações de curto prazo, o que, em alguns instantes, permitem que se façam investimentos de um país em títulos de outro(s). É a partir de 1980 que o mercado de trabalho baiano passa a refletir mais claramente a combinação dos três fenômenos de origem externos. Assim verifica-se os efeitos dessa conjugação, expressada na precariedade do vínculo empregatício e baixa absorção de mão-de-obra pela em todos os setores trabalhistas. A precarização se estende a indústria petroquímica, setor força motriz da economia baiana e objeto de desejo mais sedutor do baiano, no que se refere às condições de trabalho. Com efeito, degrada-se todo o panorama trabalhista na Bahia. De acordo com as Contas Regionais mencionadas na publicação da SEI, O PIB da Bahia 1975-2000, na década de 1990, a indústria de transformação baiana preside a elevação do Produto Interno Bruto da economia local, não obstante, é tentador supor que tal evolução levaria a ampliação do quadro de empregos nesse segmento, apoiado na idéia de que crescimento econômico produz emprego. Por conseguinte verifica-se que o aumento do PIB não reflete invariavelmente a criação de novos postos de trabalho. (SUPERINTENDÊNCIA..., 2002). O fato de a Bahia, apresentar um incremento de 27,95% em seu PIB nestes 10 anos e de aumentar a sua participação no PIB nacional, passando de 4,9% em 1980 para 5,3% em 1990, graças fundamentalmente ao crescimento da indústria de transformação, não implicou numa ampliação do mercado de trabalho que refletisse, sob o ponto de vista econômico e social, a capacidade de gerar empregos, de modo que a situação ocupacional caracterizada pela precariedade e informalidade fosse minorada. (BAHIA..., 1999, p. 50). O segmento industrial baiano, reflete visivelmente esse momento de opacidade no qual a flexibilização materializada na terceirização e desemprego desponta como flagrante manifestação de desequilíbrio econômico e social. Tamanha idiossincrasia pode ser mensurada por meio do Relatório Anual de Informação Social daquela década. 2 A ação do fetichismo consiste em criar uma necessidade nas pessoas que não são naturais a ela.

A indústria de transformação apresentou também na década de 80, uma performance negativa ao nível do emprego. As estimativas baseadas na RAIS apontam para a eliminação de algo em torno de 2500 vagas entre 1980 e 1989. Com isso cai de 15% para 12,5% a participação do setor no estoque de vagas. (BAHIA..., 1999, p. 48). No mesmo período o emprego público torna-se uma estratégia para o revigoramento do trabalho na Bahia. Tem-se uma idéia da importância do setor público no mercado de trabalho formal, na Bahia, quando se constata que o número estimado de novos postos gerados pelo setor na década de 80 é mais ou menos equivalente ao estoque de vagas estimado pela indústria de transformação em 1989. (BAHIA..., 1999, p. 47). No final do século anterior, as transformações mais gerais do mercado de trabalho baiano seguem em consonância com as mudanças em curso no mercado de trabalho nacional. Assim, algumas características vigentes na década passada não só estão presentes como se intensificam a partir dos anos 1990. Dentre elas, destacam-se: redução da demanda de mão-de-obra por parte das grandes empresas; perda de rendimentos dos trabalhadores; precariedade dos postos de trabalho gerados e precarização dos já existentes. A essas características adiciona-se o aumento do nível de desemprego na Bahia, cuja taxa salta de 4,0% para 9,1%, em média, entre as décadas de 1980 e 1990. O desempenho do mercado de trabalho baiano passa também a ser condicionado pelo elevado desemprego, que sofreu mudanças em sua estrutura e em seu tempo de duração, pela redução do emprego formal aliada a perda da capacidade de geração de novos empregos e, finalmente, por uma forma de precarização do trabalho através da queda de rendimentos. (SUERDICK; SOUZA; OLIVEIRA, 2003, p. 27). O mercado de trabalho começa a absorver um maior contingente de pessoas com maior nível de instrução, contudo, a conquista do diploma não representa inexoravelmente um posto de trabalho. Essa distorção se deve ao fenômeno do aumento do ingresso de pessoas escolarizadas no mercado de trabalho, sem necessariamente ampliação dessas vagas. [...] Identifica-se por meio da evolução do número de empregos e dos postos de trabalho de qualificação superior, o hiato cada vez mais crescente entre a quantidade de mão-de-obra de nível superior e, em contrapartida, a escassez da oferta de trabalho. Há o aumento do desemprego aberto de 2,1% para 4,8% em 1987 e 1997-2002 para superior completo. No mesmo período a variação para superior incompleto foi de 9% para 14,2%. (GARCEZ, 2003, p. 33). A ampliação da oferta da mão-de-obra com melhores níveis de instrução está intimamente associada a dois fatores: A ampliação do repertório de universidades e ao Sistema de Progressão Continuada 3 É possível constatar que a quantidade de matrículas ofertadas no ensino superior privado baiano se elevou consideravelmente na década de 90. Com efeito, pode-se afirmar que a proliferação da oferta de alunos com ensino médio concluído, não se fez acompanhar do crivo qualitativo dos mesmos. 3 O sistema e progressão continuada é assim denominado por referir-se à organização do ensino, no caso do ensino fundamental, em dois ciclos e não mais em séries anuais, prevendo-se a continuidade dos estudos, sem reprovação do aluno, a não ser em caso de excesso de faltas.

O boom do ensino superior na década de 90 no estado da Bahia se deve, sobretudo, ao crescimento do número de instituições de ensino privado, influenciado em parte pelo incremento do número de alunos concludentes do ensino médio e pelas políticas de universalização do ensino. (GARCEZ, 2003, p. 33). A subtração da População Economicamente Ativa do contingente populacional de até 24 anos cuja dedicação exclusiva é o estudo, provavelmente seja determinada pela exigência de escolaridade imposta pelo mercado. Os segmentos representados pelos adolescentes e jovens (15 e 24 anos) apresentava-se como 27,5% da PEA. Entretanto a sua taxa de participação caiu de 63, 3% em 1992 para 63,1% em 1999. È importante considerar que dos jovens que não estão no mercado de trabalho, uma parcela considerável 42,2% dedicam-se somente ao estudo. Esse fato demonstra que o ingresso do jovem na vida ativa pode estar sendo retardado, devido à maior seletividade do mercado de trabalho. A faixa etária de maior inserção é a entre 25 e 39 anos, seguidas pela faixa de 40 a 59 anos. (CONJUNTURA..., 2003, p. 50). A década de 2000 apresenta recuperação do emprego formal, mas ainda insuficiente para contemplar o passivo das duas décadas anteriores. Gráfico 1- Crescimento da população x emprego Fonte: RAIS, TEM Os primeiros oito anos do século atual é o período mais controvertido e complexo entre os demais estudados, na medida em que reproduz alguns fatores de precarização do trabalho, da mesma forma que outros deixam simplesmente de atuar ou revertem sua tendência na opinião de alguns analistas. Os números expressivos encontram seus alicerces na explosão dos setores de construção civil e serviços. É também na primeira década deste século que a indústria inicia o processo de recuperação, porém de maneira mais discreta ao período entre 1950 e 1980 e assentada sob uma organização do trabalho mais desfiliada, na qual impera a subcontratação, diferentemente do emprego formal de outrora.

1200000 Emprego por Atividade Econômica. 1000000 800000 600000 400000 INDUSTRIA CONSTR CIVIL COMERCIO SERVICOS 200000 0 Gráfico 2 Emprego por atividade econômica Fonte: RAIS 2 Principais atividades econômicas baianas na era da globalização financeira A construção civil, segundo Nascimento (2005) apresentou até a década de 1980 com uma feição de execução de obras financiadas pelo estado para a edificação notadamente de equipamentos públicos estatais com a construção do Pólo Petroquímico de Camaçari. Entretanto os efeitos da crise nacional impediram a continuidade dos investimentos por parte do estado. A partir de meados da década de 1980, a expansão da crise nacional obrigou o estado a minimizar as suas despesas orçamentárias, causando redução da sua demanda por obras de infra-estrutura e edificações públicas. Assim, o segmento da construção reorientou a sua oferta para obras de edificações privadas residenciais e comerciais. (NASCIMENTO, 2005, p. 93). O setor em questão se desestrutura, proporcionando acentuação de desligamentos que se estende até o início da década de 90, ocorrendo uma significativa recuperação do trabalho no meado desta década. Dentre os fatores que concorreram para essa recuperação, evidenciasse a estabilização da economia e absorção de mão-deobra preterida pela indústria petroquímica. A partir da década de 2000 a construção civil torna-se um dos setores mais dinâmicos na geração de postos de trabalho na Bahia favorecido pelo Planejamento Plurianual de Desenvolvimento Urbano o qual previu a construção pesada de obras públicas, sobretudo para urbanização na região da paralela, que se fez acompanhar da explosão imobiliária do local. O trabalho gerado pela construção civil, embora permita ao trabalhador o registro em carteira, configurando-se em trabalho formalizado, trata-se de uma mão- de- obra temporária. Portanto, é escorregadio e como tal não deveria ser uma das bases da economia do estado.

O setor de serviços obedece à mesma lógica de ampliação da ocupação a partir ocupações precarizadas. De acordo com Pessoti (2008) [...] O setor de serviços assumiu uma função esponja, absorvendo a mão-de-obra que, expulsa de outros setores, não encontravam postos de trabalho nos demais segmentos da economia. Na década de 2000, o setor de serviços amplia consideravelmente sua participação na ocupação baiana, conferindo uma noção preliminar de inserção ao mercado de trabalho. Nesta área, evidencia-se como notável empregador o serviço de Telemarketing o qual insere o trabalhador no emprego formal, todavia a sua duração tende a ser curta. O trabalho no comércio na era da aceleração da globalização é marcado pela submissão a um regime de longas jornadas diárias, acompanhadas de má remuneração. Com efeito, também é precário na medida em que torna-se pouco comum a continuidade nesta carreira por longo prazo. A tipologia do emprego, no início do século XXI, colide frontalmente com a idéia de trabalho decente, permitindo aferir as crescentes distorções que se proliferam nessa área social. Trabalho decente, segundo a definição da Organização Internacional do Trabalho (OIT), é um trabalho produtivo, adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, e que seja capaz de garantir uma vida digna a todos os trabalhadores e seus familiares. Trata-se de um trabalho que permita satisfazer as necessidades pessoais e familiares de alimentação, educação, moradia, saúde e segurança que garanta a proteção social nos impedimentos do seu exercício (desemprego, doença, acidentes, entre outros), assegura renda ao chegar à aposentadoria, assim como o direito à livre organização e representação. (ABRAMO; SANCHES; COSTANZI, 2008, p. 96). A idéia de trabalho decente está intimamente associada não só ao volume de postos de trabalho criado, mas também a qualidade expressada pelos mesmos. Tal noção vem sendo deteriorada principalmente em função da dependência do investimento externo. Dessa maneira, o espectro de garantias trabalhistas, torna-se rarefeito, caracterizando o estado de precarização. Com base nessa linha de raciocínio, o trabalho precário é aquele incapaz de assegurar qualidade de vida, visto que deslegitima em maior ou menor escala a assistência social trabalhistas. Disso o resulta a redução do acesso: a seguridade na aposentadoria, a salários dignos e horas extras, as contingências contra o desemprego (Seguro Desemprego e FGTS), a segurança contra acidentes no trabalho e aos planos de saúde mais honrados. A primeira década do ano 2000 na Bahia vem sendo noticiada com período de sensível redução do desemprego. Tamanha recuperação está fortemente ao crescimento da economia com investimentos externos os quais não estão. 3 Conclusão O trabalho globalizado na Bahia, aprofundado a partir de meados da década de 1980, vem se notabilizando por uma problemática; o aumento de postos de trabalho, principalmente com o florescimento da década de 2000, todavia, esse aumento ainda é insuficiente para absorver os preteridos em nas décadas passadas..outro fator de preocupação provem de uma desqualificação dos postos de trabalho oferecidos atualmente em relação aos ofertados no início de 1980 no que se refere às bases do trabalho decente. Enfim, o exame atual do mercado de trabalho na Bahia nas três

décadas é marcado pela redução do desemprego e pelo avanço das atividades precarizadas, configurando um processo que requer mais preocupações do que festejos. Referências ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? : (ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho). São Paulo: Cortez, 1995. ABRAMO, Laís; SANCHES, Solange; COSTANZI, Rogério. Analise preliminar dos déficits de trabalho decente no Brasil no período de 1992-2006. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 16, 2008. Anais...Caxambu: [s.n], 2008. BAHIA ANÁLISE & DADOS. Salvador: SEI-Informação a Serviço da Sociedade, v.8, n. 4, mar. 1999. CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social. Petrópolis: Vozes, 1998. CONJUNTURA & PLANEJAMENTO. Salvador: SEI-Informação a Serviço da Sociedade, n. 110, jul. 2003. DRUCK, Graça; FRANCO, Tânia. A perda da razão social do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2007.. Terceirização desfordizando a fábrica. São Paulo: Boitempo, 2001. FILGUEIRAS, Luiz Antonio Mattos. Historia do plano real: fundamentos e contradições. 3. ed. São Paulo: Boitempo, 2006. HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 2000. KOWARICK, Lúcio. Sobre a vulnerabilidade socioeconômica e civil : Estados Unidos, França e Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 18, n. 51, fev. 2003. PESSOTI, Gustavo Casseb. Um estudo da política industrial na Bahia entre 1950 e 2005. 2008. 215 f. Dissertação (Mestrado em Análise Regional) Universidade Salvador, Salvador, 2008. SUERDICK, Flávia S. R.; SOUZA, Laumar Neves de; OLIVEIRA, Tiago. Nova PME e PED: até que estão mais próximas? Conjuntura & Planejamento, Salvador, n. 110, p. 27-32, jul. 2003. SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. O PIB da Bahia 1975-2000 : metodologia unificada e analises setoriais. Salvador (BA): SEI-Informação a Serviço da Sociedade, 2002.